terça-feira, 8 de outubro de 2013

AS COMUNICAÇÕES DA FÉ NA SOCIEDADE DOS MASS-MEDIA

S. Vicente Pallotti era um hábil comunicador e homem de muitas relações. As suas cartas testemunham seus numerosos contatos. Aproveitava o material impresso para difundir suas iniciativas pastorais e apostólicas. Contudo, como confessor e diretor espiritual, estava em condições de escutar com grande sensibilidade os sofrimentos e ânsias humanas. Sabemos que ele se preocupava com a educação dos missionários e apóstolos, também no setor das capacidades de comunicação. Na “Regra”, chamada ‘Cópia Lambruschini”, escreveu: “Todos aprenderão a língua do país em que habitam, sem deixar a cultura da língua própria, enquanto for útil no lugar mesmo, ou para as Obras da glória de Deus, e utilidade espiritual do próximo” (OOCC, II, p. 162).
Esta sugestão de Pallotti não é só o cuidado pelo ensino das línguas estrangeiras. Pode ser entendido como uma preocupação para compreender a mentalidade e a linguagem que usam os homens modernos. Sabemos que, às vezes, no mundo moderno a maneira que nós falamos sobre Deus e a fé é de difícil compreensão para muitas pessoas. Nas recomendações aos missionários populares, Pallotti os encoraja a procurar “os mais zelosos operários do Clero... de tomar com muita e edificante atenção todas as notícias do povo acerca dos costumes, e de todas as necessidades espirituais.” Este conhecimento colhido deve ser utilizado “para a pregação”, de maneira que possam “orientar as consciências oportunamente” (OOCC VII, p. 215).
Estas indicações de Pallotti conservaram a sua atualidade. Num encontro com os estudantes de Teologia coloquei a pergunta se alguém conhecia um caso de conversão como resultado de ver os conteúdos online. Fez-se silêncio. Um estudante, timidamente, acenou que um dos seus amigos viu um vídeo no You Tube e se interessou pela questão das curas milagrosas. Foi a única resposta à pergunta sobre a conversão.
Depois pedi, se alguém conhecia algum fato em que a Internet teria feito mal ou tivesse prejudicado a alguém. Neste momento a sala parecia uma floresta de mãos. Quase todos tinham uma história para contar, um acontecimento no qual o internauta sofreu um dano material ou espiritual, causados pela utilização da Internet.
O encontro com os estudantes de Teologia mostra claramente aquilo que é a nossa estereotípica associação e a valorização da Internet e das novas tecnologias relacionadas com a mesma. No primeiro caso, a Internet parece um centro de entretenimento superficial e de conteúdo vulgar, que prospera no lado obscuro da nossa natureza humana.
A conversa com os estudantes de Teologia, contudo, continuava ainda. Pedi que narrassem os vários modos de utilização da Internet para aumentar sua vida de fé. Depois descobriu-se que muitos deles enviaram e-mails aos amigos pedindo orações, procuraram sites de  informações sobre a vida das suas comunidades e dos textos dos discursos do Papa. Tiveram sucesso em deliciar-se com a escuta de música cristã e de web radio. Muitos outros encontros litúrgicos, homilias e conferências estão também disponíveis para aqueles que têm necessidade de tais conteúdos.
A mencionada discussão com os estudantes de Teologia sobre o papel dos novos meios no reforço e na partilha da fé é um bom exemplo, que expressa algumas importantes verdades e princípios. É verdade que as conversões diante da telinha do computador e com o mouse em mãos são raras. A Internet não substitui um encontro face a face. Não substitui uma ajuda específica, como o dar um copo de água ou do tempo gasto ao lado do doente.
De outra parte, os instrumentos da Internet podem ser extremamente úteis para fornecer informações sobre a vida das comunidades cristãs, sobre a continuidade das relações internas da comunidade e para encontrar um conteúdo espiritual.
Os discípulos e apóstolos de Jesus são convidados a partilhar a sua fé. Esta é a essência de toda evangelização, antiga ou nova. Partilhar a fé é possível também usando os novos meios de comunicação. Os nossos sites, e-mails enviados, as informações  no Facebook, o envio de mensagens de texto ou o uso de aplicativos em telefones celulares – tudo isto pode ser um instrumento que nos ajudará a reforçar a nossa fé e esperança e a partilhá-la com os outros. Por outro lado, a mesma mídia e seus conteúdos podem contribuir para o enfraquecimento da fé e a perda da confiança em Deus e na sua Igreja.
Estas afirmações são o ponto de partida para futuras reflexões. Trata-se de encontrar critérios para distinguir quando os meios de comunicação estão conduzindo a um aprofundamento da fé e da comunidade eclesial, e quando se tornam um instrumento para diluir e como que liquidificar os seus contornos.
Para responder a estas perguntas é necessária, antes de tudo, uma aprofundada reflexão sobre o que é a fé. A fé é um dom que vem de Deus. A aceitação voluntária deste dom é a resposta da pessoa humana. Mas a “A fé não é simples assentimento intelectual do homem a verdades particulares sobre Deus; é um gesto mediante o qual me confio livremente a um Deus que é Pai e que me ama; é adesão a um «Tu» que me dá esperança e confiança "  (Bento XVI, Audiência geral, 24 de outubro de 2012)). Portanto, uma pessoa não começa a crer simplesmente porque decidiu. Há pessoas que têm um vasto conhecimento sobre a religião cristã, mas não são crentes. O conhecimento não é a própria fé, mesmo se o crente faz de tudo a fim de conhecer Deus e tudo o que Deus revelou.
O reforço da fé nos vem através da oração pessoal e a reflexão sobre a Palavra de Deus. O melhor ambiente para fortalecer a fé é o encontro vivo com outros crentes, com os quais estamos em condições de rezar juntos e falar dos valores mais basilares e essenciais da vida.·.

