terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Belém - dezembro de 2013

Uma visão espiritual da Casa de Nazaré

O Boltim Belém, desde a sua criação, tem a finalidade de informar os membros da SAC sobre o que acontece de importante em toda a União do Apostolado Católico, para que os trabalhos realizados cheguem ao conhecimento de todos e assim, possamos ter um espírito de perfeita união e de colaboração.
A reflexão deste mês será dedicada sobre algo que move o carisma palotino: a casa de Nazaré. Nas Regras encontramos: “todos os que fizerem parte da nossa mínima Congregação deverão observar o que segue: imaginar-se na casa de Nazaré, fazendo parte da sagrada família do Homem-Deus, e praticar a mesma humildade, dependência, simplicidade e disposição de crescer, como julga ter agido e progredido Jesus, Maria e José”. Pallotti gostava de evocar esse lugar bíblico porque percebia a ação de Deus no meio de pessoas que colaboravam com Ele e entre si e, ao mesmo tempo, estava presente a tríade que nutria a sua pedagogia.
Pallotti via a casa de Nazaré como um lugar onde as pessoas viviam unidas, aprendiam a rezar, a trabalhar, a se calar, a cumprir seus deveres para com Deus e para com os homens; lugar em que elas se dispunham a adquirir a maturidade necessária, antes de se dedicar ao ministério público, aprendendo o justo valor das coisas.
“Como na Santa Família da Casa de Nazaré, as obras da fé e da religião se sucediam às obras laboriosas de carpinteiro e às outras necessárias para vida, de maneira que estava muito distante dela a mínima ociosidade e nela resplandecia o mais perfeito cumprimento de todas as obrigações, assim, nos Santos Retiros da Congregação, deve ser para sempre banida toda e a menor ociosidade. Recordando a concórdia e a caridade perfeita que resplandeciam na Casa de Nazaré, todos serão solicitados a ultimar rapidamente as obras do próprio ofício para terem o mérito da caritativa cooperação que, com humildade e caridade, prestarão aos seus irmãos nos respectivos ofícios, segundo a ordem do Reitor. Desse modo tornar-se-ão ricos dos sumos méritos da caridade e da obediência” (OO CC II, 148-150).
Portanto, por trás da modéstia deste comportamento respeitoso dos usos e costumes de sua cultura, a Sagrada Família vivia uma realidade tão grandiosa que apenas o silêncio e a discrição poderiam assegurar, ao Lar de Nazaré, a serenidade necessária ao desenvolvimento do plano de Deus: o nascimento do Messias tão esperado pelo povo hebreu, depois de tantos séculos. Serenidade também para zelar pela infância e adolescência de Jesus, o Cristo Salvador do mundo, até que ele alcançasse sua plena maturidade de homem e pudesse iniciar sua vida pública e a pregação de seu Evangelho.
Foi efetivamente na humilde morada de Nazaré que começaram a se desenrolar, entre os membros da Sagrada Família, as primeiras páginas do Novo Testamento que o Céu, em seu Verbo, se fez carne e veio se doar aos homens, por amor e pela salvação de todos. O testemunho de Cristo e de seus pais demonstra o imenso resplendor que pode atingir uma vida familiar comum, vivenciada em Deus, na simplicidade e num grande amor compartilhado (Paulo VI).
São Lucas nos dá mais informações sobre esta parte da vida de Cristo, essencialmente no que diz respeito à sua infância: “Jesus crescia em sabedoria, estatura e em graça, diante de Deus e diante dos homens” (Lc 2, 52). Jesus viveu, pois, com Maria e José, uma infância afetuosa e submissa, marcada pela doçura, humildade e obediência.
O que se passou entre a infância de Jesus e a sua idade adulta, nós conhecemos, em parte, graças ao que conseguimos vislumbrar, indiretamente, por meio da Sagrada Escritura. Entretanto, temos maior conhecimento por meio do conjunto dos textos escritos e testemunhos da Tradição da Igreja, e por meio de seus Santos e Doutores. Por conseguinte, o que descobrimos é que, antes de se lançar pelas estradas da Galileia, para pregar, Jesus viveu, inicialmente, em Nazaré da Galileia, junto aos seus, a vida de uma família judia, piedosa e laboriosa. Filho de carpinteiro, formado por José seu pai, nosso Salvador exerceu, igualmente, durante muitos anos, esta profissão de artesão. Jesus seguiu, além disso, os costumes e preceitos da religião de Israel, frequentando a Sinagoga com os fiéis de seu tempo.
Em resumo, durante noventa por cento de sua existência, neste mundo, Cristo – Verbo de Deus, Deus mesmo e mestre do Universo! – viveu como que escondido, ao abrigo dos olhares do mundo, em santidade, na obediência filial e no trabalho de suas mãos... O Papa Paulo VI vê nesta maneira de viver reservada, no coração da Sagrada Família, uma verdadeira “escola do Evangelho”. Esta vida – absolutamente simples – da Sagrada Família, em Nazaré, não é, na verdade, uma escola de espiritualidade do viver cotidiano para cada cristão? Uma escola de vida, humilde e afetuosa, cujo Mestre não é outro senão o Próprio Deus feito homem?

Que todos nós membros da união possamos não só ter a Família de Nazaré como modelo, mas também como centro de todas as nossas motivações apostólicas.

Pe. Valdeci Antonio de Almeida, SAC
Província São Paulo Apóstolo – Brasil

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