“DIÁLOGO, UM CAMINHO QUE NOS LEVA A NÓS
MESMOS, A DEUS E AO OUTRO.”
üO diálogo interior: É o mais exigente. Ele é um processo necessário para o crescimento do
ser humano em sua consistência. É neste diálogo interior que se manifesta o
mundo das relações conscientes e inconscientes do humano e do divino.
üO
diálogo exterior:
É com tudo aquilo que se adiciona à nossa existência, da parte de fora de nós
mesmos, criando desejos nem sempre são necessários à nossa existência, mas
ambos são pertinentes entre si; pois a comunhão dos dois favorece a construção
sólida da identidade da pessoa e do mundo em que se vive.
Para a nossa família Palotina, tal diálogo
é, ou ao menos deveria ser, fruto de uma experiência anterior, pois a pedagogia
de Pallotti nos remete ao Cenáculo onde se aprende e somos capacitados para o
apostolado universal. Pela falta de uma tão profunda experiência pessoal do
Cenáculo e do seu poder transformador vem à luz nosso limite como pessoas, com
a correspondente limitação ao apostolado.
Uma ação apostólica efetiva requer a compreensão e valorização de si e do mundo em que nosso apostolado é
realizado, uma compreensão do emissor e do receptor da mensagem da pessoa e da
cultura.
“O diálogo, um caminho que nos leva a nós mesmos, a Deus e ao outro.”
No
episódio de Pentecostes, todos compreendiam o que os apóstolos falavam (Atos
2,8), todos entendiam a mensagem de salvação apesar de serem pessoas de línguas
e culturas diferentes. Aquele diálogo gerou a comunhão entre pessoas e
culturas.
A cultura de hoje
continuamente nos influencia a nos tornar cada vez mais consumidores de coisas
e idéias. Até mesmo uma simples propaganda de um chocolate tem o poder de
provocar em mim esta pergunta: isto é necessário neste momento para mim? Da
mesma forma acontece em relação a muitas outras coisas, que são desnecessárias
para sermos felizes. Para muitos, o ter é mais importante que o ser.
O
diálogo externo fabricado pela ganância de poucos tem causado a carência, a
pobreza, a falta de um sentido profundo interior do coração humano. Por isso,
há mais interesse de conhecer o diferente, porque não se conhece a riqueza do
próprio interior (conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará - Jo 8,32).
As
pessoas às quais desde muito cedo foi oferecido um espaço de diálogo, não terão
dificuldades de experimentar e manifestar ao mundo externo a consistência do
seu mundo interior.
“O diálogo, um caminho que nos leva a nós mesmos, a Deus e ao outro.”
Em todos os povos a família é central na formação da pessoa,
com a riqueza e as imperfeições de cada membro. O diálogo entre os membros
inclui a interação entre as gerações e possibilita desta maneira a transmissão de
uma duradoura identidade com as devidas características de seu grupo cultural e
social.
As culturas que foram evangelizadas pelos cristãos, logo
encontraram na tradição cristã-apostólica uma compreensão do evento salvífico
pelas palavras de Cristo após sua morte. Fiéis ao mandamento de Jesus, os
apóstolos levaram a mensagem de salvação a todos os povos, pelo diálogo,
acompanhado por sinais dos efeitos do anúncio evangélico nos corações dos
ouvintes da Palavra. (Ide pelo mundo afora e pregai o evangelho a todas as
nações; Mt 28,19, Mc 16,15).
A vida na modernidade tornou o encontro consigo, com o outro e
com Deus muito mais difícil. Há muitas conversas, muito conhecimento do mundo
exterior, mas há muito vazio no interior das pessoas. Somos quase forçados a
sermos espertos no conhecimento de coisas. No que se refere ao ser humano em
si, parece que cada vez mais desconhecemos o poder da nossa natureza. Os
encontros com outros muitas vezes tem revelado a inconsistência do ser humano.
O diálogo de Jesus com os discípulos a
caminho de Emaús é um modelo maravilhoso de encontro que leva à vida nova.
Jesus começou fazendo-lhes uma simples pergunta a respeito daquilo que estavam
conversando, deu-lhes a oportunidade de expressarem tudo o que lhes estava
pesando no coração a respeito da situação atual. Somente depois de os escutar
atentamente, compreendendo a profundidade de sua dor e angústia, Ele lhes
dirigiu uma palavra, capaz de gerar vida e provocar mundança de vida, uma
palavra que tinha o poder de penetrar, aliviar seu desespero e desafiá-los a
olhar sua situação e sua vida com olhos novos, abertos à esperança que vem do
Evangelho. Somente mais tarde, depois que o Senhor lhes abriu plenamente os
olhos, eles reconheceram o poder misterioso do diálogo e o efeito que este
provocou dentro deles: “Não se nos abrasava o coração, quando Ele nos falava
pelo caminho e nos explicava as Escrituras? (Lc 24,32). Foi através do aprender
e escutar de novo, com ouvidos e olhos novos, que seus corações foram
transformados, que foram reconfirmados como discípulos Daquele que doou sua
vida por eles, tornando-se testemunhas e presença de sua vida ressuscitada.