Para uma reflexão pessoal/comunitária:

1. Jesus diz:”Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (Jo 8,32). O mundo de hoje, ao contrário, proclama, com distorção, as palavras de Jesus, levantando temores infundados: “Se conhecerdes a verdade, a verdade vos tornará escravos”. Como distinguir na enxurrada das informações hodiernas, a verdade da mentira, os conteúdos úteis, dos nocivos?

2. Pallotti nos encorajou a conhecer a mentalidade, a linguagem, e as exigências das pessoas no meio das quais vivemos. Estamos em condições de descobrir a mais importante necessidade dos outros, no que diz respeito a seus meios de subsistência e suas esperanças e medos do futuro?

3. Pallotti escreveu sobre os missionários que deveriam “ser ávidos de aprender com grande perfeição e precisão a arte dificílima da propagação da Santa Fé” (OOCC VII, p. 246). Estão em condições de partilhar com outros a experiência de fé?

A oração de Bento XVI pelas vocações para a evangelização (2007):
“Dirigimo-nos a ti, Maria, que sustentaste a primeira comunidade, onde ‘todos eram unânimes, e todos se reuniam regularmente para a oração’ (cf At 1,14), para que ajude a Igreja a ser no mundo de hoje o ícone da Trindade, sinal eloqüente do amor divino por todos os homens
Virgem, intercede para que não faltem, no seio do povo cristão os servidores da alegria divina: sacerdotes que, em comunhão com seus Bispos, anunciem fielmente o Evangelho e celebrem os sacramentos, cuidem do povo de Deus, e estejam prontos a evangelizar a humanidade inteira. Faze que também nesse nosso tempo aumente o número das pessoas consagradas, que vão contra a corrente, vivendo os conselhos evangélicos de pobreza, castidade e obediência, e testemunhando, de modo profético, Cristo e sua libertadora mensagem de salvação.

Maria, ajuda-nos a dizer com a vida: “Eis-me, ó Deus, que venho para fazer a tua vontade” (cf Hb 10.7)”.

Pe. Zenon Hanas SAC

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