DIÁLOGO ENTRE OS CARISMA NA IGREJA
Partilhada
e apreciada é a iniciativa de colocar em diálogo as várias realidades
existentes na Igreja e no mundo; o diálogo hoje não é apenas útil, mas urgente.
Exige lealdade, transparência, busca da verdade e do bem por parte dos
interlocutores.
No
princípio era a Palavra, a Palavra era Deus, ... O Filho é Palavra de Verdade,
enviada por Deus mesmo aos homens, revestida de carne (cf. Jo, 1); e é o Cristo
em pessoa que liberta o homem e o leva ao Pai. E Cristo, revelador do Pai, nos
dá o seu Espírito e entra em diálogo com a humanidade.
Em
Pentecostes, Jesus irradia o Espírito, revelando a Santíssima Trindade, como
comunhão de Pessoas divinas. A missão de Cristo e do Espírito torna-se a missão
da Igreja enviada para anunciar e difundir o mistério da comunhão trinitária. E
é o Espírito que doa aos batizados o carisma para as múltiplas funções, a fim
de que vivam em comunhão na Igreja e no mundo e manifestem os frutos do
Espírito. (cf. CCC 144; 148)
Mas
como colocar em diálogo os carismas? Somente o Senhor pode ajudar-nos a colocar
em diálogo e harmonizar de modo prático os carismas, realidade sobrenatural
presente na edificação do corpo místico de Cristo e fazer unidade na caridade,
valorizando a riqueza da multiforme variedade dos dons. A unidade é desejo do
próprio Jesus Cristo: Ut unum sint, o maior de todos os carismas é a caridade
que leva à unidade.
Hoje
parece muito difícil a simplicidade relacional humana, o diálogo. Devemos
partir de Jesus Cristo, olhar Jesus na Eucaristia. Da Eucaristia nasce aquela
espiritualidade de comunhão tão necessária para estabelecer o diálogo de
caridade no qual o mundo de hoje tanto necessita. A relação, o diálogo, a
fraternidade são frutos do amor recebido do Pai e partilhado com os irmãos.
Eis
a urgência da comunidade cristã de por-se sempre como sinal de diálogo, de uma
comunhão de carismas capaz de harmonizar as diversidades. É esta abertura de
acolhida das várias realidade carismáticas que testemunham com a vida os
valores da fraternidade cristã e a força transformante do evangelho, que nos
faz reconhecer filhos do único Pai, e impele ao amor oblativo para com todos,
especialmente os últimos.
No
dom do carisma há sempre uma vocação expressa em várias formas ou maneiras de seguir
Jesus e para servir a Igreja. Cada comunidade da Igreja tem o objetivo de fazer
crescer a espiritualidade de comunhão, principalmente na comunidade eclesial e
além, realizando constantemente o diálogo da caridade, sobretudo onde o mundo
de hoje é dilacerado pelo ódio étnico e pela violência homicida.
O
Carisma é também memória vivente, aberta ao futuro. Tendo viva a memória nos
abrimos aos grandes desafios de hoje. Entrando nos desafios, experimentamos a
dinâmica e a força profética do carisma, fazendo-nos perceber a sua
providencial atualidade e as possibilidades que se abrem para avançar. O
diálogo entre os carismas é também uma questão de estilo, de animação de
pessoas e de processos. Mais que definì-lo o carisma é um dom a acolher e ao
qual responder, mas ninguém pode apropriar-se, dele, porque é dom para os
outros.
Muitas
vezes a dimensão da caridade passa pela mesa. Também Jesus durante as refeições
ensinou sobre o valor do perdão, da amizade, da acolhida de todos, Ele que se
fez nosso “alimento” na Eucaristia. A refeição se torna o lugar em que se
exprime a gratuidade da comunhão e, de alguma forma, se cria o clima para um
diálogo livre e sereno. A humanidade não foi capaz de fazer verdadeira comunhão
até o Pentecostes, quando com a graça do Espírito, recebe dons e carismas e os
organiza, para realizar o Corpo eclesial de Cristo que reúne seus membros
dispersos, num só Homem novo.
