O
ANO DA FÉ, O SÍNODO DOS BISPOS SOBRE A NOVA EVANGELIZAÇÃO E O 500 ANIVERSÁRIO
DA CANONIZAÇÃO DE SÃO VICENTE PALLOTTI
Receber o convite para preparar uma reflexão
que inclui temas importantes para nossa Família Palotina é como ser convidada a
mergulhar no oceano. Quantos temas, argumentos importantes e desafios que
verdadeiramente nos esperam. Tenho medo das muitas palavras, pois temos sempre
menos tempo para escutar o outro e menos ainda para ler o que o outro
escreveu.
Sei que a minha primeira atitude é colocar-me
aos pés do Mestre Jesus a quem proclamo o meu único Senhor. Preciso da coragem para
confiar-me a Ele e desejo também, confiar todos vocês ao seu amor.
O que vem a minha memória, neste instante, são as
palavras de São Paulo (da qual São Vicente apaixonou-se) que ressoam ainda no meu
coração desde o tempo do Simpósio sobre a Nova Evangelização. "Anunciar o Evangelho não é glória
para mim; é uma obrigação que se me impõe. Ai de mim, se eu não anunciar o
Evangelho!” ( 1Cor 9, 16).
Num mundo em mudança, o Evangelho não muda. A
Boa Nova permanece sempre a mesma. Nossa vocação e responsabilidade de sermos portadores
da Boa Nova que é sempre atual, como nos lembram as palavras do Papa: "O ponto central do anúncio permanece sempre o mesmo: o Kerigma de Cristo morto e
ressuscitado pela salvação do mundo, o Kerigma
do amor absoluto e total de Deus por cada homem e cada mulher” (Papa Bento XVI, Mensagem para
o Dia Mundial das Missões, 2012).
Me pergunto: nós, filhos e filhas de São
Vicente Pallotti, que necessidade temos neste tempo da Nova Evangelização?
Como todos na Igreja de hoje, preciso rever com
coragem e humildade, minha maneira de ser apóstolo/a, enviado/a, evangelizador/a,
preciso compreentender o sentido profundo da ineficácia do meu anúncio e do meu
testemunho, ou ao contrário: como explicar que muitas pessoas ao meu redor
ainda não conhecem Deus e vivem como se Deus não existesse?
"Deus não criou os homens no
tempo senão para levá-los felizes para a
eternidade. Seu desejo é vê-los todos salvos, todos iluminados pela luz
da sua Verdade Divina. A este fim é voltada a difusão de Suas graças e o
exercício da sua Providência. Por este motivo, disse São Dionísio Areopagita,
que a obra mais santa, mais nobre, a mais augusta, a mais Divina entre todas as
obras Divinas, augustas, nobres e santas é aquela de cooperar aos desígnios, à
vontade e aos desejos misericordiosos de Deus para a salvação dos homens”
(OOCC IV, 124).
Cada um de nós, anos atrás, encontrou Jesus e
respondeu com amor e coragem ao seu chamado - "Segue-me” - dizendo "Eis-me aqui”. Cada um realiza
no seu próprio estado de vida como mãe, pai, religiosa, irmã/o, sacerdote, jovem,
doente ... , dia após dia, o ser apóstolos/as, enviados de Jesus. Todos nós temos
o mesmo desejo implantado no coração pelo Criador – aquele de sermos felizes.
Como bons cristãos, desejamos a mesma felicidade também para os nossos irmãos e
irmãs. Encontramos a plenitude de nossa felicidade em Jesus Cristo que é para
cada um "Caminho, Verdade e Vida”.
Colocando-me diante do Mestre devo encontrar a
coragem para refletir também sobre a eficácia do meu anúncio e do meu
testemunho. Este é o primeiro e importante passo em direção a minha
contribuição pessoal para a Nova Evangelização. Não importa se a verdade me faz
sofrer, mas a sinceridade me levará à conversão e à cura. A rotina muitas vezes
"apaga” a força da criatividade e do entusiasmo e nos leva a monotonia. A
falta de ardor missionário que se manifesta no cansaço, na desilusão, no
desinteresse, na indiferença, no minimalismo pode ser um sinal de crise.
Qualquer que seja o meu diagnóstico, sou
chamado/a a deixar-me renovar espiritualmente através do meu encontro e da minha
comunhão vivida diarimente com Jesus Cristo. Sem o sopro renovador do Espírito
Santo não poderá acontecer a Nova Evangelização. Sem o meu profundo desejo do
Espírito Santo não pode nascer em mim "um homem novo, uma mulher nova",
verdadeira testemunha de Deus. Dou-me conta, pela experiência de vida, o quanto
é arriscado e imprevisível invocar a força do Espírito Santo e o seu agir em
nós.
