sábado, 27 de agosto de 2011

GLORIFICAI, POIS, A DEUS NO VOSSO CORPO


Nas leituras de hoje, vemos que a presença de Deus em nós não é algo etéreo, mas encarnado, enraizado em todo o nosso ser. O Profeta, na primeira leitura exclama: “Mas, no meu coração, a sua palavra era um fogo devorador, encerrado nos meus ossos. Esforçava-me por contê-lo, mas não podia.” (Jer 20,9)
No Salmo responsorial, essa realidade se repete quando o salmista diz: “A minha alma tem sede de vós; todo o meu ser anela por vós, como terra árida, exausta e sem água.” (Salmo 62,2) E ainda: “Quero bendizer-vos toda a minha vida e em vosso louvor levantar as minhas mãos.”(Sl 62,5) Ou seja, todo o nosso ser por Deus anseia e o louvamos não somente com a alma mas também, de certa forma, com o nosso corpo. O mesmo nos diz São Paulo na segunda leitura. Ele que não gostava de uma espiritualidade aérea: Dizia que o culto “espiritual” que Deus deseja e se compraz é que o cristão ofereça-lhe o seu corpo: “Por isso, vos exorto, irmãos, pela misericórdia de Deus, a que ofereçais os vossos corpos como sacrifício vivo, santo, agradável a Deus. Seja este o vosso verdadeiro culto, o espiritual. Não vos acomodeis a este mundo.” (Rm 12, 1-2) Jesus no Evangelho diz que oferecerá o seu corpo como sacrifício de Amor e expiação pela salvação do mundo e chamou de Satanás àquele que queria dissuadir-lhe a não fazê-lo, mesmo este se tratando do primeiro Papa, o Apóstolo Pedro.
Se lermos o Evangelho logo em seguida, veremos a razão disto. Depois de dizer que quem quisesse segui-lo renunciasse a si mesmo, tomasse a sua cruz e o seguisse, disse o Senhor: “Porque o Filho do Homem há-de vir na glória de seu Pai, com os seus anjos, e então retribuirá a cada um conforme o seu procedimento. Em verdade vos digo: alguns dos que estão aqui presentes não hão-de experimentar a morte, antes de terem visto chegar o Filho do Homem com o seu Reino.” (Mt 16,27-28) A passagem que se segue a esta afirmação é o cumprimento desta promessa do Senhor, quando Ele chama Pedro, Tiago e João e sobe com eles o monte Tabor e mostra a glória que deve encher não somente a nossa alma mas também os nossos corpos. Sim, a glória e a alegria está reservada não somente às almas mas também aos corpos na ressurreição. Como o ferro colocado no fogo, vai adquirindo características do fogo, ou seja ficando incandescente e até luminoso, assim também os nossos corpos, inflamados, perpassados com a presença do Espírito Santo, são destinados a gozar por toda a eternidade de uma alegria indizível que o será de todo o nosso ser: espírito, alma e corpo. Assim como Jesus que repreendeu Pedro por ele querer impedi-lo de expressar o seu Amor Infinito e Redentor por nós com a oblação do seu corpo na Cruz, também não há como alguém amar verdadeiramente a Jesus se não faz uma oblação do seu corpo a Deus como um sacrifício vivo. Em Jesus, esse sacrifício foi cruento (com derramamento do sangue) e o levou à morte e ressurreição. Em nós, como diz São Paulo, é um “sacrifício vivo”. Mais adiante, na Carta aos Coríntios São Paulo vai explicar melhor: “Fugi da impureza. Qualquer outro pecado que o homem cometa é exterior ao seu corpo, mas quem se entrega à impureza, peca contra o próprio corpo. Não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, porque o recebestes de Deus, e que vós já não vos pertenceis? Fostes comprados por um alto preço! Glorificai, pois, a Deus no vosso corpo.” (1 Cor 6,18-20)
As músicas cantadas nas festas populares, por ai, dizem, em suas letras, justamente o contrário do que diz São Paulo. Será que a promoção destas músicas é algo indiferente? Quando de minha escola secundária, tínhamos um grupo de oração jovem que chamava-se “Ressurreição”. Sua reunião era no sábado à tardinha. Logo, após o grupo já era noite; nós nos juntávamos e não deixávamos de ir aos “Points” em que os jovens da cidade costumavam se reunir, tanto nas ruas onde tinham as lanchonetes quanto nas festinhas. Porém marcávamos uma presença diferente e não acrítica das letras das músicas que nos eram propostas. Quando se tocava uma música da qual não concordávamos com a sua letra, simplesmente parávamos de dançar e nos sentávamos para conversar. Não queríamos “dançar conforme aquela música”. Também o desporto, feiro de modo equilibrado e de acordo com as obrigações de cada um é um modo de cuidar desse “templo”. Também o que diz São Paulo sobre o vestir deveria fazer muita gente pensar, principalmente no que se refere à Santa Missa, casamentos e baptizados: “Do mesmo modo, as mulheres usem trajes decentes, adornem-se com pudor e modéstia… (1 Tm 2,9)”. A Eucaristia que hoje recebemos nos garante essa grande dignidade: “Não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, porque o recebestes de Deus, e que vós já não vos pertenceis? Fostes comprados por um alto preço! Glorificai, pois, a Deus no vosso corpo.” (1 Cor 6,19-20)
Pe. Marcelo

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