Um
dos “locais” onde, é quase natural que os carismas sejam unidos e
complementares, é na vida consagrada, vivida em comunidade. No documento Mutuae
Relationes (MR 11) se descreve “o Carisma dos fundadores
(ET11) como uma experiência do Espírito transmitida aos próprios discípulos
para ser vivida, conservada, aprofundada e constantemente desenvolvida em
sintonia com o corpo de Cristo em constante crescimento”.
A
comunidade religiosa com a variedade dos carismas e das instituições, ativas em
sinergia na Igreja e com a sociedade, especialmente com as suas comunidades
multinacionas, multi-étnicas, oferece à humanidade experiências preciosas de
diálogo, de comunhão e de colaboração. Por muito tempo não foi simples e nem
fácil a abertura dos Institutos e colocá-los em diálogo entre eles.
Mantinham-se fechados e separados, apesar de terem sido apostolicamente
eficazes. O Vaticano II oferece convites para criar abertura, diálogo e
comunhão mais consciente entre os Institutos de vida consagrada, porém sem
ofuscar ou enfraquecer a originalidade e identidade de cada carisma. O Concílio
exorta também a associar-se em Conferências dos Superiores e Superioras
Maiores, a nível nacional, continental e mundial. Assim, as relações e o
diálogo entre os Institutos se abriram gradativamente e com bons resultados,
particularmente através de estudos comuns, reflexões, pesquisas e troca de
experiências.
Este
diálogo sucessivamente se abriu também aos carismas doados às novas realidades
eclesiais: movimentos, associações, comunidades, ... que incluem leigos
animados pelo fogo do Espírito, desejosos de partilhar, de comunhão espiritual,
de diálogo, gradualmente também levando a colaboração na gestão junto as obras
de grande mérito eclesial e social.
Este
crescimento, certamente inspirado pelo Espírito de caridade, de unidade, de
diálogo e de comunhão sincera, tornaram visível na Igreja e ao mundo aquela
“Primavera do Espírito” tanto desejada também pelos Fundadores de ordens
religiosas e de pastores da Igreja, mas não menos do povo de Deus, desejoso de
viver numa Igreja e numa sociedade na qual a comunhão, a fraternidade, a
partilha não são uma utopia, mas um dom do alto e também uma conquista de
pessoas de boa vontade.
O
Espírito sopra onde e como quer. Em cada tempo ele age e envolve pessoas
abertas ao seu sopro por uma renovada e regenerada eclesiologia de comunhão. A
atitude é necessária para mover-se ao diálogo íntimo disposto a receber e saber
colher os “verbos semeados” presentes em
cada cultura, encontrar valores preciosos também humanos, culturais e
traduzí-los em verdadeiro culto a Deus, doador de todos dons e consumador de
tudo.
É
o Espírito que une em comunhão e unidade. O Carisma, portanto, como dom do
Espírito, capacita a pessoa escolhida pela divina Providência para que realize
uma missão particular, e chama também outras pessoas que, por vocação, seguem a
mesma missão. É o amor de Cristo no Espírito que nos reuniu para viver a
fraternidade.
E
agora é justo referir-se ao carisma de São Vicente Pallotti
Deus
lhe concedeu o dom de uma profunda experiência de seu amor infinito e de sua
infinita misericórdia. Vicente contemplava este amor em ato nela criação do
mundo e particularmente do homem criado a sua imagem e semelhança; bem como na
redenção do homem pecador, realizada por Jesus Cristo. Seguindo a moção do
Espírito, Vicente se sente encorajado a fundar uma instituição de Apostolado
universal, para reavivar e reacender a fé e a caridade entre os católicos e
propagá-las em todo o mundo. Foi este em síntese o carisma que o Espírito
concedeu a São Vicente, foi Cristo Apóstolo o modelo, o ideal, o guia, e a
fonte de onde continuamente ele alimentava seu ser, mas também a finalidade
pela qual ele desejava ser transformado em Cristo e continuar sua missão
apostólica.
