Nós, Família Palotina reunida fisicamente ou
espiritualmente de 14 à 19 de Julho no III Congresso Geral da União no Cenáculo
com Maria Rainha dos Apóstolos “a grande missionária”, abertos a acolher
"a abundância do Espírito Santo” (cfr. OOCC X, 86-87), nos colocamos à
escuta da Palavra e na reflexão da exortação apostólica do Papa Francisco “Evangelii
Gaudium”. O Doc. Exortação apostólica é de suma importância, pois toca o mais
profundo do espírito apostólico de Vicente Pallotti e também da União do
Apostolado Católico, nascida do seu zelo missionário e que desde o início se
colocou a serviço da missão de todos os fiéis, na propagação da fé no mundo
inteiro. Percebemos que o aspecto missionário foi determinante desde o início
da Obra de Pallotti, e, hoje, somos particularmente desafiados a redescobrir e
a resgatar a nossa dimensão missionária.
A missão de todos nós, membros e colaboradores
da União, de reavivar a fé e reacender a caridade parte de uma realidade
pessoal concreta também de oração pessoal e comunitária, vivida como encontro
experencial com Jesus, o Apóstolo do Pai. A vida de Jesus Cristo, o
missionário, o enviado por excelência (Lc, 4, 18; Gv. 4, 34), era o Cristo que
atraía Pallotti. Ele nos deixou Jesus Cristo missionário e Apóstolo como “Regra
Fundamental ... para imitá-lo com toda a possível perfeição em todas as obras
da vida privada e de público ministério evangélico” (OOCC III, p. 62 ).
Experiência essa capaz de transformar e evangelizar o mais profundo da
existência de todo aquele que se coloca a caminho, assim como foi o desejo de
Pallotti: “Meu Jesus, (…) destrua a minha vida, dá-me a tua vida e com essa
quero viver” (OOCC X, pp. 668-669). A experiência de Deus, Amor e Misericórdia
infinita, abriu os olhos do sacerdote Vicente Pallotti para as necessidades
fundamentais da Igreja e do contexto social de seu tempo dando-lhes uma
resposta. Reafirma Papa Francisco: a nova evangelização para a transmissão da
fé cristã, o anúncio do Evangelho hoje só é possível quando surge de “um
encontro:... com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o
rumo decisivo” (EG, n.7). Esse é o “manancial da ação evangelizadora”, segundo
Francisco. “Porque, se alguém acolheu este amor que lhe devolve o sentido
da vida, como é que pode conter o desejo de o comunicar aos outros?” (EG, n.
8). Portanto, seja na sua origem, seja também no seu desdobrar-se, a ação
evangelizadora mantém seu vigor nesse encontro: não se trata de uma “heroica
tarefa pessoal”, mas, um anúncio que nasce e se mantém como encontro com esse
grande “Outro” e este o impulsiona a ir ao encontro dos homens e mulheres do mundo
de hoje.
A “Alegria do Evangelho”: Uma Igreja de rosto
missionário
O zelo missionário em Vicente Pallotti pelo
anúncio do Evangelho em todo mundo foi um motor importante das suas atividades
apostólicas no âmbito da União. Acima de tudo, Vicente comprendeu que todos com
Cristo, Apóstolo do Eterno Pai, têm a obrigação e o direito de participar
ativamente na missão da Igreja. Temos a missão de tornar Jesus Cristo conhecido
e amado, despertando em cada cristão a consciência da vocação ao apostolado, e
promover em diferentes partes da Terra a participação ativa na missão da Igreja.
Exemplo concreto e iniciativa pioneira da UAC é o reavivar a celebração popular
do Oitavário da Epifania planejado e realizado por Vicente Pallotti. Podemos
dizer que a celebração solene do Oitavário foi e é ainda hoje a celebração
missionária da União.
Ao anunciar Jesus Cristo, Francisco nos
convida a prestar “uma especial atenção à ‘via da beleza’”: “Anunciar Cristo
significa mostrar que crer n’Ele e segui-Lo não é algo apenas verdadeiro e
justo, mas também belo, capaz de cumular a vida dum novo esplendor e duma
alegria profunda, mesmo no meio das provações (EG, n. 167)”. Somos chamados a
ser, no mundo de hoje, uma presença profética, apóstolos que “curem feridas,
que saibam escutar, acolher e visitar as pessoas” e na luz do Evangelho
reacender a esperança, a fé no Deus da vida e a alegria de seguir Jesus Cristo.
Com alegria, todos nós, membros e
colaboradores da União podemos somar com o Papa Francisco na missão de
construir uma Igreja em saída Pastoral e Missionária. A construir uma Igreja de
rosto missionário: próxima, aberta, capaz de sair de si para ir ao encontro das
pessoas por caminhos novos, sobretudo das que vivem nas "periferias"
geográficas e existenciais. Uma Igreja livre, capaz de denunciar profeticamente
as injustiças do mundo.
