quarta-feira, 23 de julho de 2014

Exumação do corpo de Pallotti


Relato sobre a abertura do túmulo e urna do venerável servo de Deus Vicente Pallotti- Roma, 2-12-1949. Pe. Walkenbach.

Durante a manhã foi preparado um lugar contíguo ao quarto e à sala de trabalho de Vicente Pallotti (cujas janelas dão para o Tibre, hoje habitação do Pe. Geral) para a colocação do féretro e para os devidos exames. No meio, uma mesa, de cujas bordas pendiam panos vermelhos, toda recoberta de branco. Na Igreja (San Salvatore in Onda), os bancos se alinhavam no sentido do túmulo. A primeira fila, toda revestida de vermelho. Diante do túmulo estendia-se um tapete. O muro que selava a pedra sepulcral fora já removido.
Após o meio dia a Igreja ficou repleta. Da Família Palotina viam-se presentes: o Generalado das Palotinas Romanas com Irmãs, noviças e postulantes, acompanhadas das órfãs de Santa Águeda; os alunos do nosso Colégio Romano; os sacerdotes, clérigos e irmãos das províncias italiana e irlandesa; do Generalado e do Colégio Internacional, do Latrão e das Casas de fora de Roma, Castel Gandolfo, Rocca Priora e Óstia. Entre os amigos e admiradores de Pallotti e de sua Obra, notavam-se, entre outros, o Exmo. Sr. Bispo, D. Gawlina, Mons. Wynen, o Geral e o Procurador Geral da Congregação do Preciosíssimo Sangue, bem como outras altas personalidades eclesiásticas e civis e os seminaristas do Seminário Romano.
Pouco depois das 16hs, chegaram os plenipotenciários da S.R.C. : Mons. Salvatore Natucci, Promotor Fidei (Promotor da fé, "Advogado do diabo"), seu suplente, Mons. Sílvio Romani, Mons. Horácio Cocchetti, Chanceler da S.R.C., e o médico da mesma, o prof. Lourenço Sympa.
O ingresso à Igreja fez-se festivamente. À testa do séquito vinha um grupo, formado de representantes de quase todas as Províncias e Regiões, revestidos todos de sobrepeliz. Seguia-os o Generalado. Fechavam o cortejo as autoridades eclesiásticas e o Postulador Geral do Processo de Beatificação, Pe. Ranocchini. Após curta oração diante do Santíssimo, teve início tão extraordinário ato.
Leu, primeiramente, o Chanceler da S.R.C. o decreto de abertura do túmulo. Iniciaram, então, os pedreiros o trabalho de remoção do monumento. Pedaço por pedaço iam desfazendo o monumento que velava o túmulo: o capitel, a tampa, as lousas frontais e laterais, até que surgiu nítida a urna do venerável.

Tinha ela a forma costumeira. Um simples caixão, recoberto de zinco, alargando-se um tanto na cabeceira. Era o mesmo ataúde, no qual, aproximadamente, há 100 anos atrás, fora colocado o corpo de Vicente Pallotti.
Em 1906 foram restaurados apenas o fundo e (a traseira) os pés. A urna achava-se aproximadamente 11 cm. acima do piso da Igreja, descansado sobre barras de mármore. O interior do túmulo mede - arredondando -180 cm. de comprimento, 70 cm. de largura, dos quais quase 30 cm. se embutiam na parede da Igreja, e 50 cm. de altura. Na parede vê-se ainda a pintura antiga da tumulação de 1906, ocultada pelo monumento.
Aproximam-se, então, os representantes da Congregação e examina a massa e os sinetes de chumbo da urna, confrontando-os com o relato da abertura de 1906, e confirmam que realmente é a urna com os restos mortais do venerável Vicente Pallotti, tais quais, há já 40 anos, foram reconhecidos e novamente tumulados.
Por ordem do Postulador Geral apenas aos clérigos (revestidos de sobrepeliz) foi permitido acompanhar a transladação da urna para a sala superior, preparada para as investigações prescritas. Todos os demais deviam aguardar, pacientemente, na Igreja, a abertura da urna.

