No início do Evangelho de hoje, vemos os discípulos de Emaús dando o seu testemunho. Tinham encontrado Jesus Ressuscitado ao partir do Pão. Porém enquanto Jesus explicava-lhes as Escrituras, eles não o tinham reconhecido ainda. Nessa segunda aparição, Nosso Senhor deu-lhes a graça de reconhecê-lo nas Escrituras: “
Abriu-lhes então o entendimento para compreenderem as Escrituras” (Lc 24,45) Sem o contacto vivo com a Pessoa de Jesus Ressuscitado, as Escrituras permanecem um Mistério fechado.
Por exemplo, o Salmo de hoje: “Fazei brilhar sobre nós Senhor a luz do vosso rosto” (Salmo 4,7) Embora o ser humano ansiasse por contemplar a face de Deus, isso era-lhe proibido. Mesmo Moisés, amigo do Senhor não o pode contemplar: “«Mas tu não poderás ver a minha face, pois o homem não pode contemplar-me e continuar a viver.»
O Senhor disse: «Está aqui um lugar próximo de mim; conservar-te-ás sobre o rochedo.
Quando a minha glória passar, colocar-te-ei na cavidade do rochedo e cobrir-te-ei com a minha mão, até que Eu tenha passado.
Retirarei a mão, e poderás então ver-me por detrás. Quanto à minha face, ela não pode ser vista.” (Ex 33,20-23) Só Jesus revela ao homem a face Misericordiosa de Deus Pai: “Porque o Deus que disse: das trevas brilhe a luz, foi quem brilhou nos nossos corações, para irradiar o conhecimento da glória de Deus, que resplandece na face de Cristo.” (2 Cor 4,6)
Outras passagens admiráveis do Antigo Testamento são reveladas no Mistério Pascal de Cristo. Por exemplo: “
Acaso pode uma mulher esquecer-se do seu bebé, não ter carinho pelo fruto das suas entranhas? Ainda que ela se esquecesse dele, Eu nunca te esqueceria.
Eis que Eu gravei a tua imagem na palma das minhas mãos.” (Is 49,15-16) Mesmo santos como São Vicente Pallotti, reconheciam-se como “nada e pecado”. Como acreditar que estivéssemos gravados na palma das mãos de Deus? Jesus ressuscitado nos revela esta passagem, quando mostra aos Apóstolos as mãos e os pés que ainda trazem as marcas da sua paixão. De facto, com aqueles cravos, ficamos gravados nas palmas das suas mãos. Em outra passagem: "
Visto que és precioso aos meus olhos, que te estimo e te amo, entrego reinos em teu lugar, e nações, em vez da tua pessoa.” (Is 43,4) Hoje cada fiel pode, em Cristo, ver revelada esta passagem. Basta colocá-la escrita ao pé de cada crucifixo.
Também o dom da paz permanece um mistério no Antigo Testamento, pois as guerras e tribulações do povo de Israel seguiam-se umas às outras. É Jesus quem revela a natureza dessa paz, quando, nas suas aparições de Ressuscitado comunica-a aos presentes. Essa paz não é a ausência de contrariedades. Os Apóstolos, como sabemos, foram perseguidos por causa de Cristo. Essa Paz é fruto da conversão, do arrependimento e do perdão dos pecados que temos em Jesus Cristo: “que havia de ser anunciada, em seu nome, a conversão para o perdão dos pecados a todos os povos, começando por Jerusalém.
Vós sois as testemunhas destas coisas.” (Lc 24,47-48) No final da primeira leitura vemos o Apóstolo S. Pedro sendo fiel a esse mandato de Cristo: “
Arrependei-vos, portanto, e convertei-vos, para que os vossos pecados sejam apagados;
e, assim, o Senhor vos conceda os tempos de conforto…” (Actos 3,19) São João escreveu o mesmo em sua Carta: “
Filhinhos meus, escrevo-vos estas coisas para que não pequeis; mas, se alguém pecar, temos junto do Pai um advogado, Jesus Cristo, o Justo,
pois Ele é a vítima que expia os nossos pecados, e não somente os nossos, mas também os de todo o mundo.” (1Jo 2,1-2)
Sem esse recurso confiante à Divina Misericórdia para conformar a vida à vontade de Deus não pode haver paz. Sobre isso diz o papa Bento XVI: “"Que o Senhor... te conceda a paz!" (Nm 6, 26); o Senhor conceda a paz a cada um de vós, às vossas famílias, ao mundo inteiro. Todos desejamos viver em paz, mas a paz verdadeira…, não é simples conquista do homem ou fruto de acordos políticos; é antes de tudo dom divino que se deve implorar constantemente e, ao mesmo tempo, compromisso que se deve levar em frente com paciência permanecendo sempre dóceis aos mandamentos do Senhor.”
Para as células de Evangelização:
Uma das concretizações desta paz, dom de Cristo Ressuscitado é a paz nas famílias. O Papa Bento XVI escreveu para o dia mundial da Paz: “A família natural, fundada no matrimónio entre um homem e uma mulher, é "berço da vida e do amor" e "a primeira e insubstituível educadora para a paz". Precisamente por isso a família é "a principal "agência" de paz" ; e "a negação ou também a restrição dos direitos da família, obscurecendo a verdade do homem, ameaça os próprios fundamentos da paz." Como os jovens, hoje em dia, vêem a família? Em que a Igreja pode colaborar para aumentar nos jovens a esperança de constituir uma família bem fundada e estável?
Pe. Marcelo