A Nova Evangelização e a
Nova Vida em Cristo
Por algum tempo, a nova evangelização se tornou um tema eloquente.
Fala-se de sua gênese, sua urgência, sua razão de ser, seus métodos, seu
conteúdo essencial, para citar apenas alguns temas que estão relacionados a
ela. Alguns até mesmo a vinculam à missão “ad gentes” ou melhor “intergentes,”
a vida consagrada, aos leigos, a conversão, etc. Na família Palotina, em
particular, é frequentemente abordado este tema em relação à pessoa de Pallotti
ou carisma palotino.
Na mesma linha, queremos falar sobre a nova evangelização
em relação a outro assunto que, aliás, é adequado para esta época de Páscoa que
estamos vivendo: a nova vida em Cristo. A pergunta que orienta o nosso
pensamento é: qual é a relação entre a nova evangelização e a vida nova em
Cristo? À procura de uma possível resposta a esta pergunta, começamos a
esclarecer no âmbito de aplicação dos nossos termos-chaves, e, finalmente,
mostrar que a nova evangelização exige a vida nova em Cristo e ela nos leva a
isso.
Nova Evangelização
Desde o início, com o Papa Bento XVI, é claro que a nova evangelização
não pode significar “iniciar imediatamente com novos e mais refinados métodos
de massa afastando-se da Igreja”. Porque a mesma história da Igreja ensina que “as
grandes coisas começam sempre a partir da semente dos pequenos movimentos e os
de massa são sempre efêmeros”.
Falando da nova evangelização refere-se sim a “ousar novos caminhos, em face a
mudança de condições em que a Igreja é chamada a viver o anúncio do Evangelho
de hoje”. Refere-se também a “capacidade de fazer nossos, no presente, a
coragem e a força dos primeiros cristãos, dos primeiros missionários”. Nesse
sentido, a nova evangelização é entendida como “renovação espiritual da vida de
fé das Igrejas locais, passos para o discernimento das mudanças que estão
afetando a vida cristã nos diferentes contextos culturais e sociais, releitura
da memória da fé, surgimento de novas responsabilidades e novas energias em
vista de uma proclamação alegre e contagiante do Evangelho de Jesus Cristo”.
A Nova evangelização envolve, finalmente, o anúncio de Cristo baseado no
testemunho de vida. Em outras palavras, uma forma de viver a vida cristã,
parafraseando São Pedro, que venceu sem uma palavra aqueles que se recusam a
acreditar na Palavra (1 Pedro 3,1).
Vida Nova em Cristo
A vida nova em Cristo, por sua vez, consiste, antes de tudo, na vida que
nos foi dada no dia do nosso batismo.
Naquele dia fomos sepultados com Cristo na sua morte, para que, como Cristo
ressuscitou dentre os mortos, assim também nós possamos caminhar na novidade de
vida (Rm 6,4). No entanto, a nova vida não é estática. Ou seja, não é uma vida
imutável dada de uma vez por todas. É dinâmica, na medida em que ele ou ela que
vive, torna-se suscetível ao desenvolvimento espiritual que atinge a unidade da
fé e do conhecimento do Filho de Deus, a homem perfeito. É uma vida que tende a
encarnar Cristo em todos os sentidos, a fim de alcançar um dia a maturidade em
Cristo (cf. Ef 4,13). Parafraseando Vicente Pallotti, fala de uma alma (pessoa)
introduzida na nova vida em Cristo, isso significa que Jesus Cristo continua a
sua vida e vive na alma, e aplica os méritos de suas obras mais santas.
A nova evangelização
requer a vida nova em Cristo.
Segundo João Paulo II, “a urgência da atividade missionária deriva da
radical novidade de vida trazida por Cristo e vivida pelos seus seguidores.
Esta nova vida é um dom de Deus, e as pessoas são convidadas a aceitar e
desenvolver, se desejam realizar a sua vocação em conformidade com Cristo”.
Isto implica que “não podemos testemunhar Cristo sem espelhar a sua imagem, que
é gravada em nós por graça e obra do Espírito”.
