Congresso Geral 2015 – do discurso da
Presidente
Caríssimos! Faz pouco tempo que celebramos o III
Congresso Geral da União em São Paulo no Brasil (14-8 de julho de 2015). Foi um
tempo especial de graças, onde experimentamos a alegria da partilha no vital
frescor do carisma do Fundador. Através dos rostos, as histórias, os
testemunhos, as reflexões, os diálogos, as celebrações que todos participaram,
o Senhor se fez presente e nos impulsionou sempre mais a viver na e pela
Caridade de Cristo. Todos, membros e colaboradores da União, estiveram
presentes na comunhão de oração e de amor que preenche toda distância de tempo
e espaço. Por isso, nos parece belo partilhar com vocês os pontos principais do
meu discurso de abertura.
Inicio então partilhando o dom recebido, partilhando e
apresentando aquilo que sou e aquilo que mais me está no meu coração da União.
É importante dizer, primeiro, que é graças à fidelidade de tantas pessoas, no
presente e também de quem nos precedeu, que hoje somo aquilo que somos como
Família palotina. Fidelidade a Deus conhecido e reconhecido como Amor Infinito
e Misericórdia Infinita na inexaurível riqueza das histórias de cada um.
Parte I – apresentação pessoal
Também para
mim foi assim, já faz tantos anos. Era 1973, nos inícios da história da minha
comunidade, Quinta Dimensão. Era uma jovem estudante, rebelde do mundo. Queria
fazer a revolução contra as estruturas da sociedade; mudá-las, transformá-las:
acreditava que seriam elas que impediam o bem, a solidariedade, a generosidade,
a justiça, a fraternidade. Mas durante um encontro onde com alguns outros
estudantes falávamos de como construir um mundo novo, fui eu, ao invés, mudada,
transformada por uma frase; quem me disse foi Pe. Leonardi, palotino e nosso
professor de religião. A frase ainda hoje é paradigmática para cada coisa que
vivo: para que no mundo exista paz, amor, tolerância, fraternidade, verdade,
escuta, não basta mudar somente as estruturas. É o homem que as cria, somos nós
a criá-las. É necessário, por isso, primeiro de tudo mudar a nós mesmos e
colocar no centro da vida o Evangelho de Jesus. Intuí então que devia iniciar
mudar por mim. Iniciei assim a fazer a experiência que a vida cristã – a vida
palotina – é simples e também plenamente humana: viver fazendo aos outros
aquilo que gostaria que fosse feito a você. E o mundo é seguramente feito novo,
também nas estruturas.
Em de 2013,
Papa Francisco disse aos Bispos latino-americanos: A a“‘mudança das estruturas’
(caducas ou novas) não é fruto de um estudo sobre a organização inicial e
funcional eclesiástico, de onde resultaria uma reorganização estática, ela é
consequência da dinâmica da missão.”
Faço agora um longo salto temporal a 30 de março de
2015, segunda-feira da Semana Santa, dia em que o Conselho Geral me elegeu
Presidente da UAC. Nunca alguém de nós tinha pensado, imaginado, sonhado uma
novidade assim surpreendente: um leigo – e ainda mulher – Presidente de toda a
Família Palotina.
Na longa troca de ideias e desejos aspirações entre os
membros do CCG, a um certo ponto saiu o meu nome e todos me olharam. Não tinha
entendido muito bem; pensava que aquele nome era uma hipótese para uma UAC do
futuro, ainda bem longe. Assim me levantei da cadeira e fui ao banheiro. Quando
saí diante da porta doo banheiro encontrei Cheryl Sullivan, membro do CCG, que
me esperava. Não recordo bem o que nos falamos se não, que nos queríamos bem e
fazíamos todas as coisas juntos, em comunhão. Isso somente valia, isso somente
vale.
Antes da votação teve um tempo de discernimento espiritual
pessoal. Eu fui à Capela e me coloquei diante de Jesus, presente no
Tabernáculo. Já me era claro que alguma coisa estava por acontecer; não somente
a mim, mas também a cada um dos outros membros do CCG e a toda a União. Eu
disse: “Jesus, meu Senhor, tu sabes quem sou. Contudo, se deve ser eu a pessoa
escolhida, deves dar-me duas coisas. A primeira: se isso ocorrer, que não seja
reconhecimento de qualidade pessoal, mas do caminho percorrido com a
comunidade, impelido pelo carisma de São Vicente Pallotti na história da União.
A segunda: que não seja uma eleição como uma vitória entre adversários, mas
seja sinal de forte consenso, de unidade.” Jesus me deu aquilo que eu lhe pedi.
Com muita alegria e consciência posso dizer que não somente a minha aceitação,
mas também a de cada membro do CCG. Todos – podemos dizer – demos sim a Deus e
aderido ao seu designo surpreendente e ‘revolucionário’.
Até aqui contei sobre mim. Para mim é importante
partilhar as experiências porque nos ajudam a levantar o olhar não mais
direcionado numa direção particular, mas com um olhar à União acolhendo-a na
sua complexa inteireza. Gostaria agora de prosseguir com a segunda parte sobre
aquilo que mais me está no coração acerca da UAC, desenvolvendo três aspectos:
memória, capacidade de ver o presente, utopia em direção o futuro (Papa
Francisco ao cotidiano argentino “La Voz del Pueblo”, maio de 2015).
Parte II
Memória
Gostaria de partir do Estatuto Geral e evidenciar alguns
elementos que constituem o seu fundamento, dessa forma trazer à tona a memória
comum da vida e da forma da União deste decênio (um pouco mais de um decênio).
