sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

JESUS E AS NOSSAS DOENÇAS

Há três domingos que as leituras do Evangelho vem sendo uma sequência de versículos de Marcos capítulo 1.  No Domingo passado vemos Jesus desmascarando e expulsando aquele que é a origem do mal no mundo, aquele que é perverso e perversor: o demônio.
Assim como uma dona de casa, quando vai fazer uma boa faxina, não tira somente as aranhas, mas também as teias que essas aranhas fizeram, Jesus é Aquele que vem reparar a glória de Seu Pai, ultrajada pelo pecado de Adão e, para isso, expulsa o demónio, mas também tira as teias do pecado e suas consequências.
São Beda, comentando essa passagem da cura da sogra de Pedro diz: “Primeiro deveria o Senhor tapar a boca da serpente, para que não espalhasse mais veneno. Depois curou a mulher que foi seduzida antes da concupiscência carnal. Por isso disse: “Jesus saiu da sinagoga e logo foi à casa de Simão e André. A sogra de Simão estava de cama com febre, e logo contaram a Jesus”.  O Santos Padres viam na febre da sogra de Pedro, um símbolo da concupiscência carnal que ficou no ser humano, fruto do pecado original. Jesus, tocando a sogra de Pedro, de novo a equilibra interiormente e a capacita para o serviço no amor.
O pecado original teve como uma de suas consequências, os males físicos. De dois modos Jesus trata esses males: O primeiro é curando-os na Sua Infinita Misericórdia; o segundo é fazendo com que o sofrimento dos seus fiéis contribua para o bem espiritual deles ou de outros, como diz São Paulo quando afirma que tudo concorre para o bem dos que amam a Deus. (Cf. Rom 8,28)
A Igreja sempre percebeu isso, e viu, no cuidado com os enfermos, uma de suas mais importantes obrigações, aliviando-os de modo natural pelos cuidados, ou sobrenatural, pelos sacramentos e preces. Assim, vemos toda a tradição de médicos que se santificaram no exercício de sua profissão como São Lucas Evangelista, São Cosme e São Damião, Santa Giana Bereta Molla entre muitos outros; fundadores de ordens dedicadas ao cuidado dos doentes como São João de Deus, que fundou hospitais psiquiátricos, São Camilo de Lélis, fundador dos padres e irmãos Camilianos e, atualmente, muitos fundadores de casas para a recuperação de viciados em drogas.  Tal era, em São Camilo, a consciência de que o Cristo estava no doente e que deveria assisti-lo aí, que chegou a dizer que se chegasse, porventura, o dia em que não tivermos mais nenhum doente para nele servirmos o Cristo, teríamos de ir ao cemitério e ressuscitar algum dos mortos para isso.
 Verdadeiramente, como vemos no Evangelho de hoje, a enfermidade pode ser um momento muito privilegiado para o encontro com Cristo que quer nos curar no corpo e na alma, sarando em nós, o pecado e suas consequências.
O salmo de hoje é claro: “O Senhor Deus é o amparo dos humildes, mas dobra até o chão os que são ímpios” (Salmo 146). Ora, em que momento nos tornamos mais conscientes de nossa pequenez do que na enfermidade?  Por isso a Igreja sempre esteve presente nos hospitais, asilos para idosos, tantas casas de recuperação de drogados, e mesmo, fundando muitos deles com pessoas vocacionadas para isso. É uma grande obrigação dos sacerdotes, a visita e a ministração dos sacramentos aos doentes. Para isso existem, também os ministros extraordinários da comunhão Eucarística, a pastoral da saúde...
Tendo em vista tudo isso, vemos como a Igreja sempre teve apresso pela profissão médica, vendo nela um dos cumprimentos do mandato do Salvador: “Estive doente e fostes me visitar”.
Não obstante isso, não podemos deixar, com muito pesar, de nos referir também, aqui, a certos abusos no exercício da medicina que vemos nos dias de hoje. A enfermidade , que colabora para o crescimento da humildade do ser humanos e a reaproximação de Deus, pode, infelizmente, contribuir também para o endurecimento do coração e a revolta contra o Criador e os seus desígnios. Como?  
Quando a medicina é usada não para preservar e restaurar a saúde, mas para manipular a vida. Lembramos as eutanásias, lembramos o congelamento de embriões humanos e o descarte dos mesmos nas fecundações em vitro; lembramos os métodos anticoncepcionais artificiais que geram abortos; lembramos as esterilizações em massa que se praticam nos dias de hoje. Estas últimas levam muitas pessoas, não a equilibrar as suas paixões e a canalizá-las ao reto uso da sexualidade, mas para tornar o uso do sexo algo “barato”, que acaba por levar à desordem moral, e, consequente, ao enfraquecimento das instituição familiar.
Estamos perto do carnaval. Quantas pessoas, nesses dias, por causa do avanço da medicina, vão tratar os seus corpos com depravação, achando que não pegarão nenhuma doença, ou que não engravidarão. Mesmo que isso não aconteça, o que de fato acontece, pois esses métodos são falhos, como ficarão as suas almas? Certamente mais entregues àquele antigo inimigo do qual Jesus veio nos libertar: o demônio.
Que Nosso Senhor nos conceda santos médicos, santos sacerdotes, santos agentes de pastoral da saúde, bons vizinhos dos enfermos, para que estes recuperem a saúde não só do corpo, que um dia perecerá, mas também da alma, pela qual Jesus se ofereceu na Cruz.
Dentro de instantes, o mesmo Jesus que curou os doentes estará conosco na Eucaristia, para tocar também misericordiosamente o nosso corpo, pois também ele está destinado à felicidade eterna juntamente com a nossa alma. Que Nosso Senhor aumente a nossa fé e que possamos receber a Eucaristia sempre com maior fruto.

Para partilhar: O que posso fazer a mais por Jesus presente em cada enfermo?

Pe. Marcelo

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