Na Próxima
segunda-feira comemoraremos a festa de nossa Padroeira, Nossa Senhora Aparecida.
Estamos, porém, assistindo algo inédito na história do nosso País, e, talvez do
mundo inteiro. Já ouvimos falar de
políticos que foram vaiados, mas
governantes que foram xingados em estádios de futebol, isso é inédito.
Sempre guardou-se um certo respeito pelas autoridades. Mas diante de tantos
escândalos de corrupção, parece que a panela de pressão explodiu. A válvula não
consegue mais dar conta da pressão. Mas diante desse quadro, podemos ter um
posicionamento que o Evangelho de hoje denuncia.
Pode acontecer que nos achemos até muito bons.
Se o nosso termo de comparação são os corruptos, os mensalões, os petrolões, os
que propagam o casamento gay, podemos achar que somos até bem “bonzinhos”. Não
mato, não roubo... Diante disso tudo
podemos ir até Jesus com as motivações do jovem rico do Evangelho, que até, a
princípio, eram boas. “«Bom Mestre, que devo fazer para alcançar a vida
eterna?» (Mc 10,17) Motivação válida, sem dúvida. A salvação da própria alma
não é negócio de pouca importância. “Jesus disse: «Porque me chamas bom? Ninguém
é bom senão um só: Deus. Sabes os mandamentos: Não mates, não cometas
adultério, não roubes, não levantes falso testemunho, não defraudes, honra teu
pai e tua mãe”. (Mc 10,18 s) Jesus não pergunta se ele conhecia os mandamentos,
mas afirma-o – “Sabes os mandamentos”-, porque desde toda a eternidade já o
conhecia.
“Ele respondeu: «Mestre, tenho cumprido tudo
isso desde a minha juventude”. Jesus, fitando nele o olhar, sentiu afeição por
ele e disse: «Falta-te apenas uma coisa: vai, vende tudo o que tens, dá o
dinheiro aos pobres e terás um tesouro no Céu; depois, vem e segue-me”. (Mc
10,20) O Evangelho diz que Jesus olhou para ele com amor, com simpatia e
faz-lhe um chamamento. Chamamento, vocação, é o olhar amoroso de Jesus para
cada um de nós. “Se queres ser perfeito,.....” Esta é a nossa vocação. São
Paulo vai falar sobre ela na carta aos Efésios: “Foi assim que Ele nos escolheu
em Cristo antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis na
sua presença, no amor”. (Efésios 1,4) Ou seja, Jesus Nosso Senhor revelou a esse
jovem a sua alta vocação.
No entanto ele saiu triste porque possuía
muitos bens.
Tristeza é o sentimento recorrente no
coração de cada ser humano quando ele não corresponde à sua vocação.
Com esta atitude, vemos que, na verdade,
este jovem não observava realmente todos os mandamentos. Não observava logo o
primeiro: “Escuta, Israel: O Senhor nosso Deus é o único Senhor; amarás o
Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu
entendimento e com todas as tuas forças”. (Mc 12,29-30)
Na verdade a avareza não era nem mesmo o seu maior pecado, mas sim o
orgulho e a impiedade. Se ele, como Pedro, tivesse admitido as suas debilidades
e pedido a graça da conversão, Nosso Senhor teria lhe dado, certamente, uma
graça atual e ele seria o décimo terceiro Apóstolo. Pedro, humildemente, certa
vez, disse: “«Afasta-te de mim, Senhor, porque sou um homem pecador”. (Lc 5,8)
Ao que Nosso Senhor respondeu: “«Não tenhas receio; de futuro, serás pescador
de homens”. (Lc 5,10) Se ele tivesse
dito: “- Senhor, bem conheces a minha fraqueza, meu apego a meus bens. Tende
piedade de mim e dá-me a graça de me desapegar de tudo aquilo que me impede de
abraçar a minha vocação...”. Certamente Nosso Senhor o teria atendido.
Com isso compreendemos as palavras de Nosso
Senhor, a seguir, quando respondeu à perplexidade
dos Apóstolos: “Então quem pode salvar-se? Para os homens isso é impossível,
mas para Deus tudo é possível”... Ou nas Palavras de São Padre Pio: “Quem reza
se salva, quem não reza se condena”. Visto que “... é pela graça que estais salvos, por
meio da fé. E isto não vem de vós; é dom de Deus; não vem das obras, para que
ninguém se glorie”. (Ef 2,8)
Vale a pena rezar e dedicar-se a essa empresa
que é a maior de todas: a salvação das almas. Estamos, neste ano de 2015 a
recordar os 500 anos do nascimento de Santa Tereza de Jesus. Quando criança ela
falava ao irmãozinho e o irmãozinho a ela: “Há o Céu... e é para sempre, para
sempre, para sempre.... Há o inferno, e é para sempre, para sempre , para sempre...” Mais tarde, já monja ela diria: “Estou
disposta a dar mil vidas pela salvação de uma
única alma”. Se fizermos as
contas, dizia um padre comentador, mil vidas seriam no máximo cem mil anos. O
que é cem mil anos na eternidade de uma única alma? Nada... Só os nossos foceis
pré-históricos que temos em alguns museus tem 130 milhões de anos.
Diante da
negativa do jovem rico, Pedro toma a voz dos doze e pergunta: “ «Aqui estamos
nós que deixámos tudo e te seguimos.» Jesus respondeu: «Em verdade vos digo:
quem deixar casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos ou campos por minha causa e
por causa do Evangelho, receberá cem vezes mais agora, no tempo presente, em
casas, e irmãos, e irmãs, e mães, e filhos, e campos, juntamente com
perseguições, e, no tempo futuro, a vida eterna”. Cem vezes mais e a vida
eterna.... por exemplo: um seminarista que, impulsionado pela graça, com reta
intensão renuncia a um emprego ou ao matrimônio
para servir a Cristo na vida consagrada ou no sacerdócio verá o seu
instinto paternal derramar-se sobre muito mais pessoas, e ganha, certamente,
muito mais pais , mães, irmãos e irmãs, junto com perseguições e no mundo
futuro a vida eterna.
Uma pergunta
pode surgir: Este Evangelho, então, pode ser vivido apenas pelos que optam pela
vida consagrada e pelos que são muito pobres? A história da Igreja nos responde
que não. Existem, muitos reis e rainhas, homens de posses, que usaram seus bens
com desprendimento para a glória de Deus e a ajuda dos pobres. Vemos uma Santa
Isabel rainha de Portugal que ajudou a construir Igrejas e era pródiga em
cuidados com os pobres, até tratando disso pessoalmente...
É licito acumular alguns bens,
principalmente se se tem família, quando sua origem é lícita e também a
finalidade do uso é reta, ou seja, a glória de Deus, e o bem das pessoas,
principalmente dos que lhe são dependentes e dos mais pobres. Quando o meio de
aquisição é ilícito e ou a finalidade a que se destina é somente os próprios
prazeres, vemos o que estamos assistindo. A desmoralização de autoridades.
É hora de
rezarmos a nossa Padroeira pelo Brasil com o terço nas mãos, pedindo que nos
livre de ideologias nefastas como o comunismo, a desmoralização das instituições
a que levou o apego a riquezas e ao
poder conseguidos ilicitamente. Peçamos a Nossa Senhora que sejamos não somente
salvos, mas santos. Conduze o nosso Brasil Virgem Aparecida, como nos dizia São
João Paulo II, a uma “medida alta da vida cristã”. Assim seja.
Pe. Marcelo Nespoli SAC
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