sábado, 21 de outubro de 2017

Apóstolos Hoje, Setembro de 2017

“DIÁLOGO, UM CAMINHO QUE NOS LEVA A NÓS MESMOS, A DEUS E AO OUTRO.”

      
Há diversos tipos de diálogo, mas me deterei apenas em dois, que julgo serem a base para os demais.
üO diálogo interior: É o mais exigente. Ele é um processo necessário para o crescimento do ser humano em sua consistência. É neste diálogo interior que se manifesta o mundo das relações conscientes e inconscientes do humano e do divino.
üO diálogo exterior: É com tudo aquilo que se adiciona à nossa existência, da parte de fora de nós mesmos, criando desejos nem sempre são necessários à nossa existência, mas ambos são pertinentes entre si; pois a comunhão dos dois favorece a construção sólida da identidade da pessoa e do mundo em que se vive.
       Para a nossa família Palotina, tal diálogo é, ou ao menos deveria ser, fruto de uma experiência anterior, pois a pedagogia de Pallotti nos remete ao Cenáculo onde se aprende e somos capacitados para o apostolado universal. Pela falta de uma tão profunda experiência pessoal do Cenáculo e do seu poder transformador vem à luz nosso limite como pessoas, com a correspondente limitação ao apostolado.
       Uma ação apostólica efetiva requer  a compreensão e valorização de  si e do mundo em que nosso apostolado é realizado, uma compreensão do emissor e do receptor da mensagem da pessoa e da cultura.
“O diálogo, um caminho que nos leva a nós mesmos, a Deus e ao outro.”
       No episódio de Pentecostes, todos compreendiam o que os apóstolos falavam (Atos 2,8), todos entendiam a mensagem de salvação apesar de serem pessoas de línguas e culturas diferentes. Aquele diálogo gerou a comunhão entre pessoas e culturas.
A cultura de hoje continuamente nos influencia a nos tornar cada vez mais consumidores de coisas e idéias. Até mesmo uma simples propaganda de um chocolate tem o poder de provocar em mim esta pergunta: isto é necessário neste momento para mim? Da mesma forma acontece em relação a muitas outras coisas, que são desnecessárias para sermos felizes. Para muitos, o ter é mais importante que o ser.
       O diálogo externo fabricado pela ganância de poucos tem causado a carência, a pobreza, a falta de um sentido profundo interior do coração humano. Por isso, há mais interesse de conhecer o diferente, porque não se conhece a riqueza do próprio interior (conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará - Jo 8,32).
       As pessoas às quais desde muito cedo foi oferecido um espaço de diálogo, não terão dificuldades de experimentar e manifestar ao mundo externo a consistência do seu mundo interior.
“O diálogo, um caminho que nos leva a nós mesmos, a Deus e ao outro.”
       Em todos os povos a família é central na formação da pessoa, com a riqueza e as imperfeições de cada membro. O diálogo entre os membros inclui a interação entre as gerações e possibilita desta maneira a transmissão de uma duradoura identidade com as devidas características de seu grupo cultural e social.
       As culturas que foram evangelizadas pelos cristãos, logo encontraram na tradição cristã-apostólica uma compreensão do evento salvífico pelas palavras de Cristo após sua morte. Fiéis ao mandamento de Jesus, os apóstolos levaram a mensagem de salvação a todos os povos, pelo diálogo, acompanhado por sinais dos efeitos do anúncio evangélico nos corações dos ouvintes da Palavra. (Ide pelo mundo afora e pregai o evangelho a todas as nações; Mt 28,19, Mc 16,15).
       A vida na modernidade tornou o encontro consigo, com o outro e com Deus muito mais difícil. Há muitas conversas, muito conhecimento do mundo exterior, mas há muito vazio no interior das pessoas. Somos quase forçados a sermos espertos no conhecimento de coisas. No que se refere ao ser humano em si, parece que cada vez mais desconhecemos o poder da nossa natureza. Os encontros com outros muitas vezes tem revelado a inconsistência do ser humano.
       O diálogo de Jesus com os discípulos a caminho de Emaús é um modelo maravilhoso de encontro que leva à vida nova. Jesus começou fazendo-lhes uma simples pergunta a respeito daquilo que estavam conversando, deu-lhes a oportunidade de expressarem tudo o que lhes estava pesando no coração a respeito da situação atual. Somente depois de os escutar atentamente, compreendendo a profundidade de sua dor e angústia, Ele lhes dirigiu uma palavra, capaz de gerar vida e provocar mundança de vida, uma palavra que tinha o poder de penetrar, aliviar seu desespero e desafiá-los a olhar sua situação e sua vida com olhos novos, abertos à esperança que vem do Evangelho. Somente mais tarde, depois que o Senhor lhes abriu plenamente os olhos, eles reconheceram o poder misterioso do diálogo e o efeito que este provocou dentro deles: “Não se nos abrasava o coração, quando Ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras? (Lc 24,32). Foi através do aprender e escutar de novo, com ouvidos e olhos novos, que seus corações foram transformados, que foram reconfirmados como discípulos Daquele que doou sua vida por eles, tornando-se testemunhas e presença de sua vida ressuscitada.
