sexta-feira, 5 de março de 2010

TEMPO DA GRAÇA

Assim como em determinado tempo do ano são específicos para alguns frutos das árvores, o tempo da Quaresma é um tempo de graça e de conversão. No Evangelho que a liturgia nos traz, vemos algumas pessoas que trazem a Jesus uma notícia trágica como que pedindo Dele uma interpretação destes factos aos olhos de Deus. Esta é uma questão tão actual tendo em vista os recentes fenômenos da natureza que estamos a assistir ou até presenciar: “Nessa ocasião, apareceram alguns a falar-lhe dos galileus, cujo sangue Pilatos tinha misturado com o dos sacrifícios que eles ofereciam.” (Lc 13,1) Nosso Senhor afirma claramente que essas pessoas não eram mais pecadores do que as outras, e que a sua morte não tinha a ver com isso. Eram sim, tendo em vista a fragilidade da vida humana neste mundo, um apelo urgente de conversão para as pessoas que haviam ficado: “Não, Eu vo-lo digo; mas, se não vos converterdes, perecereis todos da mesma forma.” (Lc 13,5) Só Deus permanecerá e também aquilo que está a ele unido: As pessoas e as obras feitas com a graça de Deus e o seu amor. Isso permanece claro na primeira leitura na vocação de Moisés. Deus Nosso Senhor o tinha escolhido como libertador de seu Povo. Porém enquanto ele pretendeu viver a sua vocação contando apenas com as suas próprias forças humanas, foi um desastre: matou um egípcio que maltratava um hebreu e acabou não sendo acolhido nem pelo seu povo e muito menos pelo faraó. Ouviu de um hebreu: “«Quem te estabeleceu como chefe e juiz sobre nós? Acaso pensas matar-me como mataste o egípcio?» (Ex 2,14) Não aceito nem pelo seu povo nem pelos poderosos, Moisés teve de fugir. Só mais tarde, vivendo uma vida humilde de pastor, em oração no deserto é que ele conheceu verdadeiramente a Deus cujo nome é: “Eu Sou Aquele que Sou” (Ex 3,14) Ele descobriu na sua humildade que só “Deus é” e que sua vida e vocação só tinha Nele a sua consistência. Teve a sua vocação renovada.

Voltando ao Evangelho vemos um facto estranho à primeira vista: nosso Senhor fala de uma figueira estéril no meio de uma vinha. A vinha sempre foi o símbolo do povo de Israel, onde o cristianismo nasceu e cresceu. Hoje em dia pode muito bem representar este mundo. O Pai ali plantou uma figueira. Ora, de uma figueira não se esperam uvas como da vinha, mas figos. Trazendo para a nossa realidade, muitos cristãos se sentem estranhos neste mundo e são incapazes de produzir os seus “frutos”: não roubam, não matam, não adulteram…. Porém por outro lado não produzem também os seus próprios frutos, frutos que Deus Nosso Senhor esperava dele ao colocá-lo no mundo. Que frutos são estes? São Paulo nos diz: “Por seu lado, é este o fruto do Espírito: amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, auto-domínio. Contra tais coisas não há lei.” (Gl 5,22) Ou seja, ele é “bonzinho”, não é mau como o mundo , mas não consegue produzir os frutos que deve. Desse Nosso Senhor, no livro do Apocalipse, tem palavras fortes a esse respeito: “Conheço as tuas obras: não és frio nem quente. Oxalá fosses frio ou quente. Assim, porque és morno - e não és frio nem quente - vou vomitar-te da minha boca.” (Ap 3,15) Jesus nosso Senhor é esse vinhateiro que pede ao dono da vinha pelos méritos da Sua Paixão e Ressurreição que espere mais um ano: ‘Senhor, deixa-a mais este ano, para que eu possa escavar a terra em volta e deitar-lhe estrume. Se der frutos na próxima estação, ficará; senão, poderás cortá-la.” (Lc 13, 8-9)

Nós Vos agradecemos Senhor Jesus, pois tantas vezes, pela nossa não fecundidade mereceríamos ter sido cortados já da vinha deste mundo, mas Vós intercedestes ao Pai por cada um de nós. O Pai do Céu quer nos atender naquilo que pedimos por meio dos méritos da Vossa Paixão para fazer de nós filhos não somente pelo sacramento do Baptismo, mas também pela vivência da vida no Espírito Santo. Por isso, Senhor, derrama mais uma vez sobre nós a plenitude do Vosso Espírito Santo, para que produzamos frutos dignos do Pai que com todo carinho nos plantou neste mundo e em nossa vocação específica. De modo especial Senhor, derramai a plenitude do Espírito Santo sobre todos os sacerdotes da Igreja neste ano sacerdotal para que correspondam ao Amor Infinito de Deus que os chamou a tão sublime vocação. A Vós, ao Pai e ao Espírito Santo seja a glória, a honra e o louvor para sempre. Amém.

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Em que circunstâncias Jesus hoje nos chama a produzir “frutos diferentes” daqueles que se produzem no mundo que nos rodeia. Qual é o “adubo” que, para tanto, hoje em dia, Ele deita em nossas raízes?
Pe. Marcelo

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