Misericórdia e Missão
O Ano da Misericórdia realmente deu-nos
oportunidade de refletir sobre o tema, mas, acima de tudo, de fazer experiência
do amor incondicional de Deus e, através de gestos e ações concretas,
trasmiti-lo a outros.
Minha primeira reflexão parte de algumas
perguntas: que relação há entre misericórdia e missão? O que significa
descobrir a misericórdia de Deus? Dado a grandeza e complexidade do tema,
certamente não darei uma resposta satisfatória.
O Evangelho, nos revela que devemos continuar
a obra iniciada por Jesus Cristo, estando a seu serviço e de nossos irmãos.
Nesta realidade histórica tão conplexa a pessoa humana pode acolher a
intervenção misericordiosa de Deus, por meio de nossa ação evangélica.
Jesus é “o rosto da Misericórdia do Pai”
(Misericordiae Vultus), nós precisamos sempre contemplar este mistério de amor.
Ninguém pode afirmar com segurança que
encontrou ou esgotou todos os argumentos para definir o que é a misericórdia.
Alguém pode insinuar, dizer algo, mas nunca consegue dizer tudo, porque a
essência da misericórdia está no coração de Deus e somente quem a experimenta
vive a alegria de sentir-se perdoado e acolhido no amor do Pai.
Contagiados por este amor divino podemos
“compreender” ou nos aproximar do verdadeiro significado e sentido da
misericórdia. Por isso, jamais poderá faltar a fé, que nos leva a buscar as
respostas em Deus. Somos chamados a deixar Deus agir na sua originalidade,
conduzir-nos por caminhos diferentes dos nossos, viver no seu mistério e
lançar-nos sem defesas na missão que Ele nos confiou.
Nosso
fundador, São Vicente Pallotti, viveu profundamente esta experiência de amor;
isto podemos constatar em seus escritos, onde inúmeras vezes repetia palavras
tais como: eterna, infinita, imensa, misericórdia minha... (Poema da
Misericórdia). Pallotti viveu esta experiência sem ostentação. Com humildade
reconhece a sua pequenez e imperfeição, a ponto de dizer sou “nada e pecado”.
Porém este sentimento de nulidade não o afasta de Deus mais o impulsiona a uma
confiança total entregando-se totalmente ao Amor Misericordioso do Pai que o
leva a exclamar: “Meu Deus e meu tudo”.
Com
muita alegria percebemos que nosso Fundador experimentou nas profundezas do seu
ser o amor misericordioso de Deus que o levava a implorar: “que em mim e em
todos, permaneça a plenitude do amor misericordioso de Deus”.
Seguindo
as inspirações de São Vicente Pallotti, entramos em contato com nossas raizes
mais profundas e ali podemos encontrar a essência para nosso caminho de conversão
e desfrutar da grande experiência do amor misericordioso, aproximando-nos
daquilo que nos diz Jesus: “Sede perfeitos como vosso Pai Celeste é perfeito”
(Mt 5,48).
Essa
experiência de amor, que Pallotti viveu, o fez entrar em contato com tantas realidades
da cidade de Roma, por isso, sentiu a necessidade de comprometer leigos,
sacerdotes, religiosos para serem apóstolos e dizia: devemos ser “trombetas
evangélicas”, para proclamar a todos a Palavra de Deus e em tudo glorificá-Lo
através de obras de misericórdia.
Todo
o batizado deve tomar consciência de que é chamado a ser apóstolo,
evangelizador, para anunciar Jesus, proclamar a Boa Nova, falar das suas
maravilhas, e testemunhar que Ele vive e caminha conosco como Igreja, Povo de
Deus.
Nós, família palotina, temos como herança um
carisma muito rico, que nos impulsiona à missionariedade, de “ser e formar
apóstolos”, não podemos esquecer este mandato. Nosso Fundador sempre revelou
profundo zelo missionário, por isso desejava atingir a todos, anunciando a
grandeza do Reino de Deus.
Às vezes nos falta coragem para dizer sim à
missão, especialmente quando devemos deixar nossa pátria e afrontar novas
realidades. Recordemos São Paulo, que deixando-se conduzir pelo amor a Jesus
Cristo, exclama: “ai de mim, se não anunciar o evangelho!” (1Cor 9,16).
Ser apóstolo é ser missionário, ser discíspulo
de Jesus, e isto significa a necessidade de viver em comunhão com Ele a tal
ponto de poder afirmar: “Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim.
A minha vida presente, na carne, eu a vivo na fé no Filho de Deus, que me amou
e se entregou por mim” (Gl 2,20).
Para ser verdadeiro missionário é preciso
deixar-se guiar pelo Espírito Santo como Maria e os apóstolos, no Cenáculo
fazendo acontecer a “explosão missionária de Pentecostes” (EG 284). Nossa ação
evangelizadora tem sua raiz no mandato de Jesus: “Ide por todo o mundo e pregai
o Evangelho a toda criatura”. (Mc 16,15)
E que missão é essa? Jesus mesmo dá a resposta
“Ide, pois, e ensinai a todas as nações; batizai-as em nome do Pai, do Filho e
do Espírito Santo. Ensinai-as a observar tudo o que vos prescrevi. Eis que
estou convosco todos os dias, até o fim do mundo”. (Mt 28, 19-20)
Cabe a nós estarmos abertos para ouvir o
chamado e percorrer os caminhos pelos quais Deus nos envia, para construir o
seu projeto de amor, sem esquecer os três pilares: oração assídua, atenção às
inspirações do Espírito Santo e o testemunho de vida.
Não basta obter as respostas de Deus, é
preciso ter coragem de andar por caminhos desconhecidos, com a certeza de que
Deus é fiel e jamais abandona seus filhos.
Concluo esta reflexão com as palavras finais
do Evangelho de São João que diz: não é possível escrever todas as coisas
feitas por Jesus (cf Jo 21,25), porém, algumas perguntas podem nos ajudar a
apronfundar este tema.
Sou porta de misericórdia para os outros?
Como ser para o outro o rosto misericordioso
de Deus?
Como vivo a missionariedade e o ser apóstolo
hoje?
Oração pela União do Apostolado Católico
Deus, Pai de misericórdia, cremos no teu
infinito Amor, na tua infinita Bondade. Cremos que enviaste teu Filho para nos
redimir e para redimir toda a humanidade. Cremos que teu Espírito é fonte de
luz na missão que nos confiaste, através de São Vicente Pallotti.
Imploramos, ó Divino Espírito, abundantes
luzes sobre a União do Apostolado Católico. Infunde em cada membro teus dons,
para que a oração, o anúncio da Palavra, o trabalho e o sofrimento estejam
impregnados de zelo apostólico, Deus seja infinitamente glorificado e quanto
antes haja um só rebanho sob um só Pastor.
Maria Rainha do Apóstolos, forma-nos para que
possamos: responder com generosidade aos apelos da Igreja; utilizar todos os
meios possíveis para viver com fidelidade e amor nossa consagração; reavivar a
fé e a caridade em todos; servir sempre com alegria e disponibilidade.
Senhor, concede-nos a graça de procurarmos em
tudo a vontade de Deus e aquilo que ajuda a construção do teu Reino: o amor, a
justiça, a verdade, a fraternidade e a paz. Isto nós te pedimos por intercessão
de Maria, Rainha dos Apóstolos, de São Vicente Pallotti, na unidade do Espírito
Santo. Amém.
Irmã Venícia Meurer, CSAC
Congregazione Suore dell’Apostolato Cattolico