(Gabriela Mistral, poeta Chilena, 1889-1957, Decalogo dell’Artista)
Existe algo no que diz repeito à beleza que tem o poder de nos tocar profundamente, de nos deixar admirados pelas maravilhas, de comover profundamente o nosso ser. A beleza dos raios de sol que brilham por entre as nuvens do céu estrelado em uma noite serena, das andorinhas que voam pelo céu de verão, o som das ondas que tocam a beira do mar, a beleza de um poema, de uma música ou de uma obra de arte que nos fala de modo que ultrapassa a nossa capacidade de explicar, da variedade quase infinita de seres humanos, das muitas formas, tamanhos e qualidades diferentes.
Para aqueles/as cujos corações estão em harmonia, a beleza da criação é um
sinal que indica para além de si mesmos. Em I Fratelli Karamazov Fëdor
Dostoevskij exorta: “Ama toda a criação de Deus, o todo e cada grão de areia
que existe. Ama cada folha e cada raio de luz de Deus, ama os animais, ama as
plantas, ama cada coisa. Se amarás cada coisa perceberás o mistério divino
neles”!
Em uma passagem maravilhosamente evocativa fala também São Vicente desta dimensão sacramental da natureza: “Deus nos concedeu a luz porque desejava que aspirássemos a ver e a contemplar para sempre a Luz inacessível que é o próprio Deus, ... a escuridão da noite ... para nos dispor ao descanso eterno do paraíso, ... os odores, para que nos voltássemos para a suavidade eterna de Deus, ... a variedade de sons e melodias para que nos apaixonássemos pelos Cânticos eternos da glória, nos esplendores dos santos, ... a variedade incontável dos sabores, a diversidade dos alimentos e das bebidas para mais nos fascinar pelas eternas satisfações – os verdadeiros prazeres que estão em Deus, ... o vestuário - é tão diversificado – para comprometer em ter a alma sempre revestida das virtudes capazes de revestí-la de glória eterna no Paraíso, ... as riquezas de ouro, prata, gemas, pedras preciosas, pérolas para fazer-nos aspirar à eterna riqueza, que é Deus mesmo na manifestação da Sua glória. Essas coisas todas – transitórias, corruptíveis e limitadas – ele nos deu para fazer-nos aspirar ao que é eterno, imortal, infinito, imenso, ao que é incompreensível que é Deus mesmo ... E a mim concedestes o uso delas, ... quereis que todo o visível sirva para manter vivo em minha alma e sempre em aumento o Reino do vosso santo amor. Com isso quereis que chegue a ser totalmente mergulhado e como que transformado no vosso divino amor, na vossa infinita Caridade, em todo Vós mesmo” (Deus Amor Infinito, Meditação VI, OOCC XIII, p. 51- 53).
Somos convidados a estarmos atentos a esta dimensão da beleza também em nosso esforço de levar o Evangelho aos outros. O Cardeal Godfried Danneels disse que nosso mundo contemporâneo “duvida da verdade, resiste ao bem, mas é fascinado pela beleza! No nível mais profundo de nosso ser, já ressoa simpatia com a beleza, porque nós mesmos somos magnificamente criados à imagem e semelhança de Deus, fonte de toda a beleza (Von Balthasar)”. Dizer que Deus é o autor da beleza significa que Ele não apenas criou todas as coisas belas do mundo, mas que também criou o significado da beleza, colocando um amor e uma capacidade de reconhecê-la no coração dos seres humanos ... Ele queria que a beleza (junto com a bondade) fosse uma “escada” para subir até Ele, “Aquele que atrai”, o ímã (Contemplando a Trindade, Raniero Cantalamessa, p. 75).
O Arcebispo Rino Fisichella, Presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, disse que “não devemos nos surpreender se ao interno do tema da nova evangelização encontra lugar a reflexão sobre a beleza. A via [da beleza] pertence de modo previlegiado à missão de anunciar o Evangelho porque é da sua mesma natureza expressar o amor com a beleza ... A beleza comunica melhor de outras formas o mistério da fé” (A Nova Evangelização, pp. 113, 115).
