No Evangelho de hoje, temos dois banquetes. Um que sacia a alma e o corpo dos discípulos de Cristo, outro que não sacia o homem, mas o avilta.
Vejamos esses os dois:
Esse segundo vem insinuado no início do Evangelho. Foi o banquete onde São João Baptista foi morto. Era o banquete de Herodes. Neste banquete, os pobres não foram convidados. Para este só foram convidados “os grandes da corte, os oficiais e os principais da Galileia” ( Cf. Mc 6,21). João baptista foi o único pobre que compareceu e cortaram-lhe a cabeça. Era uma refeição onde aconteceu, certamente, muito desperdício e intemperança. Herodes já estava alcoolizado. Naquele tempo ele estava em adultério. Vivia com a esposa de seu irmão Filipe. Neste banquete uma jovenzinha dançou. Era provavelmente sobrinha de Herodes. Jovem exuberante e formosa que facilmente ganhou-lhe a alma. Não contente em estar em adultério com a mãe, já interessava-se pela filha. A proposta foi insensata e inconsequente: “– Pede-me o que quiseres e eu to darei.» E acrescentou, jurando: «Dar-te-ei tudo o que me pedires, nem que seja metade do meu reino” (Mc 6,22-23) A menina, inexperiente, foi perguntar à mãe o que deveria pedir. Nesse momento, o ódio e o despeito falaram ainda mais alto do que a ambição. “Induzida pela mãe, respondeu: «Dá-me, aqui num prato, a cabeça de João Baptista” (Mt 14,8) Paremos por aqui, pois já começa a dar-nos náuseas…. Em resumo, quais são as características deste banquete? Convite só dos ricos, desperdício, bebedeira, adultério, luxúria, ódio e morte.
Não nos admiramos que uma das pessoas que provavelmente estava presente, Joana, mulher de Cuza, administrador de Herodes, (Cf. Lc 8,3) tenha tomado a decisão de procurar um novo rei, um outro reino. O Evangelho, mais tarde, relata que ela foi uma das principais mulheres que seguiam Jesus. Este Herodes não dava mais. Não dava mais para seguir as máximas daquele ditador. Era necessário um novo Rei e um novo Reino.
No Evangelho de hoje, aparece o banquete, ou pelo menos o prelúdio do banquete do novo Rei e do novo Reino. É o banquete de Jesus. Ele o prepara no deserto, que na Bíblia é o local do encontro com Deus. Dele participam os pobres, os ricos, os letrados, os ignorantes, ou seja, quem tiver fome e sede de justiça. O novo Rei, ao invés do cruel Herodes, é cheio de compaixão pelo seu povo: “Ao desembarcar, Jesus viu uma grande multidão e, cheio de misericórdia para com ela, curou os seus enfermos” (Mt 14,14); Alimenta-os também com a Palavra de Deus: “Ao desembarcar, Jesus viu uma grande multidão e teve compaixão deles, porque eram como ovelhas sem pastor. Começou, então, a ensinar-lhes muitas coisas” (Mc 6,34) Não é um banquete de extravagâncias, mas o essencial não falta: o Amor de Deus que suscita caridade e partilha: “Não temos aqui senão cinco pães e dois peixes.» «Trazei-mos cá» - disse Ele” (Mt 14,17)
Que diferença do banquete de Herodes! Mesmo sendo pouco, a partir da partilha, Jesus faz o milagre: o milagre da multiplicação dos pães, prefiguração do maior de todos os milagres que é a Santíssima Eucaristia; Eucaristia que é Sacramento da Caridade, que alimenta a caridade através da Palavra e do Pão da Vida.
Podemos nos perguntar: de que banquete temos participado (ou pelo menos participado mais)? Do banquete do Rei Jesus ou do banquete do rei Herodes? Não serão as nossas crises internas e externas como a seca da Somália e outros países, um convite do Senhor a participarmos com mais fruto do banquete da Eucaristia, partilhando com mais generosidade e que as nossas festas sejam mais ao estilo do Rei Jesus?
Pe. Marcelo