sábado, 4 de setembro de 2010

CONDIÇÃO PARA O SEGUIMENTO

Existem afirmações de Nosso Senhor no Evangelho que parecem difíceis de entender para muitas pessoas. O próprio Jesus insinua isso, pois vendo uma grande multidão que o seguia, propôs um crivo pelo qual deveriam passar os que quisessem realmente segui-lo: “«Se alguém vem ter comigo e não me tem mais amor que ao seu pai, à sua mãe, à sua esposa, aos seus filhos, aos seus irmãos, às suas irmãs e até à própria vida, não pode ser meu discípulo. Quem não tomar a sua cruz para me seguir não pode ser meu discípulo.” (Lc 14,26-27) Já escutei gente boa que amava sua família a dizer que isso era de mais.  São Paulo já dizia: “O homem terreno não aceita o que vem do Espírito de Deus, pois é uma loucura para ele. Não o pode compreender, pois só de modo espiritual pode ser avaliado.” (1 Cor 2,14) A primeira leitura de hoje vem dizer claramente como essas coisas podem ser compreendidas: “E quem conhecerá a tua vontade, se não lhe deres a sabedoria, e não enviares o teu Santo Espírito lá do céu?  Assim se endireitaram as veredas dos que vivem na terra, os homens aprenderam o que é do teu agrado e pela sabedoria se salvaram.» (Sb 9,17-18) Apesar de serem entendidas de forma espiritual, essas afirmações de Nosso Senhor têm consequências muito concretas e decisivas para a saúde e o bem estar de nossas famílias e indivíduos. Tudo mantém-se sadio se Deus é amado em primeiro lugar.


Hoje torce-se o nariz se alguém fala do temor de Deus, afirmando-se que Deus não deve ser temido, mas amado. Isto é verdade. Porém o dom do temor de Deus não contradiz o Amor de Deus, mas antes conduz a ele.  O dom do temor de Deus como dizia Dom Cipriano Chagas, é o dom que provém do Amor de Deus que gera na pessoa humana, não o medo de Deus, mas pelo contrário, o temor de se afastar de Deus. Quando alguém ama verdadeiramente é também delicado com a pessoa amada, pois teme ofendê-la. Assim é o dom do Espírito Santo do temor de Deus que leva a cumprir os seus mandamentos e conduz ao Amor de Deus. Estamos a quilómetros de distância do temor servil.

O amor de Deus salva a família e a sociedade. Vejamos um exemplo concreto: Qual é uma das principais preocupações e inseguranças dos casais jovens hoje em dia?  –“Será que meu marido me vai trair?” – “Será que minha esposa é fiel?” Ciúmes, cobranças, vigilâncias… Tudo inútil se a preocupação do casal tivesse sido desde o começo crescer no amor e no temor de Deus. –“Sei que Fulano(a) teme a Deus e ama-o. Sei que se ele me trair estará a afastar-se também de Deus. Como sei que ele(a) não deseja isso, não tenho razões de ciúmes doentios.”

Assim como o eixo de uma roda não prejudica os raios por ocupar o lugar central, mas antes, sustenta a sua firmeza, também o amor prioritário a  Deus não prejudica uma família, mas pelo contrário, é o seu fundamento. Aliais, os raios de uma roda de bicicleta estão tão mais unidos entre si, quanto mais se aproximam do eixo. E pelo contrário, quanto mais se afastam do mesmo, tanto mais se afastam uns dos outros.

Um aspecto essencial desta centralidade de Deus em nossas vidas e em nossas famílias é a importância do Domingo como o dia diferente da semana. É o dia por excelência da Eucaristia, em que o Céu desce à terra, em que Deus irrompe na nossa história para torná-la sã e próspera no sentido mais completo da palavra. É o dia de desligar a televisão pelo menos à refeição, de sentar-se à mesa, de dialogar. Dizia alguém: –“ A última notícia do mundo, mais cedo ou mais tarde saberás. Para um pai de família a notícia mais importante depois da Boa Nova da Salvação de Cristo é saber as notícias da vida de sua esposa e de seus filhos, o que aconteceu naquela semana, …”

Um exemplo de como o amor de Deus tem o poder de renovar uma sociedade por dentro, deu-a São Paulo na segunda leitura de hoje. Era o caso de Onésimo, um escravo fugitivo que São Paulo convertera e baptizara. Paulo não se preocupa em mudar a estrutura social em vigor ( Cl 3,22-4,1). O que ele faz é prescindir disso e deslocar o problema para a questão do amor fraterno, mais profunda que a questão legal, pois, em Cristo, «não há escravo nem livre» (Gl 3,28).Daí em diante, Filémon deve tratar o (antigo) escravo Onésimo como irmão, porque Paulo está disposto a recompensá-lo monetariamente, isto é, a resgatar Onésimo. Com isto, Paulo, embora não se oponha frontalmente à escravatura, tão-pouco a aprova; e afirma que o Amor de Deus e o amor fraterno, centro do Evangelho de Cristo, é que levará à eliminação da escravatura. (Cf. Bíblia Sagrada, Difusora bíblica, Franciscanos Capuchunhos p. 1968)

Para partilha:

Numa roda, o eixo deve estar bem no cento e bem firme. Cristo já é o centro da nossa vida?

Pe. Marcelo

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