Nova
Evangelização e vulnerabilidade
A Nova Evangelização está hoje
na boca de todos na Igreja, e eu estou um pouco "cansado, um pouco"
abafado por sua insistência em novas formas de fazer as coisas. Eu tentei
muitos métodos e nenhum deles parece funcionar no sentido de que ninguém parece
persistir, ou perseverar o tempo suficiente.
Nós evangelizamos com a
essência de quem somos e como somos. Evangelizar com a presença, uma presença
que é uma experiência de vida, pessoal de Jesus Cristo. Às vezes,
"quem" e "como nós somos", nada agradáveis, e, não parece
ser de grande valor no trabalho de evangelização. Às vezes, até mesmo a nossa
experiência de Deus é muito desagradável e toda a alegria do Evangelho que é
exigido de nós é completamente impossível.
Em uma reflexão sobre a
autoridade de Pedro, Hans Urs von Balthasar, fala da posição que se deveria
ocupar na liderança: "O lugar mais baixo, que é aonde o servus servorum
(servo dos servos) deve estar em pé no último lugar de desprezo e insulto, o monte
de lixo no qual se é "um verme e não um homem", este lugar que nenhum
ser humano ocupa voluntariamente, é o lugar onde o cargo que ele desenvolve
pode recuperar o maior respeito possível e credibilidade".
O líder, a pessoa em posição
de autoridade, de alguma forma, incorpora toda a realidade da comunidade. As
experiências como líder da comunidade e vice-versa. Nós somos um só corpo e um
só espírito em Cristo. O que vem sendo solicitado à pessoa em posição de
autoridade vem solicitado a todos nós.
Perguntemo-nos:
Quantos de nós aspiramos
ocupar o último lugar de desprezo, para estar no lixo da vida, de ser um verme
e não um ser humano? Provavelmente ninguém!
No entanto, este é o lugar que
nós somos chamados a ocupar, porque é o lugar que Jesus tem ocupado.
Fui convidado há alguns anos
para dar uma palestra sobre "Relevância da Igreja", e enquanto eu
estava me preparando, sonhando em pensar que um grande número de católicos
realmente energizados, unidos em oração e que, saindo da oração, poderiam transformar
a sociedade com entusiasmo e de uma forma muito significativa.
Nós temos tantas recordações
de São João Paulo II, que enchia os estádios; temos também recordações
pequenas, mas significativas, encontros de oração, cheios do Espírito que
inflamou os corações dos participantes, e pensávamos que nós pudéssemos
enfrentar o mundo; muitos de nós viemos de um passado em que, o Catolicismo,
fazia uma real diferença. Queremos fazer a diferença, a diferença que nós
mesmos controlamos.
O controle! Estar no controle
é o coração do desejo humano; naturalmente temos medo de perder o controle, e
estar fora do controle. Por isso, tentamos controlar a vida - a nossa e a dos
outros - e, por vezes, a nossa aspiração genuína de servir, vem engolida pelo
controle.
Paro a olhar para Jesus no
Getsêmani, no Calvário, e vejo Aquele que ocupa o último lugar de desprezo, que
cedeu o controle, que é um verme e não um ser humano. "Não seja feita a
minha vontade, mas a tua". Olho para Jesus e percebo mais uma vez que onde
está Ele é o lugar onde eu sou chamado a estar, onde todos são chamados, a Sua
Igreja, todos.
Isto é o que foi feito para
nós, no Ocidente. Temos sido despojados de todo o poder e glória; somos
escarnecidos e ridicularizados; somos irrelevantes. Mas suspeito que ainda não
compreendemos que este é o lugar onde somos chamados a estar, a permanecer, e
em vez disso todos nós esperamos ser novamente restaurados.
Mesmo aqueles que estão à
procura de uma genuína reforma da Igreja não podem imaginar que é irrelevante, permanecer
na pilha de lixo, porque estamos tentando arrancar-nos da pilha de resíduos, o
mais rápido possível. Mas aqui temos de permanecer, até que tenhamos aprendido
a tornar-nos anawim, verdadeiramente humildes, e esperar até chegar a hora da
nossa libertação.
Com o Papa Francisco
encontramos um sentido real, chegamos perto da humildade. Ele nos mostra o
caminho para sermos cristãos autênticos, mas o que ele está oferecendo, o que
Deus está oferecendo a ele, deve tornar-se a realidade pessoal de cada um de
nós.
