A espiritualidade sacerdotal segundo Vicente Pallotti
O Secretariado Geral para a Formação retoma novamente as reflexões mensais de “Belém”. Para estarmos em sintonia com as orientações da Igreja, queremos recordar que, no dia 16 de junho passado, o Papa Bento XVI convocou todos os sacerdotes para a celebração do ano sacerdotal, por ocasião do sesquicentenário (150 anos) do aniversário da morte de São João Maria Vianey, padroeiro de todos os párocos do mundo. O Papa, na sua carta de abertura, indicou a finalidade desta iniciativa: “... promover o esforço e renovação interior de todos os sacerdotes, para que sejam mais fortes e incisivos no testemunho evangélico no mundo de hoje”, recordando-nos que o Santo Cura D’Ars dizia: “O sacerdócio é o amor do coração de Jesus”. Seguramente, este Ano Sacerdotal nos proporcionará uma ampla oportunidade para refletirmos sobre os temas propostos pela Igreja. Queremos assinalar alguns aspectos e perspectivas palotinas, que nascem da espiritualidade sacerdotal, tanto na vida como nos escritos de nosso Fundador. 1. O primeiro aspecto a ser notado é que Pe. Vicente procurava bons modelos para a sua vida sacerdotal e se deixava inspirar por eles. Assim desenvolveu-se a sua visão consciente do sacerdócio. Podemos sublinhar as influências que recebera de alguns padres do seu tempo, como Pe. Fazzini, seu diretor espiritual durante muitos anos. Ele também tinha o costume de ler os escritos daqueles que considerava “santos sacerdotes”. A primeira figura que emerge é a de São Felipe Neri. As suas “conferências sobre o Espírito Santo” e a sua incansável dedicação no confessionário inspiraram o jovem Padre Vicente no guiar das almas ao caminho da santidade; além disso, Pallotti o chamava de “Apóstolo de Roma”, pelo seu trabalho eclesial cotidiano.
Pallotti se deixou influenciar também, espiritualmente, por São Francisco de Sales. Referia-se aos seus ensinamentos sobre a oração, e sobre a devoção religiosa cotidiana; citava alguns dos seus conselhos sobre o ministério da reconciliação, por exemplo. O sacerdote, ao tratar das enfermidades da alma, deve ter a prudência de um médico.
2. O segundo aspecto é a sua insistência a fim de que o sacerdote, e aquele que aspira a sê-lo, tenha “...bem radicado o espírito de perfeito sacrifício no coração... e que ninguém tenha a coragem de entrar neste tipo de vida sem que tenha ao menos, a disposição para adquirir o perfeito espírito de sacrifício” (OOCC II, 547). Pe. Vicente ficava profundamente comovido pelo fato de Jesus ter entrado no mundo para trazer a salvação com um espírito de perfeito sacrifício, pela sua humilhação ao fazer-se homem, não por vontade própria, mas para a glória do Pai, e pela salvação das almas. O sacerdote, e aquele que deseja sê-lo, deveria imitá-Lo com prontidão para viver com este espírito de sacrifício, com a atitude de mostrar-se morto ao mundo e a si mesmo, com aquela disposição espiritual que levou São Paulo a afirmar: “...não sou mais eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20). Pe. Vicente dizia que o sacerdote é chamado a uma estreita identificação com Jesus. Deve interiorizar suas disposições até torná-la própria; disposições que se evidenciam só em uma vida em total comunhão com Ele, em um serviço desinteressado e generoso na pastoral e no apostolado.
3. “Ser santo para poder guiar outros no caminho da santidade” é uma síntese aproximada de quanto Pe. Vicente prescreve nas “Regras para os Seminários” (OOCC II, 257-272). Ele afirma que o sacerdote é chamado a ser “luz do mundo e sal da terra”, para “verdadeiramente santificar as pessoas”; e insiste em tal aspecto, declarando: “para aquela suma necessidade de uma santidade radicada nos sacerdotes se requer que quando um chega a ser sacerdote, deve ser santo”. Que desafio! Que responsabilidade! O sacerdote deve ser um santo! E se esta é a vocação do sacerdote, ele deduz que o seminarista “...tem a necessidade de ter uma formação no seminário que o leve a uma santidade vivenciada ...com todas as regras da vida espiritual” (OOCC II, 262). Por isso, ele encoraja o seminarista e o sacerdote para que abracem a vida de santidade, para poderem acompanhar e guiar outros no mesmo caminho.
1. O aspecto da colaboração mútua na Igreja. Uma das intuições mais acuradas de São Vicente Pallotti foi o da colaboração na Igreja. A cooperação esteve sempre no centro da missão da Igreja no mundo, e encontra seu exemplo e modelo na pessoa de Jesus Cristo, que queria formar os seus discípulos e apóstolos na comunhão com Deus e também entre si. Pe. Vicente tinha plena consciência das inúmeras forças que trabalham contra a colaboração e que procuram, a qualquer custo, dividir as pessoas e também fragilizar o impacto da mensagem evangélica. Ele estava convencido de que cada cristão recebe dons do Espírito Santo para contribuir com a vida e a missão da Igreja. Segundo Pallotti, o homem prático e rico de experiência, para atingir o desejo de Jesus de formar “um só rebanho sob um só pastor”, precisa unir todas as forças. Por outro lado, estava também convencido de que existe uma contínua e perfeita cooperação no seio da Santíssima Trindade. Por isso, a forma da sua Pia União do Apostolado Católico é a agregação de pessoas de todos os estados de vida e de todas as classes sociais, para que juntos participem da mesma missão confiada à Igreja de Jesus. Ele assim exprime: qualquer um que queira seguir seriamente o caminho espiritual proposto por Ele deve ter: “...o mais vivo, generoso e perfeito desejo de cooperar em tudo, sempre para a maior glória de Deus e a salvação das almas, a fim de que não falte em ninguém o desejo, segundo o espírito da Lei da nossa Congregação, de se fazer uso dos meios oportunos, a fim de que todos os LEIGOS, CLÉRIGOS E SACERDOTES, sejam vivos, generosos e perfeitos de desejos pela maior glória de Deus e a salvação das almas” (OOCC VII, 20).
O Papa João Paulo II, na ocasião da sua visita no Centro de Espiritualidade, na Igreja de San Salvatore in Onda, enfatizou este aspecto de São Vicente Pallotti, dizendo: “Quando o vosso fundador fala de apostolado e da sua obra, repete frequentemente as expressões: ‘reunir’, ‘unir’, ‘congregar’, ‘cooperar’. Ele compreendeu quanto os sacerdotes, leigos, religiosos e seculares devem estar unidos no apostolado, para servir eficazmente a Igreja”.
Estes quatro aspectos, que fazem parte do nosso patrimônio espiritual e constituem a nossa identidade, nos estimulam a viver este “Ano Sacerdotal”, com um espírito renovado na escola do Santo Cura D’Ars e do nosso Santo Fundador, sacerdote, apóstolo, discípulo, servo da Igreja e homem carismático.
(Da tese doutoral de Pe. Reginald Temu, SAC, “St. Vincent Pallotti’s spirituality of the priesthood and its impact on cooperation with the laity”).
Nenhum comentário:
Postar um comentário