terça-feira, 13 de julho de 2010

UNIÃO DO APOSTOLADO CATÓLICO

De 5 a 8 de dezembro de 1995, teve lugar em Nairobi/Quênia, a Assembléia dos Superiores Maiores Palotinos da África. Naquela oportunidade, D. Henryk Hoser, abp palotino polonês, que é médico e foi Superior Regional de Ruanda e Superior da Região da Divina Misericórdia, na França, fez uma conferência sobre a União do Apostolado Católico. Cremos que é muito importante e por isso a publicamos, agora, traduzida do texto original francês.

A sinfonia “inacabada” de São Vicente Pallotti

Esta breve apresentação da herança do nosso Fundador, longe de ser exaustiva, limita-se a um olhar retrospectivo, necessário para compreender a aposta da nossa situação e propor um esforço a ser feito por nós, em toda fidelidade à nossa vocação e missão palotina.

1.0. União do Apostolado Católico durante a vida de Pallotti

 A periodicidade desta época foi bem identificada por H. Schulte e retomada por outros autores palotinos. Ele é clara, funcional e será brevemente resumida nesta conferência, com um acento particular sobre a viabilidade e a realização efetiva da obra do Fundador. Nesta classificação, dois acontecimentos servem de ponto de referência: a visão de Camaldoli (1839) e a eleição do Papa Pio IX (1846).

1.1. Conseqüência da visão de Regina Coeli, 1835-1839

 Tudo parece começar naquele dia memorável, 9 de janeiro de 1835, quando Pallotti é habitado pelo “desejo mais vivo... do Sagrado Coração” de fundar e promover uma “maravilha da misericórdia divina e infinita” que é a “União do Apostolado Católico”.

Vários momentos marcam de modo significativo este período. A formação e a manifestação pública do primeiro círculo apostólico, misto e quase espontâneo, a obtenção da licença do Vicariato de Roma, a adoção do nome, que o Papa utilizou no seu decreto: “Sociedade do Apostolado Católico”; o primeiro estatuto da “Pia União chamada Apostolado Católico”, a entrega à “Sociedade” do convento Fuccioli, como sede do orfanato confiado à solicitude de Salvati; tudo isso significa um bom início. O objetivo ampliado (missão ad gentes e apostolado dos fiéis), a criação de três grupos ou classes de membros em 1836, a primeira celebração pela Sociedade da festa da Epifania, o esboço da “pars centralis et motrix” com sua instalação junto à igreja do Espírito Santo, tudo deve ser colocado ao lado dos benefícios.

  Aparecem, contudo, os primeiros fracassos. A proibição de imprimir formulários de adesão dos membros, o conflito com a União de Lyon, que acarreta o abandono do projeto do Colégio Missionário e levou o Papa a querer dissolver a Sociedade, decisão que felizmente não foi executada, e, por fim, a perda da terceira classe de membros em proveito da União de Lyon, tudo isto traça a perspectiva que não abandonará jamais a Obra de Pallotti, perspectiva de dificuldades e até de impossibilidade de sua realização.

1.2. Inspiração de Camaldoli, 1839-1846

 Durante as semanas passadas em Camaldoli, em 1839, sob a dupla influência de uma experiência mística e da leitura da vida de Maria, de Maria de Ágreda, Pallotti desenvolve a visão de sua Obra, com elementos novos, entre os quais aquele do Cenáculo no momento de Pentecostes. A esta obra estão doravante associadas mulheres, agrupadas em torno do orfanato de Santa Ágata. Ele, Pallotti, precisa: “Nosso Senhor Jesus Cristo pôs no meu espírito a verdadeira idéia da natureza e das obras da pia Sociedade, que tem como objetivo geral o aumento, a defesa e a expansão da piedade e da fé católica”. Esta idéia refere-se à organização das Procuradorias em dimensão mundial que canalizam o elã maciço e universal desta “trombeta evangélica”. É uma tal visão audaciosa uma intuição profética das estruturas da Ação Católica, das comunidades eclesiais de base de hoje? Em todo o caso, os escritos de Camaldoli constituem, até nossos dias, a base de todas as pesquisas sobre seu carisma e sua melhor expressão. A nova versão da obra implica também o remanejamento das classes dos membros que formam, entre outras, sujeitos coletivos.

