De um modo especial nos meses de férias, podemos olhar extasiados, as maravilhas da criação. Estas maravilhas levam-nos espontaneamente a elevar um hino de glória e de louvor a Deus Pai Criador. Em contrapartida, no nosso dia-a-dia, muitas vezes deparamo-nos com certas fraquezas que nos levam a exclamar como o Apóstolo São Paulo: “Quem me há-de libertar deste corpo que pertence à morte?” (Rm 7, 24-25) São as consequências do pecado original em nós. Sobre isso Nosso Senhor alertou-nos no Evangelho de hoje: “O que sai do homem, isso é que torna o homem impuro. Porque é do interior do coração dos homens que saem os maus pensamentos, as prostituições, roubos, assassínios, adultérios, ambições, perversidade, má fé, devassidão, inveja, maledicência, orgulho, desvarios. Todas estas maldades saem de dentro e tornam o homem impuro.” (Mc 7,20-23)
Sobre isto fala-nos o Catecismo: “Embora próprio de cada um, o pecado original não tem, em qualquer descendente de Adão, carácter de falta pessoal. É a privação da santidade e justiça originais, mas a natureza humana não se encontra totalmente corrompida: está ferida nas suas próprias forças naturais, sujeita à ignorância, ao sofrimento e ao império da morte, e inclinada ao pecado (inclinação para o mal, que se chama concupiscência). O Baptismo, ao conferir a vida da graça de Cristo, apaga o pecado original e reorienta o homem para Deus, mas as consequências para a natureza, enfraquecida e inclinada para o mal, persistem no homem e convidam-no ao combate espiritual.” (Catecismo nº 405) Quais são os meios de vencermos essas tendências neste combate espiritual? São muitos. São João Crisóstomo dá-nos várias dicas preciosas para esta vitória que Nosso Senhor quer conceder a todos os seus filhos muito amados: “Queres que cite as vias da penitência? São muitas, é certo, variadas e diferentes; todas levam ao céu. A primeira via da penitência é a seguinte: a reprovação dos pecados: Sê tu o primeiro a dizer teus pecados para seres justificado (cf. Is 43,25-26). O profeta também dizia: “Disse, confessarei contra mim mesmo minha injustiça ao Senhor, e tu perdoaste a impiedade de meu coração” (Sl 31,5). Reprova também aquilo em que pecaste; basta isto ao Senhor para te desculpar. Quem reprova aquilo em que pecou, custará mais a recair. Excita o acusador interno, a tua consciência, não venhas a ter acusador lá, diante do tribunal do Senhor. Esta primeira é óptima via de penitência. A seguinte não lhe é nada inferior: não guardemos lembrança das injúrias recebidas dos inimigos, dominemos a cólera, perdoemos as faltas dos companheiros. Com isso, aquilo que se cometeu contra o Senhor será perdoado. Eis outra, expiação dos pecados. “Se perdoardes a vossos devedores, também vos perdoará vosso Pai celeste” (Mt 6,16). Queres saber a terceira via da penitência? Oração ardente e bem feita, que brote do fundo do coração.
Se ainda uma quarta desejas conhecer, chamá-la-ei de esmola. Possui muita e poderosa força. Dela fala São Tiago: “A religião pura e sem mácula diante daquele que é Deus e Pai é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e não se deixar contaminar pelo mundo.” (Tg1,27) A quinta é ser modesto no agir e humilde. Isto, não menos que tudo o mais, destrói os pecados. Testemunha é o publicano que não podia citar nada feito com rectidão, mas em lugar disto ofereceu a humildade e depôs pesada carga de pecados.
Indicámos cinco vias da penitência: primeira, a reprovação dos pecados; segunda, o perdão das faltas do próximo; terceira, a oração; quarta, a esmola; quinta, a humildade. Não sejas preguiçoso, mas caminha todos os dias por elas; são fáceis, não podes nem mesmo objectar a pobreza; pois ainda que pela indigência leves vida dura, renunciar à ira e mostrar humildade está no teu poder, bem como orar assiduamente e condenar os pecados; em parte alguma a pobreza é impedimento.
O que digo aqui, naquela via da penitência que consiste em dar dinheiro (falo de esmola) ou em observar os mandamentos, será obstáculo a pobreza? A viúva que deu dois tostões já respondeu. Tendo, pois, aprendido o meio de curar as nossas chagas, usemos deste remédio. E com isto, recuperada a saúde, usufruiremos com confiança da mesa sagrada, correremos gloriosos ao encontro de Cristo, Rei da glória, e alcançaremos os eternos bens, por graça, misericórdia e benignidade de nosso Senhor Jesus Cristo.”
(Cf.http://www.liturgiadashoras.org/oficiodasleituras/21tercaTC.html )
Pe. Marcelo
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