domingo, 15 de novembro de 2015

O FRUTO NA PERSEVERANÇA

Estamos há duas semanas do fim do ano litúrgico. Neste tempo que antecede à Solenidade de Cristo Rei do Universo (próxima semana) o nosso coração espontaneamente medita em uma virtude muito importante da vida cristã que é a perseverança, e mais do que isso, a perseverança final.
A primeira leitura do livro do profeta Daniel, que foi escrita em tempos difíceis para o povo de Israel, falava da recompensa daqueles que se mantiveram firmes até o fim: 3Os que tiverem sido sensatos resplandecerão como a luminosidade do firmamento, e os que tiverem levado muitos aos caminhos da justiça brilharão como estrelas com um esplendor eterno.” (Dn 12,39) Mesmo que alguém já tenha ensinado a muitos os caminhos de Deus, nunca deve dar-se por satisfeito. Não esquecer o que Jesus diz no Evangelho de hoje: que durante os tempos difíceis que antecederão a sua volta “estrelas começarão a cair do céu” (Mc 13) Que estrelas são estas?
Basta ter um mínimo de conhecimento de astronomia para saber que isso é completamente impossível de forma física. A terra sim poderia cair numa estrela, mas nunca a estrela na terra. Por exemplo, o Sol é centenas de vezes maior que a terra, e é uma das menores estrelas. Isto vem ilustrado plasticamente em uma das salas do Museu de História Natural de Londres,onde o Sol é representado do tamanho de uma melancia, e a terra, como seu caroço, colocado a uma distância de sessenta metros. Como pode então uma estrela cair na terra? As estrelas que caíram, a que se refere a Palavra de Deus,  são os anjos que não guardaram o seu lugar no céu e foram excluídos da visão de Deus face -a-face. Sim , pois explica a obra “A mística cidade de Deus”  de Sr. Maria de Jesus Agreda, que houve também um tempo em que os anjos, embora tivessem um grande conhecimento de Deus, não gozavam ainda da visão beatífica, da visão de Deus face-a-face. Houve uma batalha no céu. Que batalha, se os anjos não tem corpo? Houve uma batalha sim, a nível de idéias e persiuasões onde São Miguel Arcanjo guerreava, persuadindo os anjos indecisos a perseverarem na obediência e no serviço de Deus, enquanto Lúcifer, persuadia seus sequazes à rebelião e à desobediência. Em determinado momento esta rebelião de parte dos anjos e a decisão dos anjos bons se tornaram tal, que Deus, em sua sabedoria Infinita, percebeu que não teriam mais volta, então deu a visão beatífica aos anjos bons, o que os confirmou definitivamente em graça e excluiu para sempre os maus da mesma. Vemos um reflexo pálido disso em nosso mundo, quando pais, muito embora amarem muito os filhos, depois de aconselharem e repreenderem, são constrangidos, pelos mesmos, a afastá-los de casa, pois começaram a roubar os pertences da própria família, para comprar drogas ou outras coisas.  Os filhos, que deveriam amar, honrar e obedecer aos pais, rebelam-se contra os mesmos.
 A estabilidade na graça dos anjos bons se explica pois a visão de Deus os atrai, já, irresistivelmente como um imã atrai irresistivelmente um metal. Assim é o Bem Supremo contemplado face-a-face.
 Ainda não estamos neste estado. Por isso não nos admiremos que algumas pessoas que outrora serviam a Deus tenham caído vergonhosamente.  Sobre isso fala Santo Agostinho: “Cantemos Aleluia, ainda inseguros na terra, para podermos cantá-lo um dia em plena segurança no Céu. Mas porque estamos ainda inseguros? Não queres que me sinta inseguro quando leio: Porventura não é uma tentação a vida do homem sobre a terra? Não queres que me sinta inseguro quando me dizem: Vigiai e orai para não cairdes em tentação? Não queres que me sinta inseguro onde as tentações são tão frequentes que a própria oração nos obriga a repetir: Perdoai as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido? (…) e acrescenta imediatamente, por causa dos perigos futuros: Não nos deixeis cair em tentação. Como pode sentir-se bem o povo que clama juntamente comigo: Livrai-nos do mal? E contudo, irmãos, mesmo no meio destes males, cantemos Aleluia ao bom Deus que nos livra do mal. (…) (Santo Agostinho)
                Quando então se cumprirá a Palavra da segunda leitura de hoje: “De facto, com uma só oferta, Ele tornou perfeitos para sempre os que são santificados”. (Hb 10,14) Quando acontecerá isso? Já agora? Sim é possível. Há santos que já, nesta vida, se tornaram tão embebidos na Divina graça que viviam como se já “vissem o invisível”. Mas para a maioria de nós, esta vida é a grande tribulação e devemos clamar continuamente como no Salmo de hoje: “Guardai-me ó Deus porque em vós me refugio”. Até que possamos experimentar o que vem logo a seguir: “Vós me ensinais vosso caminho para a vida; junto a vós felicidade sem limites, delícia eterna e alegria ao vosso lado”. (Salmo 15,11) Já  possuimos o penhor disso, na Eucaristia que em breve receberemos.


Para os Cenáculos de Evangelização.

Partilha alguma situação na tua vida onde se fez verdade a Palavra do Senhor:  E a (semente) que caiu em terra boa são aqueles que, tendo ouvido a palavra, com um coração bom e virtuoso, conservam-na e dão fruto com a sua perseverança.” (Lc 8,15)
Pe. Marcelo

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