Reflexão e oração - Julho de 2010
São Vicente Pallotti – “Deus Amor Infinito”
Criados à imagem e semelhança de Deus, temos que imitar a Deus, que trabalha sempre. Em virtude de nossa natureza e criação, somos obrigados a trabalhar sempre e bem e não admitir nunca a ociosidade.
Oração inicial
Salmo 24(23)
Do Senhor é a terra e tudo o que ela contém,
o universo e todos os que nela habitam,
pois ele mesmo a assentou sobre as águas do mar
e sobre as águas dos rios a consolidou.
(Eclesiástico 17, 1-11)
“Da terra o Senhor Deus criou o homem,
e para ela o faz voltar novamente.
Concedeu aos homens dias contados e tempo medido,
e deu-lhes poder sobre todas as coisas que esiste na terra.
Revestiu-os com a sua própria força
e os criou à sua imagem.
Infundiu em todos os seres vivos o temor para com os homens, para que estes dominasse mas feras e pássaros.
Deu-lhes discernimento, língua,
olhos, ouvidos e mente para pensar.
Encheu-os de ciência e inteligência,
e também mostrou-lhes o bem e o mal
Infundiu o seu temor na consciência deles,
para mostrar-lhes a grandeza de suas obras.
Eles louvarão o seu nome santo,
cantando a grandeza de suas obras.
Concedeu aos homens a ciência
e lhes entregou como herança a lei da vida.
Fez com eles uma aliança eterna
e deu-lhes a conhecer suas sentenças.
Os olhos dos homens contemplaram a grandeza da obra de glória de Deus, e seus ouvidos ouviram a majestade de sua voz.”
A Palavra do Eclesiástico serve de base para a bela meditação e contemplação que Vicente nos oferece através de seu emergir-se contínuo no amor gratuito e infinito de Deus para com suas criaturas.
Introdução: “Deus tomou o homem e o colocou no jardim de Édem, para que o cultivasse e guardasse” (Gen 2, 15). Trabalhar bem e sempre não admite ociosidade. À luz da santa fé, devo lembrar que Deus desde toda eternidade operou e, por toda eternidade, não deixa de operar. Ele, com amor infinito, quer que nós, segundo os objetivos de sua infinita misericórdia, em todos os momentos da vida, em sua infinita misericórdia se digne conceder-nos o dom do livre arbítrio, para enriquecer-nos de inumeráveis obras merecedoras de vida eterna. Ele quer que essa sua ação contínua seja, na alma, por natureza da criação, como impulso para agir sempre e bem, sem que se admita ociosidade. Foi por isso que Ele se dignou criar-nos semelhantes a Si. Ele sempre trabalha! Nós, portanto, ajudados pela sua graça, devemos aproveitar do sublimíssimo dom da criação para agir sempre bem e com mérito. Agir diversamente seria degradar a nossa alma e um trabalhar contra o fim último da Criação. Foi, por isso, que nosso primeiro pai Adão, apenas criado, e introduzido no paraíso terrestre, apesar de ser inocente e de o cansaço não ser castigo de pecado, contudo Deus ali o colocou para que trabalhasse. (Cf. “Deus Amor Infinito”, med. X).
Reflexão
S. Vicente Pallotti ao contemplar a criação como obra infinita do Criador, convida-nos a acolher seja a imensidade e a extraordinária beleza da criação, seja a grande responsabilidade para a qual Deus chama cada um de nós para trabalhar bem e sempre no lugar onde Deus nos colocou desde toda a eternidade.
Pallotti nos indica a verdadeira posição que a criatura deve ter para com o seu Criador e a criação, encoraja-nos a adquirir uma clara consciência de quem somos e de quem somos chamados a ser enquanto filhos de um Deus que sempre amou o homem de todos os tempos. Nesta atmosfera de contemplação extasiada que Vicente vive, mergulhando e respirando profundamente o amor infinito e gratuito de Deus, nos obriga a rever o nosso estar no mundo e sobre o nosso sentido de vida nele.
Exorta-nos a olhar com olhos novos o nosso viver na terra, despertando-nos ao estupor diante das maravilhas da criação e nos coloca diante da nossa responsabilidade de cuidar da entrega que Deus tem feito pessoalmente e comunitariamente, confiando-nos o mundo! O pensamento de Vicente se torna fortemente explícito para nos ajudar a compreender que ser a imagem de um amor infinito, não permite que permaneçamos para sempre em atitudes que não deixam sinais significativos de vida, como por exemplo:
- viver ocioso ou vagando sem rumo;
- ser um mero espectador;
- um “patrão” absoluto dos dons recebidos na gratuidade…
Pallotti insistiu fortemente que o homem é chamado para cuidar, cultivar, “proteger” a terra de Deus (Lv 25,23); e ser um guardião fiel e entusiasta da vida que palpita em todo universo.
À luz destas reflexões sobre o ser criatura que opera junto ao Criador podemos nos perguntar:
· Tenho consciência da gratuidade que Deus tem para comigo?
· Tenho refletido sobre a responsabilidade a qual Deus me chama para cuidar do mundo?
· Como posso (podemos) proceder para tornar melhor o pequeno pedaço de mundo (família, grupo de amigos,…) no qual vivo (vivemos)?
NÓS, GENTE DA ESTRADA
“Nós, o povo da estrada, acreditamos com todas as nossas forças que este caminho, este mundo onde Deus nos colocou é para nós o lugar da nossa santificação. Acreditamos que nada de necessário nos falta, porque se este necessário nos faltasse, Deus no-lo teria dado. Na estrada, apertados pela multidão, dispomos nossas almas, como cavidades de silêncio onde a Palavra de Deus pode repousar e encontrar ressonância. Para nós, povo da estrada, parece que a solidão não é ausência do mundo, mas a presença de Deus. O mundo inteiro é como um face a face com Ele de quem não podemos fugir. Nós não podemos permanecer de pé se não para marchar, se não para jogar-nos em um salto de caridade. Vivemos nossas vidas, não como um jogo em pedaços onde tudo é calculado, nem como um teorema de quebra-cabeça, mas como uma festa sem fim, onde o encontro com o Senhor se renova, como uma festa, como uma dança, entre os braços da Sua graça, na música universal do amor”. (Madeleine Delbrel)
Rezemos com São Vicente Pallotti
“Oh, meu Deus, amor infinito, amor inefável, misericórdia infinita!
Vós ainda me tolerais sobre essa terra, embora, eu seja um monstro de ingratidão…, mas pela vossa constante misericórdia infinita me ajudais para que eu vos reze assim: meu Criador infinitamente amoroso, misericórdia infinita, sempre favorável para comigo, Vós por tantos anos me haveis suportado sobre esta terra, embora eu não tenha aproveitado como devia, do amor infinito e da infinita misericórdia, com a qual me haveis criado semelhante a Vós que sempre operais.
Tenho firme confiança que me concedeis a perfeita contrição de meus pecados e a graça para reparar todas as perdas do passado, começando a operar agora e até à morte, sempre e bem; aproveitar em todos os momentos da vida que Vós misericordiosamente me concedereis, Amen”.
(cf. “Deus, Amor Infinito, med X).