sábado, 13 de janeiro de 2018

Ser de Deus pelo santo Batismo

Na última segunda-feira, celebramos, com alegria, a Festa do Baptismo do Senhor. No ano do laicato que estamos vivendo, quão importante é renovarmos  a graça deste Sacramento. Quando foi batizado, Nosso Senhor consagrou as águas para que possam servir ao Baptismo de todos os fiéis. Por causa desta graça, São Paulo nos diz na segunda leitura: “Não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, porque o recebestes de Deus, e que vós já não vos pertenceis?” (1 Cor 6,19) Nós pertencemos a Jesus pelo Baptismo. Como diz São Paulo: “Fostes comprados por um alto preço! Glorificai, pois, a Deus no vosso corpo.” (1Cor 6,20)
Nós não somos só animais. Nem mesmo, apenas, animais racionais. Fomos elevados por Cristo. Poderíamos fazer uma escadinha dos seres existentes em dignidade: O mais baixo seriam os demônios, depois dos réprobos, que ofendem a Deus sempre... depois os minerais, os vegetais, os animais irracionais, os seres humanos não batizados, os seres humanos batizados, as almas do purgatório, os santos no Céu, os anjos bons, por fim, como o ser mais elevado e excelso, abaixo Santíssima Trindade , a  Santíssima Virgem Maria.  São Paulo, na segunda leitura, exorta os Coríntios, que já tinham subido elevados por Cristo no Santo Batismo, a viverem não como os pagãos não batizados, mas de acordo com a dignidade de filhos de Deus. Ele chama de fornicação, à união de dois batizados sem o sacramento do Matrimônio.
 Para alguns, esta distinção não parece tão clara. Nesses dias, depois de fazer, cinco santificações matrimoniais de casais que viviam juntos, no dia seguinte fui batizar uma menina de uns dois anos de idade. Que dificuldade! A Jarra com a água benta parecia que aterrorizava aquela menina que gritava e se contorcia para todos os lados.. Depois do Batismo, que anjinho!!! Super tranquila...
 Muitos casais parece que padecem de algo semelhante . Parece que a aliança conjugal é um terror e preferem ficar amigados. Ainda não perceberam que a família é, antes de tudo, um vínculo espiritual, e só depois um vínculo carnal.  É um vínculo espiritual, não só pela presença da Graça do Espírito Santo, mas também pela virtude que se conquista pelo dom sincero de si mesmo aos outros. Não sei se já fostes em algum funeral onde há uma pessoa desesperada que grita: “E agora, o que será de mim sem você... “ Dá vontade de rir para não chorar. Aquela pessoa não está minimamente preocupada com a alma da pessoa que acabou de partir, se ela está no purgatório, se precisa de oração, ... pensa só em si e no que aquela pessoa poderia fazer por ela...  Não deu o passo do dom sincero de si mesmo que é necessário em toda vocação. Não cresceu no dom de si. Permaneceu egoísta.
Como superar este impasse e esta indecisão diante da própria vocação? A solução e´ assumi-la como ela é de verdade: um chamado de Deus. Se a vocação matrimonial é um chamado a “morar junto”, daí a palavra “casamento”, na mesma casa, também a vocação consagrada é um chamado a morar, já agora, com o Senhor. Foi assim com Samuel, na primeira leitura, foi assim com Pedro e André no Evangelho: “Mestre, onde moras? Vinde e vede”.
Se todos as nossas vocações começassem na oração, seria muito mais fácil a decisão. Me lembro o testemunho de minha mãe que, embora respeitando e estimando a vocação consagrada, sentia que não era a dela. Assim, rezava sempre três vezes a Ave-Maria, antes de dormir, pedindo duas graças por intercessão de Nossa Senhora: a que fossem afastado dela os rapazes que só queriam se aproveitar, e que o Senhor reservasse uma pessoa boa para que ela se casasse. Aconteceu que meu pai ficou amigo de um de meus tios, pois estudava contabilidade com ele e calhou de o convidar para passar as férias no Espírito Santo. Minha mãe, que também trabalhava no Rio, naquela época, também tirou férias no mesmo mês. Assim, ela achou o marido dela na casa de sua mãe... Não precisou ir a “forró” nenhum para isso...
