sexta-feira, 30 de outubro de 2015

“A ESPERANÇA NÃO ENGANA” (Rm 5,5)

O dia de todos os santos que estamos a celebrar, longe de ser uma festa melancólica ou saudosista, pelo contrário é uma festa cheia de alegria e encanto. Podemos dizer que é a nossa festa.
Sim, pois numa época em que os cristãos eram ainda muito poucos São João teve, na Ilha de Patmos,  a seguinte visão: “Depois disto, apareceu na visão uma multidão enorme que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas. Estavam de pé com túnicas brancas diante do trono e diante do Cordeiro, e com palmas na mão. ( Ap 7,9 ss.) Ou seja, em profecia, João já no início do Cristianismo, teve a visão de Jesus ressuscitado, Senhor da história a Jerusalém Celeste que o louvava  formada de povos de todas as nações e linguas.  A confirmar que esta é uma festa que nos diz respeito, o próprio São Paulo chama, por exemplo, os cristãos vivos de Filipos de santos: “Paulo e Timóteo, servos de Cristo Jesus, a todos os santos em Cristo Jesus que estão em Filipos, com seus bispos e diáconos” (Fil 1,1) E isto ele o faz, em suas cartas, cerca de trinta vezes.
Em sentido estrito, porém, celebramos neste dia, aqueles que já se encontram de posse daquele bem por excelência e que se encontram unidos a nós pelos vínculos da caridade que Nosso Senhor foi criando durante a nossa vida terrena e que é aperfeiçoado na vida Eterna. Muitos santos como Santa Faustina e Santa Teresinha do Menino Jesus, inclusive, disseram que sentiam que a sua missão verdadeira começaria com a sua partida deste mundo, tal o realismo com que sentiam em si o mistério da Comunhão dos Santos.
Contemplar essas realidades nos faz: “… alegres na esperança, pacientes na tribulação, perseverantes na oração.” (Rm 12,12)
  Dizia o Papa Bento XVI na sua Encíclica sobre a Esperança Cristã: “Somente quando o futuro é certo como realidade positiva, é que se torna vivível também o presente.” (Spes Salvi, nº 2)
Daí vemos a importância fundamental do que escutamos em cada Santa Missa: “Corações ao alto” (Sursum corda). Sem contar os santos canonizados pela Igreja, que são mais de vinte mil, temos ai uma multidão anónima de fiéis, inclusive nossos familiares que já gozam daquele plenitude de amor e vida que lhes comunica a visão de Deus sem mediação de criatura alguma. Somente esperam o Dia do Senhor, onde também seus corpos participarão da Ressurreição de Cristo.
O dia 31 de Outubro era justamente a festa pagã dos povos Celtas que pensavam que, na época das colheitas, as almas dos mortos vinham se alimentar e por isso era necessário espantá-los com imagens aterrorizantes... Quando estes povos foram evangelizados, a Igreja teve a delizadeza de substituir esta festa pagã pela festa de todos os Santos no dia 1 de Novembro. Quem não se converteu, continuou a celebrar tal festa pagã, e por isso, é lógico que não se coaduna com o verdadeiro espírito cristão, e não deve ser estimulada como uma espécie de “folclore”. Isto, sem dizer que algumas seitas satânicas aproveitam deste dia para fazer os seus desmandos. Pelos terrores que se promovem neste dia em alguns lugares, parece até uma “festa dos condenados’, que não tem motivo nenhum para festejar.
Já no dia dois, celebramos uma realidade correlata à de Todos os Santos. Nos diz também o catecismo: “Os que morrem na graça e na amizade de Deus, mas não de todo purificados, embora seguros da sua salvação eterna, sofrem depois da morte uma purificação, a fim de obterem a santidade necessária para entrar na alegria do céu. A Igreja chama Purgatório a esta purificação final dos eleitos, que é absolutamente distinta do castigo dos condenados…” (Catecismo nº 1030 e 1031)
Nós podemos ajudar estes nossos irmãos que a tradição da Igreja chamou de Igreja padecente. Esta ajuda consiste na oferta do Sacrifício da Santa Missa e também das indulgências, que são concessões que a Igreja, em posse das “chaves do Reino” que lhe entregou Jesus Cristo, faz para os seus fiéis em algumas circunstâncias. Um desses tempos de graça é justamente este início de Novembro. Quem visita, com o coração sincero e espírito de fé, um cemitério e nele ore pelos fiéis defuntos, lucra indulgência em favor das almas do purgatório.  Dos dias 1 a 8 de Novembro esta indulgência é plenária e nos demais dias do ano é parcial. As condições para a indulgência plenária são bem conhecidas: Ter se confessado ou se confessar em breve (estar em estado de graça), Receber a Eucaristia, rezar na intenção do Santo Padre e fazer a obra prescrita, no caso a visita ao cemitério com oração pelos falecidos. Vamos fazer amigos no céu? É o convite que a Santa Igreja nos faz.
Para os Cenáculos:
1-      Em meio aos sofrimentos desta vida, que importância tem a Esperança cristã?
Pe. Marcelo