  Este período, que dá origem a um projeto grandioso, confirma a crescente dicotomia entre a idéia e sua realização. Nem a Igreja e nem a mentalidade reinante da época estavam dispostas a aceitar uma mobilização geral das forças vivas dos fiéis em vista de um renascimento da evangelização, iniciativa baseada de fato sobre a consciência do século futuro. A atenção de Pallotti concentra-se sempre mais na “parte central” da Obra.

1.3. Face à realidade 1846- 1850

 A morte do Papa Gregório XVI, em 1846, e a eleição de Pio IX, amigo benévolo de Pallotti, contribuíram para a realização, ao menos parcial, do conjunto da Obra do “Apostolado Católico” sob a forma de sua “pars centralis et motrix”, isto é, da “Congregação dos padres e irmãos do Apostolado Católico”. Em outubro e novembro de 1846, Pallotti concentrou-se na regra desta “Congregação”. Ela será “de alguma maneira a alma e a parte animadora de toda a Sociedade”, mas também o “traço de união” e “o membro mediador entre o clero secular e regular”. O Cardeal Lambruschini, diplomata e político de orientação conservadora, tentou convencer Pallotti a deixar de lado os grandes planos e a realizar o que fosse possível: uma comunidade de “Padres da Associação (do Apostolado Católico”)”.

Mas os fracassos não faltaram, sobretudo na Inglaterra para onde fora enviado R. Melia em 1842. Nem a casa dos convertidos, nem a casa de Oxford, nem aquela de Kentishtown viram a luz do dia. A iniciativa de P. de Geslin na França não teve seguimento. Na Itália a revolução de 1848 e perturbações de todo gênero aniquilaram as aquisições sociais da União de outrora. A pastoral e as atividades de caridade dos membros da Sociedade (Congregação) açambarcaram todas suas forças ao ponto de até a estrutura interna da “parte central” não ter sido completada. À morte inopinada de Pallotti, em 22 de janeiro de 1850, a Obra de Pallotti permanecia sempre in statu nascendi, isto é, em via de nascimento.

 2.0. Época crucial: da morte do Fundador até sua canonização

 A periodicidade desta época de nossa história ainda não é comumente admitida. De maneira global podemos considerar 1910 como um ano central e decisivo, quando a Sociedade (“Congregação”) saiu de sua crise interna e codificou sua autoconsciência nas suas Constituições, que datam desse período.

2.1. Pia Societas Missionum, 1854-1910

 No momento de sua morte, São Vicente deixou apenas um dúzia de confrades. Quatro anos depois, o Papa Pio IX impôs à jovem “Congregação” um nome oficial: Pia Societas Missionum. O fato é aparentemente insignificante mas realmente carregado de conseqüências; ele abria a longa crise da identidade da Sociedade. Colocada entre institutos semelhantes em tempos de expansão missionária, os Palotinos lutavam por sobreviver. O número dos membros diminuía: Vaccari admitiu onze novos, mas alguns anos mais tarde só restavam ao todo seis. Até os anos 80 do século XIX, a Sociedade não ultrapassou o número de vinte membros e cinco casas. Longe de ocupar-se da União, os discípulos de Pallotti discutiam, longa e minuciosamente, o problema da sua consagração e das promessas correspondentes.

