sábado, 6 de novembro de 2010

UMA ESPERANÇA QUE RELATIVIZA

Nesta vida temos muitos dons dados por Deus, pelos quais devemos louvá-lo continuamente: a vida, a família, os amigos, a natureza, os bens que trabalhando com os dons de Deus conseguimos adquirir… Tudo são coisas boas. A Palavra de Deus de hoje nos adverte, porém, que tudo isso é relativo e não absoluto. Tudo serve ao homem na medida em que o ajuda a atingir o seu fim último, que é a glória de Deus e a salvação da própria alma e a dos outros.
Por isso mesmo afirmava Santo Inácio no seu princípio e fundamento: “O homem foi criado para louvar, adorar e servir Deus nosso Senhor e salvar assim a própria alma; e as outras coisas sobre a face da terra foram criadas para o homem a fim que o ajudem no conseguimento do fim pelo qual foi criado. Disto vem que o homem deve servir-se destas coisas enquanto o ajudam para o seu fim, e ao mesmo tempo, deve se afastar destas se são impedimentos ao mesmo fim. Por essa razão é necessário tornar-se indiferente em relação a todas as coisas criadas em tudo aquilo que é consentido pela liberdade do nosso livre arbítrio e não lhe é proibido, de modo a não desejar da nossa parte mais a saúde do que a doença, mais a riqueza do que a pobreza, mais a honra do que a desonra, mais a longa vida do que uma breve, e assim por diante, desejando e escolhendo somente aquilo que leva ao fim para o qual fomos criados.”
A vida é um dom de Deus; aliais o mais precioso de todos os dons. No entanto, não vale mais do que o absoluto de Deus. Foi o que mostraram os sete irmãos mártires do livro dos Macabeus. Postos entre a hipótese de renegar a sua fé e morrer, preferiram a morte física, pois: «Do Céu recebi estes membros, mas agora menosprezo-os por amor das leis de Deus, mas espero recebê-los dele, de novo, um dia.» (2 Mac 7,11)
No Evangelho aparecem mais sete irmãos. Os saduceus, que não acreditavam na ressurreição colocaram a Jesus a questão do matrimónio. Se os sete irmãos pela lei do levirato – lei que recomenda que um irmão case-se com a viúva de um irmão que não deixou filhos, para suscitar-lhe descendência –  poderiam tê-la por esposa, de quem ela será  mulher na ressurreição?  Jesus resolve a questão afirmando que embora o casamento seja um dom de Deus e uma vocação preciosa, “… aqueles que forem julgados dignos da vida futura e da ressurreição dos mortos não se casam, sejam homens ou mulheres, porque já não podem morrer: são semelhantes aos anjos e, sendo filhos da ressurreição, são filhos de Deus.” (Lc 20,35)
Alguns são chamados desde agora a testemunhar este absoluto da Esperança, e ajudar seus irmãos a fazê-lo. É a vocação consagrada celibatária; coisa que o mundo não entende nem o pode entender, pois o próprio Jesus disse certa vez: “… há aqueles que se fizeram eunucos a si mesmos, por amor do Reino do Céu. Quem puder compreender, compreenda.» (Mt 19,12) Outros são chamados mesmo ao matrimónio, para construir neste mundo a matéria da ressurreição futura que somos todos nós.  Devemos discernir, à luz do Espírito a quê Deus nos chama. Não se trata aqui de escolher o mais fácil, mas aquilo a que Deus chama. Muitos, como o Abade Dom Roberto do Mosteiro do Rio de Janeiro, e alguns coirmãos palotinos, mesmo já tendo a vida alinhavada em um noivado, uma carreira humana promissora (no caso dele carreira de diplomacia), em meio a um momento de oração, discerniram que não era este o seu caminho. Outros como Márcio Mendes da Canção Nova, o contrário;  depois de iniciar como seminarista, discerniu na oração e na direcção espiritual que seu caminho era o matrimónio.
Seja qual for o caminho que tomamos, uma coisa é certa: temos uma vocação comum. É aquela da qual diz São Paulo na Carta aos Tessalonicenses: “Esta é, na verdade, a vontade de Deus: a vossa santificação; que vos afasteis da devassidão,…” (1 Tess 4,3) Muitos têm dificuldade de discernir o seu caminho de vida. Talvez se investíssemos mais nesta vocação comum à santidade, também a nossa vocação particular resultaria mais clara diante dos nossos olhos. Estamos, em sintonia com o arciprestado, a fazer vigílias em nossas comunidades, pedindo este dom das vocações. Neste Sábado dia 6/11, temos, na Praia de Mira.
Neste mês de Novembro, a Igreja que é mãe, vem socorrer com a Divina Misericórdia da qual é dispensadora, as almas dos fiéis defuntos, que não conseguiram, embora tendo morrido em graça, realizar plenamente a sua vocação e agora encontram-se no purgatório. Como filhos de Deus e da Igreja, somos também chamados, de modo especial neste mês, à “misericórdia espiritual”.
Para as células de Evangelização:
O que é absoluto e o que é relativo hoje nas nossas vidas?
Pe. Marcelo 

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