sábado, 24 de outubro de 2015

BARTIMEU, UM CEGO DE OUVIDOS ATENTOS

Nos dois domingos anteriores,  e neste, estamos ouvindo o que contribui e o que não contribui para o seguimento de Nosso Senhor na vocação de cada pessoa. Vários seguem Jesus no caminho para Jerusalém. Com quais nos identificamos? Algumas atitudes ajudam neste seguimento, outras atrapalham...
Quais não ajudam? O apego do “Jovem rico”... o “carreirismo de Tiago e João”...
 Pallotti, querendo livrar os seus filhos espirituais deste último engodo, acrescentou às promessas normais das congregações a promessa de espírito de serviço, fazendo com que o objetivo maior dos consagrados fosse salvar almas e não uma carreira...
Neste domingo vemos um cego que o era fisicamente, mas estava longe de sê-lo espiritualmente. Não enxergava por uma limitação física que o tornava até mais humilde, pois dependente, em  quase tudo, dos outros. No entanto, quando soube que era Jesus o Senhor e Mestre de Nazaré que passava, sua fé se acendeu e começou a clamar: “Jesus, Filho de Davi, tem piedade de mim”. A princípio as pessoas tentaram fazê-lo calar, mas quando ouviram que Jesus o chamava, encorajaram-no.  Clamou até que ouviu o chamado. O olhar amoroso de Jesus sobre nós é a nossa vocação: -“Chamai-o.» Chamaram o cego, dizendo-lhe: «Coragem, levanta-te que Ele chama-te”. 
Em que circunstâncias Jesus o chamou? Aqui cabe um precioso detalhe.  O versículo 46, que é aquele que inicia o Evangelho de hoje, diz textualmente o seguinte: “Chegaram a Jericó. Quando ia a sair de Jericó com os seus discípulos e uma grande multidão, um mendigo cego, Bartimeu, o filho de Timeu, estava sentado à beira do caminho”.   Imediatamente depois que o Evangelista disse que Jesus Chegou a Jericó, foi logo dizendo que ele estava já de saída....
Como explicar isso? Jerusalém é o protótipo da cidade celeste, Jericó é o símbolo deste mundo, não daquele mundo que Jesus amou a ponto de dar a vida, mas do mundo no sentido negativo de “mundanidade”. Assim, comparado com a eternidade, a passagem de Jesus por este mundo e a nossa própria vida, não deveriam nem mesmo caber em um versículo. Matematicamente, também as ciências modernas nos levam a pensar assim. Os cientistas, atualmente,  estimam a idade do universo em 13,7 bilhões de anos. Se fizermos uma escala dessa idade para 14 anos, nossa vida, que normalmente tem cerca de 80 anos, a mesma teria a duração de cerca de 3 segundos”.   Neste sentido entendemos uma frase de são Vicente Pallotti: “Deus Criou os homens nesta temporalidade apenas para fazê-los felizes na eternidade.” Por isso entendemos como  é preciosa a graça da vocação e como devemos aproveitar desta graça para viver bem. Devemos ter a prontidão do Jovem Samuel: «Aqui estou, pois me chamaste.» (1 Samuel, 3,8)
Na realidade , se vermos as estatísticas,  a cegueira  física é uma minoria da população, mas a espiritual, aquela que impede de seguir a Cristo rumo a Jerusalém Celeste no caminho da Cruz, ou seja, do dom sincero de si mesmo em sua vocação é, certamente, muito mais difusa. Muitos, até nas doutrinas que ensinam propõe um Céu e um cristianismo, quase somente para este mundo, como se, a todo custo, os homens tivessem que desejar um Céu aqui e agora.  Certa vez, São João Paulo II, cuja memória comemoramos nesta semana que passou,  num discurso aos jovens chilenos, disse com voz enfática:
-“ Tendes sede de vida”... (afirmativa) “-De vida eterna”? ...(seguiu-se um silêncio);
 Perguntou mais alto: “De vida eterna? – “Sim” (seguiu-se um “sim” tímido);
 O papa perguntou pela terceira vez quase que gritando:
 “-De vida eterna”? – Sim (aí sim os jovens responderam bem alto e com grande entusiasmo)
Ao nosso mundo tão apegado aos próprios bens, tão apegado ao poder sem serviço humilde ao irmão, tão apegado ao prazer ilícito a todo custo, Jesus repete: “Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus”.
Certa vez, em Odivelas aconteceu um fato curioso a esse respeito. A esposa do coordenador do grupo de oração da Paróquia era cega. Custava-nos ver aquela senhora chegando ao grupo de oração sempre amparada pelo seu esposo. Dentro do nosso coração, tínhamos a intuição que Nosso Senhor a queria curar. Por isso, não raras vezes, depois do grupo de oração, impúnhamos as mãos e rezávamos por ela pedindo a Jesus a Graça de sua cura física. Nada aparentemente ia melhorando... Fui transferido para outra paróquia, e certo dia, em visita a Odivelas e celebrando a Eucaristia, qual não foi a minha surpresa quando vi aquela senhora que era cega, levantar-se para fazer a leitura da santa Missa. Depois da mesma, fui cumprimenta-los alegremente e perguntar o que tinha acontecido.  A resposta foi que ela tinha sofrido uma cirurgia e estava já vendo. Nosso Senhor , neste caso, não quis curá-la diretamente , mas quis usar uma mediação humana na pessoa do cirurgião. A segunda leitura de hoje fala do sacerdócio de Cristo. Mas fala também do sacerdócio de Cristo comunicado a seres humanos. De quem o autor da carta aos Hebreus poderia estar falando quando afirmou: “Pode compadecer-se dos ignorantes e dos que erram, pois também ele está cercado de fraqueza; por isso, deve oferecer sacrifícios, tanto pelos seus pecados, como pelos do povo”. (Heb 5,2s)
No nosso caso de cegos espiritualmente por tanta impureza propagada aos quatro ventos , Nosso Senhor também quer usar de uma mediação: O sacramento da Reconciliação.
Se o fizermos, participaremos da alegria dos que retornam do exílio na primeira leitura de hoje, mesmo tendo entre eles cegos e aleijados (símbolo da fraqueza); gestantes e parturientes ( símbolo daqueles que têm uma responsabilidade a mais de cuidar dos outros).
O cego do Evangelho tinha algo de bom: não era surdo... Mesmo que já tenhamos escutado a voz de Cristo muitos anos atrás no início de nossa vocação, peçamos a Ele que possamos escutar sempre a sua voz no hoje de nossa vida, pois o Senhor continua a chamar-nos com várias vocações dentro da nossa vocação, seja num pobre que nos pede algo, seja no que não tem a consolação da fé, seja numa renovação de vida e trabalho missionário mais desafiador, seja na chegada de mais um filho nos que são casados. É sempre uma vocação dentro da própria vocação.
Virgem Maria, Mãe das vocações, ensina-nos a aproveitar esta graça para seguir o Vosso Filho no caminho que nos leva à Jerusalém Celeste, Amém.

Para os cenáculos:

O que significa para ti, hoje, aproveitar a graça da própria vocação? Já escutaste o chamado de Cristo?

