sexta-feira, 14 de março de 2014

Apóstolos Hoje - março de 2014



São Vicente Pallotti e a
Evangelização com os encarcerados

            Nos anos quarenta, última década de sua vida, Padre Vicente intensificou seu ministério dando assistência aos prisioneiros, um dos mais difíceis para um padre. As prisões de Roma, naquela época eram preenchidas com criminosos comuns, misturados com presos políticos. O ministério entre os prisioneiros, então era mais difícil do que hoje. Antes de tudo na prisão crescia a animosidade sectária anticlerical. Os reis eram frequentemente condenados à morte. Era preciso trabalhar com eles, tentando trazê-los mais perto de Deus durante os meses de cativeiro, assisti-los na última hora e acompanhá-los para a forca. Os prisioneiros persistentemente pediam ao capelão para ajudar suas famílias, para estar perto de seus pais, cônjuges e filhos, e então, como agora, especialmente os mais pobres caiam nas redes do crime e sofriam as consequências.
            Padre Vicente em suas visitas às prisões percebeu mais de perto as misérias do mundo, a ligação entre pobreza e delinquência. Gregório XVI criou escolas de artesanato para reabilitar prisioneiros jovens para impedi-los de recair no crime, e Padre Vicente realizou vários cursos de Exercícios espirituais para os jovens encarcerados da Via Julia e das Termas de Diocleciano. Na década de quarenta, o próprio Pallotti pediu para cuidar dos presos permanentemente. Ele foi o primeiro sacerdote a celebrar missa e ouvir confissões no complexo carcereiro. Em seguida, ele foi chamado pela prisão militar e da casa de correção em Ripa Grande no Castelo Sant'Angelo. Lá descobriu que não havia uma capela e obteve das autoridades papais a permissão de adaptar um ambiente para essa finalidade (OOCCX, p. 19-20).
            Quando desenvolveu o sistema de Procuras, Pallotti assinalou aos cuidados de prisioneiros a oitavo Procura, sob a proteção de São Bartolomeu. Seus membros atendiam as necessidades dos prisioneiros em todos os aspectos, incluindo a assistência espiritual, necessidades físicas, como a alimentação, defesa dos seus direitos e a busca de arrependimento para o bom comportamento, incluindo o acompanhamento de advogados e também se preocupava com as famílias dos prisioneiros. Em 22 de julho de 1845, ele escreveu para à liderança militar papal para interceder em favor de Louis Berna, um policial jovem que já havia passado seis meses na cadeia por abandono do dever, em estado de embriaguez, por visitar sua mãe doente, e em favor de José Belardi, um fuzileiro de 17 anos que já havia passado cinco meses de prisão, contra o qual Pallotti alegou que havia uma falsa acusação por três cabos (OCL 5, pp101-2).
            Iniciou também a ser procurado para a dolorosa tarefa de dar assistência sacerdotal aos condenados à morte. A Confraria da Misericórdia de São João Degolado cuidou dos condenados à morte em Roma desde o final de 1400. De acordo com seus registros de pessoas executadas entre 1835 e 1846, Pallotti foi solicitado por nove prisioneiros condenados que permaneceram impenitentes e, em dois casos, até mesmo apesar dos esforços dos sacerdotes santos, como Bernard Clausi e Biagio Valentini. Em sete desses casos, Pallotti teve a alegria de ver a conversão dos prisioneiros.
            É interessante lembrar que São Vicente não via os prisioneiros apenas como receptores passivos de caridade e apostolado por outros, mas como tendo o direito de serem apóstolos ativos na pastoral da Igreja, como é claro a inclusão nas suas listas de prisioneiros como possíveis membros da União do Apostolado Católico recém-nascidos, que delineou entre os verões de 1835-1836. (OOCC IV, p. 182 e 326).
            Assim, cada membro da UAC é chamado a discernir e exercer particulares carismas, é chamado a uma vida de intensa união com Cristo e proclamar o Evangelho e fazer conhecer a pessoa de Jesus Cristo. O apostolado se escreve em um contexto de fraqueza do homem, e por isso vai acompanhado com uma atitude particular de solidariedade, destacando, em especial, a dimensão da esperança do anúncio cristão. O anúncio deve ser feito através de experiências de fé que unem Palavra, Sacramentos e testemunho vivo de caridade, tendo presente que Jesus tinha predileção pelos pobres. Estes aspectos colocam em evidência como o ambiente do cárcere é um lugar particular de evangelização.
            João Paulo II durante uma visita à prisão juvenil em Casal do Marmo a 6 de janeiro de 1980, enfatiza que trabalhar na cadeia "é uma tarefa necessária, delicada e difícil, que exige um forte compromisso e abnegação", tendo o cuidado das almas, porque cada pessoa humana, corresponde a um pensamento de Deus. Nesse sentido, cada ser humano é fundamentalmente bom e feito para a felicidade, uma vez que a missão de Cristo é dirigida em primeiro lugar para a interioridade do homem.
            O Cardeal Martini coloca a pergunta do que deve ser feito, na prática, e quais os caminhos necessitam ser identificados para tratar a dignidade ferida do homem? Antes de tudo, educar continuamente a comunidade cristã para o fato de que a dignidade humana é antes de tudo e acima de tudo. Ao se aproximar do preso não devemos presumir de sermos justos, mas conscientes do nosso pecado, devemos ser próximos. E' necessário ajudar a pessoa encarcerada a recuperar sua dignidade por trás de sua máscara, porque há por de trás o rosto do homem, e naquele rosto há a imagem de Deus e toda a sua dignidade.

