Na última segunda-feira, celebramos, com
alegria, a Festa do Baptismo do Senhor. No ano do laicato que estamos vivendo,
quão importante é renovarmos a graça deste
Sacramento. Quando foi batizado, Nosso Senhor consagrou as águas para que
possam servir ao Baptismo de todos os fiéis. Por causa desta graça, São Paulo
nos diz na segunda leitura: “Não sabeis que o vosso corpo é o templo do
Espírito Santo, que habita em vós, porque o recebestes de Deus, e que vós já
não vos pertenceis?” (1 Cor 6,19) Nós pertencemos a Jesus pelo Baptismo. Como
diz São Paulo: “Fostes comprados por um alto preço! Glorificai, pois, a Deus no
vosso corpo.” (1Cor 6,20)
Nós não somos só animais. Nem mesmo, apenas,
animais racionais. Fomos elevados por Cristo. Poderíamos fazer uma escadinha
dos seres existentes em dignidade: O mais baixo seriam os demônios, depois dos
réprobos, que ofendem a Deus sempre... depois os minerais, os vegetais, os
animais irracionais, os seres humanos não batizados, os seres humanos
batizados, as almas do purgatório, os santos no Céu, os anjos bons, por fim,
como o ser mais elevado e excelso, abaixo Santíssima Trindade , a Santíssima Virgem Maria. São Paulo, na segunda leitura, exorta os
Coríntios, que já tinham subido elevados por Cristo no Santo Batismo, a viverem
não como os pagãos não batizados, mas de acordo com a dignidade de filhos de
Deus. Ele chama de fornicação, à união de dois batizados sem o sacramento do Matrimônio.
Para
alguns, esta distinção não parece tão clara. Nesses dias, depois de fazer, cinco
santificações matrimoniais de casais que viviam juntos, no dia seguinte fui
batizar uma menina de uns dois anos de idade. Que dificuldade! A Jarra com a
água benta parecia que aterrorizava aquela menina que gritava e se contorcia
para todos os lados.. Depois do Batismo, que anjinho!!! Super tranquila...
Muitos casais parece que padecem de algo
semelhante . Parece que a aliança conjugal é um terror e preferem ficar
amigados. Ainda não perceberam que a família é, antes de tudo, um vínculo
espiritual, e só depois um vínculo carnal. É um vínculo espiritual, não só pela presença
da Graça do Espírito Santo, mas também pela virtude que se conquista pelo dom
sincero de si mesmo aos outros. Não sei se já fostes em algum funeral onde há
uma pessoa desesperada que grita: “E agora, o que será de mim sem você... “ Dá
vontade de rir para não chorar. Aquela pessoa não está minimamente preocupada
com a alma da pessoa que acabou de partir, se ela está no purgatório, se
precisa de oração, ... pensa só em si e no que aquela pessoa poderia fazer por
ela... Não deu o passo do dom sincero de
si mesmo que é necessário em toda vocação. Não cresceu no dom de si. Permaneceu
egoísta.
Como superar este impasse e esta indecisão
diante da própria vocação? A solução e´ assumi-la como ela é de verdade: um
chamado de Deus. Se a vocação matrimonial é um chamado a “morar junto”, daí a
palavra “casamento”, na mesma casa, também a vocação consagrada é um chamado a
morar, já agora, com o Senhor. Foi assim com Samuel, na primeira leitura, foi
assim com Pedro e André no Evangelho: “Mestre, onde moras? Vinde e vede”.
Se todos as nossas vocações começassem na
oração, seria muito mais fácil a decisão. Me lembro o testemunho de minha mãe
que, embora respeitando e estimando a vocação consagrada, sentia que não era a
dela. Assim, rezava sempre três vezes a Ave-Maria, antes de dormir, pedindo
duas graças por intercessão de Nossa Senhora: a que fossem afastado dela os
rapazes que só queriam se aproveitar, e que o Senhor reservasse uma pessoa boa para
que ela se casasse. Aconteceu que meu pai ficou amigo de um de meus tios, pois
estudava contabilidade com ele e calhou de o convidar para passar as férias no
Espírito Santo. Minha mãe, que também trabalhava no Rio, naquela época, também
tirou férias no mesmo mês. Assim, ela achou o marido dela na casa de sua mãe...