Mas, se abrimos o nosso coração e nossa mente ao
fogo do Espírito Santo, que atuou na vida e na atividade missionária dos
primeiros apóstolos, de São Paulo e na vida de todos os santos de todos os
tempos, incluindo o nosso Fundador, podemos perceber que ocorreram inesperadas
mudanças. Assim, aconteceu com os discípulos de Emaús, com os discípulos no
Cenáculo depois de Pentecostes - foram transformados de simples enviados em
testemunhas zelosos do Ressuscitado e de medrosos apóstolos em corajosos anunciadores
do Evangelho até os confins da terra. É o Espírito Santo que nos impulsiona a
proclamar as grandes obras de Deus. "Anunciar
o Evangelho não é glória para mim; é uma obrigação que se me impõe. Ai de mim,
se eu não anunciar o Evangelho!” ( 1Cor 9, 16).
Encontro verdadeiramente necessidade de me
converter em testemunha corajosa de Jesus ressuscitado a partir do qual flui a
vida para mim e para o mundo todo. E não sou chamada a ser simplesmente um cronista
de fatos, acontecimentos imortalizados das páginas do Evangelho, mas crer
fortemente na extraordinária força e na vida presente no Evangelho. O que é
mais difícil para todos nós, para cada cristão, hoje, é certamente o de ter a
coragem de tomar nas mãos seriamente o Evangelho, procurar colocar em prática o
que Jesus nos diz com simplicidade de espírito. Mas é exatamente isto que nos é
pedido hoje, com grande insistência.
A Boa Nova do Evangelho é sempre o amor de Deus
para com o homem. De cada um, se espera o "trabalho” em dar forma concreta
a esta mensagem e é somente assim que o outro, que está ao nosso lado, poderá compreender
a mensagem de amor e de esperança. Parece mais atual e necessária a "teologia
do rosto do ser", que quer significar encontro e acolhida do outro de modo
personalizado. Isto é muito procurado hoje nos relacionamentos humanos. O
caminho mais eficaz para partilhar a Boa Nova com os outros é comunicá-la de
coração para coração. Cada pessoa deseja sentir-se digna de nossa atenção, do
nosso interesse, do nosso amor e tantos desejam ver em nós "homens de Deus”.
Lembro-me de um encontro recente com um
imigrante de Burkina Faso que me parou na rua pedindo ajuda para comer. Ele estava
desesperado, triste, cansado de lutar por sua vida na Itália. Na breve conversa
ele contou que fugiu de seu país por causa da guerra e veio para a Itália, mas encontrou
também aqui uma vida difícil. Parecia muito sincero, olhando em seus olhos vi uma
pessoa sofrida, ao qual se nega seguidamente o respeito pela sua humanidade.
Infelizmente, aquele dia, não tinha dinheiro no bolso e parecia que não poderia
ajudá-lo. Propus a ele minhas orações e coloquei minha mão em sua cabeça rezando
e abençoando-o. Ele, realmente comovido me disse: "irmã, a sua oração para mim vale mais do que o dinheiro”.
Sim, somos chamados a abrir os olhos e descobrir
que o outro é meu irmão, filho do mesmo Pai Celeste, assim como nos ensina a
Palavra de Deus. Sim, é verdade, se o nosso coração não arde com o fogo da
Palavra, não inflamaremos o mundo com o Evangelho que possui a vida. Somente o
Senhor poderá ajudar-me a abrir-me ao "novum" proposto pelo Espírito
Santo. Caso contrário terei sempre as mesmas atitudes, os mesmos métodos, etc.,
me pergunto, com qual resultado?
"Anunciar o Evangelho não é glória para
mim; é uma obrigação que se me impõe. Ai de mim, se eu não anunciar o
Evangelho!” ( 1Cor 9, 16).
"Lembra-te, que o meu Divino
Filho no reino da Glória, vos recompensará por cada pensamento, palavra e obra
e por cada pequena coisa que haveis colocado para a propagação da Santa Fé,
melhor ainda, se para tal fim, fazeis o quanto for possível e de todo modo
possível, sereis coroados para toda eternidade com a Coroa de glória do seu Apostolado” (OOCC IV, 333).
Para um momento de oração:
Senhor, quero que a minha vida se torne uma
experiência contínua da tua presença para partilhar com os outros. Que a minha
vida seja um espaço para a ação do teu Evangelho, do teu Espírito Santo e para
que Tu possas ser conhecido, amado e glorificado em todo o mundo.
Pai de infinita bondade e ternura, que nunca te
cansas de alimentar os teus filhos e sustentá-los com a tua mão, concede-nos obter
do Coração de Cristo trespassado na Cruz a sublime consciência do teu amor, para
que renovados com a força do Espírito Santo possamos levar a todos os homens as
riquezas da redenção. Amém (Da Liturgia da Solenidade do Sagrado Coração de
Jesus)
Perguntas para
uma reflexão
1. Sinto na minha vida necessidade de
conversão, de mudança?
2. No
meu apostolado, na minha missão, sinto a necessidade da força renovadora do
Espírito de Deus?
3. Estou
pronto/a a abrir-me ao “novum” que me propõe o Espírito Santo ao qual deseja
comprometer-me?
Ir. M. Bozena Olszewska SAC
Nenhum comentário:
Postar um comentário