Memória comum: aquilo que envolve todos nós, nos pertence e sistematiza a nossa
responsabilidade em direção a Deus e os homens no mantê-la vital e em
enriquecê-la.
O Estatuto Geral é fruto de um trabalho comunitário longo e
paciente, iniciado nos anos 90, mas que tem raízes históricas mais antigas
quando, o Concílio Vaticano II convidou cada Família Religiosa a voltar “às
primitivas inspirações dos institutos” a “sua própria fisionomia” (Perfectae
Caritatis, 2). E unir-se através de uma estrutura jurídica (cf. Partes II-IV)
as várias partes da Família (sacerdotes e irmãos, irmãs, leigos), unidos já por
um vínculo moral que descende do carisma de fundação (cf. Parte I).
O Estatuto apresenta este vínculo através dos elementos
espirituais essenciais: reavivar a fé e reacender a caridade para unir todos em
Cristo; chamar todos – seja religiosos, leigos, bem como clérigos – ao
apostolado; unir os esforços de todos a serviço da Igreja. Depois prossegue sem
interferir com a sua estrutura jurídica e com a vida interna das partes
singulares. Assim o Estatuto pode aplicar-se a todas as partes da Família
Palotina, e cada uma pode reconhecer com paridade de direito.
O elemento
comum e essencial da identidade do carisma e da unidade da Família Palotina, é
o Apostolado Católico. É o título que qualifica a sua vocação na Igreja, o
elemento irrenunciável (cf. OOCC X, 196-201; III, 139). Eis a obra nova na
Igreja que, na memória agora partilhada, abre-se ao presente.
Capacidade de ver o presente
“Gostaria de fazer outro esclarecimento a respeito do carisma:
corremos o risco de considerá-lo somente como um «conteúdo», mas não é assim.
Cada carisma de fundação inclui um «conteúdo», mas, ao mesmo tempo, também um
«modo de ser», um «modo de proceder» peculiares. Isto é importante quando se
trata de «atualizar» um carisma de fundação”.[1] Seguindo o pensamento do Papa, de fato, podemos dizer
que o “conteúdo” do carisma da nossa fundação é o apostolado católico, o
elemento irrenunciável. Mas, disse o Papa, além do conteúdo existe mais ainda:
existe o modo de ser, o modo de proceder, essenciais para atualizar o carisma
de fundação.
Desde a aprovação da União até hoje foi feito muito caminho: a
constituição e as atividades do CGC, dos CNC e dos CLC; os programas de
formação; as equipes de formação com os promotores; os congressos gerais,
continentais e mundiais; as admissões dos novos membros com o Ato de
Compromisso; as celebrações jubilares; os oitavários; o plano de ação anual,
etc. Tudo contribuiu e contribui, com a graça de Deus, para dar estabilidade
estrutural na edificação de uma obra assim complexa e diversa como a UAC. É um
processo necessário para encarnar, concretizar a experiência de Espírito que
São Vicente nos deixou como dom, pois vale também para ele: “Para os Fundadores
e as Fundadoras a regra em absoluto foi o Evangelho, cada outra regra queria
ser somente expressão do evangelho e instrumento para vivê-lo em plenitude”.[2] O nosso presente resplandesce certamente luzes, mas –
em diversos lugares e em diversas formas – resultam também as sombras. É
preciso saber lê-las com sabedoria pois, se de um lado o elemento humano é
sempre débil, frágil, vulnerável, de outro reconhecemos que a força do Espírito
Santo se serve também das sombras para levar adiante o seu projeto. Essas
sombras, então, não são ignoradas, deixadas à certa distância ou delegadas a
outros, mas são necessárias para crescer, para atualizar o «modo de ser »,
«modo de proceder». Eis a minha proposta: a colaboração e a comunhão exigem
hoje o gerar ou renovar a consciência das várias expressões da União, pois para
dar significado à pertença à Família Palotina não é mais suficiente a
estabilidade estrutural. Compreendemos que é necessário colocar no centro da
comunhão a relação, o diálogo direto entre as pessoas. O que seria a Igreja sem
a experiência vivida pelo mandamento novo do amor? O que seria da UAC se os
seus membros e colaboradores não vivessem entre eles o constitutivo substancial
da caridade? “Que todos possam admirar como vos cuidais uns dos outros, como
vos encorajeis mutuamente e como vos acompanheis” (EG, 98.99).
Utopia voltada ao futuro
A utopia voltada ao futuro é empenhar-se – “resolver-nos”,
diria o Fundador – a estar em comunhão uns com os outros, renovando cada
estratégia pessoal e comunitária para favorecer a unidade. Na Obra de São
Vicente Pallotti, nas suas palavras, somos todos chamados a ser cofundadores
com ele.
Conclusão
Convidamos-nos e sustentemos-nos uns aos outros para percorrer
com paciência e humildade corajosa esta via, sem dúvida mariana nos modos,
conscientes que a comunhão deve ser e tornar a primeira forma de evangelização:
“Nisto reconhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns pelos
outros” (Jo 13,35). O que nos torna União é a comunhão. E o Apostolado Católico
é a sua irradiação direta, espontânea, natural. As gerações futuras estão no
nosso presente. E esta é uma certeza que acompanha o nosso empenho de servir
fielmente a Deus e com alegria na União do Apostolado Católico.
“Como nos faz bem, apesar de
tudo, amar-nos uns aos outros! Sim, apesar de tudo! Não deixemos que nos roubem
o ideal do amor fraterno!” (EG, 101). Não, não nos deixemos roubar-lhe! Nossa
Senhora Aparecida, rogai por nós. Obrigado pela vossa atenção!
Donatella
Acerbi,
Roma.
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