sábado, 10 de junho de 2017

Apóstolos Hoje, Junho 2017

DIALOGICIDADE NA MISSÃO
Para falar da dialogicidade na missão, é necessário considerar alguns aspectos do processo missionário. O primeiro é o diálogo conosco mesmo e com Deus, ambos são inseparáveis. Um segundo, entrelaçado com o primeiro, é o diálogo com a cultura, as pessoas que a vivem e suas consequências. Um terceiro seria o aspecto do diálogo inter-religioso. E consequentemente alguns escritos de Pallotti e de Papa Francisco sobre a Caridade no processo da dialogicidade como tal.
Toda missão nasce da paixão por Jesus que se traduz no desejo de servi-lo servindo os outros. A Missão é antes de tudo, estarmos onde Deus nos quer e fazer o que Ele nos pede. Nesse sentido podemos dizer que a Missão é um longo caminho para dentro do coração de Deus que toma completamente conta de nossa vida, e nos conduz por novos caminhos.
Missão é partir, caminhar, deixar tudo, sair de si, abrir-se para deixar-se conduzir, deixar que o Coração de Deus nos leve a um serviço maior. Isso exige, do missionário, maturidade, constante diálogo consigo mesmo, para entrar no processo. Necessita uma intensa busca de si numa nova realidade para descobrir o novo de Deus e crescer na vida espiritual.
O verdadeiro missionário caminha com o Senhor, fala com Ele, trabalha com Ele. Percebe o Deus vivo independente da própria ação.
Ser missionário é deixar “que a vida de Nosso Senhor Jesus Cristo seja a minha vida”. É abrir-se sem temor a ação do Espírito e anunciar com a vida que foi transfigurado na presença de Deus vivo e ressuscitado. O ser humano é essencialmente “enviado”, ou seja, alguém que recebeu uma missão. A transformação em Jesus Cristo conduz necessariamente a participação na sua missão redentora.
Um segundo aspecto de fundamental importância é saber, que o missionário é um hóspede, estrangeiro que estabelece sua morada na casa do outro. Isso exige a capacidade de dar e receber constantemente. Desloca-se como um peregrino e vive permanentemente como estranho, testemunhando a provisoriedade e a contínua busca de uma morada definitiva. É convidado a levar somente uma túnica, isto é, estar revestido de Cristo. É alguém que busca um tesouro escondido no seio dos povos e das culturas, ao mesmo tempo leva o tesouro da compaixão de Deus, num processo de inter-ajuda e de procura do Absoluto.
Ser hóspede significa viver situação de dependência, sua casa é a casa do outro, é uma casa sagrada, um chão sagrado, no qual se faz necessário “tirar as sandálias” para situar-se na nova cultura. E nessa situação, são estabelecidos novos relacionamentos e ocupados os espaços permitidos.
A missão sempre nos move, desestrutura, desinstala e impulsiona a ir além de onde estamos e do que somos. Permite superar a rotina que leva a fechar-se na própria identidade e impede a reconhecer o dom da alteridade. A fé na Trindade e a vivência da missão como atitude fundamental manifesta a alegria de saber-se em comunhão com Deus e com os demais, nos permite celebrar a festa do amor com os outros, especialmente com os mais pobres e excluídos. (cf. Paleari, Giorgio, Espiritualidade e Missão, pg. 61-62. Paulinas, 2005).
A primeira atitude que acompanha o missionário é a do silêncio e da escuta diante do mistério, porque aquela terra é sagrada. É terra da revelação de Deus que ao mesmo tempo gera ansiedade e alegria pelo novo. Se busca conhecer as pessoas, seus costumes, suas histórias e suas dificuldades. É uma escuta que vai além das palavras. É o lugar da revelação de sua identidade.
O diálogo e o contato com as pessoas, aprofunda a possibilidade de mergulhar no mais íntimo do seu próprio ser, de descobrir as raízes, de viver a profunda experiência de Deus. O missionário é sempre um discípulo em busca do tesouro e do rosto de Deus.
O missionário é aquele que está sempre aprendendo com o Outro e com os outros e ao mesmo tempo é o mestre que partilha o presente que recebeu de Deus. Ensina e aprende ao mesmo tempo. Aconselha e recebe conselhos. Partilha o que sabe e partilha do saber do outro. Reconhece que cada pessoa é digna de sua entrega (cf. EG. 274)
Aprender uns com os outros, trata-se de recolher os dons que o Espírito nos deu através deles. O diálogo implica dar e receber, falar e escutar, ensinar e aprender. É a palavra sendo gestada, a palavra que se faz carne na morada da vida de cada um. Partilha aquilo que transborda do coração, da experiência de Deus. Descobre a semente do Verbo, “recolhe a misteriosa sabedoria que Deus quer comunicar através deles” (EG. 198).
O diálogo com a cultura implica escutar os clamores, prestar atenção nas fragilidades, reconhecer o Cristo sofredor e cuidar da dignidade da pessoa. É carregar sobre si os sofrimentos, as ansiedades e as limitações humanas. É ser solidário com os pobres e excluídos e ao mesmo tempo comprometer-se com sua causa, sendo uma voz profética onde é necessário.
O missionário é alguém profundamente comprometido contra as injustiças e contribui na elaboração de projetos de resgate da vida. Vive a utopia do Reino na proximidade e solidariedade, numa compaixão pessoal e silenciosa, na esperança que o mundo se transforme e se torne mais fraterno, sempre apontando para um reino de justiça e de fraternidade para todos.