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Apóstolos Hoje - Setembro 2015

Congresso Geral 2015 – do discurso da Presidente
Caríssimos! Faz pouco tempo que celebramos o III Congresso Geral da União em São Paulo no Brasil (14-8 de julho de 2015). Foi um tempo especial de graças, onde experimentamos a alegria da partilha no vital frescor do carisma do Fundador. Através dos rostos, as histórias, os testemunhos, as reflexões, os diálogos, as celebrações que todos participaram, o Senhor se fez presente e nos impulsionou sempre mais a viver na e pela Caridade de Cristo. Todos, membros e colaboradores da União, estiveram presentes na comunhão de oração e de amor que preenche toda distância de tempo e espaço. Por isso, nos parece belo partilhar com vocês os pontos principais do meu discurso de abertura.
       Inicio então partilhando o dom recebido, partilhando e apresentando aquilo que sou e aquilo que mais me está no meu coração da União. É importante dizer, primeiro, que é graças à fidelidade de tantas pessoas, no presente e também de quem nos precedeu, que hoje somo aquilo que somos como Família palotina. Fidelidade a Deus conhecido e reconhecido como Amor Infinito e Misericórdia Infinita na inexaurível riqueza das histórias de cada um.

Parte I – apresentação pessoal
     Também para mim foi assim, já faz tantos anos. Era 1973, nos inícios da história da minha comunidade, Quinta Dimensão. Era uma jovem estudante, rebelde do mundo. Queria fazer a revolução contra as estruturas da sociedade; mudá-las, transformá-las: acreditava que seriam elas que impediam o bem, a solidariedade, a generosidade, a justiça, a fraternidade. Mas durante um encontro onde com alguns outros estudantes falávamos de como construir um mundo novo, fui eu, ao invés, mudada, transformada por uma frase; quem me disse foi Pe. Leonardi, palotino e nosso professor de religião. A frase ainda hoje é paradigmática para cada coisa que vivo: para que no mundo exista paz, amor, tolerância, fraternidade, verdade, escuta, não basta mudar somente as estruturas. É o homem que as cria, somos nós a criá-las. É necessário, por isso, primeiro de tudo mudar a nós mesmos e colocar no centro da vida o Evangelho de Jesus. Intuí então que devia iniciar mudar por mim. Iniciei assim a fazer a experiência que a vida cristã – a vida palotina – é simples e também plenamente humana: viver fazendo aos outros aquilo que gostaria que fosse feito a você. E o mundo é seguramente feito novo, também nas estruturas.
     Em de 2013, Papa Francisco disse aos Bispos latino-americanos: A a“‘mudança das estruturas’ (caducas ou novas) não é fruto de um estudo sobre a organização inicial e funcional eclesiástico, de onde resultaria uma reorganização estática, ela é consequência da dinâmica da missão.”
Faço agora um longo salto temporal a 30 de março de 2015, segunda-feira da Semana Santa, dia em que o Conselho Geral me elegeu Presidente da UAC. Nunca alguém de nós tinha pensado, imaginado, sonhado uma novidade assim surpreendente: um leigo – e ainda mulher – Presidente de toda a Família Palotina.
Na longa troca de ideias e desejos aspirações entre os membros do CCG, a um certo ponto saiu o meu nome e todos me olharam. Não tinha entendido muito bem; pensava que aquele nome era uma hipótese para uma UAC do futuro, ainda bem longe. Assim me levantei da cadeira e fui ao banheiro. Quando saí diante da porta doo banheiro encontrei Cheryl Sullivan, membro do CCG, que me esperava. Não recordo bem o que nos falamos se não, que nos queríamos bem e fazíamos todas as coisas juntos, em comunhão. Isso somente valia, isso somente vale.
Antes da votação teve um tempo de discernimento espiritual pessoal. Eu fui à Capela e me coloquei diante de Jesus, presente no Tabernáculo. Já me era claro que alguma coisa estava por acontecer; não somente a mim, mas também a cada um dos outros membros do CCG e a toda a União. Eu disse: “Jesus, meu Senhor, tu sabes quem sou. Contudo, se deve ser eu a pessoa escolhida, deves dar-me duas coisas. A primeira: se isso ocorrer, que não seja reconhecimento de qualidade pessoal, mas do caminho percorrido com a comunidade, impelido pelo carisma de São Vicente Pallotti na história da União. A segunda: que não seja uma eleição como uma vitória entre adversários, mas seja sinal de forte consenso, de unidade.” Jesus me deu aquilo que eu lhe pedi. Com muita alegria e consciência posso dizer que não somente a minha aceitação, mas também a de cada membro do CCG. Todos – podemos dizer – demos sim a Deus e aderido ao seu designo surpreendente e ‘revolucionário’.
Até aqui contei sobre mim. Para mim é importante partilhar as experiências porque nos ajudam a levantar o olhar não mais direcionado numa direção particular, mas com um olhar à União acolhendo-a na sua complexa inteireza. Gostaria agora de prosseguir com a segunda parte sobre aquilo que mais me está no coração acerca da UAC, desenvolvendo três aspectos: memória, capacidade de ver o presente, utopia em direção o futuro (Papa Francisco ao cotidiano argentino “La Voz del Pueblo”, maio de 2015).

Parte II
Memória
       Gostaria de partir do Estatuto Geral e evidenciar alguns elementos que constituem o seu fundamento, dessa forma trazer à tona a memória comum da vida e da forma da União deste decênio (um pouco mais de um decênio). Memória comum: aquilo que envolve todos nós, nos pertence e sistematiza a nossa responsabilidade em direção a Deus e os homens no mantê-la vital e em enriquecê-la.

       O Estatuto Geral é fruto de um trabalho comunitário longo e paciente, iniciado nos anos 90, mas que tem raízes históricas mais antigas quando, o Concílio Vaticano II convidou cada Família Religiosa a voltar “às primitivas inspirações dos institutos” a “sua própria fisionomia” (Perfectae Caritatis, 2). E unir-se através de uma estrutura jurídica (cf. Partes II-IV) as várias partes da Família (sacerdotes e irmãos, irmãs, leigos), unidos já por um vínculo moral que descende do carisma de fundação (cf. Parte I).
       O Estatuto apresenta este vínculo através dos elementos espirituais essenciais: reavivar a fé e reacender a caridade para unir todos em Cristo; chamar todos – seja religiosos, leigos, bem como clérigos – ao apostolado; unir os esforços de todos a serviço da Igreja. Depois prossegue sem interferir com a sua estrutura jurídica e com a vida interna das partes singulares. Assim o Estatuto pode aplicar-se a todas as partes da Família Palotina, e cada uma pode reconhecer com paridade de direito.
       O elemento comum e essencial da identidade do carisma e da unidade da Família Palotina, é o Apostolado Católico. É o título que qualifica a sua vocação na Igreja, o elemento irrenunciável (cf. OOCC X, 196-201; III, 139). Eis a obra nova na Igreja que, na memória agora partilhada, abre-se ao presente.

