sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Beata Elisabetta Sanna, uma deficiente que se tornou apóstola

"Todos os fiéis cristãos são, pois, convidados e obrigados a procurar a santidade e a perfeição do próprio estado” (Lumen Gentium, nº 41). Esse ensinamento da Igreja reforçado pelo Concílio Vaticano II é testemunhado na vida da Beata Elisabetta Sanna, que mesmo na condição de vida em que se encontrava como esposa, mãe, viúva, leiga empenhada no Apostolado Católico, analfabeta, deficiente desde a infância, levou uma vida de santidade e de vivência da sua vocação ao apostolado de Cristo e da Igreja.
          Elisabetta Sanna nasceu num lar católico em 23 de abril de 1788, sua mãe Maria Domenica e seu pai Salvatore Sanna eram pessoas de profunda vivência cristã. Empenhados na vida da pequena comunidade de Codrongianos, na ilha italiana da Sardenha. No final do século XVIII, a Itália sofreu uma forte epidemia de varíola que atingiu gravemente a pequena Elisabetta com apenas 3 meses de vida. Ela passou por um “procedimento cirúrgico” que lhe retirou os nervos dos braços, travando-os na altura do peito, só tinha o movimento dos pulsos e dos dedos. Apesar desta grave deficiência, ela nunca lamentou, dizia que era obra da misericórdia de Deus na sua vida.
          Elisabetta queria consagrar totalmente sua vida a Deus. Pensava em ser monja, no entanto, seus pais e seu diretor espiritual a proibiu. Ela sempre obediente acatou suas ordens e buscou a vida matrimonial. Com 19 anos veio a casar-se com Antônio Maria, homem bom e temente a Deus, com quem teve sete filhos dos quais sobreviveu apenas cinco. Levavam uma vida familiar exemplar, num lar onde reinava o amor a Deus e ao próximo. Seu marido dizia com frequência aos amigos“minha mulher não é como as vossas. Elisabetta tem todas as características de uma mulher santa...”. Com certeza, na vida matrimonial, Elisabetta tinha tudo para ser santa, no entanto, Deus tinha outros planos para a sua vida. Seu esposo veio a falecer no ano de 1825, caindo sobre ela toda a responsabilidade de sustentar e cuidar dos filhos. Deficiente, ela não conseguia muitos serviços para ganhar o necessário para o sustento de sua família. Seu irmão que era padre, Pe. Antonio Luís, passou a ajudá-la no sustento de sua família e na educação de seus filhos. Estabilizando um pouco a sua vida e a de sua família, surgiu no coração de Elisabetta uma inquietação quase incontrolável de “arriscar tudo pelo Tudo”. Durante as pregações quaresmais sentiu-se atraída para conhecer os “lugares banhados pelo sangue do Redentor” e decidiu partir em peregrinação para a Terra Santa. Acompanhada de seu diretor espiritual Pe. José Valle partiram de Codrongianos até a Ilha de Chipre onde foram barrados por falta de visto no passaporte, decidiram esperar a resolução do problema em Roma, a viagem da Ilha de Chipre para Roma durou cerca de 15 dias em carroça e a pé, entre fome, sede e o sol quente do verão europeu. Uma verdadeira aventura, sobretudo para uma deficiente.
Chegando a Roma, Elisabetta conseguiu um quartinho para morar e o Pe. José Valle se tornou capelão do hospital de Santo Espírito. Elisabetta não sabia falar italiano, somente o dialeto da sua terra natal, o sardo. Apesar disso, ela mantinha sua vida de católica zelosa participando de missas e procissões, fazendo adorações ao Santíssimo Sacramento, novenas, via sacra, a reza do santo rosário, obras de caridade e visitas aos doentes e aos pobres. Por várias vezes, tentou voltar para a Sardenha, no entanto, sempre caía enferma nas vésperas da viagem até que foi proibida pelo médico que cuidava dela de empreender tal viagem. Ela entendeu que sua estadia em Roma, terra dos mártires, não era por acaso e sim que Deus tinha um plano para sua vida nesta cidade.
          Na cidade de Roma existia um padre com grande fama de santidade, seu nome era Pe. Vicente Pallotti, seu encontro com a Beata se deu do seguinte modo: Elisabetta estava num certo dia seguindo uma procissão que partia da Basílica de São Pedro, em profundo espírito de oração e de contemplação, não se deu conta de que a procissão já havia acabado, quando percebeu viu-se sozinha e perdida. Ela não sabia como se comunicar, pois ninguém compreendia o dialeto sardo naquele local, foi então que caiu em prantos diante de uma certa igreja. De repente aparece um padre na frente da igreja, que foi até ela e fixou o seu olhar nos olhos dela e aquele olhar lhe transmitiu tranquilidade e coragem, sem dizer nada, ele a conduziu até a Praça de São Pedro e foi embora. Aquele encontro não foi por acaso, a Providencia Divina tem suas maneiras de agir e levou Elisabetta até São Vicente Pallotti, pois ela teria um grande papel na União do Apostolado Católico. Logo Pe. Vicente Pallotti se tornou seu diretor espiritual e confessor, e lhe deu grande ajuda no discernimento de sua vocação.
          Em 1835, Pe. Vicente Pallotti fundou a União do Apostolado Católico (UAC) e Elisabetta de imediato se tornou membro desta fundação. Fez do Apostolado Católico sua vida de tal modo que não era mais Elisabetta que vivia, mas era Cristo que vivia nela. Foi importante cooperadora nas missões da UAC e também na comunidade dos padres e irmãos da Sociedade do Apostolado Católico (SAC). Para Pallotti, Elisabetta deveria buscar a sua santidade no quotidiano da vida, não há movimento fantástico e místico sobrenaturais em sua vida. A santidade não se faz com espetáculos e sim com o amor que silenciosamente se dá no dia-a-dia.
          A beata Elisabetta Sanna veio a falecer no dia 17 de fevereiro de 1857, sete anos depois da morte de seu diretor espiritual São Vicente Pallotti (†1850) e foi enterrada na Igreja Mãe dos palotinos, Igreja Santíssimo Salvador in Onda. Morreu com fama de santidade e seu processo de beatificação e canonização deu início pouco tempo depois de sua morte. No dia 17 de setembro de 2016, ela foi beatificada e seu processo de canonização ainda está em andamento.
          Uma pobre leiga que se tornou apóstola. Uma mãe de família que se ergue como luz de contemplação. Uma deficiente que se torna santa, é certamente um dom precioso de Deus, justamente para a nossa sociedade contemporânea, envolta em um paroxismo hedonístico, que destrói a vida e pratica o culto do eu. Em uma sociedade que vê o sofrimento como uma maldição e uma deficiência como um fato intolerável e procura a libertação através da eutanásia e do suicídio; para uma sociedade, na qual a destruição dos não nascidos se torna um direito, a Beata Elisabetta Sanna, deficiente e sofredora a vida inteira, que vive para a alegria dos outros, é um raio de luz, que se abre como caminho para o desespero dos deficientes, dos marginalizados, dos abandonados. Para todos os sofredores, Elisabetta é um farol. Aquilo que pareceu uma condenação com esta camponesa, pode tornar-se instrumento de ressurreição, uma escada para o céu, através de uma privilegiada participação na redenção oferecida por Jesus Cristo, Filho de Deus, Redentor do Mundo, exatamente através de sua adorável Paixão.
Elson Carvalho SAC

