sexta-feira, 24 de junho de 2011

ACOLHER A PALAVRA DE DEUS

O acolhimento, que é um dos temas centrais das leituras de hoje, é uma virtude humana muito louvável, inclusive recomendada na Sagrada Escritura. A Carta aos Hebreus, ao  incentivá-la, afirma: Que permaneça a caridade fraterna. Não vos esqueçais da hospitalidade, pois, graças a ela, alguns, sem o saberem, hospedaram anjos” (Heb 13,1-2). No entanto, a Palavra de Deus vai mais a fundo. Note-se a motivação que aparece no acolhimento tanto na primeira leitura como no Evangelho.
Na Primeira leitura: “A mulher disse ao marido: «Escuta: eu sei que este homem, que passa com frequência por nossa casa, é um santo homem de Deus” (2 Reis 4,9); no Evangelho: “Quem recebe um profeta por ele ser profeta, receberá recompensa de profeta; e quem recebe um justo, por ele ser justo, receberá recompensa de justo. E quem der de beber a um destes pequeninos, ainda que seja somente um copo de água fresca, por ser meu discípulo, em verdade vos digo: não perderá a sua recompensa” (Mt 10, 41-42) A motivação é clara: por ser um santo homem de Deus, por ser profeta, por ser justo, por ser discípulo de Cristo. O próprio Jesus disse: “«Quem vos recebe, a mim recebe; e quem me recebe, recebe aquele que me enviou” (Mt 10,40) Vai além do acolhimento da pessoa do mensageiro. No fundo é o acolhimento da Palavra de Deus da qual o acolhido é portador e das suas exigências, entre elas, a primeira parte do Evangelho de hoje: “Quem amar o pai ou a mãe mais do que a mim, não é digno de mim. Quem amar o filho ou filha mais do que a mim, não é digno de mim. Quem não tomar a sua cruz para me seguir, não é digno de mim. Aquele que conservar a vida para si, há-de perdê-la; aquele que perder a sua vida por causa de mim, há-de salvá-la” (Mt 10,37-39)
 Muitos tomam este Evangelho de hoje como uma pedra de escândalo, como se Jesus dissesse que não deveríamos amar ou honrar pai e mãe, filhos ou filhas e até a nossa própria vida. Nosso Senhor não se contradiz. Ele mandou, tanto no Antigo como no Novo testamento, honrar pai e mãe.  Como escreveu Fernando Armellini: “Jesus não pretende contrariar a Tora de Moisés que manda honrar pai e mãe, aliais recomendou muitas vezes esse mandamento (Cf.  Mt 15,4); porém, está consciente de ter vindo “para queda e ressurgimento de muitos em Israel e para ser sinal de contradição, pois assim hão-de revelar-se os pensamentos de muitos corações” (Cf Lc. 2,34-35). Mateus escreve o seu Evangelho num tempo de perseguição. Os discípulos fizeram muitas vezes a experiência de que, para permanecerem fiéis a Cristo, tinham que estar prontos a aceitar até mesmo a rotura dos laços com as pessoas mais queridas. Os Rabis tinham tomado a decisão de expulsar das sinagogas e de excluir do povo eleito quem reconhecesse Jesus como messias; tinham ordenado que quem aderisse à fé cristã, considerada herética, fosse repudiado pelos seus próprios familiares. As consequências desta exclusão eram graves e dolorosas, não só do ponto de vista afectivo, mas também  social e económico”.
Em contrapartida, a Divina Providência não abandona, pelo contrário, sustenta e premia aqueles que acolhem a Sua Palavra e os seus enviados. A generosidade do casal que acolheu o profeta Eliseu foi premiada por Deus com aquilo que era a sua aspiração humana mais legítima, ou seja, um filho. Poderíamos citar aqui inúmeros testemunhos actuais da Divina Providência que assiste quem se decide a acolher a Palavra de Deus integralmente.
Assim vemos que não é o cristão que cria a divisão, mas a Palavra de Deus que a Carta aos Hebreus diz ser uma espada afiada: “Na verdade, a palavra de Deus é viva, eficaz e mais afiada que uma espada de dois gumes; penetra até à divisão da alma e do corpo, das articulações e das medulas, e discerne os sentimentos e intenções do coração. Não há nenhuma criatura oculta diante dele, mas todas as coisas estão a nu e a descoberto aos olhos daquele a quem devemos prestar contas” (Heb 4,12)
Neste sentido entendemos a segunda leitura de hoje que fala do Baptismo. Este, que já era praticado, por João Baptista e até pelos judeus, consistia em um sinal de arrependimento e rompimento com a vida passada e o início de uma vida nova. Ao elevar este sinal externo ao grau de sacramento, ou seja, sinal eficaz da graça, Nosso Senhor deu-lhe ainda mais força. Por isso afirmou São Paulo:  “Assim vós também: considerai-vos mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus” (Rm6,11)É esta ruptura com o pecado que pode criar tensões inevitáveis com quem não a deseja. O cristão, porém, da sua parte, é chamado a ser promotor da paz, da verdadeira paz, fruto da justiça e da caridade.

Para as Células de Evangelização:
Quais as circunstâncias actuais em que devemos amar mais a Cristo do que nossos pais, filhos, e até a nossa própria vida?
Pe. Mracelo

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