No Evangelho de hoje, mo meio de um clima de oração, Nosso Senhor faz aos Apóstolos com uma pergunta lapidar: “Quem dizem as multidões que Eu sou?” (Lc 9,18) Os Apóstolos referiram a opinião do povo; opinião incompleta: “«João Baptista; outros, Elias; outros, um dos antigos profetas ressuscitado.” (Lc 9,19) Porém, Jesus faz uma pergunta mais específica: “«E vós, quem dizeis que Eu sou?” Pedro acertou : “«O Messias de Deus.»”.
Nosso Senhor, sem querer mudar o que Pedro tinha dito, que era verdade, completou, ou melhor, preferiu usar um outro título: “Filho do Homem. “«O Filho do Homem tem de sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e pelos doutores da Lei, tem de ser morto e, ao terceiro dia, ressuscitar.” (Lc 9,22)
Jesus é Filho do Deus vivo, mas também o Filho do homem, aquele que caminha para Jerusalém, onde sofreria a Paixão, aquele que toma sobre si, sem ter pecado, também toda a consequência do pecado: as dores, a ingratidão, a injustiça, o ódio e até a própria morte. Porém como Messias Senhor, com sua Ressurreição vence tudo isso e abre para o ser humano a porta para participar também de sua vitória sobre o pecado e a morte.
Se nos abrirmos ao espírito de contrição do qual nos fala a primeira leitura de hoje: - “Mas derramarei sobre a casa de David e sobre os habitantes de Jerusalém um espírito de benevolência e de súplica. Eles contemplarão aquele a quem traspassaram; chorarão por ele como se chora um filho único e lamentá-lo-ão como se lamenta um primogénito.” (Ez12,10)- Consentimos, em nossa vida, que Nosso Senhor seja aquilo que o seu nome “Jeshuah” (Jesus = Salvador) significa, como o anjo disse a São José: “Ela dará à luz um filho, ao qual darás o nome de Jesus, porque Ele salvará o povo dos seus pecados.” (Mt 1,21) Jesus assume a nossa miséria na Cruz e nos dá aquilo que Ele é, como declara São Paulo na segunda leitura: “É que todos vós sois filhos de Deus em Cristo Jesus, mediante a fé;… E se sois de Cristo, sois então descendência de Abraão, herdeiros segundo a promessa.” (Gl 3,26.29)
Livres do sofrimento inútil da consciência manchada pelo pecado, podemos escutar com o coração aberto a Palavra do Senhor: “«Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, dia após dia, e siga-me. Pois, quem quiser salvar a sua vida há-de perdê-la; mas, quem perder a sua vida por minha causa há-de salvá-la.” (Lc 9,23,24) Assim assumimos as coisas boas da vida das quais Cristo também participou pela sua Encarnação, mas também as cruzes de nossa vida: tudo aquilo que o amor exige para cumprirmos bem a com serenidade a nossa vocação e missão.
Foi em um testemunho desses que foi tocada Edith Stein, judia e filósofa, hoje religiosa canonizada pela Igreja. Em 1917, sendo Edith Stein assistente de Edmund Husserl, chegou a Friburgo uma notícia dolorosa. Adolf Reinach, assistente também de Husserl, havia morrido no campo de batalha de Flandes. Edith sentiu uma grande dor e pensou muito na esposa de Reinach. O que poderia dizer à viúva, que segundo ela, deveria estar tomada pelo desespero. Edith ainda não podia crer na vida eterna.... A atitude resignada da senhora Reinach surpreendeu-a como um raio de luz que provinha daquele Reino escondido. Apesar do luto, estava plena de uma esperança que a consolava e dava paz. Diante desta experiência, caíram por terra anos de argumentos intelectuais de Edith Stein. Não foi o conhecimento claro e distinto, senão o contacto com a essência da verdade que tranformou Edith Stein. A fé brilhou para ela no mistério da Cruz. Fez depois um bom caminho até extrair todas as consequências desta experiência. Para uma pensadora como Edith Stein, não era fácil cortar todas as pontes e dar um salto para a vida nova. Porém, o impacto deste facto foi tão forte que antes de sua morte assim ela dizia a um padre jesuíta: “ Foi o meu primeiro encontro com a Cruz e com a força divina que ela comunica a quém a leva. Vi, pela primeira vez, tangivelmente a Igreja diante de mim, nascida da dor do Redentor e a sua vitória sobre o aguilhão da morte. Foi este o momento em que se dissiparam anos de incredulidade e brilhou a luz de Cristo, Cristo no mistério da Cruz.” (Cf. Edith Stein, La mística della Croce. Scritti spirituali sul senso della vita, Roma 1987, p. 87) (Cf. Giorgio Zevinni e Pier G. C, Lectio Divina para cada día del año, pp.105 a 113)
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1- Que experiência em tua vida a Cruz de Cristo iluminou e foi farol para viver com serenidade e vencer com o amor os desafios e obstáculos?
Pe. Marcelo
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