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Nova coordenação nacional da União do Apostolado Católico

Em assembleia realizada no Seminário Mãe do Divino Amor, em Curitiba (PR), foi eleita a nova coordenação nacional da União do Apostolado Católico para os anos 2017-2020.
A União do Apostolado Católico, dom do Espírito Santo, é uma comunhão de pessoas e comunidades que, segundo o carisma de São Vicente Pallotti, promovem a co-responsabilidade de todos os batizados para reavivar a fé e reacender a caridade na Igreja e no mundo e levar todos à unidade em Cristo. Por isso, a União, em comunhão com os Pastores competentes, promove a colaboração entre todos os fiéis na abertura a novas formas de comunidade e de evangelização.
Assim ficou composta a nova coordenação da União do Apostolado Católico no Brasil:
Presidente: Pe. Gilberto Orsolin, SAC
Vice-presidente: Dayse da Conceição
Secretária: Daniele da Silva Carvalho
Vicesecretária: Ir. Marinês Pivatto
Tesoureiro: Leossandro Adiminsky

Conselheiros
Vera Regina Tavares dos Santos - RJ
Ir. Maria Avani da Silva - MA
Pe. Valdeci Almeida, SAC - PR
Julio Lourenço - SP

Membros Ex-oficio
Ir. Adelesia Coldebella (Formação)

Ir. Salete Cargnin (Roma)

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Apóstolos Hoje - Fevereiro de 2016

Introdução Geral

Com esta edição, estamos começando uma série de reflexões - que continuaremos nos próximos meses - sobre o tema do diálogo, à luz do carisma doado à Família Palotina, através de São Vicente Pallotti.
            A comunhão é o centro do nosso carisma, e São Vicente é justamente considerado o profeta da espiritualidade de comunhão. O dialogo é expressão de comunhão e - ao mesmo tempo - um meio para promovê-la; um meio para aprofundá-la onde já existe, e para cuidá-la onde foi ofendida.
            Trata-se de um meio que nos consente de entrar em relação com os outros, de condividir profundamente a verdade da nossa experiência de vida e de fé, de abrir-nos a escuta profunda da experiência do outro, de ser tocado e transformado por esta experiência.
Trata-se de um meio para construir e aprofundar as relações de amor e de respeito recíproco, na justiça e na verdade entre nós, como família Palotina, e mais amplamente com a Igreja e com a sociedade.
O diálogo é também uma característica particular da Igreja de hoje, no sentido amplo, é também o convite constante do Papa Francisco. Somos chamados de uma forma particular, através do nosso carisma, a realizar a nossa parte na promoção da cultura do diálogo, nas multíplices dimensões da nossa vida e do nosso mundo.
A Secretaria Geral