Capacidade de ver o presente
       “Gostaria de fazer outro esclarecimento a respeito do carisma: corremos o risco de considerá-lo somente como um «conteúdo», mas não é assim. Cada carisma de fundação inclui um «conteúdo», mas, ao mesmo tempo, também um «modo de ser», um «modo de proceder» peculiares. Isto é importante quando se trata de «atualizar» um carisma de fundação”.[1] Seguindo o pensamento do Papa, de fato, podemos dizer que o “conteúdo” do carisma da nossa fundação é o apostolado católico, o elemento irrenunciável. Mas, disse o Papa, além do conteúdo existe mais ainda: existe o modo de ser, o modo de proceder, essenciais para atualizar o carisma de fundação.
       Desde a aprovação da União até hoje foi feito muito caminho: a constituição e as atividades do CGC, dos CNC e dos CLC; os programas de formação; as equipes de formação com os promotores; os congressos gerais, continentais e mundiais; as admissões dos novos membros com o Ato de Compromisso; as celebrações jubilares; os oitavários; o plano de ação anual, etc. Tudo contribuiu e contribui, com a graça de Deus, para dar estabilidade estrutural na edificação de uma obra assim complexa e diversa como a UAC. É um processo necessário para encarnar, concretizar a experiência de Espírito que São Vicente nos deixou como dom, pois vale também para ele: “Para os Fundadores e as Fundadoras a regra em absoluto foi o Evangelho, cada outra regra queria ser somente expressão do evangelho e instrumento para vivê-lo em plenitude”.[2] O nosso presente resplandesce certamente luzes, mas – em diversos lugares e em diversas formas – resultam também as sombras. É preciso saber lê-las com sabedoria pois, se de um lado o elemento humano é sempre débil, frágil, vulnerável, de outro reconhecemos que a força do Espírito Santo se serve também das sombras para levar adiante o seu projeto. Essas sombras, então, não são ignoradas, deixadas à certa distância ou delegadas a outros, mas são necessárias para crescer, para atualizar o «modo de ser », «modo de proceder». Eis a minha proposta: a colaboração e a comunhão exigem hoje o gerar ou renovar a consciência das várias expressões da União, pois para dar significado à pertença à Família Palotina não é mais suficiente a estabilidade estrutural. Compreendemos que é necessário colocar no centro da comunhão a relação, o diálogo direto entre as pessoas. O que seria a Igreja sem a experiência vivida pelo mandamento novo do amor? O que seria da UAC se os seus membros e colaboradores não vivessem entre eles o constitutivo substancial da caridade? “Que todos possam admirar como vos cuidais uns dos outros, como vos encorajeis mutuamente e como vos acompanheis” (EG, 98.99).

Utopia voltada ao futuro
       A utopia voltada ao futuro é empenhar-se – “resolver-nos”, diria o Fundador – a estar em comunhão uns com os outros, renovando cada estratégia pessoal e comunitária para favorecer a unidade. Na Obra de São Vicente Pallotti, nas suas palavras, somos todos chamados a ser cofundadores com ele.

Conclusão
       Convidamos-nos e sustentemos-nos uns aos outros para percorrer com paciência e humildade corajosa esta via, sem dúvida mariana nos modos, conscientes que a comunhão deve ser e tornar a primeira forma de evangelização: “Nisto reconhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns pelos outros” (Jo 13,35). O que nos torna União é a comunhão. E o Apostolado Católico é a sua irradiação direta, espontânea, natural. As gerações futuras estão no nosso presente. E esta é uma certeza que acompanha o nosso empenho de servir fielmente a Deus e com alegria na União do Apostolado Católico.
“Como nos faz bem, apesar de tudo, amar-nos uns aos outros! Sim, apesar de tudo! Não deixemos que nos roubem o ideal do amor fraterno!” (EG, 101). Não, não nos deixemos roubar-lhe! Nossa Senhora Aparecida, rogai por nós. Obrigado pela vossa atenção!


                                                                              Donatella Acerbi,
                                                                              Roma.



[1] Mons. Jorge Mario Bergoglio, no Sínodo sobre a Vida Consagrada e a Sua Missão na Igreja e no Mundo, XVI Congregazione generale, Roma, 13 outubro 1994, n. 5.
[2] Papa Francesco, Lettera Apostolica alle Consacrate e ai Consacrati, 21.11.2014, I,1.

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Dia de Nossa Senhora Aparecida

Querida Mãe Nossa Senhora Aparecida. Vós que nos amais e nos guiais todos os dias, vós que sois a mais bela das Mães, a quem eu amo de todo o meu coração. Eu vos peço mais uma vez que me ajudeis a alcançar uma graça. Sei que me ajudareis e sei que me acompanhareis sempre, até a hora da minha morte.
