Organiza-se o préstito. Encabeçam-no dois clérigos e dois irmãos. Vinham em seguida os sacerdotes de todas as Províncias, o Ad. Revmo. Geral Pe. Turowski, o Revmo. Pe. Vice-Geral, Pe. Hoffmann, os Revmos. ex Gerais Pe. Cardi e Pe. Resh, o Revmo. ex-postulador, Pe. Hettenkofer. Todos traziam na mão uma vela. Carregavam o féretro os Revmos. Consultores Gerais, Pe. Fechtig, Pe. Felici, Pe. Ryan, o Procurador Geral, Pe. Weber, o Secretário Geral, Pe. Michellotti, e, como representante das missões, o Pe. Hunoldo. Atrás do esquife vinham os monsenhores da S.R.C., o Postulador Geral, Pe. Ranocchini, e o Prof. Sympa. Fechando o cortejo, vinham os operários para a abertura da urna.
Chegados que foram à sala superior, o funileiro rompeu o zinco da urna. Procedeu-se, então, novamente o reconhecimento dos sigilos do ataúde de madeira. Isto feito, o carpinteiro removeu a tampa. O corpo do venerável estava todo recoberto de um pano de linho, em que fora envolvido após a última exumação. Descobriram o rosto e a cabeça. Oh! feliz e grata surpresa, para todos. Intacto e incorrupto conservou-se-nos o corpo de Pallotti.

Leu o Chanceler da S.R.C. o decreto de exumação, segundo o qual, todos os que retirassem alguma coisa do corpo do venerável ou acrescentassem algo ao mesmo, incorreriam em excomunhão especialíssimo modo reservada ao Santo Padre.
Após a leitura do decreto foi permitido aproximar-se do féretro. Desfilaram todos diante do mesmo, saudando a veneranda cabeça de nosso Pai e Fundador e rendendo a Deus graças pela sua próxima exaltação.
O desfile obedeceu a seguinte ordem: as irmãs, cuja família ele mesmo fundara, as órfãs, das quais se fizera o provedor material, seus filhos espirituais, que difundem sua obra, clérigos e leigos, dos quais ele se tornou, no apostolado, o Guia e o Vanguardeiro. Todos se moviam profundamente comovidos, silenciosos, recolhidos, reverentes, em cujo semblante se estampava um coração mergulhado em doce surpresa e inundado de vivo agradecimento.
Ecoou, então, o severo "exeant omnes". Todos, exceto o muito digno Generalado, retiraram-se. O corpo do Venerável foi, então, retirado da urna também interiormente revestida de zinco e colocado sobre um colchão. Do colchão foi pôsto sobre a mesa, anteriormente preparada. Retirou-se o pano que envolvia todo o corpo, deixando-o assim todo descoberto. Retiraram a estola e o crucifixo. Acompanhava eu o desenrolar do ato através da fresta da porta entreaberta, que fui alargando até me permitir introduzir a cabeça. Por força estranha e irresistível me achei enfim dentro. Preparei assim a venturosa oportunidade para ver de perto o corpo de Pallotti, estudando-o atentamente. O estado do corpo, quase 100 anos após sua morte, pode ser resumido ao seguinte:
A cabeça um tanto inclinada para a direita. Sua estrutura é dolicocéfala (alongada), com a parte posterior bem desenvolvida, não contudo excessivamente. A testa não apresenta salientes protuberâncias, mas larga e lisa, ergue-se abobadada. Apenas a parte anterior da cabeça é calva, tendo as faces parietais recobertas de cabelo de cor loira-clara esbatida. O rosto é estreito e de forma oval aguda. O queixo, afilado. Os ossos molares são notavelmente visíveis e as faces sumidas. A raiz do nariz não é encovada. A ponta, porém, apresenta-se achatada (desde 1906). O olho esquerdo acha-se um tanto encovado, enquanto que o direito apresenta-se normal. As meninas dos olhos são perceptíveis. A boca levemente aberta, os lábios algo ressecados, ocasionando assim a vistas dos dentes (incisivos). Toda a dentadura se conserva. Os dentes são alvos brilhantes. As orelhas de tamanho normal, delgadas e um tanto coladas a cabeça.

O corpo é de estatura pequena, franzina, porém, nobre (esbelta). O peito e o ventre, devido o ressecamento, estão recolhidos. Os ombros, por causa da posição na urna, acham-se um tanto encolhidos. O braço esquerdo descansa sobre o corpo, ao passo que o direito se estende ao longo do corpo (desde 1906 enfaixado, quebrado (?). As mãos são pequenas, tenras e delicadas. O pé esquerdo um tanto torcido para dentro. Apresenta estragos nos dedos (desde 1906). Também se acha quebrada a falangeta da mão direita (Talvez desde 1906). Todo o corpo está ressecado, apresentando um aspecto mumiforme. A pele conserva-se toda, em parte flexível. A cor vai do pardo escuro ao preto.

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