No Evangelho de Hoje vemos Nosso Senhor tomando um surdo-mudo à parte da multidão para curá-lo. Não é, de forma alguma, a única vez que Jesus mostrou o seu amor pessoal por cada um. Recordamos por exemplo o Caso de Zaqueu: “Zaqueu, desce depressa, pois hoje tenho de ficar em tua casa.» (Lc 19,5) Também Mateus o publicano: “Partindo dali, Jesus viu um homem chamado Mateus, sentado no posto de cobrança, e disse-lhe: «Segue-me!»”
O caso de Natanael: Filipe, cheio de entusiasmo foi comunicar-lhe que tinha encontrado o Messias: “Encontrámos aquele sobre quem escreveram Moisés, na Lei, e os Profetas: Jesus, filho de José de Nazaré.» Então disse-lhe Natanael: «De Nazaré pode vir alguma coisa boa?» Filipe respondeu-lhe: «Vem e verás!» Jesus viu Natanael, que vinha ao seu encontro, e disse dele: «Aí vem um verdadeiro israelita, em quem não há fingimento.» Disse-lhe Natanael: «Donde me conheces?» Respondeu-lhe Jesus: «Antes de Filipe te chamar, Eu vi-te quando estavas debaixo da figueira!» (Jo 1,45-48)
Também no caso de Maria Madalena: Ela permaneceu a chorar enquanto Jesus lhe tratou pelo designativo genérico de “mulher”. Porém quando pronunciou o seu nome, ela logo se transformou: “Disse-lhe Jesus: «Maria!» Ela, aproximando-se, exclamou em hebraico: «Rabbuni!» - que quer dizer: «Mestre!» (Jo 20,16)
Isso sem falar da parábola da ovelha perdida em que aparece a matemática desconcertante do amor de Deus: 1 =99. “E, se chegar a encontrá-la, em verdade vos digo: alegra-se mais com ela do que com as noventa e nove que não se tresmalharam.” (Mt 18,13)
Vemos assim o amor pessoal de Jesus por cada um de nós. Nesse contexto entendemos a censura que São Tiago faz a respeito de uma discriminação injusta que se fazia na comunidade a que ele se dirigia, pois para Deus o valor da pessoa humana não está nas suas posses, mas no valor que a pessoa leva em si mesma: “Ouvi, meus amados irmãos: porventura não escolheu Deus os pobres segundo o mundo para serem ricos na fé e herdeiros do reino que prometeu aos que o amam?” (Tg 2,5)
Estamos a Quilómetros de distância do conceito que o comunismo fez da pessoa humana, pois para este, a pessoa não tem valor em si mesma, mas enquanto membro de uma colectividade. “De facto, ele considera cada homem simplesmente como um elemento e uma molécula do organismo social, de tal modo que o bem do indivíduo aparece totalmente subordinado ao funcionamento do mecanismo económico-social, enquanto, por outro lado, defende que esse mesmo bem se pode realizar prescindindo da livre opção, da sua única e exclusiva decisão responsável em face do bem e do mal.” (João Paulo II) Isto que João Paulo II diz não se parece com algumas políticas educacionais a que temos nos referido ultimamente? A história recente mostrou como este colectivismo ideológico causou a morte de milhões de pessoas. Este conceito de pessoa do cristianismo está também muito longe do individualismo do capitalismo selvagem, onde o que importa é o indivíduo, não interessando que isso redunde no empobrecimento e exploração dos outros.
Desde que o Verbo Divino se fez homem e habitou entre nós ele se uniu de certo modo a cada pessoa humana. Daí a sua dignidade; Daí a sua liberdade e responsabilidade pessoal em prol do Reino de Deus. É por isso que, por exemplo, os missionários palotinos na Amazónia enchem o depósito (cerca de quatrocentos litros) de gasóleo (Dísel) do seu barco e sobem centenas de quilómetros no rio Amazonas às vezes dois dias de viagem para chegar a uma aldeia com poucas dezenas de pessoas e ali evangelizar, baptizar, casar, celebrar a Eucaristia (sem espórtula) e voltar. Isso porque nas contas de Jesus, noventa e nove é igual a um. É por isso que a Igreja insiste na importância da confissão individual e só destina a confissão comunitária a casos de extrema necessidade. Todos nós temos o direito de nos sentir amados pessoalmente por Deus, pois foi isso que Jesus nos mostrou. Quanto mais nos sentirmos pessoalmente amados por Deus em sua Misericórdia, tanto mais trataremos os outros como também pessoa e não como massa humana. Senhor Jesus, que o Espírito Santo nos convença desse amor infinito e pessoal que tendes por nós. Que o Vosso Espírito grave de uma vez por todas em nossos corações a vossa Palavra: “«Nada temas, porque Eu te resgatei, e te chamei pelo teu nome; tu és meu.” (Is 43,1)
Pe. Marcelo
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