sábado, 10 de outubro de 2015

NÃO SÓ SALVOS, MAS SANTOS

Na Próxima segunda-feira comemoraremos a festa de nossa Padroeira, Nossa Senhora Aparecida. Estamos, porém, assistindo algo inédito na história do nosso País, e, talvez do mundo inteiro.  Já ouvimos falar de políticos que foram vaiados, mas  governantes que foram xingados em estádios de futebol, isso é inédito. Sempre guardou-se um certo respeito pelas autoridades. Mas diante de tantos escândalos de corrupção, parece que a panela de pressão explodiu. A válvula não consegue mais dar conta da pressão. Mas diante desse quadro, podemos ter um posicionamento que o Evangelho de hoje denuncia.
 Pode acontecer que nos achemos até muito bons. Se o nosso termo de comparação são os corruptos, os mensalões, os petrolões, os que propagam o casamento gay, podemos achar que somos até bem “bonzinhos”. Não mato, não roubo...  Diante disso tudo podemos ir até Jesus com as motivações do jovem rico do Evangelho, que até, a princípio, eram boas. “«Bom Mestre, que devo fazer para alcançar a vida eterna?» (Mc 10,17) Motivação válida, sem dúvida. A salvação da própria alma não é negócio de pouca importância. “Jesus disse: «Porque me chamas bom? Ninguém é bom senão um só: Deus. Sabes os mandamentos: Não mates, não cometas adultério, não roubes, não levantes falso testemunho, não defraudes, honra teu pai e tua mãe”. (Mc 10,18 s) Jesus não pergunta se ele conhecia os mandamentos, mas afirma-o – “Sabes os mandamentos”-, porque desde toda a eternidade já o conhecia.
“Ele respondeu: «Mestre, tenho cumprido tudo isso desde a minha juventude”. Jesus, fitando nele o olhar, sentiu afeição por ele e disse: «Falta-te apenas uma coisa: vai, vende tudo o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no Céu; depois, vem e segue-me”. (Mc 10,20) O Evangelho diz que Jesus olhou para ele com amor, com simpatia e faz-lhe um chamamento. Chamamento, vocação, é o olhar amoroso de Jesus para cada um de nós. “Se queres ser perfeito,.....” Esta é a nossa vocação. São Paulo vai falar sobre ela na carta aos Efésios: “Foi assim que Ele nos escolheu em Cristo antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis na sua presença, no amor”. (Efésios 1,4) Ou seja, Jesus Nosso Senhor revelou a esse jovem a sua alta vocação.
No entanto ele saiu triste porque possuía muitos bens.
Tristeza é o sentimento recorrente no coração de cada ser humano quando ele não corresponde à sua  vocação.
Com esta atitude, vemos que, na verdade, este jovem não observava realmente todos os mandamentos. Não observava logo o primeiro: “Escuta, Israel: O Senhor nosso Deus é o único Senhor; amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu entendimento e com todas as tuas forças”. (Mc 12,29-30)
Na verdade a avareza não era  nem mesmo o seu maior pecado, mas sim o orgulho e a impiedade. Se ele, como Pedro, tivesse admitido as suas debilidades e pedido a graça da conversão, Nosso Senhor teria lhe dado, certamente, uma graça atual e ele seria o décimo terceiro Apóstolo. Pedro, humildemente, certa vez, disse: “«Afasta-te de mim, Senhor, porque sou um homem pecador”. (Lc 5,8) Ao que Nosso Senhor respondeu: “«Não tenhas receio; de futuro, serás pescador de homens”. (Lc 5,10)   Se ele tivesse dito: “- Senhor, bem conheces a minha fraqueza, meu apego a meus bens. Tende piedade de mim e dá-me a graça de me desapegar de tudo aquilo que me impede de abraçar a minha vocação...”. Certamente Nosso Senhor o teria atendido.
Com isso compreendemos as palavras de Nosso Senhor, a seguir, quando respondeu  à perplexidade dos Apóstolos: “Então quem pode salvar-se? Para os homens isso é impossível, mas para Deus tudo é possível”... Ou nas Palavras de São Padre Pio: “Quem reza se salva, quem não reza se condena”. Visto  que “... é pela graça que estais salvos, por meio da fé. E isto não vem de vós; é dom de Deus; não vem das obras, para que ninguém se glorie”. (Ef 2,8)
Vale a pena rezar e dedicar-se a essa empresa que é a maior de todas: a salvação das almas. Estamos, neste ano de 2015 a recordar os 500 anos do nascimento de Santa Tereza de Jesus. Quando criança ela falava ao irmãozinho e o irmãozinho a ela: “Há o Céu... e é para sempre, para sempre, para sempre.... Há o inferno, e é para sempre, para sempre , para sempre...”  Mais tarde, já monja ela diria: “Estou disposta a dar mil vidas pela salvação de uma  única alma”.  Se fizermos as contas, dizia um padre comentador, mil vidas seriam no máximo cem mil anos. O que é cem mil anos na eternidade de uma única alma? Nada... Só os nossos foceis pré-históricos que temos em alguns museus tem 130 milhões de anos.
Diante da negativa do jovem rico, Pedro toma a voz dos doze e pergunta: “ «Aqui estamos nós que deixámos tudo e te seguimos.» Jesus respondeu: «Em verdade vos digo: quem deixar casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos ou campos por minha causa e por causa do Evangelho, receberá cem vezes mais agora, no tempo presente, em casas, e irmãos, e irmãs, e mães, e filhos, e campos, juntamente com perseguições, e, no tempo futuro, a vida eterna”. Cem vezes mais e a vida eterna.... por exemplo: um seminarista que, impulsionado pela graça, com reta intensão renuncia a um emprego ou ao matrimônio  para servir a Cristo na vida consagrada ou no sacerdócio verá o seu instinto paternal derramar-se sobre muito mais pessoas, e ganha, certamente, muito mais pais , mães, irmãos e irmãs, junto com perseguições e no mundo futuro a vida eterna.
Uma pergunta pode surgir: Este Evangelho, então, pode ser vivido apenas pelos que optam pela vida consagrada e pelos que são muito pobres? A história da Igreja nos responde que não. Existem, muitos reis e rainhas, homens de posses, que usaram seus bens com desprendimento para a glória de Deus e a ajuda dos pobres. Vemos uma Santa Isabel rainha de Portugal que ajudou a construir Igrejas e era pródiga em cuidados com os pobres, até tratando disso pessoalmente...
É licito acumular alguns bens, principalmente se se tem família, quando sua origem é lícita e também a finalidade do uso é reta, ou seja, a glória de Deus, e o bem das pessoas, principalmente dos que lhe são dependentes e dos mais pobres. Quando o meio de aquisição é ilícito e ou a finalidade a que se destina é somente os próprios prazeres, vemos o que estamos assistindo. A desmoralização de autoridades.
É hora de rezarmos a nossa Padroeira pelo Brasil com o terço nas mãos, pedindo que nos livre de ideologias nefastas como o comunismo, a desmoralização das instituições a  que levou o apego a riquezas e ao poder conseguidos ilicitamente. Peçamos a Nossa Senhora que sejamos não somente salvos, mas santos. Conduze o nosso Brasil Virgem Aparecida, como nos dizia São João Paulo II, a uma “medida alta da vida cristã”. Assim seja.
Pe. Marcelo Nespoli SAC

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Celebração Eucarística para os membros da UAC em Roma