“O diálogo, um caminho que nos leva a nós mesmos, a Deus e ao outro.”
       O diálogo com autoridades tem-se mostrado frequentemente infrutífero e não gerador de comunhão, com pouca compatibilidade de pensamentos. Parece que temos homens e mulheres infantis em suas relações. A crise do ser humano se instalou pela crise de autoridade; temos muitos autoritários, e poucas verdadeiras autoridades. Autoritarismo envolve a ausência de presença afetiva, pois é pelo afeto que adquirimos aquela maturidade de adulto, que é capaz de acolher o outro sem perder a sua identidade.
       No meu pensar vejo que seja urgente aprendermos a perceber, a explicar e a integrar em nossa praxe os verbos: sentir, ouvir e ver, pois estes verbos são os responsáveis para que haja diálogo autêntico e consistente entre as pessoas. A consciência do sentimento é base do diálogo interior. O que ouvimos é base do escutar, do saber abrir-se para outros valores. O que vemos, forma a base de nossa visão geral a respeito da totalidade que se manifesta na nossa existência e no mundo em que vivemos.
       No diálogo como instrumento para a libertação, há um princípio que usamos na nossa comunidade terapêutica, Mãe do Divino Amor, na recuperação de jovens masculinos dependentes químicos, que fazem residência em nossa casa. “As doenças que atingem a alma, entram pelos sentimentos, pelo que ouvimos e pelo que vemos. A doença sai pela boca, ou seja, se não falamos o que sentimos, não há recuperação.
       Os dez anos desse apostolado caritativo a pessoas com dependências químicas e/ou afetivas em recuperação, tem nos mostrado que quanto mais se fala do que se sente, mais rápido se adquire ou readquire a sanidade da alma. Todo o processo terapêutico está baseado no amor.
       O amor cura: desintoxicação do corpo
       O amor salva: perseverança, quem perseverar será salvo do traficante, da morte, do julgamento, da criminalidade, culpas, rejeições etc...
       O amor liberta: conhecer o próprio mundo interior, perceber o que os levou a prisão dos afetos doentios e das drogas.
       O amor reconcilia: consigo mesmo, com Deus e com os outros, ou seja, faz a reparação do que se fez de desonesto.
       Vivendo com estes irmãos, identificamos que as causas que os levaram a tal sofrimento são inúmeras, mais a maior é a falta de diálogo. Tal falta de comunicação pelo diálogo afetivo, particularmente com aqueles tem autoridade em suas vidas, com os primeiros responsáveis, os tornaram frágeis, sujeitos a caírem na armadilha da dependência química e afetiva.
“O diálogo, um caminho que nos leva a nós mesmos, a Deus e ao outro.”
       Assim, o carisma de nosso Santo fundador São Vicente Pallotti, continua sendo uma luz para os homens e mulheres de hoje, como foi para as pessoas do seu tempo. Esta herança pertence a todos os Palotinos (Padres, Irmãos, Irmãs e Leigos).
Somos chamados a sermos luz para cada filho e filha de Deus, qualquer que seja a miséria ou sofrimento em que se encontre. Pois a graça do nosso batismo nos qualifica para tal fim. “Cada um que se arma do sinal salutar da santa cruz, pode estar certo de fazer tudo aquilo que é da maior glória de Deus e para bem da própria alma e da alma do outro.” (Cf. OOCC III. 449-450).
Em Amoris Laetitia, o Santo Padre, Papa Francisco diz: a pessoa que ama é capaz de dizer palavras de incentivo, que reconfortam, fortalecem, consolam, estimulam. Por exemplo, aqui são algumas palavras que Jesus Cristo  dizia para as pessoas: “coragem filho, teus pecados estão perdoados” (Mt 9,2). “Vai em paz” (Lc 7,50). Não tenhas medo! (Mt 14,27). (Amoris Laetitia N°100).
Todas estas palavras deveriam ser divididas, nas nossas famílias e comunidades, onde o fraco se torna forte, o medroso toma coragem, o pecador alcança a santidade.
Em resumo: O diálogo é uma porta que nos leva ao conhecimento do mistério humano e divino.

Perguntas:
  1. Que diálogo temos com o nosso mundo interior; o que não quero ver e por quê?
  2. O nosso apostolado tem revelado o carisma palotino aos pobres de hoje?
  3. Que tipo de dependência temos que nos impede de sermos a imagem e semelhança de Deus amor, a nós mesmos e a outros?

                                                  Fr. José Orlando de Carvalho da Cruz, SAC.

                                                  Brazil

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