sábado, 24 de outubro de 2015

BARTIMEU, UM CEGO DE OUVIDOS ATENTOS

Nos dois domingos anteriores,  e neste, estamos ouvindo o que contribui e o que não contribui para o seguimento de Nosso Senhor na vocação de cada pessoa. Vários seguem Jesus no caminho para Jerusalém. Com quais nos identificamos? Algumas atitudes ajudam neste seguimento, outras atrapalham...
Quais não ajudam? O apego do “Jovem rico”... o “carreirismo de Tiago e João”...
 Pallotti, querendo livrar os seus filhos espirituais deste último engodo, acrescentou às promessas normais das congregações a promessa de espírito de serviço, fazendo com que o objetivo maior dos consagrados fosse salvar almas e não uma carreira...
Neste domingo vemos um cego que o era fisicamente, mas estava longe de sê-lo espiritualmente. Não enxergava por uma limitação física que o tornava até mais humilde, pois dependente, em  quase tudo, dos outros. No entanto, quando soube que era Jesus o Senhor e Mestre de Nazaré que passava, sua fé se acendeu e começou a clamar: “Jesus, Filho de Davi, tem piedade de mim”. A princípio as pessoas tentaram fazê-lo calar, mas quando ouviram que Jesus o chamava, encorajaram-no.  Clamou até que ouviu o chamado. O olhar amoroso de Jesus sobre nós é a nossa vocação: -“Chamai-o.» Chamaram o cego, dizendo-lhe: «Coragem, levanta-te que Ele chama-te”. 
Em que circunstâncias Jesus o chamou? Aqui cabe um precioso detalhe.  O versículo 46, que é aquele que inicia o Evangelho de hoje, diz textualmente o seguinte: “Chegaram a Jericó. Quando ia a sair de Jericó com os seus discípulos e uma grande multidão, um mendigo cego, Bartimeu, o filho de Timeu, estava sentado à beira do caminho”.   Imediatamente depois que o Evangelista disse que Jesus Chegou a Jericó, foi logo dizendo que ele estava já de saída....
Como explicar isso? Jerusalém é o protótipo da cidade celeste, Jericó é o símbolo deste mundo, não daquele mundo que Jesus amou a ponto de dar a vida, mas do mundo no sentido negativo de “mundanidade”. Assim, comparado com a eternidade, a passagem de Jesus por este mundo e a nossa própria vida, não deveriam nem mesmo caber em um versículo. Matematicamente, também as ciências modernas nos levam a pensar assim. Os cientistas, atualmente,  estimam a idade do universo em 13,7 bilhões de anos. Se fizermos uma escala dessa idade para 14 anos, nossa vida, que normalmente tem cerca de 80 anos, a mesma teria a duração de cerca de 3 segundos”.   Neste sentido entendemos uma frase de são Vicente Pallotti: “Deus Criou os homens nesta temporalidade apenas para fazê-los felizes na eternidade.” Por isso entendemos como  é preciosa a graça da vocação e como devemos aproveitar desta graça para viver bem. Devemos ter a prontidão do Jovem Samuel: «Aqui estou, pois me chamaste.» (1 Samuel, 3,8)
Na realidade , se vermos as estatísticas,  a cegueira  física é uma minoria da população, mas a espiritual, aquela que impede de seguir a Cristo rumo a Jerusalém Celeste no caminho da Cruz, ou seja, do dom sincero de si mesmo em sua vocação é, certamente, muito mais difusa. Muitos, até nas doutrinas que ensinam propõe um Céu e um cristianismo, quase somente para este mundo, como se, a todo custo, os homens tivessem que desejar um Céu aqui e agora.  Certa vez, São João Paulo II, cuja memória comemoramos nesta semana que passou,  num discurso aos jovens chilenos, disse com voz enfática:
-“ Tendes sede de vida”... (afirmativa) “-De vida eterna”? ...(seguiu-se um silêncio);
 Perguntou mais alto: “De vida eterna? – “Sim” (seguiu-se um “sim” tímido);
 O papa perguntou pela terceira vez quase que gritando:
 “-De vida eterna”? – Sim (aí sim os jovens responderam bem alto e com grande entusiasmo)
Ao nosso mundo tão apegado aos próprios bens, tão apegado ao poder sem serviço humilde ao irmão, tão apegado ao prazer ilícito a todo custo, Jesus repete: “Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus”.
Certa vez, em Odivelas aconteceu um fato curioso a esse respeito. A esposa do coordenador do grupo de oração da Paróquia era cega. Custava-nos ver aquela senhora chegando ao grupo de oração sempre amparada pelo seu esposo. Dentro do nosso coração, tínhamos a intuição que Nosso Senhor a queria curar. Por isso, não raras vezes, depois do grupo de oração, impúnhamos as mãos e rezávamos por ela pedindo a Jesus a Graça de sua cura física. Nada aparentemente ia melhorando... Fui transferido para outra paróquia, e certo dia, em visita a Odivelas e celebrando a Eucaristia, qual não foi a minha surpresa quando vi aquela senhora que era cega, levantar-se para fazer a leitura da santa Missa. Depois da mesma, fui cumprimenta-los alegremente e perguntar o que tinha acontecido.  A resposta foi que ela tinha sofrido uma cirurgia e estava já vendo. Nosso Senhor , neste caso, não quis curá-la diretamente , mas quis usar uma mediação humana na pessoa do cirurgião. A segunda leitura de hoje fala do sacerdócio de Cristo. Mas fala também do sacerdócio de Cristo comunicado a seres humanos. De quem o autor da carta aos Hebreus poderia estar falando quando afirmou: “Pode compadecer-se dos ignorantes e dos que erram, pois também ele está cercado de fraqueza; por isso, deve oferecer sacrifícios, tanto pelos seus pecados, como pelos do povo”. (Heb 5,2s)
No nosso caso de cegos espiritualmente por tanta impureza propagada aos quatro ventos , Nosso Senhor também quer usar de uma mediação: O sacramento da Reconciliação.
Se o fizermos, participaremos da alegria dos que retornam do exílio na primeira leitura de hoje, mesmo tendo entre eles cegos e aleijados (símbolo da fraqueza); gestantes e parturientes ( símbolo daqueles que têm uma responsabilidade a mais de cuidar dos outros).
O cego do Evangelho tinha algo de bom: não era surdo... Mesmo que já tenhamos escutado a voz de Cristo muitos anos atrás no início de nossa vocação, peçamos a Ele que possamos escutar sempre a sua voz no hoje de nossa vida, pois o Senhor continua a chamar-nos com várias vocações dentro da nossa vocação, seja num pobre que nos pede algo, seja no que não tem a consolação da fé, seja numa renovação de vida e trabalho missionário mais desafiador, seja na chegada de mais um filho nos que são casados. É sempre uma vocação dentro da própria vocação.
Virgem Maria, Mãe das vocações, ensina-nos a aproveitar esta graça para seguir o Vosso Filho no caminho que nos leva à Jerusalém Celeste, Amém.

Para os cenáculos:

O que significa para ti, hoje, aproveitar a graça da própria vocação? Já escutaste o chamado de Cristo?

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