terça-feira, 30 de agosto de 2016

Apóstolos hoje - Agosto de 2016

O Diálogo, as Relações e a Cooperação entre Pessoas de Religiões Diversas com a intenção Comum da Misericórdia

Ide, “como missionários, para levar a mensagem da ternura do Pai, do seu perdão e da sua misericórdia a cada homem, mulher e criança” e segui o exemplo de Jesus, “indo ao encontro dos outros, em espírito de respeito e abertura, para compartilhar com eles o dom que nós mesmos recebemos” (Mensagem de vídeo do Papa Francisco para o 51º Congresso Eucarístico Internacional em Cebu City, Filipinas).
Cada seguidor de Cristo, em virtude da vocação cristã, é chamado a viver o diálogo na sua vida cotidiana, que é motivada pelo ensinamento do Evangelho e mostrada – em ação humana – através da misericórdia e do amor aos outros (Lc 10,27; Rm 13,9-10). O diálogo é uma aproximação significativa às pessoas de outras comunidades de fé, para a recíproca compreensão, cooperação e transformação. O nosso diálogo não se esvazia em reuniões e conferências, mas é um modo de exprimir a fé cristã na relação e no emprenho rumo ao próximo.
A Sagrada Escritura nos oferece muitas imagens de boas relações nos oferece muitas imagens de boas relações com os próximos, para além das fronteiras e convenções estabelecidas. No Antigo Testamento (Gn 12), encontramos Deus que desafia Abrão e Sara a ir viver entre estrangeiros. No Novo Testamento, Jesus rompe a convenção, falando com a mulher samaritana ao poço (Jo 4,6-30) e mostra como possa entrar em contato com ela mediante o diálogo. Falando com um doutor da lei (Lc 10,25), Jesus lhe recorda que o seu próximo, aquele ao qual deveria demonstrar amor e compaixão, e do qual pode receber a graça, pode ser um estrangeiro. Hoje, a chamada do nosso Senhor a nos fazer próximos (Lc 10,27) inclui os “estrangeiros” de outras tradições de fé, que vivem nas nossas cidades e países.

Testemunhos de Relações e de Cooperação com as outras Religiões:
Gostaria de compartilhar alguma experiência da minha vida, por me encontrar trabalhando com pessoas de outros credos com uma intenção comum de misericórdia.
Nos meus trinta anos de Vida Consagrada, fui enviada em missão em Estados diferentes da Índia. Sem me dar conta dos desafios, estava pronta a aceitar a tarefa que me foi confiada pela Congregação. Muito embora eu venha de um ambiente católico bem radicado, é aqui – no meu ministério – que descobri a minha vocação de dar testemunho de Deus Misericordioso, através  do diálogo com pessoas de diversas religiões.
Em um dos vilarejos hindu, a minha Congregação propôs de iniciar uma obra que cuidasse dos idosos e foi confiada a mim a responsabilidade de construir uma casa para essa finalidade. Antes que eu chegasse ao lugar, fui advertida do perigo de se usar um hábito religioso, coisa que não é aceita por fundamentalistas hindus do vilarejo. Não me desencorajei nem me preocupei, antes, estava determinada em realizar meu trabalho, vestindo o hábito religioso desde o início. Tive que enfrentar muitos obstáculos que, inicialmente, me provocavam insônia, medo e dúvidas dentro de mim. Todavia, a minha confiança, no Deus misericordioso, não permitiu que este espírito morresse em mim, na verdade me encorajava a demonstrar o Seu amor através do meu serviço quotidiano.
Certa vez, em uma manhã chuvosa, enquanto estava caminhando rumo ao vilarejo, vi um homem que estava debaixo de uma árvore, quase imerso na água. Ainda que houvesse passado muitas pessoas, nenhuma tinha parado para ajudá-lo. Como cada ser humano, também eu hesitei no início, mas com o encorajamento da minha coirmã enfermeira, levantamos o homem, coberto de vermes, e o lavamos na presença de muitos espectadores de outras religiões.
Este testemunho de amor e de misericórdia a um irmão hindu, tem transformado os corações de muitos fundamentalistas do vilarejo, que começaram a oferecer o seu apoio. Cedo a notícia de gestos bons, realizado por duas mulheres de Cristo, se difundiu na cidade. Os equívocos à fé diversa começavam a desaparecer no coração das pessoas. A esse ponto compreendi que esta era uma oportunidade oferecida por Deus, para visitar as famílias de pessoas de outros credos e participar de suas celebrações. Esta interação gradualmente abriu o caminho para o diálogo entre nós, para aprofundar a nossa compreensão recíproca e concentrarmo-nos sobre iniciativas compartilhadas para o bem comum.
O evento mais alegre do nascimento de Jesus é celebrado no nosso Vilarejo com muita participação. A procissão do presépio vivo é realizada junto com pessoas de outras tradições religiosas. É estupendo dar-se por conta como todas as expressões de fé nos ensinam a amarmo-nos uns aos outros e nos encorajam a edificar a harmonia, enquanto honra a integridade das nossas diferenças.
Hoje, não há mais medo de obstáculos no meu ministério. A maior parte do pessoal na nossa obra pertence a outras religiões. Trabalhamos juntos, escutando e falando com abertura e respeito. A nossa Casa para Idosos se tornou um centro de serviço com fim humanitário, onde pessoas de outras religiões se tornaram nossas parceiras no transmitir aos outros a mensagem de amor e de misericórdia de Cristo.
Conclusão
Neste ano do Jubileu da Misericórdia, Deus está nos chamando neste novo Milênio, com seus desafios e oportunidades. Temos Necessidade de entender como o Espírito Santo age nos homens do nosso mundo, especialmente em quem professa outra religião. Não escondamos as nossas diferenças, nem evitemos conflitos, mas busquemos de torná-los construtivos. Assim, quanto maior o nosso empenho no diálogo inter-religioso, mais aumenta o nosso respeito e confiança, conduzindo-nos a aumentar a cooperação e a ação comum. O Papa João Paulo II, na sua primeira visita na Índia, afirmou: “O diálogo entre os membros de religiões diversas faz crescer e aprofundar o respeito recíproco e cria as bases para relações que são determinantes para resolver os problemas do sofrimento humano” (Mensagem aos Líderes não-cristãos, Madras/Chennai, 5 fevereiro 1986).

Rezemos com São Vicente Pallotti
“Meu Deus, misericórdia minha, gostaria de dizer, mas no rever-vos em mim me perco, digo pouco, e digo quase nada: [...] mais trabalhais em mim [...], porque sinto a fé que me diz, que na minha miséria inconcebível superior sem medida [...], eu sou a criatura apta para formar o objeto mais próprio da vossa infinita misericórdia; em mim somente a vossa infinita misericórdia encontra a capacidade de resplandecer, procurar e de produzir as suas infinitas graças” (OO CC, X, p.313-314).
                                           Irmã Eugine Nirmala Francis SAC

                                           Índia

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