Em 30 de Setembro de 2015, o Pe. Jacob Nampudakam, na sua qualidade de Assistente Eclesiástico da União, presidiu uma missa na Igreja de SS. Salvatore in Onda para os membros da União do Apostolado Católico em Roma.
Em sua homilia, ele convidou todos os membros da Família Palotina para aprofundar sua compreensão e experiência do imenso dom carismático de São Vicente Pallotti e oferecê-lo a toda a Igreja com ardente paixão. Acima de tudo, ele destacou a centralidade de Deus na vida de toda a União. Deus é amor e onde Deus está, vai haver comunhão. Pe. Jacob expressou a esperança de que vai ser o início de um novo Pentecostes na Família Palotina, para ver uma energia espiritual renovada na difusão do carisma de São Vicente Pallotti e um novo entusiasmo para avaliar, atualizar e aprofundar nossos esforços para realização da União, como “trombeta evangélica”, que convida todos os fiéis a realizar a sua vocação apostólica na Igreja.
HOMILIA DO REITOR GERAL NA CELEBRAÇÃO DA MISSA PARA MUITOS MEMBROS DA UNIÃO DO APOSTOLADO CATÓLICO NA IGREJA DO SANTÍSSIMO SALVADOR EM ONDA, EM ROMA, NO DIA 30.09.2015[1]


         Início da Missa

Queridos irmãos e irmãs da Família Palotina!  Sede cordialmente bem-vindos a esta Celebração Eucarística, onde queremos rezar e agradecer a Deus de modo particular pela difusão e o crescimento do carisma palotino. Ao mesmo tempo, queremos pedir que cada membro desta grande família Espiritual faça uma caminhada cristã e palotina profunda.
A Igreja celebra, hoje, a memória de São Jerônimo. Mas, nesta tarde, nós escolhemos a Missa Votiva do Espírito Santo, porque Ele é a força criadora e renovadora na Igreja.
Também São Jerônimo tem uma belíssima mensagem para nós: Amar a Palavra de Deus na Sagrada Escritura, e ele diz também a nós: “Ignorar as Escrituras é ignorar Cristo”. Daí, pois, a importância de que cada cristão viva em contato e em diálogo pessoal constante com a Palavra de Deus.
Este nosso diálogo tem duas dimensões: deve ser um diálogo verdadeiramente pessoal, porque Deus fala a cada um de nós através da Sagrada Escritura, e tem também uma mensagem para cada um. Mas para não correr o risco de cair no individualismo, devemos ter presente que a Palavra de Deus nos é dada propriamente para construir comunhão, para unir-nos na verdade no nosso caminho para Deus. Por isso, embora ela seja uma Palavra pessoal, é também uma Palavra que constrói a comunidade, que constrói a Igreja.
O lugar privilegiado da leitura e da escuta da Palavra de Deus é a liturgia, na qual, ao celebrar a Palavra e ao tornar presente no Sacramento o Corpo de Cristo, atualizamos a Palavra na nossa vida e a tornamos presente entre nós. Portanto, abramo-nos, agora, à Palavra de vida, pedindo perdão por todos os nossos pecados.




Homilia

Caríssimos irmãos e irmãs, como membros da Família Palotina estamos aqui reunidos para juntos rezar para cada membro e para cada comunidade desta grande família Espiritual, espalhada em mais de cinqüenta países do mundo, para que a nossa fé seja reavivada  e para que, impelidos pela caridade de Cristo, nos tornemos instrumentos eficazes para a difusão do Evangelho até aos confins da terra.
O Evangelho de hoje nos mostra que, não obstante o nosso desejo de seguir o nosso Mestre, em nosso caminho, nos encontramos com mil obstáculos e desculpas. Um diz: “Senhor, deixa-me ir antes sepultar meu pai”. O outro se desculpa, dizendo: “Eu te segurei, Senhor, mas deixa-me primeiro despedir-me daqueles da minha casa”. Embora estes sejam motivos justos, o chamado do Senhor tem um caráter de urgência: “Segue-me!”. “Ninguém que mete a mão no arado e olha para trás é apto para o reino de Deus”.
Todos nós somos chamados pelo Senhor para segui-lo: alguns de nós como sacerdotes, outros como pessoas consagradas e outros ainda como fieis leigos na Igreja, vivendo e partilhando o espírito e o carisma do nosso amado Santo fundador São Vicente, num estado de contemplação eterna de Deus, como vemos sob o altar diante de nós. Somos realmente felizes de ter a presença física e espiritual do nosso fundador.
Este é um momento para agradecer a Deus pelo grande dom deste místico e apóstolo e pela sua visão carismática e profética para toda a Igreja. Em nome dele e em meu nome, aproveito a ocasião para agradecer a cada um de vós pelo empenho em viver e em difundir a espiritualidade e o carisma de São Vicente.
Como os discípulos do Evangelho de hoje, também a nossa resposta ao chamado a viver o espírito do nosso fundador, pode, às vezes, ser limitada. Algumas vezes, não compreendemos o verdadeiro sentido da sua herança espiritual e, às vezes, reduzimos a sua visão a um simples projeto humano; outras vezes se metem no meio as nossas necessidades humanas  de segurança, de poder e de prestígio, por falta de uma profunda formação cristã e palotina.
Digo tudo isto, sem jamais esquecer que existem também centenas de pessoas que vivem o carisma palotino com grande alegria e entusiasmo. Seja como for, após quase quinze anos da aprovação do Estatuto Geral da União, este é talvez o momento justo para avaliar o andamento desta realidade eclesial para o bem de toda a família palotina. Dos meus contatos com as realidades da União, em diversos países, posso dizer-vos que, se de uma parte experimento alegria pelas muitas pessoas que crescem na fé no interno da União, da outra parte experimento preocupações especialmente onde noto discórdias e desuniões entre alguns membros ou componentes da família palotina. Em diversas ocasiões, procurei chamar a atenção  para estes sinais negativos no desenvolvimento da UAC.
Embora não sejam problemas graves, nos encontros da União, sinto muitas vezes a falta de um sentido de urgência e de seriedade no aprofundar a realidade eclesial da União desde o ponto de vista teológico, espiritual, jurídico e pastoral.  Como realizar a União concretamente com resultados pessoais e pastorais positivos para o serviço da Igreja, permanece em grande parte uma questão ainda a descobrir. Tudo isto será possível quando cada um de nós tiver realizado uma experiência profunda da pessoa e da espiritualidade de Pallotti.

