"Todos os fiéis cristãos são, pois,
convidados e obrigados a procurar a santidade e a perfeição do
próprio estado” (Lumen Gentium, nº 41). Esse ensinamento da Igreja reforçado
pelo Concílio Vaticano II é testemunhado na vida da Beata Elisabetta Sanna, que
mesmo na condição de vida em que se encontrava como esposa, mãe, viúva, leiga
empenhada no Apostolado Católico, analfabeta, deficiente desde a infância,
levou uma vida de santidade e de vivência da sua vocação ao apostolado de
Cristo e da Igreja.
Elisabetta Sanna nasceu num lar católico em 23 de abril de 1788, sua mãe Maria
Domenica e seu pai Salvatore Sanna eram pessoas de profunda vivência cristã.
Empenhados na vida da pequena comunidade de Codrongianos, na ilha italiana da
Sardenha. No final do século XVIII, a Itália sofreu uma forte epidemia de
varíola que atingiu gravemente a pequena Elisabetta com apenas 3 meses de vida.
Ela passou por um “procedimento cirúrgico” que lhe retirou os nervos dos
braços, travando-os na altura do peito, só tinha o movimento dos pulsos e dos
dedos. Apesar desta grave deficiência, ela nunca lamentou, dizia que era obra
da misericórdia de Deus na sua vida.
Elisabetta queria consagrar totalmente sua vida a Deus. Pensava em ser monja,
no entanto, seus pais e seu diretor espiritual a proibiu. Ela sempre obediente
acatou suas ordens e buscou a vida matrimonial. Com 19 anos veio a casar-se com
Antônio Maria, homem bom e temente a Deus, com quem teve sete filhos dos quais
sobreviveu apenas cinco. Levavam uma vida familiar exemplar, num lar onde
reinava o amor a Deus e ao próximo. Seu marido dizia com frequência aos amigos“minha
mulher não é como as vossas. Elisabetta tem todas as características de uma
mulher santa...”. Com certeza, na vida matrimonial, Elisabetta tinha tudo para
ser santa, no entanto, Deus tinha outros planos para a sua vida. Seu esposo
veio a falecer no ano de 1825, caindo sobre ela toda a responsabilidade de
sustentar e cuidar dos filhos. Deficiente, ela não conseguia muitos serviços
para ganhar o necessário para o sustento de sua família. Seu irmão que era
padre, Pe. Antonio Luís, passou a ajudá-la no sustento de sua família e na
educação de seus filhos. Estabilizando um pouco a sua vida e a de sua família,
surgiu no coração de Elisabetta uma inquietação quase incontrolável de
“arriscar tudo pelo Tudo”. Durante as pregações quaresmais sentiu-se atraída
para conhecer os “lugares banhados pelo sangue do Redentor” e decidiu
partir em peregrinação para a Terra Santa. Acompanhada de seu diretor
espiritual Pe. José Valle partiram de Codrongianos até a Ilha de Chipre onde
foram barrados por falta de visto no passaporte, decidiram esperar a resolução
do problema em Roma, a viagem da Ilha de Chipre para Roma durou cerca de 15
dias em carroça e a pé, entre fome, sede e o sol quente do verão europeu. Uma
verdadeira aventura, sobretudo para uma deficiente.
Chegando a Roma, Elisabetta conseguiu um quartinho para morar e o Pe. José Valle se tornou capelão do hospital de Santo Espírito. Elisabetta não sabia falar italiano, somente o dialeto da sua terra natal, o sardo. Apesar disso, ela mantinha sua vida de católica zelosa participando de missas e procissões, fazendo adorações ao Santíssimo Sacramento, novenas, via sacra, a reza do santo rosário, obras de caridade e visitas aos doentes e aos pobres. Por várias vezes, tentou voltar para a Sardenha, no entanto, sempre caía enferma nas vésperas da viagem até que foi proibida pelo médico que cuidava dela de empreender tal viagem. Ela entendeu que sua estadia em Roma, terra dos mártires, não era por acaso e sim que Deus tinha um plano para sua vida nesta cidade.