Já que aquela união foi santificada por um sacramento, o quarto de um casal unido em Matrimônio passa a ser um “santuário da Vida” como se expressou o Papa João Paulo II referindo-se à sacralidade da Família.
Foi, curiosamente, também no leito conjugal de meus pais (pois, na época, era o único cômodo fora o banheiro que tinha porta lá em casa)   que também o Senhor quis comunicar-me, de forma mais clara,  o meu chamado vocacional. Recordo-me da circunstância: Estava na época cursando a escola secundária da Aeronáutica ( EPCAR), e já me tinha questionado algumas vezes sobre a vocação sacerdotal, mesmo já tendo namorado. Certo dia, quando no quarto de meus pais, procurava um local mais tranquilo e isolado para orar com a porta fechada, escutei no meu interior claramente a seguinte passagem da Bíblia: Isaias 54. Quando abri a Bíblia, até pelo local onde estava, a cama de casal de meus pais, o convite não poderia ser mais claro e sedutor. Trazendo  para o masculino seria: “os filhos do não casado serão mais numerosos do que a do casado”. (Cf Is 54,1) Ou seja, na cama de casal de meus pais o Senhor me fazia um convite para uma fecundidade maior: a fecundidade de gerar, com a Sua Graça e a ordenação sacerdotal, filhos para o Céu, para a vida eterna, que deveriam ser mais numerosos que os filhos da carne. Meus pais não ficaram sem netos. Tiveram netos físicos pelos meus irmãos, mas tiveram, e se Deus quiser ainda terão muitíssimos, netos espirituais pelo meu ministério. Tenho a certeza que meu pai que o Senhor chamou a si há seis anos atrás, se alegra muito, no Céu, com o meu chamado ao sacerdócio; ou pelo menos tem misericórdia de mim e me ajuda com sua intercessão.
Seja qual for o nosso chamado: à vida matrimonial, celibatária, consagrada ou não, ao Sacerdócio, o que importa, mesmo, é ser do Senhor; é viver a vocação como um chamado ao Amor.  O importante, seja qual for a nossa vocação é ser de Deus, radicalmente de Deus.
 Cada um, especialmente os jovens, devem, buscando a sua vocação, dizer como no Salmo de hoje: “Eu venho, Senhor, para fazer a vossa vontade” (Salmo 39)
 Para São Vicente Pallotti, a graça da vocação de cada um era algo importantíssimo e deveria ser valorizado e cultivado. Como Maria Santíssima foi a pessoa humana que melhor correspondeu ao chamado do Senhor, São Vicente Pallotti escreveu em nome de Nossa Senhora no seu livro para o Mês de Maio: “Tendes duvida da vossa vocação…? Não vos perturbeis, ó meus filhos! Chegou o momento em que não tereis mais coragem de resistir à voz de Deus, Pai das misericórdias. Dai-me o coração rebelde, desprendei-o de todo o laço terreno que vos levou até o presente, a resistir à graça e vos impediu de vos entregardes totalmente a Deus… Oferecei ao Eterno Pai o Sangue Divino do Seu Filho… Recorrei a mim e eu, como Mãe de Misericórdia, tratarei da vossa causa e sereis consolados.” (OO CC XIII, 467-468)

Para partilhar:


Em que ocasião da vida experimentaste de forma mais forte o que o Apóstolo Paulo escreveu: “Não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, porque o recebestes de Deus, e que vós já não vos pertenceis?”  Algum movimento da Igreja ajudou-o nesta descoberta?

Pe. Marcelo Nespoli SAC 

Nenhum comentário: