O Evangelho de hoje nos traça o caminho para o recomeçar a vida com Cristo; como cada um de nós pode deixar com que Nosso Senhor refaça nossa história.
Na narrativa evangélica, os fariseus armaram um laço para Nosso Senhor. Era Jesus que eles queriam condenar. Foi uma armadilha bem pensada, que Jesus não poderia escapar. Se Jesus dissesse que era para cumprir a lei de Moisés e apedrejar aquela mulher, Jesus cairia nas mãos dos Romanos que proibiam os povos que eles conquistavam de deliberar sobre o direito de vida ou de morte. Lembremos que o próprio Jesus depois de ter sido condenado pelo tribunal religioso de Caifás, teve de ser submetido também ao julgamento de Pilatus. Se Ele dissesse que não era para apedrejar aquela mulher, estaria indo contra à uma prescrição da lei Mosaica e seria também condenado como um herege, contrário às leis judaicas. Também teriam motivo para acusá-lo. Jesus é que estava sendo o verdadeiro julgado naquele inquérito.
Daí a saída que só a Sabedoria infinita de Deus poderia produzir: “«Quem de vós estiver sem pecado atire-lhe a primeira pedra!» (Jo 8,7)
Todos os acusadores se sentiram então acusados pela sua própria consciência e foram saindo um a um, a começar pelos mais velhos. Se no lugar de se retirarem, tivessem permanecido mais um pouco e se ajoelhado junto com aquela mulher, teriam ouvido também da boca de Jesus aquela Palavra Eterna que ressoa até os dias de hoje. “«Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?» Ela respondeu: «Ninguém, Senhor.» Disse-lhe Jesus: «Também Eu não te condeno. Vai e de agora em diante não tornes a pecar.»” (Jo 8,10)
Mas não. Eles fizeram igual aos nossos primeiros pais no paraíso: depois do pecado esconderam-se de Deus. Depois ao invés de pedirem perdão ao Senhor, arrependidos, começaram a acusarem-se mutuamente: “Comeste, porventura, da árvore da qual te proibi comer?» O homem respondeu: «Foi a mulher que trouxeste para junto de mim que me ofereceu da árvore e eu comi.” (Gen 3,11-12)
Se naquele momento Adão tivesse humildemente reconhecido o seu erro e pedido perdão, provavelmente a história seria outra.
Mas os judeus foram embora da presença de Jesus. Só permaneceu a mulher, e por isso somente ela escutou aquelas palavras: “Ninguém te condenou?... «Também Eu não te condeno. Vai e de agora em diante não tornes a pecar.»” (Jo 8,10)
São palavras que só Deus as poderia pronunciar. Palavras que geram em quem as escuta um dinamismo novo como aquele que foi gerado em São Paulo na segunda leitura de hoje: “Mas uma coisa faço: esquecendo-me daquilo que está para trás e lançando-me para o que vem à frente, corro em direcção à meta, para o prémio a que Deus, lá do alto, nos chama em Cristo Jesus.” (Fil 3,13-14) São palavras já prefiguradas na primeira leitura do profeta Isaías: “«Não vos lembreis dos acontecimentos de outrora, não penseis mais no passado, pois vou realizar algo de novo, que já está a aparecer: não o notais? (Is 43,18-19)
Nós muitas vezes ficamos presos a um passado e não percebemos a obra nova que nosso Senhor está a fazer em nós e nos outros. Nós não somos mais aquela pessoa que éramos há quatro anos atrás. E muitas vezes continuamos a nos julgar uns aos outros pelo que éramos.
Um sacerdote palotino, certa vez contou-nos um caso de uma pessoa que fez retiro com ele e que depois saiu no jornal como preso por ter matado a esposa grávida. Tendo-o visitado na prisão, este padre perguntou se era verdade o que estavam a acusá-lo. Ele respondeu que sim, mas deu uma resposta que muito impressionou o sacerdote: “Fiz isso sim, mas na época em que ainda não conhecia Jesus. Já me confessei disto e sei que Deus já me perdoou. Agora tenho de pagar diante dos homens, mas sei que ao sair da cadeia eu não serei a mesma pessoa (apontando para a Bíblia).”
Para quem quer reparar a sua vida passada, o tempo de Quaresma é tempo de escutar mais uma vês dos lábios do Filho de Deus: “Ninguém te condenou?... «Também Eu não te condeno. Vai e de agora em diante não tornes a pecar.»” (Jo 8,10)
E os danos que os nossos pecados produziram nos outros e na Sociedade? Ai entra o que São Paulo também nos diz sobre a reparação: "Assim posso conhecê-lo a Ele, na força da sua ressurreição e na comunhão com os seus sofrimentos, conformando-me com Ele na morte, para ver se atinjo a ressurreição de entre os mortos.” (Fil 3,10-11)
Podemos, já perdoados, sofrer humildemente algumas consequências de nossos pecados, na certeza de que quem semeia entre lágrimas, recolherá com alegria. (Cf. Salmo 125)
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És a mesma pessoa que eras há cinco anos atrás? Alguma vez já sentiste que começaste de novo com Cristo?
Pe. Marcelo
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