O momento de expansão veio com o mandato de Faà di Bruno (1869-1889) como Superior. Graças a sua generosidade chegou a alcançar o número de 80 membros, repartidos em treze comunidades. O Colégio de Másio tornou-se o viveiro de missionários que contribuíram pessoalmente para a expansão da Sociedade no mundo. Ela veio a encontrar-ser na América do Norte (1884), na América do Sul (1886-1888), na África (1892) e na Austrália (1901). Em 1904 a PSM obteve o estatuto de instituto de direito pontifício. Cinco anos mais tarde, o rápido crescimento tornou possível a criação das quatro primeiras províncias.

A aprovação pela Santa Sé das Constituições da Sociedade, em 1º de março de 1910 (no 75º aniversário da Obra de Pallotti) confirma de uma parte sua maturidade relativa, mas doutra parte reflete a consciência palotina em si e por relação à União do Apostolado Católico. Esta denominação nem sequer existe à época. A promoção da União não entra no quadro de tarefas específicas da PSM. Só acidentalmente “ os Superiores e os membros todos desenvolvam um cuidado solícito em procurar auxiliares ou cooperadores externos, que, com o trabalho gratuito, a oração e contribuições pecuniárias, concorram, segundo suas posses, para o fim do apostolado católico e a difusão da prática de vida cristã”.

2.2. Fase latente da União 1910-1963

 O rápido desenvolvimento da “Sociedade dos Padres Palotinos” (em 1904 - 50 membros, em 1930 - 1000 e em 1964 - 3.700) e de comunidades femininas análogas não significa com isso o crescimento da consciência da obrigação de promover a União na pura linha do Fundador. Esta permanece oculta ou reduzida ao número variado de “benfeitores”. Com uma exceção apenas.

A expansão missionária e o deslocamento do centro de gravidade da Sociedade para Limburgo, conjugados com o aparecimento do ramo das Irmãs Missionárias frutificaram logo na fundação e na difusão da Obra de Schönstatt. Durante muito tempo considerada como a realização fiel do carisma de São Vicente, esta obra saiu da família palotina e achou-se fora dela a partir de 1965. Sua saída, embora dolorosa, prova, mais que nada, que durante anos ela constituía uma solução de substituição à União do Apostolado Católico, que no seu espírito não suporta exclusivismo.

  Dois grandes eventos marcaram este período. A restituição do nome autêntico da Obra - Apostolado Católico (1947) e seu reconhecimento universal pela beatificação (1950) e canonização (1963) de seu Fundador. Esta última coincidiu com o Concílio Vaticano II, a mais solene consagração da visão profética de São Vicente Pallotti.

3.0. De volta às fontes 1963-1995

 A XII Assembléia Geral extraordinária da Sociedade, reunida em Roma em 1968/69, assinala o começo da nova juventude da herança palotina em sua pureza. O processo começado chegou a uma nova codificação da consciência palotina: a nova Lei aprovada em 1980 e o seu Preâmbulo, a Carta comum de todos os membros da União, núcleo da sua constituição que estabelece: o carisma de São Vicente Pallotti tornou-se a herança da União do Apostolado Católico”.

Quanto à Sociedade, ela não tem mais dúvida: ”Ela é parte integrante da União do Apostolado Católico” e também: ”A nossa Sociedade é a comunidade central da União do Apostolado Católico. Como tal, tem uma responsabilidade especial pela eficiência apostólica e pela espiritualidade de toda a União”.

O Ano Jubilar 1985, 150 anos de existência da União, marcou o ponto de partida de uma série de iniciativas comuns em favor da promoção do que constitui o essencial da mensagem de Pallotti que através da sua obra “chama a todos, convida a todos, desperta o zelo e a caridade de todos os fiéis de cada estado, grau e condição, para que todos humilde, amorosa e generosamente respeitem e venerem o Apostolado Católico como foi instituído por Jesus Cristo na sua Igreja”.

