sábado, 1 de outubro de 2011

O EMPENHO MISSIONÁRIO DE SÃO VICENTE PALLOTTI

São Vicente Pallotti foi uma pessoa possuída, animada e impelida pelo espírito missionário de Cristo, o Apóstolo do Pai eterno. Embora não tenha trabalhado numa frente missionária propriamente dita, foi um grande incentivador da evangelização dos que não conhecem Jesus Cristo e não crêem nEle. Da inquietação e da preocupação missionária de Pallotti nos fala Pe. Bruno Bayer, um dos grandes conhecedores de Pallotti e editor das cartas de Pallotti. Este texto é a tradução de uma entrevista concedida à revista palotina “Katholisches Apostolat”, em abril de 1995.

Pergunta: No século passado refloresceu na Igreja a inquietação missionária. Cogitou Vicente Pallotti em trabalhar como missionário num país de missão?

Resposta: O florescimento do espírito e da inquietação missionária, no século XIX, foi sobretudo forte durante o pontificado do Papa Gregório XVI (1831-1846). Seus esforços missionários suscitaram um profundo eco em Pallotti. Um companheiro de Pallotti, Pe. Mélia, diz que Pallotti, ao ouvir falar das Missões, se tornava logo fogo e chama. O bispo Wiseman, em 1846, queria que Pallotti fosse à Inglaterra para pregar retiros. Pallotti não quis tomar uma decisão sozinho. Quis ouvir o parecer do seu confessor. Este disse-lhe que não. No dia 26 de fevereiro de 1846, escrevendo a Mélia, lhe dizia que não pensava mais em ir à Inglaterra. Não consta que tivesse outros planos de ir a um país distante.
P: Que lugar ocupou a idéia das Missões, quando Pallotti pensou em fundar a União do Apostolado Católico?

R: No dia 9 de janeiro de 1835, Pallotti escreveu um texto espiritual, considerado por Faller como “oração de fundação”. Nele fala de uma tríplice obra. A primeira é claramente uma obra missionária. Chama-a “apostolado universal de todos os católicos para propagar a fé e a religião de Jesus Cristo entre todos os que não crêem em Cristo”. Ele considera a obra não como uma fundação sua, mas como dom da misericórdia de Deus. Sua atividade sacerdotal já o prepara para um trabalho missionário. Desde 1833 trabalhava no Colégio da Propaganda Fide como confessor dos seminaristas provenientes dos países de Missão. Graças ao contato com eles tem um conhecimento pessoal do mundo das Missões e dos seus problemas. Além disso, através de um professor, Thomas Alkusci, que ensinava no Colégio da Propaganda Fide, conheceu a Igreja caldaica unida e suas necessidades e iniciou uma obra de ajuda à mesma. Escreve Pallotti: No ano de 1835, algumas pessoas de Roma, movidas pela caridade cristã, ansiavam por imprimir em árabe, para proveito dos católicos das partes do Oriente, onde se fala tal idioma, o livrinho das ‘Máximas Eternas’, compilado por S.Alfonso Maria de Liguori.
Um sacerdote romano resolveu então apelar para o  zelo de um leigo, no sentido de que este angariasse donativos capazes de cobrir as despesas da edição. Referido leigo recolheu, em poucas horas, soma não pequena. Diante do acontecido, na preocupação de não expor obras santas à murmuração de malévolos, pensou-se na conveniência de constituir uma pia sociedade, que, nas atuais necessidades da Igreja, tivesse por objetivo procurar multiplicar os meios espirituais e temporais necessários e oportunos para reavivar a fé e reacender a caridade entre os católicos e propagá-la em todo o mundo”.   
P: Pensou Pallotti em enviar colaboradores para o trabalho missionário da Igreja, por exemplo, na África e na Ásia?

R: Pallotti é suficientemente realista para perceber que somente poderia oferecer colaboradores para o trabalho missionário, quando os tivesse e fossem também devidamente preparados e formados. Já no ano de 1837, isto é, dois anos após a fundação da União do Apostolado Católico, procurou abrir um Colégio para as Missões e acolheu os primeiros candidatos na reitoria da igreja do Espírito Santo dos Napolitanos. No dia 2 de outubro de 1837 pede ao Cardeal Vigário, Carlo Odescalchi, que abençoe o colégio já iniciado, para que como pequena semente de um santo colégio forme zelosos e doutos sacerdotes, cheios do espírito de Jesus Cristo, que o anunciem com fruto aos que ainda não o conhecem e não crêem nele. No mesmo dia o Cardeal Vigário lhe respondeu afirmativamente, concedendo-lhe “toda aprovação e toda bênção”.
Noutro pedido feito à Congregação da Propaganda Fide para a ereção de um colégio missionário central em Roma, Pallotti coloca humildemente à disposição “a Sociedade fundada já em 1835 para aumentar, defender e propagar a piedade e a fé católica sob a especial proteção de Maria, Rainha dos Apóstolos”. Pallotti não está muito interessado em liberar um ou vários padres para as Missões, mas quer formar solidamente o maior número possível de zelosos missionários. Entre os primeiros companheiros, na reitoria do Espírito Santo, encontra-se Mélia, enviado por Pallotti em 1844 a Londres com o fim de atender aos imigrantes italianos, cuja fé num ambiente não católico estava fortemente ameaçada. Em 1846 Pallotti enviou a Londres também José Faà di Bruno. A contribuição de Pallotti para a África e a Ásia está no cultivo espiritual dos estudantes teólogos do Colégio da Propaganda Fide, provenientes daquele continente. Quanto à Ásia Pallotti trabalhou sobretudo em favor da Igreja caldaica unida. No fim do século XIX, os seus filhos irão trabalhar como missionários na África e mais tarde na Ásia.
P: Pallotti teve bons contatos com os seminaristas dos países de Missão. Manteve ele esses contatos?