Chegando a Roma, Elisabetta conseguiu um quartinho para morar e o Pe. José Valle se tornou capelão do hospital de Santo Espírito. Elisabetta não sabia falar italiano, somente o dialeto da sua terra natal, o sardo. Apesar disso, ela mantinha sua vida de católica zelosa participando de missas e procissões, fazendo adorações ao Santíssimo Sacramento, novenas, via sacra, a reza do santo rosário, obras de caridade e visitas aos doentes e aos pobres. Por várias vezes, tentou voltar para a Sardenha, no entanto, sempre caía enferma nas vésperas da viagem até que foi proibida pelo médico que cuidava dela de empreender tal viagem. Ela entendeu que sua estadia em Roma, terra dos mártires, não era por acaso e sim que Deus tinha um plano para sua vida nesta cidade.
Na
cidade de Roma existia um padre com grande fama de santidade, seu nome era Pe.
Vicente Pallotti, seu encontro com a Beata se deu do seguinte modo: Elisabetta
estava num certo dia seguindo uma procissão que partia da Basílica de São
Pedro, em profundo espírito de oração e de contemplação, não se deu conta de
que a procissão já havia acabado, quando percebeu viu-se sozinha e perdida. Ela
não sabia como se comunicar, pois ninguém compreendia o dialeto sardo naquele
local, foi então que caiu em prantos diante de uma certa igreja. De repente
aparece um padre na frente da igreja, que foi até ela e fixou o seu olhar nos
olhos dela e aquele olhar lhe transmitiu tranquilidade e coragem, sem dizer
nada, ele a conduziu até a Praça de São Pedro e foi embora. Aquele encontro não
foi por acaso, a Providencia Divina tem suas maneiras de agir e levou
Elisabetta até São Vicente Pallotti, pois ela teria um grande papel na União do
Apostolado Católico. Logo Pe. Vicente Pallotti se tornou seu diretor espiritual
e confessor, e lhe deu grande ajuda no discernimento de sua vocação.
Em
1835, Pe. Vicente Pallotti fundou a União do Apostolado Católico (UAC) e
Elisabetta de imediato se tornou membro desta fundação. Fez do Apostolado
Católico sua vida de tal modo que não era mais Elisabetta que vivia, mas era
Cristo que vivia nela. Foi importante cooperadora nas missões da UAC e também
na comunidade dos padres e irmãos da Sociedade do Apostolado Católico (SAC). Para
Pallotti, Elisabetta deveria buscar a sua santidade no quotidiano da vida, não
há movimento fantástico e místico sobrenaturais em sua vida. A santidade não se
faz com espetáculos e sim com o amor que silenciosamente se dá no dia-a-dia.
A
beata Elisabetta Sanna veio a falecer no dia 17 de fevereiro de 1857, sete anos
depois da morte de seu diretor espiritual São Vicente Pallotti (†1850) e foi
enterrada na Igreja Mãe dos palotinos, Igreja Santíssimo Salvador in Onda.
Morreu com fama de santidade e seu processo de beatificação e canonização deu
início pouco tempo depois de sua morte. No dia 17 de setembro de 2016, ela foi
beatificada e seu processo de canonização ainda está em andamento.
Uma
pobre leiga que se tornou apóstola. Uma mãe de família que se ergue como luz de
contemplação. Uma deficiente que se torna santa, é certamente um dom precioso
de Deus, justamente para a nossa sociedade contemporânea, envolta em um
paroxismo hedonístico, que destrói a vida e pratica o culto do eu. Em uma
sociedade que vê o sofrimento como uma maldição e uma deficiência como um fato
intolerável e procura a libertação através da eutanásia e do suicídio; para uma
sociedade, na qual a destruição dos não nascidos se torna um direito, a Beata
Elisabetta Sanna, deficiente e sofredora a vida inteira, que vive para a
alegria dos outros, é um raio de luz, que se abre como caminho para o desespero
dos deficientes, dos marginalizados, dos abandonados. Para todos os sofredores,
Elisabetta é um farol. Aquilo que pareceu uma condenação com esta camponesa,
pode tornar-se instrumento de ressurreição, uma escada para o céu, através de
uma privilegiada participação na redenção oferecida por Jesus Cristo, Filho de
Deus, Redentor do Mundo, exatamente através de sua adorável Paixão.
Elson
Carvalho SAC