No Evangelho de hoje vemos Jesus a ter uma “catequese” particular com
os seus discípulos: “Partindo
dali, atravessaram a Galileia, e Jesus não queria que ninguém o soubesse, porque ia instruindo os seus discípulos.” (Mc 9,30-31) Ensina-lhes o caminho do amor que passa pela
cruz: “O Filho do Homem vai ser entregue
nas mãos dos homens que o hão-de matar; mas, três dias depois de ser morto,
ressuscitará.” Jesus, como bom pedagogo fortalecia os seus discípulos
alertando dos sofrimentos do Seu caminho.
A Igreja, como mãe e mestra nos vem também alertar, na presente
liturgia, dos combates que Cristo viveu e também o cristão é chamado a travar.
Na primeira leitura alerta-nos das perseguições do mundo: “Armemos laços ao justo
porque nos incomoda, e se opõe à nossa forma de actuar. Censura-nos as
transgressões da Lei, acusa-nos de sermos infiéis à nossa educação.
Ele afirma ter o conhecimento de Deus e chama-se a si mesmo filho do Senhor! Ele
tornou-se uma viva censura para os nossos pensamentos; só o acto de o vermos
nos incomoda,…” (Sabedoria 2,12-14)
Na segunda leitura, vemos aquele que é talvez o pior combate, pois
trata-se de “inimigos domésticos”, em nós mesmos: “De onde vêm as guerras e as lutas que há
entre vós? Não vêm precisamente das vossas paixões que se servem dos vossos
membros para fazer a guerra? Cobiçais, e nada tendes? Então,
matais! Roeis-vos de inveja, e nada podeis conseguir? Então, lutais e
guerreais-vos!” (Tg 4,1-2) Não esqueçamos também aquele que quer instigar
tais tendências que é o maligno. Eis ai o tríplice combate do Cristão: o mundo,
a carne e o demónio. Mas não desanimemos, pois Nosso Senhor nos garante através
de São Paulo: “Não
vos surpreendeu nenhuma tentação que tivesse ultrapassado a medida humana. Deus
é fiel e não permitirá que sejais tentados acima das vossas forças, mas, com a
tentação, vos dará os meios de sair dela e a força para a suportar.” (1 Cor
10,13) O que precisamos é clamar como no Salmo de hoje: “Mas o Senhor é o meu amparo, Ele me protege a vida.” Será que uma das falhas pedagógicas mais
crassas do nosso tempo, não tem sido prometermos aos nossos educandos um “mar
de rosas”? Santo Agostinho falando aos pastores, exorta-os a não ser assim.
Citando a Escritura ele disse: “Todos os que
quiserem viver piedosamente em Cristo sofrerão perseguições”, e por tua
conta vais dizendo: -‘Se viveres piedosamente em Cristo terás tudo em
abundância. E se não tens filhos hás de tê-los e poderás alimentá-los com
abundância sem que nenhum deles te morra’. É este o teu processo de construir?
Repara no que fazes e onde constróis.
Estás a construir sobre a areia. Virão as chuvas, transbordarão os rios,
soprarão os ventos e investirão sobre esta casa, e ela cairá e será grande a
sua ruína. Retira da areia tua construção, edifica sobre a pedra; quem deseja
ser cristão, tenha o seu fundamento em Cristo. Considere os sofrimentos
humilhantes de Cristo; olhe para Aquele que sem pecado pagou o que não devia…”
Estamos para iniciar o ano da Fé. Deve ser assim também um ano
catequético, pois é o aprofundamento da fé. Jesus nos garante no Evangelho de
hoje: “Quem receber um destes meninos em
meu nome é a mim que recebe; e quem me receber, não me recebe a mim mas àquele
que me enviou.»” (Mc 9,36) Precisamos de mais pessoas corajosas que queiram
ensinar a fé e os mandamentos de Deus às nossas crianças.
Pode ser que alguém receba, em parte, já aqui na terra a recompensa de
seu trabalho na messe do Senhor, como uma pessoa das nossas paróquias que viveu
em África e teve de voltar a Portugal na época das guerras de descolonização.
Durante uma rusga das guerrilhas, viram-se aflitos pois começaram a fazer das
suas diabruras para provocá-los e estavam mesmo em risco de vida, quando um dos
adolescentes armados reconheceu que a senhora tinha sido sua professora e disse
ao comandante da rusga. O comandante perguntou se ela tinha sido boa
professora, ao que ele disse que sim. A essa resposta a guerrilha deixou-os em
paz. Porém, a principal recompensa não é esta. A melhor e única a que devemos
aspirar é aquela que Nosso Senhor nos promete através do profeta Daniel: “Os que tiverem sido sensatos resplandecerão
como a luminosidade do firmamento, e os que tiverem levado muitos aos caminhos
da justiça brilharão como estrelas com um esplendor eterno.” (Daniel 12,3) Já
aceitaste alguma vez na vida o desafio a ser catequista?
Pe. Marcelo
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