O número 5 do Estatuto Geral da UAC diz: “O Reitor Geral da Sociedade do Apostolado Católico, como sucessor em linha ininterrupta do Fundador S. Vicente Pallotti é garante da fidelidade ao carisma palotino”. Garantir a fidelidade ao carisma é uma grande responsabilidade diante de São Vicente, diante da família palotina e diante da Igreja! Iluminados pelo Espírito Santo, todos nós devemos estar atentos aos sinais da vida ou àquelas tendências humanas que a limitam. A nossa Sociedade já passou um momento difícil a este respeito, e por isso não faltam os coirmãos que me pedem para estar atento. Não posso dizer que existem graves perigos até agora, mas vale a pena estar atentos a qualquer sinal que não leve à vida.
Por isso, apresento agora alguns temas para um discernimento comum em toda a nossa família espiritual. Estamos iniciando um processo de avaliação e de discernimento na nossa Sociedade. Esperamos  envolver todos os membros da União neste processo para o bem da nossa Família Palotina.

1. Antes de tudo, a União deve ser vista como um projeto de Deus e não simplesmente uma associação ou organização de fieis. O perigo é grande se reduzimos esta realidade a um centro de tipo social e cultural para obter alguma satisfação psicológica. Recordemos que a União é o fruto do caminho espiritual de um grande místico e apóstolo, São Vicente. Como seres humanos temos necessidade de organizar e viver eventos sociais e culturais, mas eles não podem substituir um profundo caminho de fé. Formamo-nos como verdadeiros e autênticos discípulos de Cristo, percorrendo o mesmo caminho do Mestre, seguindo o mistério pascal. Toda a formação na UAC e para a UAC não pode ser diversa da estrada que cada discípulo de Jesus deve fazer, como sentimos também no Evangelho de hoje.
Talvez nós estejamos reduzindo a formação na União aos encontros em diversos níveis, às conferências ou aos cantos! Onde está a cruz, onde está a renúncia, onde está a ressurreição? Onde está o radicalismo da vida cristã vivida em todo este processo? No nosso percurso formativo, num certo ponto, fazemos um empenho apostólico. Até que ponto é um empenho sério e profundo a serviço do Senhor e do seu povo? São suficientes três anos de encontro para “vestir” a túnica do empenho apostólico na União? Depois, o que sucede? Como vivemos realmente este empenho? Existe um contínuo processo de formação cristã e palotina? Em suma, se devemos criar uma União que leve a uma verdadeira comunhão, precisamos de um verdadeiro crescimento na caridade. Onde há caridade, há Deus. Portanto, Deus é e deveria ser a fonte e o fundamento da União do Apostolado Católico.

2. Uma outra realidade que enfrentamos é que, frequentemente, a União é vista como o grupo de leigos que fizeram o empenho apostólico. De fato, a União não pode ser formada por um único componente. O número 01 do Estatuto diz: “A União do Apostolado Católico, dom do Espírito Santo, é uma comunhão de fieis”. O número 07 acrescenta: “A igual dignidade dos membros da União funda-se sobre a comum semelhança com o Criador e sobre o comum sacerdócio do Povo de Deus. Ela se expressa numa pluralidade de vocações à vida laical, à vida consagrada e ao ministério ordenado, tão coligadas que cada uma ajuda a outra a estar atenta ao crescimento contínuo, e a prestar o próprio serviço”.
As três comunidades fundadas por S. Vicente Pallotti – a Sociedade do Apostolado Católico, a Congregação das Irmãs do Apostolado Católico e a Congregação das Irmãs Missionárias do Apostolado Católico – “são parte integrante da União e têm a tarefa de garantir a unidade e eficiência apostólica de toda a União” (cf. Estatuto 34, 35). Além disso, é preciso recordar que na União todas as comunidades são autônomas e os seus membros estão sujeitos às próprias regras (cf. Estatuto 40).
Estes números do Estatuto mostram que a União do Apostolado Católico se realiza somente quando nós, sacerdotes, religiosos e leigos, trabalhamos juntos para reavivar a fé e reacender a caridade na Igreja e no mundo, para levar todos à unidade em Cristo. Aqui não se trata de quem seja o maior ou o mais importante – todos nós somos discípulos e apóstolos e temos diversas vocações e dons. Não é também uma questão de clericalismo ou de laicidade exagerados. Recordemos que as três comunidades de fundação têm uma responsabilidade especial no promover e no “garantir a unidade e eficiência apostólica de toda a União”.
Trata-se, pois, de viajar todos juntos no mesmo trilho e no respeito da autonomia de cada comunidade. Se a União do Apostolado Católico foi aprovada pelo Pontifício Concílio para os Leigos, as três Comunidades de fundação estão sob a jurisdição da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica. A combinação destas realidades eclesiais pode ser uma riqueza, mas pode também criar confusões, se não são claras as responsabilidades e os privilégios de cada uma. Por exemplo, a Sociedade do Apostolado Católico é governada pela sua Lei e pelos seus superiores com os seus conselhos. As propriedades da Sociedade são cuidadas pela Sociedade, segundo as normas da Sociedade e da Igreja.
Ultimamente, estamos afrontando um pouco de confusão neste campo. Segundo o meu ver, existem muitos outros argumentos como este  a serem aprofundados para o bem comum da União. Além disso, se de um lado não deve nunca faltar a caridade fraterna, do outro lado temos necessidade de normas e de contratos claros nas nossas colaborações. Neste contexto tornam-se absolutamente necessários os encontros periódicos entre os três Superiores Gerais das Comunidades de fundação, que têm uma visão global de toda a Família Palotina, e a Presidente da União. É preciso promover tais encontros também em nível nacional entre os Superiores Provinciais/Regionais e os Presidentes Nacionais da UAC. Como foi feito justamente na última Assembléia da União, temos necessidade de encontros freqüentes das Comissões mistas compostas pelos membros de cada componente da UAC para tratar de argumentos comuns como a formação, o apostolado, as missões, etc. As decisões foram tomadas e agora aguardam a sua implementação.

3. Como cada movimento ou associação na Igreja, devemos também desenvolver concretamente “um modo de ser e viver a UAC”. Isto significa que devemos encontrar um modo de interpretar a eclesiologia de comunhão, fundamento da UAC na praxe pastoral a serviço da Igreja. É necessária uma certa identidade da UAC que deriva do nosso modo de pregar, cantar, fazer apostolado, etc. Por isso, dizemos muitas vezes que o Cenáculo, segundo a visão do nosso Fundador, oferece todos os elementos espirituais e apostólicos para desenvolver o nosso modo de ser União na Igreja.
No Cenáculo, as pessoas simples são transformadas interiormente sob a inspiração do Espírito Santo e a guia materna de Maria, Rainha dos Apóstolos, partilhando a palavra e rompendo o pão, para serem enviados como apóstolos até aos confins do mundo. Desenvolver uma tal pedagogia é uma tarefa importante para toda a União. Segundo o Estatuto, o Assistente Eclesiástico, em estreita colaboração com os diversos órgãos da União, deve assegurar a formação Palotina inicial e permanente dos membros da União (cf. Estatuto Geral 11). Este é o maior desafio da União hoje.