A reforma e a renovação da
Igreja começam na vida interior de cada um de nós e depende de como cada um de
nós responde à realidade de ser o menor de todos, os últimos de todos.
Um sacerdote Palotino morreu
recentemente. Ele tinha 83 anos e, nos últimos anos, a doença de Alzheimer ou
demência. Sabemos que isto é uma realidade muito comum nos dias de hoje e é
algo que assusta muitos de nós. Durante a missa do seu funeral foi lido o
Evangelho de João 21,18 onde Jesus disse a Pedro: "Em verdade, em verdade
te digo que, quando eras mais jovem, cingias-te e andavas onde querias, mas,
quando fores velho, estenderás as tuas mãos, e outro te cingirá e te levará
para onde não queres".
As experiências, do fim da
vida, têm muito a nos ensinar sobre a entrega ao mistério da ação de Deus em
nossas vidas, mesmo quando somos os mais vulneráveis e quando perdemos o
controle sobre cada detalhe de nossa vida. Toca-me o fato de que, no decurso da
vida nos são dadas oportunidades, de experiências de estar na "pilha de
lixo", próprio para tornar-nos pequenos pobres que aprendem a depender de
Deus para tudo. Na jornada da vida, podemos encarnar uma lição permanente:
render-se e deixar-se ir, de modo que quando chegar o momento final estaremos
prontos para isso.
Vi uma característica
inspiradora em muitas pessoas afetadas pela demência, ou seja, quando
esqueceram tudo o resto, elas mantêm uma memória de oração, e sua
espiritualidade em longo prazo é de alguma forma esculpida no núcleo de seu
ser. Quando a Missa é celebrada em uma casa de repouso, onde a maioria dos
moradores tem demência, a grande maioria deles reza a missa em voz alta com o
sacerdote; à elevação da hóstia e do cálice sussurram: "Meu Senhor e meu
Deus", e isso tem um significado especial na história da espiritualidade
cristã na Irlanda.
Acabamos de celebrar o funeral
de um ex-primeiro-ministro, que era um católico praticante, ele também
experimentou a demência e uma pessoa ao seu funeral recordou, que ele e sua
esposa, ambos sentados na cama rezavam a Ave-Maria.
Os olhos do mundo olham para a
realidade da demência e veem um desastre; os olhos da fé percebem, no entanto,
a ação e o mistério da comunhão de Deus com a alma do fiel, que agora está num
estado de rendição quase perfeito, um estado do qual perdeu toda a liberdade e
controle.
Sua mão estendida é para
agarrar a mão do Outro que o conduz aonde ele não quer ir, mas deve ir. Nem
sempre é agradável ou belo, às vezes é divertido e alegre, mas é sempre o
testemunho de sua fé, seu ato de evangelização no presente.
Faz parte de nossa
evangelização, testemunhar e honrar a presença amorosa e majestosa de Deus, em
nossos momentos pessoais de desintegração, de vulnerabilidade, de escuro. Faz
parte ainda da nossa evangelização, reconhecer e indicar a presença de Deus na
vida daqueles que estão experimentando a demência, e dar sentido para aqueles
que carregam o fardo de seus cuidados.
Para oração - dar-se um momento de silêncio.
Esteja atento à sua
respiração. Aspira e expire Deus.
Tenha cuidado com o que você
sente como resultado da leitura ou de ter ouvido esta reflexão. Expresse seus
pensamentos e seus sentimentos em particular com Deus. Partilhe depois com seu
grupo. Deixe espaço para a oração espontânea.
O escrito a seguir pode ser uma conclusão adequada.
Não me pergunte para lembrar.
Não tente me fazer entender.
Deixe-me descansar e deixe-me saber que tu estás comigo.
Beija minha bochecha e segura minha mão.
Estou mais confuso do que tu podes imaginar.
Estou triste, doente e perdido.
Tudo o que sei é que eu preciso que
permanece comigo a todo custo.
Não perca a paciência comigo.
Não repreenda ou maldiçoe ou chore.
Não posso comportar-me de outra forma.
Não posso ser diferente, mesmo que eu tente.
Basta lembrar que eu preciso de ti,
que o melhor de mim se foi.
Peço-te de ficar em pé ao meu lado.
Ama-me até que minha vida acabou.
Pe. Eamonn Monson SAC,
Dublin,
Irlanda