Antes de anunciar o Evangelho, é preciso, antes de tudo, entrar na vida do
evangelizador/a. Para retomar a posição das Lineamentas do Sínodo dos Bispos
sobre a nova evangelização, não podemos transmitir o que não acreditamos e não
vivemos. Sinal de uma fé arraigada e madura é a facilidade com que a
comunicamos aos outros. “Ele chamou os que Ele quis [...] para estarem com Ele
e para os enviar a pregar” (Mc 3, 13-14). Não podemos transmitir o Evangelho
sem ter a base de “estar” com Jesus, um viver no Espírito com Jesus a
experiência do Pai; e, em contrapartida, a experiência de “estar com Jesus”
deperta o anunciador, a proclamar, compartilhar o que tem experimentado, de
bom, positivo e belo.
Não se pode resistir ao testemunho, mesmo que custasse a própria a vida. É por
isso que dizemos que a nova evangelização exige a vida nova em Cristo.
Em consequencia disso, nenhuma proposta de “nova evangelização” pode
ignorar a necessidade: de ter homens e mulheres que encontraram Cristo, que
estejam conscientes de serem tocados pessoal e profundamente por Cristo e
continuam convencidos de que não há outra realidade que atrai a sua atenção;
nenhuma relação, nenhum outro poder, nenhum bem a ocupar o centro de suas
vidas, mas Deus, Jesus Cristo, o Salvador. Além disso, a cada nova iniciativa
de evangelização exige que a pessoa esteja em contato constante com Cristo na
oração, porque, a “evangelização se faz de joelhos”.
A nova evangelização
leva a vida nova em Cristo.
Se a nova evangelização exige a vida nova em Cristo, também podemos
dizer que o primeiro leva ao segundo. Na verdade, o anúncio da Boa Notícia, o
testemunho de vida de quem vive a vida nova em Jesus Cristo e se compromete com
a nova evangelização, “fazem sair do coração daqueles que os vêem perguntas
irresistíveis: por que eles são assim? Por que vivem dessa maneira? Quem os
inspira? Por que eles estão no meio de nós”?
Na maioria dos casos, estas perguntas levam a uma nova direção na vida, uma
nova vida em Jesus Cristo, uma conversão profunda. Lembre-se, mais uma vez com
o Papa Bento XVI, que a palavra “conversão” em grego significa repensar -
questionar seu próprio estilo de vida, seu modo de vida ordinaria; deixar Deus
entrar nos proprios critérios de vida; não só julgar com base nas opiniões
atuais. Conversão significa, portanto, não viver como todos vivem, não fazer o
que todo mundo faz, não sintir-se justificado em ações duvidosas, ambíguas ou
ruins que outros fazem o mesmo; começar a olhar para a sua vida através dos
olhos de Deus; procurar sempre o bem, mesmo que isto perturba, não basear-se no
julgamento das multidões, mas no juízo de Deus - em outras palavras, encontrar
um novo estilo de vida. Este último, por sua vez, implica: sair da
autosuficiência, descobrir e aceitar a própria pobreza - a pobreza dos outros e
do Outro, seu perdão, sua amizade.
Assim, a vida nova em Jesus como testemunharam os agentes da nova evangelização
provocam uma mudança de vida, leva a uma vida nova em Jesus Cristo.
Conclusão
O que emerge desse questionamento é que a nova evangelização é uma
urgência, uma prioridade para a Igreja de hoje. Entretanto, estejamos cientes
que o chamado a vida nova em Cristo, ao mesmo tempo ela nos leva a isso. No
entanto, para que ela possa conduzir efetivamente a vida nova, devemos usar “a
linguagem da misericórdia, compreendida por gestos e atitudes”
que transmitam a mensagem ao invés de meras palavras. Na verdade, a pessoa
contemporânea, da qual Paulo VI falava na década de 70 do século passado, não
mudou, está sempre cansada de ouvir, cansada de discursos, ou pior ainda,
imunizada contra as palavras. Por esta razão, escuta com melhor boa vontade as
testemunhas do que os mestres, ou então, se escuta os mestres, é porque eles
são testemunhas,
entendem melhor a linguagem dos fatos da vida e do que a linguagem das
palavras.
Perguntas para Reflexão Pessoal e comunitária:
Ø Cada proposta de “nova evangelização” não pode ignorar a necessidade de
ter homens e mulheres que encontraram Cristo, que foram tocados profundamente
por ele; Se nós não fomos tocados, fazemos ao menos um esforço suficiente para
garantir que esse encontro com Cristo seja eficaz?
Ø A nova evangelização deve usar “a linguagem da misericórdia dos gestos e
atitudes.” Então, quais são os gestos e atitudes que seriam significativos no
contexto da minha vida?
Pe.
Eugene Niyonzima, SAC,
D. R. do Congo.
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