sábado, 10 de outubro de 2015

NÃO SÓ SALVOS, MAS SANTOS

Na Próxima segunda-feira comemoraremos a festa de nossa Padroeira, Nossa Senhora Aparecida. Estamos, porém, assistindo algo inédito na história do nosso País, e, talvez do mundo inteiro.  Já ouvimos falar de políticos que foram vaiados, mas  governantes que foram xingados em estádios de futebol, isso é inédito. Sempre guardou-se um certo respeito pelas autoridades. Mas diante de tantos escândalos de corrupção, parece que a panela de pressão explodiu. A válvula não consegue mais dar conta da pressão. Mas diante desse quadro, podemos ter um posicionamento que o Evangelho de hoje denuncia.
 Pode acontecer que nos achemos até muito bons. Se o nosso termo de comparação são os corruptos, os mensalões, os petrolões, os que propagam o casamento gay, podemos achar que somos até bem “bonzinhos”. Não mato, não roubo...  Diante disso tudo podemos ir até Jesus com as motivações do jovem rico do Evangelho, que até, a princípio, eram boas. “«Bom Mestre, que devo fazer para alcançar a vida eterna?» (Mc 10,17) Motivação válida, sem dúvida. A salvação da própria alma não é negócio de pouca importância. “Jesus disse: «Porque me chamas bom? Ninguém é bom senão um só: Deus. Sabes os mandamentos: Não mates, não cometas adultério, não roubes, não levantes falso testemunho, não defraudes, honra teu pai e tua mãe”. (Mc 10,18 s) Jesus não pergunta se ele conhecia os mandamentos, mas afirma-o – “Sabes os mandamentos”-, porque desde toda a eternidade já o conhecia.
“Ele respondeu: «Mestre, tenho cumprido tudo isso desde a minha juventude”. Jesus, fitando nele o olhar, sentiu afeição por ele e disse: «Falta-te apenas uma coisa: vai, vende tudo o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no Céu; depois, vem e segue-me”. (Mc 10,20) O Evangelho diz que Jesus olhou para ele com amor, com simpatia e faz-lhe um chamamento. Chamamento, vocação, é o olhar amoroso de Jesus para cada um de nós. “Se queres ser perfeito,.....” Esta é a nossa vocação. São Paulo vai falar sobre ela na carta aos Efésios: “Foi assim que Ele nos escolheu em Cristo antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis na sua presença, no amor”. (Efésios 1,4) Ou seja, Jesus Nosso Senhor revelou a esse jovem a sua alta vocação.
No entanto ele saiu triste porque possuía muitos bens.
Tristeza é o sentimento recorrente no coração de cada ser humano quando ele não corresponde à sua  vocação.
Com esta atitude, vemos que, na verdade, este jovem não observava realmente todos os mandamentos. Não observava logo o primeiro: “Escuta, Israel: O Senhor nosso Deus é o único Senhor; amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu entendimento e com todas as tuas forças”. (Mc 12,29-30)
Na verdade a avareza não era  nem mesmo o seu maior pecado, mas sim o orgulho e a impiedade. Se ele, como Pedro, tivesse admitido as suas debilidades e pedido a graça da conversão, Nosso Senhor teria lhe dado, certamente, uma graça atual e ele seria o décimo terceiro Apóstolo. Pedro, humildemente, certa vez, disse: “«Afasta-te de mim, Senhor, porque sou um homem pecador”. (Lc 5,8) Ao que Nosso Senhor respondeu: “«Não tenhas receio; de futuro, serás pescador de homens”. (Lc 5,10)   Se ele tivesse dito: “- Senhor, bem conheces a minha fraqueza, meu apego a meus bens. Tende piedade de mim e dá-me a graça de me desapegar de tudo aquilo que me impede de abraçar a minha vocação...”. Certamente Nosso Senhor o teria atendido.
Com isso compreendemos as palavras de Nosso Senhor, a seguir, quando respondeu  à perplexidade dos Apóstolos: “Então quem pode salvar-se? Para os homens isso é impossível, mas para Deus tudo é possível”... Ou nas Palavras de São Padre Pio: “Quem reza se salva, quem não reza se condena”. Visto  que “... é pela graça que estais salvos, por meio da fé. E isto não vem de vós; é dom de Deus; não vem das obras, para que ninguém se glorie”. (Ef 2,8)
Vale a pena rezar e dedicar-se a essa empresa que é a maior de todas: a salvação das almas. Estamos, neste ano de 2015 a recordar os 500 anos do nascimento de Santa Tereza de Jesus. Quando criança ela falava ao irmãozinho e o irmãozinho a ela: “Há o Céu... e é para sempre, para sempre, para sempre.... Há o inferno, e é para sempre, para sempre , para sempre...”  Mais tarde, já monja ela diria: “Estou disposta a dar mil vidas pela salvação de uma  única alma”.  Se fizermos as contas, dizia um padre comentador, mil vidas seriam no máximo cem mil anos. O que é cem mil anos na eternidade de uma única alma? Nada... Só os nossos foceis pré-históricos que temos em alguns museus tem 130 milhões de anos.
Diante da negativa do jovem rico, Pedro toma a voz dos doze e pergunta: “ «Aqui estamos nós que deixámos tudo e te seguimos.» Jesus respondeu: «Em verdade vos digo: quem deixar casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos ou campos por minha causa e por causa do Evangelho, receberá cem vezes mais agora, no tempo presente, em casas, e irmãos, e irmãs, e mães, e filhos, e campos, juntamente com perseguições, e, no tempo futuro, a vida eterna”. Cem vezes mais e a vida eterna.... por exemplo: um seminarista que, impulsionado pela graça, com reta intensão renuncia a um emprego ou ao matrimônio  para servir a Cristo na vida consagrada ou no sacerdócio verá o seu instinto paternal derramar-se sobre muito mais pessoas, e ganha, certamente, muito mais pais , mães, irmãos e irmãs, junto com perseguições e no mundo futuro a vida eterna.
Uma pergunta pode surgir: Este Evangelho, então, pode ser vivido apenas pelos que optam pela vida consagrada e pelos que são muito pobres? A história da Igreja nos responde que não. Existem, muitos reis e rainhas, homens de posses, que usaram seus bens com desprendimento para a glória de Deus e a ajuda dos pobres. Vemos uma Santa Isabel rainha de Portugal que ajudou a construir Igrejas e era pródiga em cuidados com os pobres, até tratando disso pessoalmente...
É licito acumular alguns bens, principalmente se se tem família, quando sua origem é lícita e também a finalidade do uso é reta, ou seja, a glória de Deus, e o bem das pessoas, principalmente dos que lhe são dependentes e dos mais pobres. Quando o meio de aquisição é ilícito e ou a finalidade a que se destina é somente os próprios prazeres, vemos o que estamos assistindo. A desmoralização de autoridades.
É hora de rezarmos a nossa Padroeira pelo Brasil com o terço nas mãos, pedindo que nos livre de ideologias nefastas como o comunismo, a desmoralização das instituições a  que levou o apego a riquezas e ao poder conseguidos ilicitamente. Peçamos a Nossa Senhora que sejamos não somente salvos, mas santos. Conduze o nosso Brasil Virgem Aparecida, como nos dizia São João Paulo II, a uma “medida alta da vida cristã”. Assim seja.
Pe. Marcelo Nespoli SAC

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