O Papa parece nos mostrar alguns espaços de
apostolado/evangelização que carecem de uma dedicação especial e aqui recordo
alguns:
dos pobres, que além do pão, casa, trabalho e
saúde, carece de cuidado espiritual. Afirma o Papa que a "pior
discriminação que sofrem os pobres é a falta de cuidado espiritual. [...] tem
necessidade de Deus e não podemos deixar de lhe oferecer a sua amizade, a sua
benção, a sua Palavra, a celebração dos sacramentos e a proposta de um caminho
de crescimento e amadurecimento na fé” (EG, n. 200). Embora nem sempre
conseguimos manifestar a beleza do Evangelho, mas, “há um sinal que nunca deve
faltar: a opção pelos últimos, por aqueles que a sociedade descarta e lança
fora” (EG, n. 195).
a mulher, “duplamente pobres”, ao padecer
“situações de exclusão, maus tratos e violência ...” (EG, n. 212). Por sua
parte, a “Igreja reconhece a indispensável contribuição da mulher na sociedade,
com uma sensibilidade, uma intuição e certas capacidades peculiares, que
habitualmente são mais próprias das mulheres que dos homens. (...) Mas ainda é
preciso ampliar os espaços para uma presença feminina mais incisiva [... ] nos
vários lugares onde se tomam as decisões importantes, tanto na Igreja como nas
estruturas sociais” (EG, n. 103).
os migrantes, os “sem abrigo, os
toxicodependentes, os refugiados, os povos indígenas, os idosos cada vez mais
sós e abandonados...” (EG, n. 210).
o atual sistema econômico “injusto na sua
raiz” (EG, n.59), que gera uma “economia da exclusão e da desigualdade social [que...]
mata” (cfr. n. 53). Pallotti era convicto que a pessoa é "imagem de Deus” enquanto
neste sistema o ser humano passa a ser considerado como “um bem de consumo que
se pode usar e depois lançar fora” (EG, n. 53). Assim tem início uma “cultura
do «descartável», que aliás chega a ser promovida. Já não se trata simplesmente
do fenómeno de exploração e opressão, mas duma realidade nova: com a exclusão,
fere-se, na própria raiz, a pertença à sociedade onde se vive, pois quem vive
nas favelas, na periferia ou sem poder já não está nela, mas fora. Os excluídos
não são «explorados», mas resíduos, «sobras»” (EG, n. 53).
Em nosso apostolado/missão, segundo o Papa
Francisco “não servem as propostas místicas desprovidas de um vigoroso
compromisso social e missionário, nem os discursos e acções sociais e pastorais
sem uma espiritualidade que transforme o coração” (EG, n. 262). O anúncio do
Evangelho leva ao “amor fraterno, ao serviço humilde e generoso, à justiça, à
misericórdia para com o pobre” (EG, n. 194), como Jesus ensinou. “Na medida em
que Ele conseguir reinar entre nós, a vida social será um espaço de
fraternidade, de justiça, de paz, de dignidade para todos. Por isso, tanto o
anúncio como a experiência cristã tendem a provocar consequências sociais” (EG,
n. 180).
Do Cenáculo somos enviados em missão a
construir com alegria uma Igreja possuída, animada e impelida pelo espírito dos
primeiros cristãos. E o espírito dos primeiros cristãos era um espírito eminentemente
missionário, pois todos eles, fortalecidos pelo Espírito Santo, saíram do
Cenáculo e se espalharam pelo mundo afora e deram testemunho de Jesus Cristo a
judeus e pagãos com a palavra, a vida e até com o próprio sangue. Reconquistar
o espírito dos primeiros cristãos parece ser uma das grandes contribuição que
nós membros e colaboradores da UAC podemos dar à Igreja e ao mundo. Nesta
Igreja, reavivar a fé e reacender a caridade: eis o Carisma da UAC. Carisma
atual para o nosso tempo e que pode contribuir para um novo impulso missionário
em todo povo de Deus, sejam Bispos, padres, diáconos, consagrados /as,
leigos/as.
Reflexão
Ler ou reler a exortação apostólica Evangelii
Gaudium
Como posso fazer frutificar os dons que recebi
de Deus para servir a comunidade, na construção de uma Igreja em saída Pastoral
e missionária?
Como pessoa batizada, me coloco a serviço da
evangelização que anuncia explicitamente Jesus Cristo? É uma evangelização que
leva a assumir a vida cristã?
Ação concreta:
Como membro da União em que posso me dedicar
ainda para levar Jesus, alegria do Evangelho, para outros, colocando-me a
serviço da Igreja, com os dons que recebi de Deus, especialmente aos que vivem
“nas periferias geográficas e existenciais”?