domingo, 15 de fevereiro de 2015

Apóstolos Hoje - fevereiro 2015


Reflexão de Fevereiro sobre a preparação para proclamar o Evangelho em uma homília - preparação espiritual para o Congresso Geral da União em julho de 2015.
Por uma série de anos, tenho pregado em dialeto - isto é, o dialeto suíço. Quando prego o evangelho eu gostaria falar a língua do ouvinte, a língua dos fiéis na minha paróquia, por isso sou quase certo de ser compreendido. Só com a minha língua nativa, ou seja, o dialeto, eu posso ser totalmente autêntico e credível. Os participantes na celebração religiosa sentem que sou um deles. Refiro-me a questões que não são necessariamente temas de minha vida diária como sacerdote: problemas na família, casais em crise, problemas com filhos e filhas que atravessam a puberdade, medo pela sua subsistência, etc. Falo também de experiências pessoais e preocupações que me oprimem. Posso falar de minhas emoções, coisas que me deixam triste, perguntas para as quais até mesmo eu, que sou um sacerdote, não tenho respostas ou coisas que não consigo compreender. Sim, gosto falar a partir do meu coração e volver-me ao coração dos outros de uma maneira que permita ao meu entusiasmo, por esta ação, ser ouvido pelos outros.
Muitas vezes inicio a minha homilia com uma pergunta ou afirmação para perturbar, de qualquer forma, o ouvinte, enquanto os estimulo a escutar atentamente. Esta reflexão inicial desenvolve-se no pensamento central que repito a metade da homilia e, com certeza, no final, como se fosse um pensamento para levar para casa. A última afirmação deve ser plena de esperança e encorajamento.
Quando fui ordenado diácono há quase 40 anos, recebi a seguinte designação do bispo: "Recebe o Evangelho de Cristo, do qual agora sois mensageiro. Creia no que lês, ensine o que crês, e pratique o que ensinas".
São as boas notícias alegres, que sou encarregado de proclamiar, e os pensamentos e palavras dirigidas ao povo, em um casamento, por exemplo, deveria preenchê-los de alegria.
Durante a preparação de uma cerimônia fúnebre tento colocar-me no lugar dos enlutados. Gosto de falar através de imagens. Elas são fáceis de visualizar e serem mantidas em mente. Em vez da tradicional biografia do falecido, olho um álbum de fotos e contemplo os acontecimentos importantes de sua vida, como o casal apaixonado, o batismo do primeiro filho ou o sorriso afetuoso de um neto para o avô. Olhando para o álbum de fotos posso aliviar um pouco a dor e relevar as boas lembranças.
Gosto recitar a seguinte oração do Hinário católica da Suíça:
Senhor, peço-te pelos nossos pastores: faze que estejam cheios de compaixão e compreensão, cheios de esperança e de confiança para o futuro. Ajuda-os a compreender os sinais dos tempos e compartilhar a alegria e as dores dos outros.
Jesus Cristo, como Tu mesmo disseste: Aquele que quiser ser o primeiro entre vós, seja o último. Afinal, Tu não vieste para ser servido, mas para servir e dar a sua vida por todos. Preencha-os com o teu sentimento de humildade e amor.
Jesus Cristo, eu Te peço pelos nossos pastores, ensina-os a proclamar a tua boa notícia para que a nossa paixão pela vida, e a verdade seja realizada. Preencha-os de coragem, para que possam proclamar sem temor o que o teu Espírito os ensina. Seja o seu apoio e seu abrigo, para que possam sustentar a fé dos seus irmãos e irmãs. Faça com que suas vidas proclamem a tua mensagem: o amor nos torna livres. Consolida a sua gratidão por quanto os tornou próximos a ti e confiou-lhes o ministério da reconciliação.
Torna-nos gratos de podermos celebrar com eles o mistério da tua morte e ressurreição na Eucaristia. Faça que na tua Igreja, não faltem pessoas que se interessam pelo crescimento e unidade da comunidade, até que Tu não virás em glória. Amém. (Katholisches Gesangbuch der Schweiz 658,1-3)