4.0. Conclusão a respeito do passado

 

A enorme e profética visão do Apostolado Católico, de inspiração divina que habitava São Vicente Pallotti e destinada a ajudar a Igreja” no cumprimento de sua missão”, não pôde realizar-se durante a sua vida. Múltiplas razões e obstáculos de ordem histórica, teológica e canônica, próprios da Igreja da época, opuseram-se-lhe eficazmente. No final da sua vida o Fundador consagrou-se à organização de comunidades de homens e de mulheres, às quais legou sua herança e sua missão espiritual de fazer viver uma Obra de maior envergadura. Para Pallotti, a União, no sentido atual desta palavra, é uma instância superior, que engloba “congregações” de padres, irmãos e irmãs. Eles, como uma “parte central e motora”, alma e promotora, devem levar para o futuro a idéia e sua realização.

Contudo, deixadas em estado embrionário, as duas comunidades lutaram por sua própria sobrevivência, aproximando-se mais e mais das estruturas “clássicas” de congregações religiosas. Já Vaccari considerou a União (“Sociedade” em Pallotti) como uma ordem terceira, do tipo dominicano ou franciscano. Este condicionamento levou a uma evolução centrada sobre si mesma e individualista, separada de toda outra comunidade fundada pelo Santo. O fim primeiro e fundamental foi perdido, ao passo que os objetivos próprios de cada um e muito discordantes eram admitidos. Formas residuais da União são difíceis de serem avaliadas quanto à sua qualidade ou quantidade.

Foi necessário que viesse o Pentecostes do Concílio Vaticano II para que a “parte central e motriz” despertasse. Iniciativas mais e mais consistentes preparam o terreno da nova evangelização na perspectiva do Terceiro Milênio do cristianismo.

 5.0. Entre o ideal e o cotidiano

 A partir dos anos 80, uma aceleração espetacular quanto à animação em favor da União se manifestou sobretudo em nível de instâncias centrais da família palotina. Os Conselhos Gerais, a Comissão 86, o Secretariado da UAC esforçam-se por inspirar, encorajar e animar “o terreno”, suscitando uma resposta de intensidade variável. Tem-se às vezes a impressão que a locomotiva se desprendeu dos vagões, que rodam muito mais lentamente. Momentos fortes de mobilização (como o ano 1985 ou agora 1995) são seguidos ou o serão de uma estagnação onde o progresso é assaz tímido. É possível, talvez, encontrar algumas causas deste peso.

5.1. Uma das primeiras é a inércia. Palotinos e Palotinas, ao viverem durante um século na perspectiva da própria auto-suficiência, desenvolveram não somente um estilo de vida, às vezes próximo ao de um convento e muitas vezes clerical, mas também formas mais ou menos tradicionais de apostolado às quais permanecem ligados. Este estilo e esta maneira de viver são comunicados de uma geração a outra. Doutra parte, a penúria de vocações em certos países não se presta mais facilmente para operar mudanças em profundidade, para por em questão um comportamento falsamente seguro.

5.2. Uma outra causa pode estar na má percepção da universalidade dos meios. Não tendo fim e objetivos bem estruturados, os filhos e as filhas de Vicente Pallotti tiveram sempre a tendência a ocupar-se de tudo, sem muito discernimento. As antigas Constituições são disso a melhor ilustração:

  “Dentre as obras próprias da Sociedade sobressaem as seguintes: a instrução catequética, a pregação, as missões populares, os exercícios espirituais, a administração dos sacramentos, o ministério sagrado em subsídio do clero secular, a propaganda da boa imprensa, a propagação da fé entre os infiéis, a direção espiritual de hospitais, asilos e outras casas pias, a direção de escolas e seminários ou colégios para a educação da juventude e a formação dos candidatos ao sacerdócio” - tudo é bom para um Palotino, sem distinção e nem hierarquia. Este aspecto, ainda presente na maneira de agir de muitas províncias, freou o desenvolvimento da União já no tempo em que Pallotti vivia.

