Estamos no mês de Novembro. Neste mês a Santa
Igreja aponta-nos como objeto da nossa caridade cristã, de modo especial as
almas dos fiéis que já partiram desta vida e se encontam ainda em estado de
purgatório. A segunda leitura garante-nos que só temos uma vida aqui na terra: “E, assim como está
determinado que os homens morram uma só vez e depois tenha lugar o julgamento…”
(Hebreus 9,27) Este versículo exclui de forma clara a doutrina da reencarnação.
Como daqui, não levamos nada a não ser o bem que fazemos com a ajuda da graça
de Deus, a liturgia aponta para um outro tema muito importante que é o da
generosidade.
Ninguém,
diz a segunda leitura, foi mais generoso em oferecerdo que Nosso Senhor Jesus
Cristo, pois não ofereceu simplesmente algo, mas a si mesmo, de modo especial
dodo o seu sangue precioso: “... assim também Cristo, que se ofereceu uma só
vez para tirar os pecados de muitos, aparecerá uma segunda vez, não já por
causa do pecado, mas para dar a salvação àqueles que o esperam”. (Hb 9,28)
Para
que esta copiosa Redenção conseguida por Nosso Senhor produza plenos frutos em
nós, e por nós, se faz necessário deixarmo-nos iluminar por este olhar de
Cristo, que vindo sobre nós, revela toda a nossa verdade. Revela quem somos e
como estamos diante de Deus.
O olhar de Jesus é infinitamente mais poderoso
do que qualquer raio X que temos em nossos hospitais, pois revela a verdade
interior de nossa alma. É um olhar que sabe ver o profundo de cada ser humano,
e por isso mesmo, não obstante o amor com que nos ama, sabe também pôr às
claras toda hipocrisia: “«Tomai cuidado com os doutores da Lei, que gostam de
exibir longas vestes, de ser cumprimentados nas praças, 39de
ocupar os primeiros lugares nas sinagogas e nos banquetes;
40eles devoram as casas das viúvas a pretexto de longas orações. Esses
receberão uma sentença mais severa.»” (Mc 12,38-40)
O olhar de Jesus é um olhar que sabe que por de traz de alguém que oferta
muito e à vista de todos, pode não estar todo bem que aparenta. Jesus não se
deixa guiar pela aparências: “...porque todos deitaram do que lhes sobrava”...
Que nosso Senhor tenha pena e compaixão de nós
e de nossas pastorais quando aparentamos ser mais piedosos do que somos, mais
generosos do que somos, mais santos do que somos na realidade.
Ao
contrário, o que aos outros parecia ser
uma mesquinharia, Jesus vê como um rasgo
de fé e generosidade: “Chamando os discípulos, disse: «Em verdade vos digo que
esta viúva pobre deitou no tesouro mais do que todos os outros; porque todos
deitaram do que lhes sobrava, mas ela, da sua penúria, deitou tudo quanto
possuía, todo o seu sustento” (Mc12,43-44)
Pode ser que esta viúva que doou estas
pequenas moedas, tudo o que possuía para viver, tinha no coração e na mente o
texto da primeira leitura de hoje, onde a viúva de Sarepta, ao ajudar o profeta
com o pouco que tinha, atraiu sobre si e a sua família a bênção de Deus. O que
aconteceu com ela depois deste fato nós não sabemos. O Evangelho não conta.
Sabemos apenas que ela atraiu o olhar compassivo e amoroso de Jesus. Certamente
onde pousa este olhar compassivo e amoroso, também a Divina Providência não faltará,
pois Cristo é a mesma Palavra Eterna que, no Antigo Testamento, afirmou pelo
profeta Malaquias: “10Pagai integralmente os dízimos ao
tesouro do templo, para que haja alimento em minha casa. Ponde-me à prova - diz
o Senhor do universo - e vereis se não vos abro os reservatórios do céu e não
espalho em vosso favor a bênção em abundância. 11Em vosso
favor afugentarei o gafanhoto para que ele não destrua os frutos da terra, e a
vinha não seja estéril nos campos - diz o Senhor do universo.” (Malaquias
3,10-11) A prosperidade aqui prometida vai infinitamente mais longe do que a
prosperidade nesta vida, como afirmam algumas seitas neo-pentecostais. O “dai e
dar-se-vos-há” de Jesus é muitíssimo mais do que uma prosperidade material. É o
fruto de uma caridade sincera que, como diz a Sagrada Escritura, é mais forte
do que a morte e leva a si mesmo e aos outros para o Céu.
São Vicente Pallotti já intuía isto. Inclusive
esta foi uma das cacusas que deu origem à sua fundação, a União do Apostolado
Católico: a administração de dinheiros doados com fim missionário. São Vicente
Pallotti, em Roma, foi tomando consciência das necessidades da Igreja, pois era
director espiritual de colégios para as missões. Percebeu a necessidade, por
exemplo, de imprimir o livro “Máximas Eternas” de Santo Afonso Maria de Ligório
em língua árabe. Para esse fim, pediu a um leigo, Giacomo Salvaci, que fizesse
uma colecta entre os comerciantes de Roma. No início ele hesitou, mas depois, como
o santo insistisse, pôs-se a caminho, descrente, contudo, do êxito de seu
empreendimento. No fim do seu trabalho, constatou-se a recolha de um a soma
muito superior ao necessário. Para não expor essa obra ao falatório das
pessoas, Pallotti fundou uma pequena associação com o fim de gerir esses
recursos em prol das missões, com a participação também de fiéis leigos. Mais
tarde foi que surgiu a Congregação dos padres, irmãos e irmãs do Apostolado
Católico.
Peçamos a Nossa Senhora que também a nossa
vida atraia o olhar, senão complascente, pelo menos compassivo de Nosso Senhor
Jesus Cristo. Que jamais fiquemos fora da verdade deste olhar, e que a oferta a
Deus do que somos e temos, produza verdadeiros frutos para a vida Eterna.
Para os Cenáculos: Partilha alguma experiência
tua ou de outra pessoa em que se fez verdade o princípio Evangélico, acolhido
na chamada “Oração de São Francisco”: “É dando que se recebe, é perdoando que
se é perdoado”.
Pe.
Marcelo
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