sábado, 7 de novembro de 2015

O OLHAR DE JESUS

Estamos no mês de Novembro. Neste mês a Santa Igreja aponta-nos como objeto da nossa caridade cristã, de modo especial as almas dos fiéis que já partiram desta vida e se encontam ainda em estado de purgatório. A segunda leitura garante-nos que só temos uma vida aqui na terra:  “E, assim como está determinado que os homens morram uma só vez e depois tenha lugar o julgamento…” (Hebreus 9,27) Este versículo exclui de forma clara a doutrina da reencarnação. Como daqui, não levamos nada a não ser o bem que fazemos com a ajuda da graça de Deus, a liturgia aponta para um outro tema muito importante que é o da generosidade.
Ninguém, diz a segunda leitura, foi mais generoso em oferecerdo que Nosso Senhor Jesus Cristo, pois não ofereceu simplesmente algo, mas a si mesmo, de modo especial dodo o seu sangue precioso: “... assim também Cristo, que se ofereceu uma só vez para tirar os pecados de muitos, aparecerá uma segunda vez, não já por causa do pecado, mas para dar a salvação àqueles que o esperam”. (Hb 9,28)
 Para que esta copiosa Redenção conseguida por Nosso Senhor produza plenos frutos em nós, e por nós, se faz necessário deixarmo-nos iluminar por este olhar de Cristo, que vindo sobre nós, revela toda a nossa verdade. Revela quem somos e como estamos diante de Deus.
O olhar de Jesus é infinitamente mais poderoso do que qualquer raio X que temos em nossos hospitais, pois revela a verdade interior de nossa alma. É um olhar que sabe ver o profundo de cada ser humano, e por isso mesmo, não obstante o amor com que nos ama, sabe também pôr às claras toda hipocrisia: “«Tomai cuidado com os doutores da Lei, que gostam de exibir longas vestes, de ser cumprimentados nas praças, 39de ocupar os primeiros lugares nas sinagogas e nos banquetes; 40eles devoram as casas das viúvas a pretexto de longas orações. Esses receberão uma sentença mais severa.»” (Mc 12,38-40)
O olhar de Jesus é um olhar que  sabe que por de traz de alguém que oferta muito e à vista de todos, pode não estar todo bem que aparenta. Jesus não se deixa guiar pela aparências: “...porque todos deitaram do que lhes sobrava”...
Que nosso Senhor tenha pena e compaixão de nós e de nossas pastorais quando aparentamos ser mais piedosos do que somos, mais generosos do que somos, mais santos do que somos na realidade.
 Ao contrário, o  que aos outros parecia ser uma mesquinharia, Jesus vê como um  rasgo de fé e generosidade: “Chamando os discípulos, disse: «Em verdade vos digo que esta viúva pobre deitou no tesouro mais do que todos os outros; porque todos deitaram do que lhes sobrava, mas ela, da sua penúria, deitou tudo quanto possuía, todo o seu sustento” (Mc12,43-44)
Pode ser que esta viúva que doou estas pequenas moedas, tudo o que possuía para viver, tinha no coração e na mente o texto da primeira leitura de hoje, onde a viúva de Sarepta, ao ajudar o profeta com o pouco que tinha, atraiu sobre si e a sua família a bênção de Deus. O que aconteceu com ela depois deste fato nós não sabemos. O Evangelho não conta. Sabemos apenas que ela atraiu o olhar compassivo e amoroso de Jesus. Certamente onde pousa este olhar compassivo e amoroso, também a Divina Providência não faltará, pois Cristo é a mesma Palavra Eterna que, no Antigo Testamento, afirmou pelo profeta Malaquias: “10Pagai integralmente os dízimos ao tesouro do templo, para que haja alimento em minha casa. Ponde-me à prova - diz o Senhor do universo - e vereis se não vos abro os reservatórios do céu e não espalho em vosso favor a bênção em abundância. 11Em vosso favor afugentarei o gafanhoto para que ele não destrua os frutos da terra, e a vinha não seja estéril nos campos - diz o Senhor do universo.” (Malaquias 3,10-11) A prosperidade aqui prometida vai infinitamente mais longe do que a prosperidade nesta vida, como afirmam algumas seitas neo-pentecostais. O “dai e dar-se-vos-há” de Jesus é muitíssimo mais do que uma prosperidade material. É o fruto de uma caridade sincera que, como diz a Sagrada Escritura, é mais forte do que a morte e leva a si mesmo e aos outros para o Céu.
São Vicente Pallotti já intuía isto. Inclusive esta foi uma das cacusas que deu origem à sua fundação, a União do Apostolado Católico: a administração de dinheiros doados com fim missionário. São Vicente Pallotti, em Roma, foi tomando consciência das necessidades da Igreja, pois era director espiritual de colégios para as missões. Percebeu a necessidade, por exemplo, de imprimir o livro “Máximas Eternas” de Santo Afonso Maria de Ligório em língua árabe. Para esse fim, pediu a um leigo, Giacomo Salvaci, que fizesse uma colecta entre os comerciantes de Roma. No início ele hesitou, mas depois, como o santo insistisse, pôs-se a caminho, descrente, contudo, do êxito de seu empreendimento. No fim do seu trabalho, constatou-se a recolha de um a soma muito superior ao necessário. Para não expor essa obra ao falatório das pessoas, Pallotti fundou uma pequena associação com o fim de gerir esses recursos em prol das missões, com a participação também de fiéis leigos. Mais tarde foi que surgiu a Congregação dos padres, irmãos e irmãs do Apostolado Católico.
Peçamos a Nossa Senhora que também a nossa vida atraia o olhar, senão complascente, pelo menos compassivo de Nosso Senhor Jesus Cristo. Que jamais fiquemos fora da verdade deste olhar, e que a oferta a Deus do que somos e temos, produza verdadeiros frutos para a vida Eterna.

Para os Cenáculos: Partilha alguma experiência tua ou de outra pessoa em que se fez verdade o princípio Evangélico, acolhido na chamada “Oração de São Francisco”: “É dando que se recebe, é perdoando que se é perdoado”.

Pe. Marcelo

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