 5.3. Uma outra dificuldade reside na ausência de referências, de modelos de realização. O Fundador nos deixou uma idéia universal da União com propostas mais ou menos viáveis de factibilidade. Após a morte de Pallotti chegou-se aos modelos da ordem terceira ou a uma massa, muitas vezes anônima, de benfeitores cuja consciência de pertencer a uma comunidade de vida e de ação era muito reduzida. Realizações e pesquisas contemporâneas, pelo contrário, permanecem no estágio de ensaios de laboratório.

5.4. A encarnação da União do Apostolado Católico, confiada à discrição das comunidades locais da Sociedade ou das Congregações de Irmãs, permanece no estádio de iniciativas espontâneas e fora de um quadro preciso. Entre estas iniciativas e “microrealizações” e as instâncias supremas existe um vazio estrutural que deveria ser preenchido a fim de evitar um fracionamento da União em pequenos círculos efêmeros.

5.5. Ademais, os discípulos de Pallotti não recebem no decurso de sua formação inicial e permanente uma preparação específica e competente para se tornarem animadores, “fundadores” da União, abertos à graça da cooperação, sobretudo com os leigos. E, se esta preparação existe, ela é unilateralmente teológica e teórica.

5.6. Finalmente, se coloca uma questão: Perceberam os Palotinos que a realização da União não é facultativa, mas obrigatória? Se não for assim, para que servem as afirmações seguintes de nossa Lei:

 A Sociedade do Apostolado Católico... tem em comum com toda a Fundação de São Vicente Pallotti o fim apostólico, é animada pelo mesmo espírito e, como ela, entende estar a serviço da missão apostólica da Igreja no mundo. Ela tem uma responsabilidade especial pela eficiência apostólica e pela espiritualidade de toda a União. A nossa Sociedade, por vontade do Santo Fundador, tem a tarefa de constituir a União nas suas várias formas de pertença.

 Esta consciência profunda das obrigações da Sociedade para com a União não é ainda uma moeda corrente entre seus membros, inclusive nos seus superiores.


6.0. UAC - instrumento da nova evangelização

 Providencialmente, o despertar da União no seio da grande família palotina coincide com a renovação da Igreja Universal desde o último Concílio. É ele que nos recorda as grandes intuições de nosso Fundador. Lendo certas passagens dos documentos conciliares temos por vezes a impressão de que eles saíram da pena de São Vicente Pallotti. Um dos múltiplos exemplos é este:

 “Existe na Igreja diversidade de serviços, mas unidade de missão. Aos Apóstolos e a seus sucessores foi por Cristo conferido o múnus de, em nome e com o poder d’Ele, ensinar, santificar e reger. Os leigos, por sua vez, participantes do múnus sacerdotal, profético e régio de Cristo, compartilham a missão de todo o povo de Deus na Igreja e no mundo”.

 O caminho da Igreja na esteira do Concílio está balizado por uma série de acontecimentos entre os quais estão as assembléias ordinárias e especiais do Sínodo dos Bispos e inclusive os documentos pós-sinodais. Ora, nós encontramos a mesma semelhança de expressões de Pallotti e de documentos recentes, também no texto da Exortação Apostólica pós-sinodal ECCLESIA IN AFRICA (EA).

6.1. O aprofundar a fé e reavivar a caridade, tão caro a Pallotti, é sublinhado como o desafio principal: “Hoje, na África, ‘a formação da fé.. muitas vezes permaneceu no estádio elementar... O aprofundamento da fé é urgente no sentido de que a evolução rápida da sociedade faz surgir desafios novos”. Ou então: ”A evangelização se faz antes de tudo através do testemunho da caridade, o testemunho da santidade”.

 

6.2. O universalismo e complementaridade de vocações, tão sublinhados por Pallotti, são também onipresentes. “Toda a comunidade tem necessidade de ser preparada, motivada e reforçada pela evangelização, cada um segundo seu papel específico no seio da Igreja”. E ainda: “ O anúncio do Evangelho não pode realizar-se plenamente sem a contribuição de todos os fiéis, em todos os níveis da Igreja universal e local”.