DIÁLOGO ENTRE AS DIFERENTES VOCAÇÕES

[A União do Apostolado Católico] é como uma trombeta evangélica, que chama a todos, que convida a todos, que desperta o zelo, e a caridade de todos os Fiéis de cada estado, grau e condição... (OOCC, I, pp. 4-5)

            É vital para nós continuarmos a crescer na consciência que a União do Apostolado Católico é composta de “todos os fiéis de todas as classes, posição e condição”. Tal composição requer um contínuo diálogo entre as diferentes vocações, porque a proposta ao apostolado - e por isso a imitação de Cristo na nossa vida - será diferente de uma e outra vocação.
            É óbvio que a vida de um leigo, confrontada com a de um sacerdote, terá desafios diferentes, como também diferente estilo de vida. Bem como a pessoa solteira e a pessoa com família enfrentaram a vida de diferentes pontos de vista, dependendo da estrutura e dos deveres que pertencem a cada pessoa. A forma de vida contemplativa e de vida ativa são diferentes uma da outra. Quando levamos em consideração a universalidade da pertença, torna-se claro que, para reforçar as relações entre os membros, o diálogo é fortemente necessário. Este diálogo entre as várias vocações não é importante só para reforçar a compreensão recíproca, mas também para uma maior eficácia no chamado comum ao interno da União. Então se console cada Católico... se com os seus Talentos, Ciência, Erudição, Estudos, Poderes, Nobreza, Relações, Profissões, Arte, Palavra, Substâncias, Bens Terrenos, e Orações fará quanto puder, para que venha reavivada a Fé, e reascendida a Caridade..., adquirirá o mérito do Apostolado (Cfr. OOOO, IV, p. 326).

            Quando estudamos a origem do carisma, que foi dado ao nosso fundador São Vicente Pallotti, em termos de ampla visão de pertença ao Corpo de Cristo, nos recorda que as atividades cotidianas de cada pessoa podem ser uma fonte de apostolado - a vida mesma de Jesus Cristo, Apóstolo do Pai - que continua mediante a força do Espírito que age em nossa vida. Este chamado a uma profunda compreensão recíproca e do nosso papel no empenho de evangelização é para dar nova vida à fé. Nova faísca para o amor e novo impulso à unidade. Em que modo podemos unir esta consciência essencial do “Corpo” se não dialogamos?
            Qual a melhor maneira para “ligar” cada parte ao corpo, se não trabalhar em unidade na resposta apostólica, ao qual Deus esta chamando a União do Apostolado Católico?

A idéia de Apostolado, e o nome de Apóstolo na linguagem correta das Sagradas Escrituras não é tal que não possa distinguir-se da jurisdição eclesiástica... de tal forma que não possa de qualquer modo honrar-se do nome de Apostolo também aquele que não é sacerdote, e por isso pode o seu trabalho dizer-se Apostolado. (OOCC, III, p. 140)

            O diálogo e a colaboração efetiva estão interligados. Quando São Vicente elenca as vocações, os talentos e as atividades das pessoas, o faz tendo uma visão que abraça o único Corpo e as suas multíplices partes. Ele olha o trabalho de cada um, como parte do todo.          Portanto, não respondemos ao chamado de Deus isoladamente, mas em comunhão uns com os outros. Se cada pessoa é parte de um corpo único, então cada atividade torna-se parte do empenho universal para a salvação do mundo. Este é o carisma que temos herdado e depende de nós desenvolvê-lo de modo eficaz no nosso tempo, através o diálogo e a colaboração. Jesus enviou o Espírito para nos ensinar como realizar isso. Depende de  comunicar-nos uns com os outros de modo a assumir a lógica de Cristo, para poder crescer como único Corpo de Cristo.

Perguntas para a reflexão:
  • Como podemos crescer como único corpo na União do Apostolado Católico e na compreensão das nossas diferentes vocações através o uso do dialogo?
  • De que modo o diálogo e a colaboração são associados entre eles como meios importantes para o desenvolvimento da União do Apostolado Católico?
  • Em quais modos o diálogo pode ajudar-nos para reconhecer melhor o papel essencial dos leigos na União e na Igreja?
  • O que podemos fazer para aprofundar a nossa experiência de Corpo de Cristo e ampliar nosso conhecimento das diferentes vocações ao interno da União para utilizar as ações da vida cotidiana, como meios para um apostolado mais frutuoso?

            Sr. Carmel Therese Favazzo CSAC
            USA