Em uma passagem maravilhosamente evocativa fala também São Vicente desta dimensão sacramental da natureza: “Deus nos concedeu a luz porque desejava que aspirássemos a ver e a contemplar para sempre a Luz inacessível que é o próprio Deus, ... a escuridão da noite ... para nos dispor ao descanso eterno do paraíso, ... os odores, para que nos voltássemos para a suavidade eterna de Deus, ... a variedade de sons e melodias para que nos apaixonássemos pelos Cânticos eternos da glória, nos esplendores dos santos, ... a variedade incontável dos sabores, a diversidade dos alimentos e das bebidas para mais nos fascinar pelas eternas satisfações – os verdadeiros prazeres que estão em Deus, ... o vestuário - é tão diversificado – para comprometer em ter a alma sempre revestida das virtudes capazes de revestí-la de glória eterna no Paraíso, ... as riquezas de ouro, prata, gemas, pedras preciosas, pérolas para fazer-nos aspirar à eterna riqueza, que é Deus mesmo na manifestação da Sua glória. Essas coisas todas – transitórias, corruptíveis e limitadas – ele nos deu para fazer-nos aspirar ao que é eterno, imortal, infinito, imenso, ao que é incompreensível que é Deus mesmo ... E a mim concedestes o uso delas, ... quereis que todo o visível sirva para manter vivo em minha alma e sempre em aumento o Reino do vosso santo amor. Com isso quereis que chegue a ser totalmente mergulhado e como que transformado no vosso divino amor, na vossa infinita Caridade, em todo Vós mesmo” (Deus Amor Infinito, Meditação VI, OOCC XIII, p. 51- 53).
Somos convidados a estarmos atentos a esta dimensão da beleza também em nosso esforço de levar o Evangelho aos outros. O Cardeal Godfried Danneels disse que nosso mundo contemporâneo “duvida da verdade, resiste ao bem, mas é fascinado pela beleza! No nível mais profundo de nosso ser, já ressoa simpatia com a beleza, porque nós mesmos somos magnificamente criados à imagem e semelhança de Deus, fonte de toda a beleza (Von Balthasar)”. Dizer que Deus é o autor da beleza significa que Ele não apenas criou todas as coisas belas do mundo, mas que também criou o significado da beleza, colocando um amor e uma capacidade de reconhecê-la no coração dos seres humanos ... Ele queria que a beleza (junto com a bondade) fosse uma “escada” para subir até Ele, “Aquele que atrai”, o ímã (Contemplando a Trindade, Raniero Cantalamessa, p. 75).
O Arcebispo Rino Fisichella, Presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, disse que “não devemos nos surpreender se ao interno do tema da nova evangelização encontra lugar a reflexão sobre a beleza. A via [da beleza] pertence de modo previlegiado à missão de anunciar o Evangelho porque é da sua mesma natureza expressar o amor com a beleza ... A beleza comunica melhor de outras formas o mistério da fé” (A Nova Evangelização, pp. 113, 115).
Dostoyevskij notoriamente disse que “a beleza salvará o mundo”, mas
imediatamente perguntou: “Que tipo de beleza”? A beleza é ambígua: “existe uma
beleza que pode salvar o mundo e uma beleza que pode levar à sua destruição”
(Cantalamessa, p. 77), uma beleza que pode atuar como um trampolim para a
liberdade levando-nos fora de nós mesmos e conduzindo-nos a uma beleza
incorruptível e em direção a uma humanidade mais profunda; existe também uma
beleza que pode seduzir e escravizar-nos e levar-nos para a degradação de nós
mesmos e dos outros. “Dostoiévski neste contexto se refere à beleza redentora
de Cristo. Devemos aprender a vê-Lo. Se nós O conhecemos não somente em
palavras, mas fomos tocados pela manifestação da sua paradoxal beleza, então
verdadeiramente O conhecemos e não somente por ter escutado falar pelos outros.
Então sim, temos encontrado a beleza da verdade, a verdade redentora!"(O
sentimento das coisas, a Contemplação da Beleza, Cardeal Ratzinger, 2002).