      Nos últimos três anos tive a oportunidade de conhecer os rapazes na prisão juvenil na província de Benevento Airola. Eu estava acompanhada por outras Irmãs e alguns jovens, para que eles pudessem alcançar e tocar a dura realidade de jovens acorrentados por seu ego, e de uma sociedade que muitas vezes ilude e decepciona, mostrando a lei do mais forte. Iniciamos um relacionamento com eles através da catequese, liturgia, escuta, jogo, oficinas e apresentação teatral. A experiência com eles me ensinou que cada um de nós é prisioneiro de si mesmo, no momento em que não conseguimos investigar o potencial, os dons que Deus nos deu, e que, se não liberarmos o coração através do amor, não seremos capazes de ver a luz da esperança e da verdadeira liberdade. Ao olhar para o rosto dos rapazes senti só amor, compaixão, nunca juízo, porque há em cada um a verdade do próprio ser, que é, aquele de ser Filho de Deus, e irmãos que caminham para o renascer de uma nova vida.
            Sua estadia lá é um grito de socorro para toda a sociedade, que deve ir ao encontro de uma humanidade perdida, escrava de seu próprio pecado e de escolhas erradas, que deve ter no coração o desejo de reconstruir, a partir dessas falhas, para criar oásis de paz, amor e valores a descobrir e divulgar, para nutrir a fé e a esperança. E nós, como filhos da Pallotti, sentimos o dever de cooperar na evangelização deste ambiente, de propor e realizar um trabalho pastoral orientado para recuperar três valores que expressam a dignidade da pessoa humana: a consciência, a liberdade, o amor, para que haja recuperação e inclusão, destes nossos irmãos, que tem necessidade de conhecer e encontrar a salvação.

Irmã Anna Simeão CSAC
Ostia Lido, Roma

Perguntas para reflexão pessoal e comunitária:
-    Qual é a nossa atitude em relação aos presos? Vemos os prisioneiros como nossos irmãos e irmãs, com os quais Cristo identificou-se de maneira particular?
-   Rezamos para os prisioneiros, suas famílias, para aqueles que trabalham nas prisões, para aqueles que têm sido vítimas de crime?
-    Formas práticas em que podemos nos unir às pessoas no cárcere, por meio de visitas, cartas, apoiando as famílias dos prisioneiros. De que forma somos chamados a trabalhar para uma sociedade mais justa e sábia, consciente, compassiva para abordar as causas da  criminalidade?
Oração:
            Nós te pedimos ó Cristo, Tu que te identificaste como o último dos teus irmãos e irmãs e que antes da morte experimentaste a amargura da exclusão. Esteja próximo de todos os presos, de suas famílias, daqueles que trabalham nas prisões, vítimas de crime, e fá-los sentir teu infinito amor. Cura as feridas que carregam dentro deles, liberta-os de tudo o que aprisiona seu coração, reaviva sua fé, renova sua esperança, reacende o seu amor, para que possam testemunhar a si mesmo e tornarem-se apóstolos ativos e autênticos do teu Reino de justiça e paz, compaixão e misericórdia, alegria, verdade e vida. Amém.

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