 

6.3. Viver como cristão e sobretudo agir juntos torna-se um imperativo:

“Numerosos membros da Igreja na África - clero, religiosos, religiosas, leigos - integraram-se de maneira perfeita no processo sinodal, “caminhando juntos”, colocando seus talentos a serviço da Igreja”. E a exortação desenvolve a visão da solidariedade pastoral orgânica”.

 6.4. O terreno está preparado e “ já os campos estão brancos para a colheita” (Jo 4,35), “mas os operários são poucos” (Mt 9,37). É preciso prepará-los e formá-los: “Ninguém pode efetivamente conhecer claramente as verdades de fé que ele jamais aprendeu nem colocar atos nos quais não tenha sido iniciado.. A formação missionária ocupará um lugar de eleição”. Pode-se citar ainda muitas outras passagens que demonstram uma semelhança surpreendente entre as formulações do Fundador e as do Magistério recente da Igreja. Que interpelação para a família palotina!

 7.0. Algumas propostas práticas

 Nossa reunião abrirá, sem dúvida, perspectivas para a promoção da União em terra africana. Devemos, em primeiro lugar, chegar à profunda convicção de que a União não significa uma atividade paralela ou sectorial, no conjunto das atividades da Sociedade. Se nós a consideramos como a alma, a União deveria revestir as formas de um corpo através do qual a Obra de Pallotti se manifesta ao mundo.

No plano prático “é proibido fazer o que nos dá na cabeça”. Devemos constatar que se impõem certas linhas de orientação.

 7.1. No campo da formação, que é sempre incontornável, seria necessário introduzir sistematicamente uma experiência de formação de formadores da União (Ler o n. 75 de Ecclesia in Africa). Já a formação inicial e permanente na SAC não pode omitir uma preparação em vista da promoção da União. Não somente a história e a teologia da União, mas também as técnicas de informação e de comunicação, elementos de gestão conjugados à leitura atualizada dos sinais dos tempos e combinada com uma espiritualidade adaptada e verdadeiramente vivida, estes são apenas alguns sujeitos a estudar e a desenvolver.

 7.2. A criação do meio ambiente portador da União é uma tarefa vivificante. Aqui, “uma eclesiologia centrada sobre o conceito de Igreja Família de Deus” constitui uma fonte de inspiração muito rica.

 O conceito de família evoca imediatamente alguma coisa que vai além das relações funcionais e da única convergência de interesses. Por sua natureza a família é uma comunidade fundada sobre a confiança recíproca, sobre o apoio mútuo, sobre o respeito sincero. Numa família autêntica, não há domínio por parte dos mais fortes: ao contrário, os membros mais débeis são, precisamente em razão da sua debilidade, duplamente acolhidos e servidos.

 7.3. Um mínimo de organização comum. Embora admitindo o pluralismo das formas e das realizações concretas, é preciso poder encontrar pontos de referência comuns e mais precisos que a espiritualidade, o carisma e o fim partilhados. A União não pode permanecer amorfa sob pena de diluir-se. E´ um vasto campo de pesquisa e de inspiração para chegar a uma unidade na diversidade.

 8.0 Conclusão

   A Obra de Vicente Pallotti dá no momento de sua morte a impressão de algo incompleto e aberto ao futuro. Sua herança obriga seus discípulos a tornar-se por sua vez fundadores, cada um no seu tempo e no seu lugar. O compositor contemporâneo de Pallotti, Franz Schubert (1797-1829), escreveu uma sinfonia em Ré menor, n. 8, intitulada “A Inacabada”. Ela comporta somente dois movimentos: allegro moderato e andante con moto. A sinfonia de Pallotti, a União do Apostolado Católico, de uma dimensão profética e escatológica na sua dramática tensão para o futuro, aguarda de cada geração o terceiro movimento: allegro vivace. Este movimento nos introduzirá no Terceiro Milênio do Cristianismo.

Dom Henryk Hoser SAC

Tradução do

Pe. João Baptista Quaini SAC

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