Santo Hilário nos explica o porque desta insistência de Nosso Senhor em ser Baptizado: “O Filho está no Pai porque tem a mesma Natureza do Pai. Nós estamos no Filho pela natureza humana que ele uniu a si na Pessoa do Verbo Encarnado; Ele está em nós por meio do Sacramento.” Em Cristo, éramos nós que estávamos sendo baptizados, pois nós estávamos em Jesus pela natureza humana recebida no seio da Virgem Maria. Nesta união de Deus com o ser humano através de Jesus Cristo é que consiste a verdadeira religião. Esta unidade querida por Deus já era prevista pelos profetas no Antigo Testamento e é tão profunda que foi comparada com a unidade matrimonial. Na primeira leitura de hoje vemos esta imagem: “Não serás mais chamada a «Desamparada», nem a tua terra será chamada a «Deserta»; antes, serás chamada: «Minha Dilecta», e a tua terra a «Desposada», porque o Senhor elegeu-te como preferida, e a tua terra receberá um esposo. Assim como um jovem se casa com uma jovem, também te desposa aquele que te reconstrói. Assim como a esposa é a alegria do seu marido, assim tu serás a alegria do teu Deus.” (Is 62,4-5)
Assim como o matrimónio faz dos esposos uma só carne, também Deus Nosso Senhor quis unir em Cristo, de forma fiel e indissolúvel a divindade e a humanidade. Esta unidade connosco em Jesus Cristo é tão clara e necessária que o Apóstolo São Pedro afirmou categoricamente: “E não há salvação em nenhum outro, pois não há debaixo do céu qualquer outro nome, dado aos homens, que nos possa salvar.” (Actos 4,12) O próprio Senhor Jesus ordenou que a Santa Igreja propagasse esta Boa Nova: “E disse-lhes: “Ide pelo mundo inteiro, proclamai o Evangelho a toda a criatura. Quem acreditar e for baptizado será salvo; mas, quem não acreditar será condenado.”(Mc 16,15-16) Todos os povos pagãos têm o direito de ouvir esta Boa Nova: que a verdadeira religião consiste da unidade da humanidade com a Divindade em Jesus Cristo.
Para haver uma evangelização eficaz, como descoberta dos Magos do Oriente, que eram de povos pagãos, não judeus, são necessárias duas realidades: A Palavra da Sagrada Escritura, como por exemplo a que os Magos ouviram em Jerusalém: “E tu, Belém, terra de Judá, de modo nenhum és a menor entre as principais cidades da Judeia; porque de ti vai sair o Príncipe que há-de apascentar o meu povo de Israel.» (Mt 2,6); e os sinais (no caso dos Magos, a estrela). Também para a evangelização de todos os tempos, é necessários que a Palavra seja acompanhada de sinais. São Paulo dizia: “Os sinais distintivos do Apóstolo realizaram-se entre vós, por uma paciência a toda a prova, por sinais, milagres e prodígios.” (2 Cor 12,12) São Paulo na segunda leitura de hoje enumera um elenco destes sinais que o Espírito Santo continuamente realiza na Igreja como mostra de sua presença salvadora que deve acompanhar a pregação da Palavra de Deus. Esta lista não é completa, pois os carismas são muitos e variados. São os citados: Palavra de Sabedoria: quantas vezes, em uma direcção espiritual, recebemos de um sacerdote ou de um irmão na fé, o direccionamento correcto para tomarmos uma decisão acertada?; Palavra de ciência: quantos de nós já testemunharam uma palavra dita por um irmão que revela o que Nosso Senhor está a operar para a cura e a libertação do seu povo? Recordo, em uma Santa Missa, no momento de acção de graças que uma pessoa dizia que Nosso Senhor estava a conceder a uma pessoa ali a cura de insômia. Um mês depois, a graça foi testemunhada, pois a pessoa em questão há anos dormia bem apenas umas duas ou três noites por mês e naquele mês tinha sido o contrário: apenas não tinha dormido duas ou três; “a fé, em uinião com o mesmo Espírito”: aqui não se trata de uma fé simplesmente conceitual, em verdades de fé. Trata-se de uma fé carismática que espera que Deus aja mediante a oração de seu povo. Nossa Senhora tinha uma fé assim. Quando ela observa e comenta com seu Filho: “Não têm mais vinho”, o que ela esperava a não ser um milagre? Nossa Senhora acreditava em milagres. Aliais, a sua vida e a sua maternidade virginal eram um contínuo milagre. São Paulo cita ainda o dom de curas, o poder de fazer milagres, de profetizar, de avaliar dons espirituais, o dom de fala diversas línguas e o dom de traduzir estas línguas.” (Cf. 1 Cor 12,4-11) Esta lista, porém, não esgota os carismas que o Espírito Santo concede à sua Igreja. Por exemplo, quem não admira o carisma maravilhoso que recebeu do Senhor a Doutora Zilda Arns, que teve nesta tragédia que se abateu sobre o Haiti, uma morte tão gloriosa quanto o foi a sua vida de caridade. Ela que fundou uma pastoral que reduz a desnutrição infantil em milhares de cidades do Brasil e do mundo, faleceu justamente no contexto de uma palestra sobre desnutrição infantil e sua solução num dos países mais pobres do mundo e assolada com o paganismo “vudu”. Com sua vida e sua morte, honrou não somente a sua família, que já tinha um irmão seu Cardeal (Dom Paulo Arns), mas também toda a Igreja Católica no Brasil e no mundo. Sua vida de caridade foi um sinal contínuo que acompanhou e honrou a Palavra de Deus. Não duvido que será aberto o processo de sua beatificação.
Finalmente, o novo Adão Jesus e a Nova Eva, Nossa Senhora são um exemplo para todos os casais. Quantos casais seriam mais felizes e estáveis se a exemplo de nossa Senhora, não quisessem tanto fazer valer a própria vontade, mas antes de tudo a vontade e os mandamentos de Deus e os interesses dos outros. Eis o desafio que o Senhor nos lança ajudados pela força do Seu Santo Espírito e a poderosa intercessão daquela que é a Rainha dos Apóstolos, Nossa Senhora. Que ela nos ajude a celebrar agora a Eucaristia, que renova em nós esta unidade querida pelo Senhor.
No Blog abaixo vem, na íntegra a última palestra da vida de Dona Zilda Arns, que na minha humilde opinião pode ser a primeira página do seu processo de beatificação:http://antiforodesaopaulo.blogspot.com/2010/01/integra-da-ultima-palestra-de-zilda.html
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