Vicente
tinha bem claro que na Igreja todos temos a unção do Espírito com a mesma
dignidade, todos somos incorporados em Cristo pelo batismo, participamos do seu
sacerdócio real e profético, portanto todos apóstolos e continuadores da sua
missão. E é por meio do Filho, enviado do Pai, que recebemos o dom do Espírito
Santo que capacita os que acreditam a proclamarem o evangelho de salvação a
todas as criaturas. Por isso, a Igreja com os múltiplos carismas, está
preparada para qualquer obra de evangelização e de caridade. Os carismas
individuais manifestam um dos infinitos rostos de Cristo, os sentimentos, as
ações e as missões. Os seguidores do Fundador assumem o mesmo projeto, o
partilham com outras pessoas que vivem em comunidade, numa instituição
religiosa.
São
Vicente Pallotti escreve: “Quero possuir aquele espírito que cada Fundador teve
ao fundar a sua instituição religiosa, mas como tal espírito perfeitíssimo se
encontra em Jesus Cristo Crucificado, assim procurarei com a graça divina de
buscá-lo no próprio Jesus, no qual se encontra Amor, Humildade, Caridade,
Pobreza... e todas as prerrogativas de Cristo Apóstolo” (OOCC X, 126-7). Em
Cristo Apóstolo Vicente encontra todos os carismas.
Vicente
não só se colocou em diálogo com os carismas existentes, mas também participou
de todas as confrarias da época, participava e partilhava dons de graça e de
caridade e sabia acolher numa atitude de comunhão cristã pessoas de cada
classe, condição e situação, promovendo-as e animando-as a serem apóstolas,
segundo as próprias condições.
Jesus
disse: “vim trazer fogo sobre a terra e como queria que fosse acesso”!(Jo,
12,47): é esta a Palavra evangélica que encarnou Vicente e de onde partiu para
acender em tantos corações o ardor que jorrava do Coração sacratíssimo de
Cristo, e para unir em comunhão espiritual as pessoas disponíveis à graça e à
missão de Jesus Cristo. De fato Vicente se move sempre e somente com a intenção
de procurar a infinita glória do Pai e a salvação de todas as almas.
Vicente
procura sempre unir todos; o encontro, o diálogo, a comunhão são passos
indispensáveis para fazer a verdadeira União e chegar a fazer de todos os povos
um só rebanho sob um só pastor. O diálogo é a porta, a unidade é a meta de um
cansativo e fascinante caminho. Todos destinatários da salvação, todos enviados
para colaborar “numa obra santa e divina”, que Cristo continuará em nós até o
fim dos tempos.
Maria
está presente na Igreja e na obra confiada a São Vicente como Rainha dos
Apóstolos, mas é também a mãe da Igreja e de todos os povos. Maria disse poucas
palavras, mas seu diálogo com Deus e com a humanidade é perene, eficaz e
correndentor, um diálogo no qual convida cada um de nós, inspirado pelos
próprios carismas, a entrar e participar sempre mais profundamente a serviço da
edificação do Reino de Deus na Igreja e no mundo.
Sr.
Lilia Capretti, CSAC.
Roma
Perguntas para a reflexão:
1.
“Mais
que definí-lo o carisma é um dom a seguir e ao qual responder”. Como temos
experimentado o poder do carisma de São Vicente Pallotti em nossa vida pessoal
e comunitária? Peçamos ao Espírito Santo, doador de todos os carismas, em
oração contínua, de conceder-nos – membros, amigos e colaboradores da União –
uma experiência espiritual mais profunda e dinâmica deste dom maravilhoso a fim
de que seja sempre mais uma verdadeira e própria força motriz na nossa vida
pessoal e comunitária.
2. Quando
e onde temos experimentado diálogo frutuoso, comunhão e colaboração com
carismas de outras famílias religiosas? Como, discípulos de Cristo inspirados
pelo carisma de São Vicente, podemos ajudar a promover tal experiência para a
edificação do Corpo de Cristo e para dar uma resposta apostólica mais unida,
eficaz e frutuosas às múltiplas exigências e desafios do nosso tempo?
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