Como Pallotti se pode dizer que: “Todos somos chamados a observar o preceito da caridade e, porque todos, segundo a realidade da criação, uma imagem da caridade por essência. Eis porque Deus ordenou que cada um se interesse também pelo seu próximo, como dele se interessa o próprio Deus. (OOCC IV, 132, 310, 451)
Antes de ser uma atividade, o diálogo é um encontro e uma exigência cristã. Está enraizado profundamente no mistério trinitário, num Deus que é amor e comunhão. Como dizia Santo Agostinho: Sua missão se origina no amor, se sustenta por amor e comunica amor, criando assim comunhão.
O amor de Deus se torna amor do próximo “Caristas Christi urget nos” – é a alma do seu apostolado. O amor deve ser vivido de tal modo que realize o mandato de Cristo, quando nos convida a amar-nos uns aos outros como Ele nos amou (cf. OOCC I,8).
O missionário além dialogar consigo mesmo, com Deus e com a cultura em seu caminhar como estrangeiro e peregrino, entra em contato com povos de outras crenças, isso exige dele uma clara identidade religiosa, e também uma firme convicção de que Deus quer a salvação de todos (cf. ITm 2,4); que sua graça vai além dos limites visíveis da Igreja; bem como a de que Jesus Cristo é o único Salvador de toda a humanidade, sendo a Igreja o lugar em que se encontram em plenitude os meios de salvação. O diálogo está sempre associado ao anúncio; ambos são inter-conexos, pois, sempre se deseja conhecer claramente quem se está encontrando.
O missionário é uma pessoa de compaixão, solidária, capaz de olhar o diferente não como ameaça, mas com respeito. A salvação é sempre um grande dom de Deus, oferecida a todos, segundo os critérios e métodos do próprio Senhor. Portanto, abertura a outras religiões, bem como o respeito que deve acompanhar a aproximação, exige uma disposição constante à ação do Espírito Santo (cf. Rm 8,29)
O diálogo na experiência religiosa acontece, quando pessoas de diferentes crenças comunicam o próprio caminho para Deus. Quando se busca a paz num esforço conjunto de construir unidade e de superar conflitos. Também o diálogo de intercâmbios teológicos, na qual adeptos de várias religiões refletem e comparam os dados da própria fé. Na experiência de escuta e de comunicação com o outro, se pode dizer que o missionário se transforma, pois daí surge o desejo profundo de busca de unidade em Deus e de respeito profundo pela diversidade.
O diálogo inter-religioso, se sustenta e se anima numa espiritualidade baseada numa fé viva num Deus que é criador e Pai de toda a humanidade; numa convicta e aberta esperança que não busca os resultados imediatos e,numa caridade efetiva e dialógica como dom gratuito de Deus.
O missionário vive na fronteira e cruza todas as fronteiras, sua espiritualidade enraíza-se na universalidade, encontra seu melhor chão na abertura além-fronteiras. O objetivo principal da ação missionária é chegar à comunhão das pessoas com Deus e com elas mesmas.
O dinamismo da comunhão de vida, leva à caridade, à solidariedade, ao encontro e escuta do outro, à cooperação missionária, ao diálogo ecumênico, inter-religioso e social, a trabalhar naquilo que nos une, promovendo assim a reconciliação e a comunhão universal. “Unidade no necessário, liberdade na dúvida, caridade em tudo” (GS, 92).
A Comunhão é um dos objetivos mais importantes da missão; e ao mesmo tempo um dos meios de testemunho mais eficaz para a evangelização: “Como tu Pai, estás em mim e eu em ti, que eles também sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste(Jo 17,21). Uma Igreja em comunhão (Koinonía) se torna um sinal e instrumento da União com Deus e da unidade de todo o gênero humano. (cf. GS 92)
“O compromisso não consiste exclusivamente em atuar, o que o Espírito mobiliza, impulsiona não é um ativismo, mas antes de tudo uma atenção colocada no outro, considerando-o como um consigo. Esta atenção amante é o início de uma verdadeira preocupação por sua pessoa, a partir da qual deseja buscar efetivamente seu bem. Isso implica valorizar a pessoa no que ela tem de próprio, com sua forma de ser, sua cultura, seu modo de viver a fé. O verdadeiro amor sempre é contemplativo, nos permite servir ao outro, não por necessidade, ou por vaidade, senão porque ele é belo, mais além de sua aparência” (EG 199).
O amor pelos irmãos, é autentico se nos compromete a fazer com que Jesus seja amado “conhecido” (cf. OOCC I).
A missão além fronteiras sempre foi uma preocupação de São Vicente Pallotti, poderíamos dizer que foi o princípio da UAC, sua razão de existir e seu fim.
  1. O que eu faço individual e comunitariamente para ajudar a atividade missionária “ad gentes”?
  2. Estamos numa cultura de constante mudança. O que faço para promover o diálogo na realidade atual, com tantos desafios dos meios de comunicação que levam a uma indiferença cultural, religiosa, social e individualista?
  3. O que como UAC podemos colaborar para a paz, num mundo que promove a constante violência?

                                                                 Irma Maria Neide Sibin, CSAC
                                                                  Bolívia

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