É maravilhoso perceber como a Santa Igreja em sua liturgia vai educando e formando os discípulos de Cristo.
No Evangelho de hoje encontramos dois homens. Um conhecemos o nome: Lásaro. A indigência pode ajudar a colocar-nos na presença de Deus e assim sermos conhecidos por ele como dizia São Paulo: “…em tudo, pela oração e pela prece, apresentai os vossos pedidos a Deus em acções de graças.” O outro aparece como um anónimo. Apenas diz-se: “… um homem rico”. Assim como o “Jovem rico” do Evangelho, não aparece o seu nome. Ficou desconhecido, anónimo. Já escrevia uma poetisa católica, Lenira Krespshy, que como certos insectos que só aparecem ao olhar quando iluminados com um raio de sol, também o ser humano mostra-se realmente quem é quando se coloca na presença de Deus. Pode ter acontecido para este homem rico o que nos previne o livro dos Provérbios: “Peço-te duas coisas, não mas negues antes da minha morte: Afasta de mim a falsidade e a mentira, não me dês pobreza nem riqueza, concede-me o pão que me é necessário, para que, saciado, não te renegue, e não diga: «Quem é o Senhor?» (Pr 30,7-9)
Curiosamente, não aparece no Evangelho que este homem tenha cometido algum pecado. Ali não diz que ele tenha sido adúltero, blasfemo, mentiroso, desonesto… para merecer o inferno. Apenas diz que ignorou Lásaro. Depois da morte, criou-se um abismo entre ele e Lásaro, mas este abismo de incomunicabilidade criou-o ele mesmo durante a vida. Ah se ele (ou os que ele representa) tivesse escutado a Palavra de Jesus que ouvimos semana passada na liturgia: “E Eu digo-vos: Arranjai amigos com o dinheiro desonesto, para que, quando este faltar, eles vos recebam nas moradas eternas.” (Lc 16,9) Lásaro estava tão perto, mas ele criou um muro de isolamento que permaneceu na eternidade.
Existem pessoas, pelo contrário, que têm o dom de fazer com que não somente os próximos sejam próximos, mas até mesmo os longínquos assim se tornem. São almas generosas que já romperam a casca dos seus limitados e pobres interesses. São pessoas que aprenderam a rejeitar os caprichos do supérfluo e experimentaram a alegria da caridade. São Vicente Pallotti começou a sua congregação precisamente assim. Como era director espiritual de um seminário Missionário em Roma, tomou conhecimento das necessidades dos missionários na Arábia e fez, através de uma leigo de sua confiança, Giacomo Salvaci, um peditório entre os comerciantes de Roma, para editar o livro “Máximas Eternas” de Santo Afonso em língua árabe. Como esta recolha rendeu uma soma muito maior do que o necessário, e para não expor a obra de Deus ao falatório, criou uma associação para gerir estes recursos, composta de leigos, sacerdotes e religiosos, que mais tarde foi a semente da qual brotou a obra da União do Apostolado Católico. Com o mundo globalizado como está, cada vez mais deve haver a globalização da solidariedade, sem é claro, esquecer quem está perto, ás vezes muito perto, carentes materialmente , mas também espiritualmente e afectivamente.
Um outro aspecto do Evangelho de hoje, é a clareza com que ele trata o além da morte. Vemos nele a refutação do espiritismo ou do reencarnacionismo, tão difundidos hoje em dia. O rico pedia a Abraão: “Peço-te, pai Abraão, que envies Lázaro à casa do meu pai, pois tenho cinco irmãos; que os previna, a fim de que não venham também para este lugar de tormento.’ Disse-lhe Abraão: ‘Têm Moisés e os Profetas; que os oiçam!’ Replicou-lhe ele: ‘Não, pai Abraão; se algum dos mortos for ter com eles, hão-de arrepender-se.’ Abraão respondeu-lhe: ‘Se não dão ouvidos a Moisés e aos Profetas, tão-pouco se deixarão convencer, se alguém ressuscitar dentre os mortos.’» (Lc 16, 27-31) Existe hoje uma falta de clareza sobre estas realidades. É importante reafirmar, contra toda confusão de doutrina espírita e reencarnacionista o que diz a Carta aos Hebreus: “E, assim como está determinado que os homens morram uma só vez e depois tenha lugar o julgamento, assim também Cristo, que se ofereceu uma só vez para tirar os pecados de muitos, aparecerá uma segunda vez, não já por causa do pecado, mas para dar a salvação àqueles que o esperam.” (Hb 9,27)
Para as células de Evangelização:
Conheces alguma instituição confiável, que faz com que os necessitados materiais e espirituais de longe se tornem próximos? Quais são os “próximos” que às vezes fazemos ser “distantes”?
Pe. Marcelo
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