O Filho de Deus se encarnou para nos ensinar onde reside a verdadeira beleza. Por amor, permitiu ser despojado de toda a beleza exterior durante sua Paixão (cf. Is 53,14) e deste modo redimiu a beleza em si, revelando que existe “algo muito superior ao amor mesmo pela beleza e que é a beleza do amor” (Cantalamessa, p. 83).
É esse amor de Cristo mostrado em toda a sua plenitude na cruz que revela mais profundamente a beleza do amor que é comunhão eterna da Santíssima Trindade. É a beleza deste amor infinito de Deus que procuramos encarnar na nossa vida pessoal e comunitária, que procuramos comunicar aos outros, e isto é possível somente se permitirmos ao nosso coração de ser verdadeiramente fascinado por este amor (ou por Ele), porque somente os corações e as comunidades que são, elas próprias flamejantes, poderão inflamar os corações dos outros.
O Filho de Deus se encarnou para nos ensinar onde reside a verdadeira beleza. Por amor, permitiu ser despojado de toda a beleza exterior durante sua Paixão (cf. Is 53,14) e deste modo redimiu a beleza em si, revelando que existe “algo muito superior ao amor mesmo pela beleza e que é a beleza do amor” (Cantalamessa, p. 83).
É esse amor de Cristo mostrado em toda a sua plenitude na cruz que revela mais profundamente a beleza do amor que é comunhão eterna da Santíssima Trindade. É a beleza deste amor infinito de Deus que procuramos encarnar na nossa vida pessoal e comunitária, que procuramos comunicar aos outros, e isto é possível somente se permitirmos ao nosso coração de ser verdadeiramente fascinado por este amor (ou por Ele), porque somente os corações e as comunidades que são, elas próprias flamejantes, poderão inflamar os corações dos outros.
Esta beleza do Evangelho mantém uma qualidade paradoxal porque Cristo, divina
beleza, tornou-se um de nós, identificou- se com aquilo que parece não belo
para os padrões comuns: com os pobres, os sofredores, os perdidos, os
rejeitados, os marginalizados, os pecadores - e assim também nós somos
convidados a buscar a beleza de Deus naqueles mesmos lugares inesperados - e
permitir que a beleza do amor de Cristo se torne expressão concreta em cada
situação e em cada relação.
São Vicente foi profundamente consciente dessa verdade e procurou comunicar a beleza deste amor divino aos outros de todo modo possível, mas antes de tudo no seu ardente compromisso de procurar fazer tudo o que estava ao seu alcance para permitir que a beleza e o poder desse amor tocasse e transformasse a sua própria vida e a dos outros. Ele também era muito consciente do poder dos sinais tangíveis para chamar as pessoas mais profundamente para esta relação de amor, ordenando pinturas como o quadro de Maria, Rainha dos Apóstolos e a Mãe do Divino Amor, juntamente com a organização de festas populares, em particular a do Oitavário da Epifania, a fim de ajudar as pessoas a experimentarem de uma forma tangível e atraí-las mais profundamente a este mistério de amor.
Também nós somos convidados a segui-lo com coração de filhos neste caminho de beleza, para contemplar novamente a beleza que nos rodeia e permitir que tal beleza nos atraia para Ele, que é Ele mesmo a Beleza. Somos chamados a permitir que nossos corações sejam tocados novamente e curados pela paradoxal beleza de Cristo crucificado e ressuscitado e nos torne capazes de percebê-Lo e servi-Lo ainda hoje nos pobres e sofredores, nos marginalizados e nos desprezados com os quais Cristo se identificou tão profundamente. Somos desafiados a criar comunidade, a construir uma família que coloque raízes profundas e dê expressão concreta ao amor generoso, oblativo, novo, apaixonado e belo como reflexo da Santíssima Trindade. Somos ainda convidos a comunicar esse amor em todos os modos possíveis, fazendo uso criativo dos dons e talentos que são eles próprios reflexo da beleza e da ação de Deus em nós e no nosso mundo.
Perguntas para a reflexão pessoal e comunitária
Tomamos tempo para contemplar a beleza da criação de Deus com admiração e gratidão?
