O Amor infinito e a misericórdia infinita de Deus na criação do homem
Introdução: Façamos o homem à nossa imagem e semelhança (Gen 1, 26)
A fé nos diz que Deus não tem corpo, devemos portanto dizer que a alma é criada à imagem e semelhança de Deus. Por este motivo, a nossa alma é um ser vivente e inteligente com as características particulares de ser uma viva imagem de Deus, essência de Deus (Deus Amor Infinito, cap. VIII).
Quando reflete sobre o significado de ser criado a imagem e semelhança de Deus, Pallotti encontra um elenco de características. Quer dizer que somos:
· Uma viva imagem de Deus
· Uma viva imagem do Pai, do Filho e do Espírito Santo
· Uma viva imagem da potência infinita
· Uma viva imagem da sabedoria e bondade
· Uma viva imagem da justiça, misericórdia e pureza
· Uma viva imagem da santidade e perfeição.
Reflexão
A imagem da pessoa, com uma alma criada à imagem e semelhança de Deus. concorda com a imagem dada no Salmo 8: o ser humano é plenificado de dignidade e de honra aos olhos de Deus.
Ao contemplar esta possiblidade sentimos-nos chamados a um otimismo e a uma esperança que vai além do reconhecimento habitual do nosso pecado e de nossas faltas e a fé nos leva a acreditar na misericórdia de Deus e na sua prontidão
São Vicente é consciente de quanto difícil é entender a grandeza desta graça, reconhecer que a maioria das pessoas, e também ele, experimentam “negligência e ingratidão” por não apreciar o grande dom de nossas almas.
Muitas vezes somos tentados a concentrar-nos sobre nossas limitações e sobre aquilo que não sabemos fazer e que Pallotti define com os termos de “negligência” e de “ingratidão”. Todavia ao longo da história da Igreja tivemos autoridades espirituais como São Vicente, que falaram desta tensão.
A tensão entre a escuridão e a luz foi tratada em um discurso em 1994 atribuído a Nelson Mandela mas escrito por Marianne Williamson: “O nosso medo mais profundo não é aquele de nos sentirmos inadequados. O nosso medo mais profundo é aquele de nos sentirmos potentes além de nossos limites. É a nossa luz, não a nossa sombra que mais nos assusta. Nos perguntamos: “Quem sou eu para ser brilhante, cheio de talentos, magnifico?” “Na realidade quem és tu para NÃO ser também? Somos filhos de Deus. O nosso “jogar” pequeno não serve para o mundo. Não existe nada de iluminado em diminuir-nos a nós mesmos de modo que os outros não se sintam inseguros ao nosso redor. Todos nós nascemos para resplandescer como fazem as crianças. Nascemos para manifestar a glória de Deus que está dentro de nós e, não somente em alguns de nós mas, em cada um de nós. E quando permitimos que a nossa luz resplandeça, incoscientemente damos aos outros a possibilidade de fazerem o mesmo. E quando nos libertamos dos nossos medos, a nossa presença, automáticamente liberta os outros”.
A Sagrada Escritura afirma que fazer brilhar a nossa luz é fundamental para nós que somos chamados a sermos cristãos: “Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre uma montanha”(Mt 5, 14) “Porque o Senhor assim no-lo mandou: ‘Eu te estabeleci para seres luz das nações, e levares a salvação até os confins da terra” ( At 13, 47).Porque todos vós sois filhos da luz e filhos do dia. Não somos da noite nem das trevas” (1Tess 5, 5).
No seu tratado sobre o ‘Espírito Santo’, São Basílio Magno, explica como a presença do Espírito ajuda a iluminar esta luz que está dentro de nós: “O Espírito é fonte de santificação e luz inteligível. Oferece a toda criatura inteligente a si mesmo e através de si mesmo luz e ajuda para buscar a verdade…do mesmo modo, dos raios de sol, do qual os benefícios são sentidos por cada um como se resplandecesse somente para ele…assim também o Espírito Santo …infunde em todos uma graça suficiente e total…
E como os corpos muito transparentes e nitidos ao contato de um raio se tornam também esses muito luminosos e emanam de si novos raios, assim as almas que possuem em si o Espírito e que são iluminadas pelo Espírito se tornam também essas santas e refletem a graça sobre os outros. Do Espírito …a familiaridade das coisas do céu. D’Ele a alegria eterna, d’Ele a união constante e a semelhança com Deus, e, coisa mais sublime de cada criatura, d’Ele a possibilidade de se tornar semelhantes a Deus”. Pois, como Pallotti reconheceu, esta é a imagem da qual fomos criados.
O autor franciscano, Richard Rohr, percebe as implicações do aceitar de que somos criados a imagem de Deus: o passo enorme para frente se torna claro quando começamos a honrar e aceitar a imagem divina dentro de nós, e depois não podemos não enxergá-la em cada pessoa, e sabemos que este dom é assim imerecido aos outros quanto o é para nós. E por isso, deixa-se de fazer mau juizo sobre os outros, e se inicia amar de modo incondicionado sem perguntar-nos se o outro é digno ou não.
Em outras palavras, o reconhecimento de ser criado à imagem divina conduz a uma mais completa manifestação da imagem de Deus na vida dos fiéis. Somos chamados a nos aproximar da imagem de Deus na qual imagem e semelhança fomos criados. Este é um processo contínuo, intercalado com tempos de ingratidão e negligência, mas, também nutrido pela oração e pela prática. O prefácio I do tempo da Quaresma nos lembra: “Cada ano doas aos teus fiéis de…participar aos mistérios da redenção para que alcancem a plenitude da vida nova em Cristo teu Filho”.
Pallotti interpreta o fato de que somos criados à imagem e semelhança de Deus como uma chama para a santidade e à perfeição. Porém, é somente através dos nossos esforços limitados e imperfeitos em viver o amor, a justiça e a misericórdia que nos transformamos na imagem de Deus na qual somos criados. E, portanto, podemos rezar com São Vicente:
“Deus meu, Pai meu, amorosíssimo e misericordiosíssimo meu Criador, é impossível que eu chegue compreender a preciosidade da minha alma criada à imagem e semelhança vossa, porque não chego a conhecer-Vos. Mas muito mais impossível que eu chegue a compreender aquele Amor infinito e aquela infinita misericórdia com a qual Vós vos dignastes em criar-me assim, mesmo que, tenhais com a vossa infinita e eterna sabedoria conhecido a pouca importância que eu teria feito de Vós, incompreensível beneficio e quanto vos fui ingrato e portanto é também impossível que eu chegue a compreender a minha indignidade.
Mas, Vós pela mesma vossa infinita misericórdia, pelos merecimentos infinitos de Jesus Cristo, pelos merecimentos e intercessão de Maria SS. e de todos os Anjos e Santos tenho firme confiança, e tenho por certo, que me concedereis o dom de uma perfeita contrição, e de lembrar sempre este vosso Amor infinito, e esta vossa infinita Misericórdia, e de apreciar sempre e estimar a minha alma e de meu próximo e de ser agradecido a Vós pelos infalíveis benefícios como Vós quereis”. (Deus Amor Infinito, cap. VIII)
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