Não precisou ir a “forró” nenhum para isso...
Já que aquela união foi santificada por um
sacramento, o quarto de um casal unido em Matrimônio passa a ser um “santuário
da Vida” como se expressou o Papa João Paulo II referindo-se à sacralidade da
Família.
Foi, curiosamente, também no leito conjugal
de meus pais (pois, na época, era o único cômodo fora o banheiro que tinha
porta lá em casa) que também o Senhor
quis comunicar-me, de forma mais clara,
o meu chamado vocacional. Recordo-me da circunstância: Estava na época
cursando a escola secundária da Aeronáutica ( EPCAR), e já me tinha questionado
algumas vezes sobre a vocação sacerdotal, mesmo já tendo namorado. Certo dia,
quando no quarto de meus pais, procurava um local mais tranquilo e isolado para
orar com a porta fechada, escutei no meu interior claramente a seguinte
passagem da Bíblia: Isaias 54. Quando abri a Bíblia, até pelo local onde
estava, a cama de casal de meus pais, o convite não poderia ser mais claro e
sedutor. Trazendo para o masculino
seria: “os filhos do não casado serão mais numerosos do que a do casado”. (Cf
Is 54,1) Ou seja, na cama de casal de meus pais o Senhor me fazia um convite
para uma fecundidade maior: a fecundidade de gerar, com a Sua Graça e a
ordenação sacerdotal, filhos para o Céu, para a vida eterna, que deveriam ser
mais numerosos que os filhos da carne. Meus pais não ficaram sem netos. Tiveram
netos físicos pelos meus irmãos, mas tiveram, e se Deus quiser ainda terão
muitíssimos, netos espirituais pelo meu ministério. Tenho a certeza que meu pai
que o Senhor chamou a si há seis anos atrás, se alegra muito, no Céu, com o meu
chamado ao sacerdócio; ou pelo menos tem misericórdia de mim e me ajuda com sua
intercessão.
Seja qual for o nosso chamado: à vida
matrimonial, celibatária, consagrada ou não, ao Sacerdócio, o que importa, mesmo,
é ser do Senhor; é viver a vocação como um chamado ao Amor. O importante, seja qual for a nossa vocação é
ser de Deus, radicalmente de Deus.
Cada
um, especialmente os jovens, devem, buscando a sua vocação, dizer como no Salmo
de hoje: “Eu venho, Senhor, para fazer a vossa vontade” (Salmo 39)
Para
São Vicente Pallotti, a graça da vocação de cada um era algo importantíssimo e
deveria ser valorizado e cultivado. Como Maria Santíssima foi a pessoa humana
que melhor correspondeu ao chamado do Senhor, São Vicente Pallotti escreveu em
nome de Nossa Senhora no seu livro para o Mês de Maio: “Tendes duvida da vossa
vocação…? Não vos perturbeis, ó meus filhos! Chegou o momento em que não tereis
mais coragem de resistir à voz de Deus, Pai das misericórdias. Dai-me o coração
rebelde, desprendei-o de todo o laço terreno que vos levou até o presente, a
resistir à graça e vos impediu de vos entregardes totalmente a Deus… Oferecei
ao Eterno Pai o Sangue Divino do Seu Filho… Recorrei a mim e eu, como Mãe de Misericórdia,
tratarei da vossa causa e sereis consolados.” (OO CC XIII, 467-468)
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Em que ocasião da vida experimentaste de
forma mais forte o que o Apóstolo Paulo escreveu: “Não sabeis que o vosso corpo
é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, porque o recebestes de Deus, e
que vós já não vos pertenceis?” Algum
movimento da Igreja ajudou-o nesta descoberta?
Pe. Marcelo Nespoli SAC
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