R: Para Pallotti era algo natural manter contato com os seminaristas dos países de Missão. Conhece a muitos como confessor no Colégio da Propaganda. Além disso, é chamado pelo Colégio Grego, Inglês, Irlandês, Escocês e por muitas comunidades religiosas. Seu interesse pelas Missões aprofunda e estreita esses contatos. Conforme o parecer de um amigo, em cada aluno Pallotti vê um futuro sucessor dos Apóstolos a serviço do trabalho missionário entre os pagãos. Nem todo contato com os antigos seminaristas dos países distantes se encontra documentado. Mas há claros indícios de que, apesar dos seus muitos trabalhos, sabia tirar tempo para manter contato com seus ex-dirigidos espirituais. Existe uma carta do dia 21 de julho de 1837, vinda de Cincinnati, na qual um ex-aluno da Propaganda, chamado Ferdinand Kühr, pede ajuda a Pallotti para construir uma igreja. Chama-o seu “querido pai” e “confessor”. De Bagdad lhe escreve várias vezes o vigário do Patriarca Peter Bartatar, cujo diretor espiritual fora Pallotti no Colégio da Propaganda. Em 1840 lhe faz uma detalhada prestação de contas da importante ajuda recebida. Em 14 de julho de 1848, Pallotti escreve uma carta em latim ao sacerdote inglês Hardinge Ivers, que conhecera Pallotti, durante seus estudos em Roma, e com o qual se manteve em contato.
A melhor informação a respeito dos contatos de Pallotti com as Missões nos é dada pelo relatório que Pallotti apresentou ao Papa Gregório XVI em 1838. Nele escreve: “Fundada a Sociedade, ela não cessou de prover aqueles missionários dos quais tinha notícias e os que partiram para as Missões estrangeiras...Quase todos os missionários receberam a faculdade de agregar membros à Sociedade do Apostolado Católico. Esta agregação dá-se na China, na Índia, na América Central, na Coréia, no Tibet, na Pérsia, na Caldéia, na Mesopotâmia, na Síria, na Palestina, no Egito, na Ásia Menor, na Grécia, na Bulgária, na Polônia, na Suíça, na Alemanha, na Albânia, na França, na Espanha, na Inglaterra, na Irlanda, na Escócia, na África e em vários estados da Itália”.
P: Diz-se, hoje, que também os países cristãos se tornaram “terra de missão”. Fala-se da necessidade de uma “nova evangelização” da Europa. Como era no tempo de Pallotti?

R: Na sua carta escrita ao Pe. Gaspar del Búfalo, no dia 26 de maio de 1818, dez dias portanto após sua ordenação sacerdotal, Pallotti tem uma observação que projeta um raio de luz sobre a situação religiosa dos anos posteriores à Revolução Francesa. Ele escreve: “A fé está quase morta em muitos cristãos do nosso tempo”. Ele tem em vista os cristãos do Estado Pontifício. Aconselha Gaspar del Búfalo, que estava pregando missões naquela região, a pregar sobretudo sobre a fé. No primeiro Apelo de Maio de 1835, Pallotti fala dos “escândalos de todo gênero de que foi e ainda é testemunha nossa época...Faltam muitas vocações. Muitas vezes não há o número necessário de operários evangélicos para manter a religião onde se encontra. Muito menos ainda é possível conseguir homens apostólicos para levar a religião aonde não é conhecida”. O que tenta Pallotti no seu tempo é muito semelhante ao que nós chamamos hoje “nova evangelização”. Isso aparece até na sua linguagem. Gosta das palavras Evangelho e evangélico para caracterizar a sua obra. Ele escreve: “a Sociedade chama-se Apostolado Católico porque ela deve ser na Igreja de Jesus Cristo como uma corneta evangélica que chama todos, que convida todos e desperta o zelo e o amor de todos os fiéis de qualquer estado, condição e posição”.
Tradução do
Pe. João B. Quaini

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