É
necessário que nós cristãos estejamos sempre conscientes sobre o valor imenso
do encontro entre pessoas: entre a minha e com a Palavra Divina e
principalmente na dimensão litúrgica; deste relacionamento pessoal com a Bíblia
Sagrada (Palavra de Deus) gera uma intimidade profunda entre a pessoa do homem
e a Pessoa Divina (Palavra de Deus).
Ao
recordar o Documento da Constituição Dogmática do Concilio Vaticano II, a Dei
Verbum, n 21 que havia recordado que nos Livros
Sagrados, o Pai vem de modo carinhoso ao encontro de seus filhos e com
eles fala; percebe-se logo, como também consolida a profunda realidade
da Divina Palavra como manifestação em Pessoa da imagem do Verbo encarnado; e
esta realidade torna-se ainda mais evidente se
lembrarmos do que afirma São Jerônimo (340-420) ao dizer que, se
ignorarmos as Escrituras estaríamos ignorando o próprio Cristo. Por
conseguinte, chegar-se-á à conclusão que, para que se estabeleça um verdadeiro
e sincero colóquio entre Deus (Palavra Viva) e o homem, é imprescindível que a
leitura ("conversa") da Bíblia Sagrada esteja sempre acompanhada pela
oração. Com isso, brotará na vida existencial do homem uma intimidade
penetrante com Deus que o permitirá reconhecer o verdadeiro sentido de sua
vida, de sua vocação, do seu empenho apostólico de batizado.
Portanto,
a leitura da Bíblia requer, acima de tudo, uma atitude de escuta porque Ela é o
"instrumento através da qual, a cada dia, Deus fala aos fiéis", já
que a linguagem é a revelação do ser de um indivíduo, em outras palavras, a
intimidade com a Palavra Divina (inscrita) ensina-nos a auto compreendermos
como pessoas e nos impulsa para o futuro, incitando-nos à superação de si
mesmo, fazendo com que o homem sinta a sua condição de caminhante, de peregrino
rumo ao encontro com Ela; pois através do diálogo que se faz com Deus - por
meio da leitura orante da Palavra- é que surge interpelações: na vida, na
atividade e no apostolado do fiel leitor pondo em prova se tais dimensões
existencial e pastoral sejam realmente eco e aplicação concreta da mensagem de
Jesus Cristo: Palavra definitiva de Deus, presente na Escritura. Daí se explica
porque que a Palavra de Deus é Palavra vivente e eterna, viva e eficaz, pois,
ante de ser Palavra de vida e portadora de vida, a Palavra é vida que transforma
e renova e, nenhuma criatura diante Dela pode permanecer opaca.
Entretanto,
todos esses aspectos que aparece na vida do homem quando este se encontra em íntimo
diálogo com a Palavra de Deus inscrita, faz com que sua vivência espiritual ao
celebrar na Sagrada Liturgia seja mais frutuosa e mais compreensível ao aspecto
Amoroso que há no seio da Trindade com o qual é manifesto (de modo específico
entre a Pessoa do Pai e do Filho): a Palavra formada pela plenitude de tudo
quanto Deus pronuncia, que se torna o "tu" do Pai, aquele
"tu" que o Pai eternamente profere, ou seja, o "Filho"
gerado, Deus de Deus, Luz da Luz; afirmando que na Tri-unidade de Deus há o Pai
e o Filho, isto é, a Sua Palavra gerada, vivente e eterna; o Logos vem
anunciando que o Pai é o gerante e que o Filho é o gerado; e que o Pai é o
amante do Filho, o Amado; e que o Pai é Aquele que fala e o Filho é a Palavra.
Eis porque a Palavra de Deus está na intimidade do Pai; essa Palavra é vida, é
Luz mas, a Sua vinda ao mundo é constantemente contradita pelas trevas que,
todavia, não a venceram, e também por aquelas pessoas que não a acolheram.
O
Verbo (Palavra do Pai: Jesus Cristo), tornando-se carne e armando a Sua tenda
entre nós, permitiu que aqueles que o acolheram pudessem ver a sua glória, como
a glória do Unigénito do Pai. Aquele que atinge uma autêntica intimidade com a
Palavra de Deus, percebe-se perfeitamente na Liturgia uma dynamis (dinâmica /
força / energia) - dada pelo sopro do Espírito Santo, Senhor e fonte de vida,
que procede do Pai (e do Filho) -, um poder que conduz à salvação (e não uma
simples informação, um saber) da qual a Palavra proclamada emite aos seus
celebrantes quando estes a escuta com abertura de espírito. Portanto, a Palavra
ouvida traz em si, a força do Espírito Santo, em vista da salvação, confirmando
aquilo que o Credo Niceno Constantinopolitano havia afirmado no Concílio de
Niceia (325) e no Concílio de Constantinopla (381) onde foi aceito uma versão
revista, dizendo que: Ele (Espírito Santo) falou pelos profetas, mostrando com
isso que não é uma força mágica ou algo mecânico mas sim uma 'alavanca' que
impulsa a adquirir a Fé e a adesão confiante do fiel ouvinte participante da
assembleia litúrgica da Igreja; deixando claro que não se pode encontrar a
sabedoria que conduz à salvação sem a 'Enérgyía' (dynamis) do Espírito Santo
contida na Escritura.
A
Igreja crê, portanto, que a Palavra de Deus é perene e pura fonte de vida
espiritual como também acredita que Seu lugar privilegiado - para que se haja
um relacionamento objetivo com as Escrituras esteja na Liturgia pois, é Nela
que Deus fala a Seu povo; o Cristo ainda, anuncia o Evangelho e o povo responde
a Deus com cânticos e orações. É na Liturgia que é realizado o diálogo
ininterrupto entre a Palavra e o homem com o qual é chamado a se tornar um eco
desta mesma Palavra divina no culto e na vida cotidiana, constituindo um autêntico
encontro com Cristo e a Igreja na presença do Espírito. Enfim, a Igreja sempre
venerou as Divinas Escrituras, da mesma forma como o Corpo do Senhor, pois é na
Liturgia que realiza-se a íntima unidade que existe entre a Palavra e o ato
sacramental: trata-se, na verdade, de uma única Mesa na qual Palavra e
Sacramento se encontram intimamente unidos em um único ato de culto e de
santificação.
Depois
de observar um pouco sobre o aspecto íntimo que o fiel deve buscar com a
Palavra proclamada na celebração Litúrgica, compreende-se que em uma consciente
e amorosa relação fará levar a um grande desvelo em escutar, com eficácia,
aquilo que a Palavra deseja comunicar aos seus amigos, que somos todos nós!
Pe. Juliano
Guilherme SAC
Texto adaptado
da monografia
apresentada na
Faculdade de Teologia,
no Mosteiro de
São Bento do Rio de Janeiro, RJ.
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