Acreditamos de verdade e profundamente que somos magnificamente criados à imagem e semelhança de Deus? Como isso inflluencia nossas atitudes em relação a nós mesmos, com os outros e com Deus na vida cotidiana?
É o nosso relacionamento com a beleza verdadeiramente humano, saudável, verdadeiramente a serviço da própria dignidade humana e daquela dos outros ou, os nossos corações precisam ser libertados do apego à beleza que nos torna escravos, àquela beleza que em última análise leva à morte em vez da vida?
A paradoxal beleza do amor de Cristo transpassa e toca ainda profundamente nossos corações ou de alguma forma precisamos recuperar a capacidade de sermos tocados profundamente e pessoalmente deste extraordinário amor?
Como somos nós incentivados a usar os nossos dons e talentos de modo criativo e generoso a fim de comunicar a beleza do amor de Cristo para os outros?
Precisam nossos corações serem purificados para podermos perceber a beleza paradoxal de Cristo nos pobres, nos sofredores, nos marginalizados e nos excluídos, para acompanhar e servir a Ele nos menores dos irmãos e irmãs?
São Vicente foi profundamente consciente dessa verdade e procurou comunicar a beleza deste amor divino aos outros de todo modo possível, mas antes de tudo no seu ardente compromisso de procurar fazer tudo o que estava ao seu alcance para permitir que a beleza e o poder desse amor tocasse e transformasse a sua própria vida e a dos outros. Ele também era muito consciente do poder dos sinais tangíveis para chamar as pessoas mais profundamente para esta relação de amor, ordenando pinturas como o quadro de Maria, Rainha dos Apóstolos e a Mãe do Divino Amor, juntamente com a organização de festas populares, em particular a do Oitavário da Epifania, a fim de ajudar as pessoas a experimentarem de uma forma tangível e atraí-las mais profundamente a este mistério de amor.
Também nós somos convidados a segui-lo com coração de filhos neste caminho de beleza, para contemplar novamente a beleza que nos rodeia e permitir que tal beleza nos atraia para Ele, que é Ele mesmo a Beleza. Somos chamados a permitir que nossos corações sejam tocados novamente e curados pela paradoxal beleza de Cristo crucificado e ressuscitado e nos torne capazes de percebê-Lo e servi-Lo ainda hoje nos pobres e sofredores, nos marginalizados e nos desprezados com os quais Cristo se identificou tão profundamente. Somos desafiados a criar comunidade, a construir uma família que coloque raízes profundas e dê expressão concreta ao amor generoso, oblativo, novo, apaixonado e belo como reflexo da Santíssima Trindade. Somos ainda convidos a comunicar esse amor em todos os modos possíveis, fazendo uso criativo dos dons e talentos que são eles próprios reflexo da beleza e da ação de Deus em nós e no nosso mundo.
Perguntas para a reflexão pessoal e comunitária
Tomamos tempo para contemplar a beleza da criação de Deus com admiração e gratidão?
Acreditamos de verdade e profundamente que somos magnificamente criados à imagem e semelhança de Deus? Como isso inflluencia nossas atitudes em relação a nós mesmos, com os outros e com Deus na vida cotidiana?
É o nosso relacionamento com a beleza verdadeiramente humano, saudável, verdadeiramente a serviço da própria dignidade humana e daquela dos outros ou, os nossos corações precisam ser libertados do apego à beleza que nos torna escravos, àquela beleza que em última análise leva à morte em vez da vida?
A paradoxal beleza do amor de Cristo transpassa e toca ainda profundamente nossos corações ou de alguma forma precisamos recuperar a capacidade de sermos tocados profundamente e pessoalmente deste extraordinário amor?
Como somos nós incentivados a usar os nossos dons e talentos de modo criativo e generoso a fim de comunicar a beleza do amor de Cristo para os outros?
Precisam nossos corações serem purificados para podermos perceber a beleza paradoxal de Cristo nos pobres, nos sofredores, nos marginalizados e nos excluídos, para acompanhar e servir a Ele nos menores dos irmãos e irmãs?
Rory Hanly SAC, Roma
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