Reflexões sobre a preparação da proclamação no testemunho da fé cotidiana
 
Além da homilia oficial aos domingos e dias festivos, há outra proclamação pessoal no testemunho de fé da vida de todos os dias. Mesmo assim, me pedem para contar aos outros o que recebi na minha fé e esperança cristã, assim como é dito na Primeira Carta de Pedro: ser "sempre prontos a responder a qualquer um que vos pergunte a razão da esperança que há em vós ... com mansidão e respeito "(1 P 3,15).
As diferenças entre pregar do evangelho na liturgia e nas conversas diárias são claras: O pregador dirige-se a uma comunidade cristã e, normalmente, as pessoas escutam suas palavras com interesse religioso, querendo viver um relacionamento mais profundo com Deus. Isto não de pode supor em uma conversa espontânea na rua ou à mesa, onde uma atmosfera solene de fé não é concedida. Pelo contrário, a atmosfera é muitas vezes determinada pelas dificuldades da vida, por meio de perguntas e dúvidas, talvez por medo e rejeição.
A homilia é preparada em silêncio; o pregador está imerso profundamente no assunto e sabe exatamente o que ele quer dizer. Não é possível seguir esta preparação específica para a proclamação na vida cotidiana. Naturalmente não estou consciente desta preocupação de quem está proximo de mim.
Apesar disso um tipo de preparação é possível, não direta mas indiretamente. Tudo o que me ajuda a crer de modo vivo e real é, no sentido mais amplo, uma preparação para reforçar a fé nos outros.
Antes de tudo, há experiências de vida já mencionadas, as experiências de alegria e realização, de decepção e tristeza. Essas experiências unem todas as pessoas. Procuremos ajudar os outros a serem fiéis às próprias emoções.
Já mencionei quanto as pessoas apreciam quando alguém fala das próprias alegrias e dores, durante a liturgia. Isso encoraja o ouvinte a procurar uma maneira de expressar as suas emoções. Assim como na liturgia, também na partilha interpessoal de fé, quando falo com os outros posso ser muito útil e fortalecer a sua fé só se eu mesmo sou parecido com o que lhes toca profundamente, as suas experiências de vida.
Ao mesmo tempo, é importante que àqueles a quem me dirijo não se percam em suas próprias emoções, que não se joguem para baixo com dor e luto, e por esta razão devemos dar especial importância às suas experiências de fé. Estes últimos não estão longe das experiências de vida, mas são vividas no meio deles. As experiências de fé incluem tudo o que realmente nos conforta, que nos dá força e nos encoraja – a essência e a beleza da criação, a dignidade humana, a graça do Salvador, e, em tudo isso, Deus mesmo como o mistério do amor.
Cada vez que testemunho a minha experiência de fé falando com os outros, eu faço com que aqueles que me são confiados não esqueçam as suas próprias experiência de fé, mas que se reconectam com eles - e ter, vez por outra também experiências de Deus e de fé.
Deste modo, permito ao meu coração (com todas suas experiências) voltar-se ao coração dos outros. Este também foi muito importante na primeira parte da homilia, e torna-se ainda mais importante nesta proclamação interpessoal. Toda vez que os outros têm a impressão de que eu não esteja em contato com o meu coração, nem eu não sou capaz de entrar em contato, com eles.
Quando o nosso testemunho de fé está muito perto à vida, ela atrai a fé ainda mais perto a si. A evangelização individual, que está longe da vida, não chega às pessoas de hoje. Isso não significa que uma sucessão de pensamentos mais complicados não deva ser expressa, mas deve ser sempre enraizada em um modo de vida com seus altos e baixos.
No entanto, qual é a razão mais profunda que nos diz que a fé deve ser muito próxima da vida bem vivida e sustentada? A razão pode ser encontrada na encarnação de Deus, o Filho Jesus Cristo, pois Deus não se destina apenas aos homens, mas Ele mesmo torna-se humano, e assim torna-se claro que não posso encontrar a Deus para além da vida humana. Deus deve ser alcançado, encontrado e amado pela vida humana. Como consequência, quando quero ajudar aqueles que foram confiados a mim para encontrar a Deus, não devo empurrá-los longe da vida, mas devo ajudá-los a ficar muito próximo a ela, a fim de se aproximarem de Deus.
Em Cristo, o próprio Deus, o Verbo de Deus se fez homem. Isto é evidente na maneira na qual o Evangelho fala de Cristo. Não esconde o fato de que "o suor de Jesus tornou-se como gotas de sangue caindo por terra" (Lucas, 22,44). Destaca que o Redentor derramou lágrimas - por exemplo, sobre o túmulo de seu amigo Lázaro (Jo 11,35). Além disso, ele também nos mostra como, no meio de todo o seu medo humano e seu luto, manteve um contato com Deus, que nada pode destruir.
Resumindo: há muita semelhança entre homilia litúrgica e um simples testemunho cotidiano. Já fiz notar que a última frase de uma homilia deve ser cheia de esperança e conforto. O ponto crucial é que deixemos a outra pessoa na presença de Deus. Em Deus, eu mesmo, e o próximo permaneçamos unidos, apesar de estarmos separados no tempo ou no espaço, mesmo que nunca mais pudéssemos nos encontrar novamente ou falarmos juntos nesta vida.
Pe. Erich Schädler SAC,
Promotor Nacional de Formação,
Suíça

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