4. Queridos irmãos e irmãs, muitas outras coisas poderiam ser ditas quanto à situação atual da União, sobre as possibilidades de sua realização e sobre os obstáculos que podemos encontrar ao longo da estrada. Convidei-vos para esta Missa especial pela União, a fim de orarmos juntos como uma família pela graça e a bênção de realizar a visão profética do nosso Santo Fundador. Junto com tantas belas experiências, como seres humanos vamos também cometer erros ao longo da estrada; somos todos pecadores e necessitados de purificação. O verdadeiro espírito de comunhão só pode ser obtido em Deus porque ele é amor e o amor favorece sempre a comunhão.
Devemos ir além de uma visão restrita da União que a vê como um grupo auto-referencial a serviço dos próprios interesses. A União é um órgão auxiliar da Igreja e está sempre a serviço da Igreja. Por isso somos chamados a formar apóstolos de Jesus para a Igreja e não apóstolos para nós mesmos.  O nosso objetivo primário deve ser o de infundir no povo de Deus o espírito de Jesus, Apóstolo do Eterno Pai, dando-lhe uma profunda formação cristã no espírito de São Vicente. Alguns deles, em seu tempo e depois de uma boa formação, poderiam fazer o empenho apostólico. Mas empenhar-se para que as pessoas façam o empenho apostólico não deveria ser o objetivo primário da União, mas formar apóstolos para a Igreja.
Assim, as nossas paróquias, por exemplo, podem ser o melhor lugar para uma tal formação apostólica. Uma vez formados, os membros devem também empenhar-se na vida apostólica e missionária da Igreja. A falta de um verdadeiro empenho apostólico e missionário dos membros leigos na missão da Igreja, segundo meu parecer, é uma grande falta na atualização da União. Um grande número de membros das Comunidades de fundação estão empenhados em diversos apostolados e missões. A Sociedade está procurando reforçar a sua identidade missionária e estamos andando em diversos países de missão. 
Existem as periferias da existência humana em toda a parte. Uma sociedade secularizada, as famílias destruídas, os anciãos descuidados, os jovens confusos, os migrantes que chegam aos milhões, os doentes abandonados, etc., que encontramos na Itália ou na Alemanha, são missões tão importantes como aquelas no Congo ou em Taiwan (ex-Ilha Formosa).
Cada comunidade local da União deve encontrar esses campos de apostolado e de missão como expressão visível da caridade fraterna. De outra forma, a União fica só um pio desejo. Não devemos também gastar todas as nossas energias, mantendo as estruturas da União ou organizando encontros, um depois do outro. Os apóstolos se formam na oração e numa comunidade de fé, nos Cenáculos.
Daqui, pois, o nosso objetivo de formar Cenáculos vivos em todo o mundo. O nosso empenho apostólico deve concretizar-se também em atos concretos de caridade especialmente, em favor dos mais necessitados.


Conclusão

Concluo com estas palavras fortes e desafiantes de São Vicente: “A caridade exercitada como a descreve o Apóstolo forma todo o substancial constitutivo da Pia União; se esta viesse a faltar, não haveria mais nela o Apostolado Católico; por isso ai daquele que na pia União tentasse ofender a caridade; mas feliz todo aquele que a conservar perfeita, pois terá o mérito do seu estabelecimento, progresso, de todas as empresas evangélicas da pia União” (OOCC III, 134-137).
Oremos para que a vida de nosso Senhor Jesus Cristo seja a regra fundamental da vida e do apostolado de cada um de nós e de toda a Família Palotina. Amém.
                           
Pe. Jacob Nampudakam, SAC
                   Reitor Geral e Assistente Eclesiástico da União
Igreja do Santíssimo Salvador em Onda, 30 de setembro de 2015

         ATO DE CONSAGRAÇÃO AO ESPÍRITO SANTO

Ó divino Espírito, que desceste com a abundância
das Tuas luzes e dos Teus dons
sobre a primeira comunidade
reunida no dia de Pentecostes,
entre os muros do Cenáculo.
Eis diante de Ti esta comunidade
que suplica que renoves nela
o que realizaste naquele memorando dia.
E para que isto aconteça, nós nos consagramos a Ti,
oferecendo-Te a nossa mente,
a nossa vontade, o nosso coração.

A obra redentora que Cristo, o Verbo encarnado,
realizou sobretudo com a Sua paixão e morte
e quis confiar à Sua Igreja,
foi completada por Ti com o Pentecostes que nunca faltou.
Mas para que em nós seja mais intenso e frutuoso,
e esta porção da Igreja viva um contínuo progresso espiritual,
nós nos entregamos sem reservas a Ti.

A Tua luz ilumine as nossas mentes,
para que busquemos sempre a verdade
E não nos deixemos desviar por falsos profetas.
Que a Tua graça rejuvenesça as nossas vontades
e as torne capazes de resistir às insídias
do demônio e da corrupção.
Que os Teus dons nos transformem em apóstolos
com a palavra e com o exemplo.

Ó Divino Espírito, repete em nós os prodígios da graça
que se verificaram na primeira comunidade com a Tua descida.
Faze que, vivendo em Ti, levemos à Igreja
e ao Cristo redentor quantos nos circundam,
contribuindo assim àquele plano maravilhoso
de salvação do gênero humano que, em Pentecostes,
Deu os primeiros maravilhosos frutos. Amém.

Tradução de João Baptista Quaini SAC. Também a sublinhação das palavras é do mesmo.



[1] A respeito desta homilia, o Reitor Geral escreveu aos padres Edgar Ertl e João Baptista Quaini,em 01.10.2015: ”Caros coirmãos. Vejo a grande necessidade de iniciar um processo de renovação e de atualização da União. Ontem, celebrei a Missa com esta homilia à presença de muitos membros da UAC em Roma. Se possível, vos peço que publiqueis esta homilia com alguma modificação. Todos nós fazemos a UAC. Já estamos um pouco fora do momento e isto é um verdadeiro perigo a ser corrigido”