Iniciamos mais um ano litúrgico. O advento, sendo um tempo que vai fazer memória da primeira vinda de Cristo, acaba por ser também um tempo de preparação para a sua segunda vinda na glória. A primeira leitura relembra a expectativa do povo de Israel para a primeira vinda do Senhor: “Oh se rasgásseis os céus e descêsseis! Ante a vossa face estremeceriam os montes.” (Isaías 63,19)
Nós, que já podemos testemunhar esta primeira vinda, tomamos este mesmo texto para suspirar pela sua segunda e definitiva vinda. É importante celebrar a cada ano o advento, pois com a demora da sua segunda vinda, que chegará, corremos o grande risco de deixarmos de esperar. Sobre isso comenta o Apóstolo São Pedro: “Antes de mais, ficai a saber que, nos últimos dias, hão-de vir uns impostores trocistas, que viverão segundo as suas más paixões e, troçando, vos perguntarão: «Em que fica a promessa da sua vinda? Desde que os pais morreram, tudo continua na mesma, como desde o princípio do mundo!»…. Não é que o Senhor tarde em cumprir a sua promessa, como alguns pensam, mas simplesmente usa de paciência para convosco, pois não quer que ninguém pereça, mas que todos se convertam.” (2Pedro 3,3-4. 9)
O risco é de nós acharmos que somos “senhores”, e não empregados na “casa de Deus”. Inclusive porque o Senhor conferiu autoridade aos seus servos: “É como um homem que partiu de viagem: ao deixar a sua casa, delegou a autoridade nos seus servos, atribuiu a cada um a sua tarefa e ordenou ao porteiro que vigiasse” (Marcos 13, 34) Quem nos mantém no nosso devido lugar é a presença do Espírito Santo. O Próprio São Paulo dirá: “… ninguém pode dizer: «Jesus é Senhor», senão pelo Espírito Santo.” (1 Cor 12,3) Una Igreja que espera a vinda do Senhor é aquela que diz como no Salmo de hoje: “Deus dos Exércitos, vinde de novo, olhai dos céus e vede, visitai esta vinha. Protegei a cepa que a vossa mão direita plantou, o rebento que fortalecestes para Vós.” (Salmo 79 (80), 15-16); é a Igreja e cada um de nós que diz: “Vós, porém Senhor, sois nosso Pai e nós o barro de que sois o oleiro; somos todos obra das vossas mãos” (Isaías 64,7). Queremos ser como a Igreja de Corinto que era cheia do Espírito Santo. São Paulo chegou a afirmar: “De facto, já não vos falta nenhum dom da graça, a vós que esperais a manifestação de Nosso Senhor Jesus Cristo.” (1Cor 1,6-7) Que beleza de Igreja a de Corinto! Não lhes faltava nenhum dom do Espírito Santo.
Que não ocorra connosco a loucura de achar que a “casa é nossa”, pois nos alerta o Senhor: “Feliz esse servo a quem o senhor, ao voltar, encontrar assim ocupado. Em verdade vos digo: Há-de confiar-lhe todos os seus bens. Mas, se um mau servo disser consigo mesmo: ‘O meu senhor está a demorar’, e começar a bater nos seus companheiros, a comer e a beber com os ébrios, o senhor desse servo virá no dia em que ele não o espera e à hora que ele desconhece; vai afastá-lo e dar-lhe um lugar com os hipócritas. Ali haverá choro e ranger de dentes.” (Mt 24,46-50)
Esta “casa de Deus” que deve ser bem servida e arrumada por nós, servos inúteis, com a força do Espírito Santo é antes de tudo a nossa alma, mas também as nossas famílias, a Igreja e o mundo.
Entre as funções que os servos desenvolvem, o Evangelho de hoje sublinha a do porteiro. Que faz um porteiro? Deixa entrar o dono da casa e todos os que são seus amigos ou que de alguma forma lhe prestam algum serviço e barra a entrada dos espiões, ladrões e inimigos do seu senhor. Quais seriam hoje os amigos e servos do Senhor que devemos acolher na casa de nossa alma pela porta dos sentidos; em nossa família pela porta de nossa casa; e em nossa Igreja pelo apoio e incentivo; e no mundo pela colaboração? Quais os inimigos de Nosso Senhor que devemos barrar? Neste tempo do advento, peçamos ao Senhor que nos ajude a arrumar a casa, que é Dele, com a nossa conversão.
“Estendei a mão sobre o homem que escolhestes, sobre o filho do homem que para vós criastes; e não mais nos apartaremos de vós: fazei-nos viver e invocaremos o Vosso Nome.” (Salmo 79 (80), 18-19)
Para partilhar:
1- O Senhor nos mandou vigiar. Esta vigilância é sobretudo a nós mesmos, mas também sobre as pessoas que o Senhor nos confiou. O porteiro é assim instituído para deixar entrar o dono da casa e não deixar entrar os ladrões.
Temos deixado entrar o “Dono da casa”, através da oração? Quais são os “ladrões” que os pais e educadores não devem deixar em suas casas? Ex: Todos os jogos (violência, etc…)? Todos os sites? Todos os filmes? Todas as novelas? Partilha o que tens feito e o que achas que ainda deves fazer para ser um bom porteiro.
Pe. Marcelo
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