Tanto a segunda leitura, como o Evangelho deste
domingo são sequenciados com relação ao domingo passado; este, do Evangelho de
São Marcos e aquela, da primeira Carta aos Coríntios. Assim, vale a pena
recordar a última frase do Apóstolo Paulo da segunda leitura do domingo
passado. São Paulo dizia: “A figura deste mundo passa.”
Esta mesma ideia perpassa a leitura deste
dia. Quem quiser ter a clareza do que está no coração de Deus sobre o chamado a
constituir uma família ou ser um celibatário por amor ao Senhor e ao seu Reino,
deve ler e meditar o capítulo sete da Primeira Carta aos Coríntios.
Seja o matrimônio, seja a vida consagrada
celibatária, para São Paulo, derivam de um mesmo chamado: a vocação celeste.
Quem abraça o matrimônio deveria fazê-lo não porque lhe é mais cômodo, mas em
vista de um carisma. São Paulo vai dizer claramente que preferiria que todos
fossem como ele(celibatário), mas que cada um tem o seu “dom” ou “carisma” (Cf.
1 Cor 7, 7).
Quem quer, porém, ouvir a voz de Deus em
sua vocação??? Moisés, na primeira leitura, diz claramente que o povo não
queria ouvir a voz do Senhor a lhe falar diretamente, de forma que Deus promete
um Profeta que falará de forma humana ao povo. Este profeta é o próprio Cristo.
O Cristo é a própria Palavra de Deus que,
ouvida em Cafarnaum, que significa “local do consolo”, expulsa o espírito
maligno.
Esse espírito maligno estava em um lugar
meio estranho... num lugar onde não era de se esperar que ele estivesse: a
sinagoga. Deveria ser um local de tranquilidade, de escuta da Palavra e da
vontade de Deus. No entanto, baseado em outros textos, podemos dizer que um
espírito mundano pairava no senso religioso do povo de Israel e até mesmo nos
próprios Apóstolos antes de Pentecostes. Quando Jesus multiplicou os pães, o
povo o queria fazer rei. Quando começou a falar do Pão Novo que dava a vida
eterna, Nosso Senhor perdeu discípulos.
Mesmo depois que Nosso Senhor Morreu na Cruz
e ressuscitou, os próprios Apóstolos perguntaram ao Senhor: “É agora que ides
restaurar o Reino de Israel?” Pão
material, reino humano...
Não é o que constatamos hoje, infelizmente,
em muitos cristãos? Buscam a bênção de Deus e não o Deus da bênção... Paga-se o
dízimo porque deseja-se uma retribuição material imediata. Faz-se novena para conseguir um namorado.
Conseguido o namorado, não tenho mais tempo para o Senhor e para a Eucaristia.
Faz-se novena para passar na faculdade. Entrando na faculdade, em vez de
inflamar com o fogo da fé e do amor de Deus o ambiente universitário, se deixa
a fé. Faz-se um ECC (Encontro de casais com Cristo) para restaurar a harmonia
conjugal abalada. Conseguido isso, não se vai à Santa Missa nem se faz
apostolado...
Uma religião intramundana e utilitarista...
Não é essa que São Paulo nos propõe. O
Cristo, no “local da consolação” que é o que significa o nome “Cafarnaum”, quer
ter um encontro pessoal conosco, pois foi também lá, que ele fez o seu discurso
do Pão da vida. Foi lá, na cidade de Pedro, na mesma sinagoga em que ele
expulsou esse demônio, que ele disse: “Eu sou o Pão vivo descido do Céu, quem
comer deste pão viverá eternamente”. Que o Pão Vivo que é Cristo, que receberemos
em instantes, nos leve a não ter medo de
escutar a voz de Deus a nosso respeito, como o Povo de Israel, e seja qual for
o serviço ou o local em que a Divina Providência nos colocar, estejamos lá para
buscar o “único necessário”: o Reino que não é daqui, mas que, a partir do
coração reconciliado e inabitado pela Trindade, já começa aqui na prática do
amor ao próximo.
Para partilhar: Nós buscamos a “bênção” de
Deus ou o Deus da bênção. Qual a diferença?
Pe. Marcelo
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