Olhando para a realidade das nossas comunidades, no decorrer deste ano sacerdotal, duas coisas saltam aos olhos: é preciso rogar ao Senhor da messe que envie operários para a sua messe (Cf. Mt 9,38); ao mesmo tempo, cada vez mais temos de tomar consciência que somos um povo sacerdotal no qual Nosso Senhor quer derramar com abundância os seus dons para a missão.
O contexto que antecede a primeira leitura ilustra-o de forma clara: Trata-se de Moisés desde a manhã até a noite sozinho, sobrecarregado em julgar as questões do povo. Seu sogro Jetro observava aquela situação. Assim, com sabedoria, deu-lhe um conselho: “«Não está bem aquilo que estás a fazer….Agora, escuta a minha voz; vou dar-te um conselho, e que Deus esteja contigo! Tu estarás em nome do povo em frente de Deus, e tu próprio levarás as causas a Deus. Adverti-los-ás dos preceitos e das instruções e dar-lhes-ás a conhecer o caminho que devem seguir e as obras que devem praticar. Escolhe tu mesmo entre todo o povo homens capazes, tementes a Deus, homens íntegros, que odeiem o lucro ilícito, e estabelecê-los-ás como chefes de mil, chefes de cem, chefes de cinquenta e chefes de dez…. Toda a questão que seja grande, eles a apresentarão a ti, mas toda a questão menor, julgá-la-ão eles mesmos. …Se fizeres desta maneira, e se Deus to ordenar, tu poderás permanecer de pé, e também todo este povo entrará em paz nas suas casas.»” (Exodo 18,17-24) Na leitura que ouvimos, vemos como este conselho foi imensamente agradável a Deus e como Nosso Senhor queria derramar os seus dons para o serviço do povo: até mesmo duas pessoas que tinham os seus nomes na lista dos setenta e que não estavam presentes, começaram a profetizar no acampamento. Ao ciúme demonstrado por Josué, Moisés retruca: “«Tens ciúmes por mim? Quem dera que todo o povo do Senhor profetizasse, que o Senhor enviasse o seu espírito sobre ele!” (Num 11,29) Este desejo de Moisés foi cumprido por Nosso Senhor no Novo Testamento. No dia de Pentecostes São Pedro explicando o que tinha acontecido àqueles homens e mulheres (também fiéis leigos, portanto) disse: “Não, estes homens não estão embriagados como imaginais, pois apenas vamos na terceira hora do dia.6Mas tudo isto é a realização do que disse o profeta Joel: ‘Nos últimos dias, diz o Senhor, derramarei o meu Espírito sobre toda a criatura. Os vossos filhos e as vossas filhas hão-de profetizar…;” (Actos 2,15-17) Sobre esta complementaridade do sacerdócio comum dos fiéis leigos e dos presbíteros, diz João Paulo II: …”através dele(sacramento da ordem), é outorgado aos presbíteros, por Cristo no Espírito, um dom particular para que possam ajudar o Povo de Deus a exercitar com fidelidade e plenitude o sacerdócio comum que lhes é conferido.” (Pastores dabo vobis 17)
O mundo precisa de muitos sacerdotes que ofereçam a Deus a própria vida, de reis com Cristo que atraiam o Reino de Deus aos diversos ambientes, e de profetas. São Tiago profetizou na segunda leitura. Denunciou a realidade injusta dos ricos que queriam acumular e para isso fraudavam o salário dos seus empregados. No sentido mais popular de profecia, inclusive prevê o futuro: diz que se continuarem a viver assim terão como quinhão a condenação eterna.
O Evangelho vem confirmar: “Haviam muitos “demónios” para serem expulsos no tempo de Jesus. Não bastavam os Apóstolos para fazê-lo. Um desses “demónios” Jesus cita logo abaixo: o escândalo dos pequeninos. Depois de ter dito na semana passada: “«Quem receber um destes meninos em meu nome é a mim que recebe; e quem me receber, não me recebe a mim mas àquele que me enviou.” (Mc 9,37); hoje apresenta o reverso da moeda: “«E se alguém escandalizar um destes pequeninos que crêem em mim, melhor seria para ele atarem-lhe ao pescoço uma dessas mós que são giradas pelos jumentos, e lançarem-no ao mar.” (Mc 9,42) Será que, por exemplo, muitos programas de TV, e algumas modas, não deveriam ser jogados no fundo do mar com uma pedra de moinho? O que Jesus diz a seguir afirma que sim: “E se um dos teus olhos é para ti ocasião de queda, arranca-o; mais vale entrares com um só no Reino de Deus, do que, com os dois olhos, seres lançado à Geena, onde o verme não morre e o fogo não se apaga.” (Mc 9,43-48) Para expulsar esses “demónios”, e tantos outros, Jesus não pode contar apenas com os Apóstolos (ordenados), mas com todo o povo sacerdotal, profético e régio dos baptizados. Vamos exercer o nosso Sacerdócio comum e se for o caso, também ordenado? Claro que sim. Senhor Dá-nos a Sua coragem, pois queremos ser construtores da paz onde nós vivemos. Rainha dos Apóstolos, Rogai por nós. Amém.
Para as células de Evangelização:
Quando em tua vida pudeste perceber que exercias o teu sacerdócio comum dos fiéis leigos na obra da evangelização? Sentistes alegria com isso? Em que circunstância percebeste que o padre, naquele momento, agia “im persona Christi”, ou seja na Pessoa de Cristo, como instrumento da Divina Misericórdia para si?
Pe. Marcelo
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