quinta-feira, 7 de maio de 2009

FESTA DE SANTO ÂNGELO EM NOVO AIRÃO

Fui convidado para pregar na festa de Santo Ângelo em Novo Airão, AM, pelo Pe. Artur Karbowy, SAC. Ele está na paróquia somente há 2 meses, mas como ele soube que Santo Ângelo é um mártir carmelita, resolveu convidar um carmelita para pregar na festa do padroeiro de sua paróquia. Assim recebi o convite para pregar em Novo Airão no dia 5 de maio, festa de Santo Ângelo. Pe. Artur logo foi me falando: eu e o povo não sabemos nada de Santo Ângelo a não ser que ele é carmelita e que morreu mártir.Como a devoção a Santo Ângelo chegou a Novo Airão? Não se sabe o ano nem como exatamente, mas com toda certeza a resposta está nas missões carmelitas no rio Negro no século XVIII. Os documentos relatam que os carmelitas tiveram uma missão em Airão e que o padroeiro era Santo Elias. Seu nome inicial foi Santo Elias do Jaú e está situada na margem direita do rio Negro a 44 léguas de sua foz. Anteriormente havia uma aldeia na margem esquerda e se chamava aldeia de Tarumá, que tinha sido fundada por um mercedário. Posteriormente a aldeia Santo Elias do Jaú recebeu o nome de Airão. A reformas pombalinas provocaram a ruína da maioria das missões. Com Airão não foi diferente. Houve época em que só tinha uma família morando ali. Provavelmente foi um missionário carmelita do Airão quem fundou uma missão ou construiu uma capela onde está o Novo Airão dedicada a Santo Ângelo. Havia outra aldeia dedicada a Santo Ângelo, que ficava em Cumaru (Poiares). Foi fundada antes de 1720 por Frei Braz de Santa Teresa. Estava situada na margem direita do rio Negro em Poiares a 17 léguas de Aracari (Carvoeiro) e 7 de Mariuá (Barcelos). Ainda não descobri se ainda existe algo desta missão.
Atualmente Novo Airão tem em torno de 15 mil habitantes, dos quais 10 mil moram na cidade. A paróquia é atendida pelos padres palotinos desde 1973, ou seja, desde que o Pe. José Maslanka chegou ali. Ele é polonês, está com 75 e em agosto completará 50 anos de ordenação sacerdotal. Quando ele chegou em Novo Airão, o lugarzinho só tinha 490 habitantes. Conta-se havia uma maldição de um padre no sentido de que o lugar nunca iria pra frente. O padre jogou a praga porque alguns homens o prenderam num galinheiro e o deixaram ali por toda uma noite. O Pe. José, quando chegou em 1973 e escutou a história, tratou logo de dar uma bênção para neutralizar a maldição. Parece que funcionou, visto que hoje a cidade tem 20 vezes mais habitantes em relação àquela época.
A sede do município foi transferida do Velho Airão, como é conhecido hoje, para Novo Airão. É ali que se encontram os famosos botos cor-de-rosa, tornados conhecidos por Jacques Custeau quando realizou pesquisas na Amazônia.
A Paróquia Santo Ângelo de Novo Airão é a maior paróquia em extensão territorial da Arquidiocese de Manaus (37.000 km2). A igreja é nova. A velha igreja de madeira foi demolida, porque estava em perigo de cair. Há 54 comunidades na paróquia, das quais 2 têm Santo Elias como padroeiro (uma é Velho Airão) e outra que tem Santo Alberto como padroeiro (a do Km 53). Pe. José fundou nas comunidades ao longo do rio Negro 22 escolinhas. Estas atualmente estão sob a responsabilidade da prefeitura.
Mesmo sem a presença de um carmelita por mais de 200 anos, a devoção a Santo Ângelo permanece até hoje. O que o povo sabia sobre o seu padroeiro era que ele era carmelita e mártir. Sem dúvidas o fato de se ter uma imagem grande contribuiu para a permanência a devoção. Segundo se conta a imagem tem mais de 300 anos. Pode até ser, porque em 1702 os carmelitas já estavam no Airão. Provavelmente a imagem foi trazida de Portugal. O Pe. José conta que, quando chegou em Novo Airão, havia alguns que queriam mudar de padroeiro. Queriam colocar Santo Elias. Isto porque tinham suas raízes no Airão Velho. Pe. José disse: “Deve-se respeitar o padroeiro, se aqui Santo Ângelo é o padroeiro, ele deve continuar como tal”. Por isso a paróquia ao ser criada foi dedicada a Santo Ângelo e tornou-se a primeira e única Paróquia Santo Ângelo no Brasil.
Na festa deste ano houve procissão pela cidade, que durou quase uma hora. Depois a missa solene presidida por mim e concelebrada pelos padres Artur e José. Evidentemente que falei sobre Santo Ângelo. Dei alguns dados biográficos e frisei aspectos de suas virtudes como homem de oração, penitência e sobretudo como pregador e cumpridor das missões que recebeu. Ao terminar a missa o povo prestou sua homenagem, beijando a imagem ou as fitas que estavam ligadas à imagem. Há um hino de Santo Ângelo. Neste, na 4ª estrofe, cantam como se Santo Ângelo passou pela Amazônia: “De amansar tribos bravias, – Vencestes vossa missão, – Pregando o Evangelho – No meio da multidão”. Outra coisa que me chamou a atenção foi ver 2 mastros em frente da igreja com frutas e no alto uma bandeira com Santo Ângelo.
Foi uma boa experiência e quero voltar lá mais vezes.
Frei Wilmar Santin, O.Carm.

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