“O diálogo, um caminho que nos leva a nós mesmos, a Deus e ao outro.”
O
diálogo com autoridades tem-se mostrado frequentemente infrutífero e não
gerador de comunhão, com pouca compatibilidade de pensamentos. Parece que temos
homens e mulheres infantis em suas relações. A crise do ser humano se instalou
pela crise de autoridade; temos muitos autoritários, e poucas verdadeiras autoridades.
Autoritarismo envolve a ausência de presença afetiva, pois é pelo afeto que
adquirimos aquela maturidade de adulto, que é capaz de acolher o outro sem
perder a sua identidade.
No
meu pensar vejo que seja urgente aprendermos a perceber, a explicar e a
integrar em nossa praxe os verbos: sentir, ouvir e ver, pois estes verbos são
os responsáveis para que haja diálogo autêntico e consistente entre as pessoas.
A consciência do sentimento é base do diálogo interior. O que ouvimos é base do
escutar, do saber abrir-se para outros valores. O que vemos, forma a base de
nossa visão geral a respeito da totalidade que se manifesta na nossa existência
e no mundo em que vivemos.
No
diálogo como instrumento para a libertação, há um princípio que usamos na nossa
comunidade terapêutica, Mãe do Divino Amor, na recuperação de jovens masculinos
dependentes químicos, que fazem residência em nossa casa. “As doenças que
atingem a alma, entram pelos sentimentos, pelo que ouvimos e pelo que vemos. A
doença sai pela boca, ou seja, se não falamos o que sentimos, não há
recuperação.
Os
dez anos desse apostolado caritativo a pessoas com dependências químicas e/ou
afetivas em recuperação, tem nos mostrado que quanto mais se fala do que se
sente, mais rápido se adquire ou readquire a sanidade da alma. Todo o processo
terapêutico está baseado no amor.
O amor cura: desintoxicação do corpo
O amor salva: perseverança, quem
perseverar será salvo do traficante, da morte, do julgamento, da criminalidade,
culpas, rejeições etc...
O amor liberta: conhecer o próprio
mundo interior, perceber o que os levou a prisão dos afetos doentios e das
drogas.
O amor reconcilia: consigo mesmo, com
Deus e com os outros, ou seja, faz a reparação do que se fez de desonesto.
Vivendo
com estes irmãos, identificamos que as causas que os levaram a tal sofrimento
são inúmeras, mais a maior é a falta de diálogo. Tal falta de comunicação pelo
diálogo afetivo, particularmente com aqueles tem autoridade em suas vidas, com
os primeiros responsáveis, os tornaram frágeis, sujeitos a caírem na armadilha
da dependência química e afetiva.
“O diálogo, um caminho que nos leva a nós mesmos, a Deus e ao outro.”
Assim,
o carisma de nosso Santo fundador São Vicente Pallotti, continua sendo uma luz
para os homens e mulheres de hoje, como foi para as pessoas do seu tempo. Esta
herança pertence a todos os Palotinos (Padres, Irmãos, Irmãs e Leigos).
Somos chamados a sermos luz
para cada filho e filha de Deus, qualquer que seja a miséria ou sofrimento em
que se encontre. Pois a graça do nosso batismo nos qualifica para tal fim.
“Cada um que se arma do sinal salutar da santa cruz, pode estar certo de fazer
tudo aquilo que é da maior glória de Deus e para bem da própria alma e da alma
do outro.” (Cf. OOCC III. 449-450).
Em Amoris Laetitia, o Santo Padre, Papa Francisco diz: a pessoa que
ama é capaz de dizer palavras de incentivo, que reconfortam, fortalecem,
consolam, estimulam. Por exemplo, aqui são algumas palavras que Jesus
Cristo dizia para as pessoas: “coragem
filho, teus pecados estão perdoados” (Mt 9,2). “Vai em paz” (Lc 7,50). Não
tenhas medo! (Mt 14,27). (Amoris Laetitia
N°100).
Todas estas palavras
deveriam ser divididas, nas nossas famílias e comunidades, onde o fraco se
torna forte, o medroso toma coragem, o pecador alcança a santidade.
Em resumo: O diálogo é uma porta que nos leva
ao conhecimento do mistério humano e divino.
Perguntas:
- Que diálogo temos com o nosso mundo interior; o que não quero ver e
por quê?
- O nosso apostolado tem revelado o carisma palotino aos pobres de
hoje?
- Que tipo de dependência temos que nos impede de sermos a imagem e
semelhança de Deus amor, a nós mesmos e a outros?
Fr. José Orlando de Carvalho da Cruz, SAC.
Brazil
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