Na liturgia da Santa Igreja durante esta semana, vemos Nosso Senhor Jesus Cristo por duas vezes procurando a montanha: uma vez sozinho, quando mandou os discípulos atravessarem o Mar da Galileia e logo depois, tendo despedido a multidão, subiu ao monte para ficar à sós com o Seu Pai Celeste (evangelho de hoje); uma outra vez Ele fez- se acompanhar por três de seus discípulos no monte da transfiguração.
Sempre que Jesus subia à Montanha, quando descia, o Pai realizava bênção, cura e libertação por meio Dele. O que geralmente aguardava Jesus quando descia? Um mar revolto para acalmar (Mt 14,32), um leproso para sarar (Mt 8,2 ss.), um jovem possesso para libertar (Mt 17,18) , etc… Ou seja, Jesus trazia o Céu para o “Baixo”. Jesus descia por condescendência, mas ele mesmo dizia: “Vós sois cá de baixo; Eu sou lá de cima! Vós sois deste mundo; Eu não sou deste mundo.” (Jo 8,22-23) Não nos admiremos portanto, que ele procurasse o lugar simbólico da montanha para encontrar-se com o Pai.
Além disso, Ele também chamou os seus para o “alto”: “Jesus subiu depois a um monte, chamou os que Ele queria e foram ter com Ele.” (Mc 3,13) Aprendeu muito bem isso o Apóstolo São João: “Não ameis o mundo nem o que há no mundo. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Pois tudo o que há no mundo - a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e o estilo de vida orgulhoso - não vem do Pai, mas sim do mundo. Ora, o mundo passa e também as suas concupiscências, mas quem faz a vontade de Deus permanece para sempre.” (1 Jo 2,15-17) Por isso São Paulo na carta aos Colossenses, chama os cristãos a buscarem as coisas do alto: “Portanto, já que fostes ressuscitados com Cristo, procurai as coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus. Aspirai às coisas do alto e não às coisas da terra. Vós morrestes e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, a vossa vida, se manifestar, então também vós vos manifestareis com Ele em glória.” (Cl 3,1-4)
Sobre esta nossa vida, Jesus dizia: “Anunciei-vos estas coisas para que, em mim, tenhais a paz. No mundo, tereis tribulações; mas, tende confiança: Eu já venci o mundo!”
O Mar, na Bíblia, é o símbolo desta nossa vida. O mar é uma figura ambígua. Dele, podemos tirar muitas coisas boas. Vários dos Apóstolos eram pescadores. No entanto é também local perigoso. Pode-se perder a vida no mar, durante as tempestades e não só. Mas interessante é que, no Evangelho de hoje, Jesus “ordena” aos Apóstolos atravessar este mar, e mais do que isso, aparentemente sem Jesus, sem a sua presença visível. São obrigados a enfrentar ventos contrários. Também nós enfrentamos tantos ventos contrários nas crises familiares, financeiras, dificuldades de relacionamentos, … No entanto, do “alto da montanha” Jesus acompanhava-os com o seu olhar e a sua intercessão e também nos acompanha a nós. Mais ainda, não se contenta em ir ter com as discípulos só do outro lado do mar, símbolo da nossa travessia por este mundo e entrada na vida Eterna, mas vem ter connosco durante a travessia. Não vem como um fantasma, como os Apóstolos pensavam, cheios de medo, mas com seu corpo, sangue, alma e divindade. Jesus teve de lhes dizer: “«Tranquilizai-vos! Sou Eu! Não temais”. Quando o Senhor entra no barco, a tempestade cessa. Também Elias na primeira leitura percebeu esta manifestação de Deus na brisa suave e não na tempestade. Temos consciência desta concretude da presença de Cristo connosco já agora, através do Mistério Eucarístico?
Pe. Marcelo
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